Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) e a comédia de Robert Williams

Em 1931, Robert Williams era próximo o ator revelação de Hollywood. Um ator de comédia com timing próprio, ele estava cotado para ser a próxima estrela de grande porte de Hollywood. Não faz ideia de quem ele seja? Isso tem um motivo: Robert Williams morreu em 3 de novembro de 1931, aos 37 anos de idade (ou aos 34 anos, dependendo da fonte) por apendicite. 

O ator ganhou seu primeiro destaque no filme Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) de Frank Capra ao lado da Jean Harlow e de Loretta Young, na época com apenas 18 anos de idade. Apesar de inúmeras críticas positivas, o filme não foi tão bem recebido pelo público, que até hoje acredita que os papeis de Jean e Loretta foram trocados e ambas sofreram com o erro do casting.
Jean Harlow, Loretta Young e Robert Williams: um trio inesquecível                            Divulgação
Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) conta a história do jornalista Stew Smith, interpretado por Robert Williams, que vai até a casa dos Schuyler para cobrir a mais nova travessura da herdeira Ann, vivida por Jean Harlow. Os dois se apaixonam e ficam noivos, fato que entristece a moleca Gallagher, a jornalista de Loretta Young, que também o ama, mas sempre é considerada "uma dos rapazes." Será que Smith vai preferir o companheirismo de Gallagher ou o deslumbre de Ann? Só o final dirá! 

A gravação do filme Loira e Sedutora começou em agosto de 1931 e teve uma inovação - apesar da história de homem se casa errado e fica dividido em um triângulo amoroso não ser novidade na época, os diálogos rápidos e precisos eram. O bate e volta entre as personagens do filme foi uma novidade que continua a ser usado em Hollywood e acredita-se que o filme deu origem ao boom das comédias screwball, como a de Carole Lombard em Confissão de Uma Mulher (1937). O diálogo, aliás, era do roteirista Robert Riskin, um dos grandes parceiros de Capra. 

Edward Bernds, engenheiro de som do filme, contou em sua autobiografia Mr. Bernds Goes to Hollywood, que não era fã nem de Loretta e nem Robert durante a gravação do filme: "Minha falta de afeição não era arbitrária ou sem razão. (...) Os atores não estavam com ciúmes de Harlow, eles eram completamente rudes. Eles ficaram de amizade um com o outro e entre as cenas eles riam e flertavam como um par de alunos de colegial, completamente ignorando Harlow. Loretta pode ser livrada da culpa, afinal tinha apenas 18 anos de idade, mas Williams tinha uns 30 anos e deveria ter um pouco de respeito pelos seus colegas." Já outros livros e biografias sobre Harlow afirmam que o Robert Williams e ela tiveram um caso durante a gravação do filme. 

Um dos beijos mais famosos da história do cinema em Loira e Sedutora (1931)                       Divulgação

No começo da concepção do filme Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) deveria se chamar simplesmente Gallagher e seria um veículo para que a jovem Loretta Young brilhasse, tanto que ela foi "emprestada" do seu estúdio 20th Century Fox para a Columbia especialmente para ele! Depois, passou para The Gilded Cage - por causa de uma frase da personagem Smith. Mas apesar de Loretta Young estar presente no filme, Capra percebeu, no entanto, que precisava de um apelo mais sexual para seu filme - na época Loretta estava apenas começando- e escalou Jean Harlow, a nova it girl do momento. A adição de Harlow, de acordo com a biografia Hollywood Madonna: Loretta Young, de Bernard F. Dick, envolveu alguns ajustes e a mudança do título para a alcunha de Harlow em Hollywood:  platinum blonde, ou seja, loira platinada!  

Mudança essa, planejada por Howard Hughes, o famoso produtor de Hollywood, que transformou Jean Harlow em uma estrela no filme Anjos do Inferno (Hell's Angel, 1930). Ele sempre emprestava a estrela para outros estúdios e fez uma grande publicidade para Loira e Sedutora, para aumentar o "valor" da atriz no mercado de entretenimento. Foi sua sugestão que o nome do filme mudasse para Platinum Blonde, durante a terceira exibição para os críticos em outubro de 1931, para lucrar ainda mais na alcunha de Harlow. 

