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O brilhantismo de Jane Seymour na minissérie East of Eden (1981)

* spoilers do livro A Leste do Éden (East of Eden) de John Steinbeck e da minissérie de 1981 
"Mas a palavra judaica, a palavra timshel -thou mayest (tu podes) -ela lhe dá uma escolha. Essa pode ser a palavra mais importante do mundo. Isso diz que o caminho está aberto. Isso joga a escolha de novo para homem. Porque se você pode fazer é também verdade que você pode não fazê-lo." - Lee, A Leste do Éden (East of Eden); livro de John Steinbeck. 
O livro À Leste do Éden, original East of Eden do renomado escritor John Steinbeck, é um dos clássicos da literatura mundial. Ao longo de suas 576 páginas, o leitor encontra uma alegoria bíblica de grande magnitude, no qual a inveja, o amor e o ódio estão todos interligados. Mas se tem uma personagem na obra que é representada por ser totalmente má é a Cathy, mãe dos gêmeos Caleb e Aron, descrita na obra como nada mais, nada menos do que "possuída pelo demônio." 

Cathy é uma personagem tão maldosa, sem escrúpulos e sem empatia que apenas uma grande atriz conseguiria interpretá-la. Jane Seymour, que ficou famosa pelo filme Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, 1980) era um desses talentos. Tanto que por sua interpretação da personagem Cathy na minissérie de três episódios de East of Eden de 1981, ela ganhou um prêmio de Melhor Atriz do Globo de Ouro. 

Cathy, papel de Seymour, é a semente da discórdia entre os irmãos Adam e Charles        Divulgação/ABC
Talvez no filme Vidas Amargas (East of Eden, 1955) esteja a interpretação definitiva da personagem Caleb Trask por James Dean, mas é na minissérie East of Eden (1981) no qual temos um aprofundamento maior das personagens do livro e no qual sentimos fascinação o suficiente para odiar Cathy. 

A minissérie e o livro À Leste do Éden (East of Eden) contam a história dos irmãos Adam (Timothy Bottoms) e Charles Trask (Bruce Boxleitner), que se odeiam e competem pela atenção do pai Cyrus (Warren Oats), fazendo um paralelo com a história de Caim e Abel do Velho Testamento da bíblia. O pai deles morrem e os dois herdam a fazenda, mas a chegada da maléfica Cathy Ames, vivida por Jane Seymour, acaba arruinando a vida dos dois. Ames casa-se com Adam e dá à luz gêmeos, chamados Caleb (Sam Bottoms) e Aron (ou Aaron) (Hart Bochner) que, por obra do destino, acabam, assim como o pai, interessando-se pela mesma garota, a Abra (papel de Karen Allen). Será que o destino se repetirá com eles ou Caleb e Aron terão um futuro diferente? 

Mais uma vez Cathy é a fonte de discórdia entre os irmãos Caleb e Aron               Divulgação/ABC
A minissérie East of Eden (1981) foi desenvolvida pelo canal americano ABC e quem teve a ideia de adaptar o livro em uma minissérie foi o produtor Barney Rosenzweig, como ele conta em entrevista para o jornal Florida Today em 1981:
Eu vi o filme Vidas Amargas (East of Eden, 1955) quando foi lançado em '55 e eu odiei o que fizeram. É uma história clássica de rivalidade de irmãos, mas eles mudaram para um filme no estilo Rebelde Sem Causa. O que me deixou mais aterrorizado é que seria este filme o representante do livro À Leste do Éden. O que não me ocorreu aos 15 anos de idade é que existia a possibilidade de fazer uma minissérie ou uma adaptação. 
O produtor sempre quis fazer uma adaptação do livro e descobriu que nos anos 70 que os direitos da obra tinham voltado para patrimônio de Steinbeck, o escritor. Ele, assim, conseguiu os direitos e resolveu dar a ideia da minissérie para o canal NBC, mas eles não "queriam tocar um clássico."

Dois anos depois, Rosenzweig tentou de novo com a emissora, mas eles tinham acabado de fazer uma minissérie do livro e filme A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953) e não queriam fazer a mesma coisa novamente. Assim o produtor levou a sua ideia de uma adaptação do livro A Leste do Éden (East of Eden) para o canal ABC e eles aceitaram! 

A minissérie foi gravada, em locação, com a cidade de Savannah se passando por Connecticut, nos Estados Unidos, e na cidade de Salinas, na Califórnia, EUA, no qual acontece boa parte da ação da minissérie. À Leste do Éden (East of Eden, 1981) é uma minissérie de mais de seis horas e custou um pouco mais de 11 milhões de dólares para ser feita, mas valeu a pena: foi um sucesso! Mas isso não quer dizer, necessariamente, que a minissérie de 1981 seja superior ao filme de 1955. 