Em uma entrevista para o jornalista Arthur B. Friedman em 1957, Frank Capra, o diretor da película, contou um pouco sobre a gravação de Loira e Sedutora (1931): "Foi um dos primeiros filmes de Loretta e com um homem que com toda a certeza teria sido uma grande estrela, Robert Williams, mas ele morreu logo depois do lançamento do filme por apendicite - ele com certeza seria um leve comediante notável. Loira e Sedutora foi o segundo de Harlow, logo depois de Anjos do Inferno (1930). Jean Harlow era uma ótima pessoa para trabalhar. Ela se tornou uma lenda. (...) Ela foi muito mal escalada para o filme. Ela não sabia como uma garota da sociedade era. Ela era uma pessoa ótima, ela queria aprender o tempo todo. " Esse foi o primeiro e último filme que ela fez com Capra.
Robert Williams estava prestes à ter uma carreira sensacional                          Scena Muda/Divulgação
Segundo com a autobiografia de Frank Capra, Jean Harlow estava com muito incerta de sua capacidade e sempre ficava depois de suas gravações para ver e aprender com os outros atores. Para se ter uma ideia, eles tiveram que regravar uma cena inúmeras vezes com a atriz, porque ela pronunciava a palavra biblioteca com um sotaque interiorano e bem carregado! 

Para Loretta Young, o filme também lhe deu inúmeros ensinamentos. Segundo o artigo do site TCM sobre Loira e Sedutora (1931), ela estava acostumada a trabalhar com diretores que controlavam cada aspecto da personagem e ficou surpresa com a liberdade que Capra dava para seus atores. Assim, Capra percebeu a falta de confiança de Young e tal episódio aconteceu: "Capra a puxou para o lado e perguntou: 'O que você pensa dessa personagem Loretta?' e ela logo disse: 'Pensar? Ora, eu não penso, sr. Capra. Eu nunca penso sobre as personagens que interpreto, eu só tento fazer o que o diretor me pede.' Capra, no entanto, gentilmente explicou: ' Loretta, atuar é o que você pensa. Atuar é escutar a outra pessoa e responder, então é vital que você sempre saiba o que pensa.'" 

Loretta e Robert se deram muito bem nas telonas e fora delas                                              Divulgação
O filme foi lançado em 31 de outubro de 1931 e as críticas, como já mencionado, foram satisfatórias, especialmente para Robert Williams. Na época, o jornal The New York Times escreveu: "O Sr. Williams é uma expoente de primeira classe da leve comédia." 

Loira e Sedutora (Paltinum Blonde, 1931), no entanto, era um show de apenas Jean Harlow. Se é a personagem de Loretta Young que dá a volta por cima no final, é Harlow que tem com ele um dos beijos mais famosos do cinema e que aparece, inclusive, na montagem final de beijos do filme Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso, 1988), que nós da Caixa de Sucessos, desvendamos! 

Loira e Sedutora  (1931) pode até ser um majoritariamente de Harlow, mas isso não impediu que as estrelas de Loretta e Robert Williams brilhassem forte, apesar de algumas falhas do filme. Divertido, inteligente e bem-humorado, Loira e Sedutora (Platinum Blonde, 1931) vale a pena para ver Harlow e Young em ação em seus primeiros papeis importantes e é claro o talento cômico incrível de Robert Williams, uma das grandes promessas de Hollywood que nunca se concretizou. 

Cinco atrizes que quase conseguiram o papel

Em Hollywood um papel pode definir uma carreira. Afinal, quando pensamos em James Dean logo Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1956) vem à mente. Com Fredi Washington, pensamos em Imitação da Vida (Imitation of Life, 1934) e com Clark Gable sempre será o charmoso capitão Butler de E o Vento Levou...(Gone with The Wind, 1939). 

Isso, no entanto, não significa que esses são os únicos filmes bons dos atores, mas que são, simplesmente, os mais adorados pelos fãs. Mas o que acontece para que um ator ou atriz consiga o papel desejado? Seria sorte? Talento? Ou apenas uma ajuda das pessoas certas? 

Depois de uma bem-sucedida versão de atores e atrizes que quase conseguiram papeis importantes, nós da Caixa de Sucessos fazemos um apenas com atrizes que quase conseguiram um papel em particular, mas não necessariamente um bom! Confira! 

ANGELA LANSBURY COMO AMBER EM ENTRE O AMOR E O PECADO (1946)

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Quando o livro Forever Amber, ou na tradução, entre o Amor e o Pecado de Kathleen Winsor foi lançado em 1944 ele se tornou um bestseller imediato e a mistura entre amor, traição e a história do século XVII o transformou em uma sensação quase tão grande quanto o lançamento de E o Vento Levou...(1939). 