A Cathy/Kate Ames de Jane Seymour é o verdadeiro triunfo da minissérie                  Divulgação/Gif
A minissérie East of Eden (1981) tem uma cinematografia belíssima, com paisagens que remetem muito bem à beleza da Califórnia do século XIX, com seus pastos verdes e sua abundância de cores e de pessoas. Outro triunfo da série é que ela dá uma ênfase especial à família Hamilton, da qual o patriarca Samuel Hamilton, vivido por Lloyd Bridges, se torna um grande amigo de Adam e lhe dá conselhos e ensinamentos que só um velho sábio conseguiria fazer. A interpretação de Lloyd, que torna Samuel uma personagem forte, decidida e tipicamente irlandesa, é um dos pontos a serem celebrados na minissérie - mas se ele aparece mais na versão de 1981, isso não quer dizer que seja suficiente. Ele poderia ser muito melhor utilizado, assim como seus filhos

O ator Soon-Tek Oh, interpretando o servente Lee, é uma das personagens mais reais do livro e, consequentemente da minissérie - ele finge ser menos inteligente do que é para ser considerado um bom servente, porém depois ele deixa isso de lado, e aconselha seu patrão Adam Trask e cuida de seus filhos como se fosse os dele. É Lee, aliás, que se foca em entender exatamente o que significa a palavra Timshel e não se cansa de estudar e conseguir maiores conhecimentos. A interpretação de Soon-Tek Oh de Lee é perfeita de todas as maneiras e é ele, junto com Jane Seymour, que são os verdadeiros destaques da minissérie. 

A participação de Anne Baxter como Faye, a dona da casa de prostitutas no qual Cathy se infiltra depois de deixar Adam, é curta, mas a atriz consegue interpretar muito bem as emoções de se afeiçoar por alguém como uma filha - tanto que ela corta os clientes de Cathy para protegê-la - e então ver que estava tão enganada, mas sem tempo para corrigir seu erro. No livro, a personagem é descrita como mais velha, mas Baxter faz um ótimo trabalho. O mesmo não pode ser dito de outros atores na minissérie. 

Anne Baxter; Lloyd Bridges e Soon-Tek Oh, três coadjuvantes de peso                 Divulgação/Montagem
Sam Bottoms como Caleb Trask na minissérie East of Eden (1981) não deixa nada a desejar para o papel que, anos antes, foi de James Dean. Sam soube muito bem captar o lado travesso da personagem, mesclando com os momentos mais dramáticos. Seu irmão na vida real, Timothy Bottoms, que interpreta seu pai, não teve o mesmo êxito na segunda e terceira parte da minissérie. Isso porque seu Adam Trask era muito afetado e exagerado e a tentativa de envelhecê-lo falhou miseravelmente. Ele, nem de longe, parecia 17 anos mais velho do que na primeira parte da minissérie. 

Outra falha de East of Eden (1981) é que na minissérie, a relação entre Caleb e Adam parece ser de fácil convivência e o ciúmes que Caleb sente de Aron é como se fosse fruto de uma criança mimada e não de um filho negligenciado - coisa que fica muito mais clara no livro de John Steinbeck. 

No livro, Adam claramente considera Aron seu filho favorito - em parte por sua natureza calma e por se parecer, fisicamente com sua Cathy - e não faz questão de esconder. Na minissérie, Adam trata os filhos igualmente e o ciúmes de Caleb parece infundado e egoísta, algo que não é e não deveria ter sido tratado dessa maneira em East of Eden (1981) porque faz com que a alegoria de Caim e Abel se perca nas entrelinhas. 

O triângulo amoroso entre Abra X Aron X Caleb também não é tratado da forma mais orgânica possível: fica parecendo que Abra escolhe Caleb pelo simples fato de Aron não estar mais disponível depois de se alistar no exército. Isso não é verdade - Abra sempre gostou de Caleb, mas tinha medo de sua natureza volátil e a docilidade de Aron era muito mais fácil para se lidar, embora não tão excitante. É dela, aliás, um dos diálogos mais bonitos sobre o que é amar e que infelizmente não aparece na minissérie: 
"-Eu acho que amo você, Cal.
-Eu não sou bom. 
-Justamente por não ser bom." - A Leste do Éden, John Steinbeck, pág 552
Sam Bottoms, Karen Allen e Hart Bochner - o triângulo amoroso entre irmãos, de novo!         Divulgação/ABC
Infelizmente, além da má construção do relacionamento entre Abra e Caleb, a química entre Sam Bottoms e Karen Allen não é tão boa quanto a de Julie Harris e James Dean na versão de 1955. A minissérie de East of Eden (1981) é, pesando todos os prós e contras, todinha de Cathy Ames e, portanto, de Jane Seymour. 

Sobre a personagem, Jane revelou em entrevista para o talk show da Oprah em 2006 que, para ela, o papel de Cathy Ames foi o melhor de sua carreira:

Eu senti que não estava apenas atuando. Simplesmente veio para mim.
A minissérie East of Eden (1981) está disponível no Youtube e na internet e, apesar de suas falhas, algumas de escalação de atores e outras de construção de enredo, East of Eden (1981) tem em Jane Seymour a interpretação definitiva de Cathy Ames. É a atriz que eleva uma minissérie mediana para sua grandeza. 

Em 2013, revelou-se o desejo de adaptar o livro À Leste de Éden de John Steinbeck novamente, dessa vez para as telonas, com Jennifer Lawrence como Cathy Ames. O projeto está estagnado por causa de desavenças entre os herdeiros e o patrimônio de Steinbeck, que possui os direitos da obra. 

Por enquanto, temos a minissérie East of Eden (1981) para aproveitar toda a grandeza da personagem Cathy Ames - e consequentemente, da brilhante Jane Seymour. 



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