Assim, o direito da obra foi comprada pela 20th Century Fox, o estúdio do qual Linda Darnell era contratada. A atriz tinha certeza que ela deveria interpretar Amber no longa, mas ela não era o primeiro nome da lista de atrizes consideradas. Vivien Leigh, Margaret Lockwood foram consideradas primeiro, mas foi a novata Peggy Cummins que conseguiu o papel porque o diretor do estúdio Daryl F. Zanuck havia gostado dela, como conta o livro Linda Darnell and The American Dream de Ronald L. Davis.

O problema era que Peggy era extremamente inexperiente e com cinco semanas de filmagem sob a direção de John Stahl, não estavam fazendo nenhum progresso. Zanuck demitiu o diretor, mas finalmente teve que admitir que o problema era a atriz. Cornel Wilde que interpretou Bruce Carleton no filme, contou: "Peggy mostrava as mesmas expressões nos 39 dias. No fim deles, Zanuck finalmente admitiu que ela não daria para o papel. Ele finalmente desistiu e queimou todo o filme para que ninguém visse o erro terrível que ele havia cometido." 


Assim, o produtor chamou o diretor Otto Preminger para dirigir o longa e convidou Linda Darnell para o papel. Mas uma outra candidata, que divide a data de aniversário com Linda, era Angela Lansbury que havia cimentado seu lugar no cinema rapidamente, arrancando uma indicação de Melhor Atriz coadjuvante em 1945 pelo seu papel em À Meia Luz (Gaslight, 1944). Ela queria e muito o papel, e inclusive foi considerada, mas foi impedida por seu estúdio, a MGM, de sequer fazer um teste. 

RITA HAYWORTH COMO AURIOL EM TESTEMUNHA DA LOUCURA (1973)

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Se Rita Hayworth passou a tocha para Kim Novak no filme Meus Dois Carinhos (Pal Joey, 1956), mais de duas décadas depois a história era outra: Rita era a favorita para um papel que acabou ficando com Novak. 

O ano era 1972 quando Rita havia acabado de filmar A Divina Ira (Wrath of God, 1972) e estava extremamente debilitada pela doença de Alzheimer, embora na época ela ainda não tivesse sido diagnosticada e muitos achavam que seu comportamento vinha do alcoolismo. Rita esquecia de suas falas e tinha que ler uma por vez.

Isso não impedia que seu nome e seu talento fosse requisitado. Portanto, Rita já havia assinado o contrato para aparecer no filme Testemunha de Loucura (Tales That Wtiness Madness, 1973) e inclusive compareceu durante quatro dias nas filmagens do filme britânico, mas depois disso foi embora sem explicação e retornou para Hollywood. O livro Kim Novak on Camera de Larry Kleno revelou que posteriormente soube-se que Rita desistiu do filme por causa de uma doença.

Assim, depois que o produtor de A Testemunha da Loucura (1973) a chamou, Kim Novak mais uma vez serviu como substituta de Rita Hayworth nas telonas. 


JUNE ALLYSON COMO VERONICA EM A NOIVA DESCONHECIDA (1949)

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A Noiva Desconhecida (The Good Old Summertime, 1939) é uma refilmagem musical do filme estrelado por James Stewart e Margaret Sullavan - dois atores que tinham uma paixão platônica um pelo outro na vida real- e conta a história de um casal, vivido por Judy Garland e Van Johnson que se odeiam pessoalmente, mas se apaixonaram, sem saber, ao comunicar-se por cartas. 

June Allyson foi uma das parceiras de cinema mais constantes de James Stewart. Ao seu lado, a atriz, cantora e dançarina, atuou em três filmes com ele e mais uma vez esta curiosidade mostra como o mundo e também Hollywood é pequeno - June quase estrelou nesta refilmagem de A Loja da Esquina (The Shop Around de Corner), um dos primeiros filmes de seu amigo Stewart. 

O ator Van Johnson já estava certo para o papel, mas quando June descobriu que estava grávida de seu primeiro filho com o ator Dick Powell, ela resolveu sair do filme e aproveitar a gravidez, deixando que Judy ficasse com o papel.

Mas de acordo com a biografia Van Johnson MGM'S Golden Boy de Ronald L Davis, Garland não estava feliz fazendo A Noiva Desconhecida (1949) e muitas vezes aparecia tarde ou nem aparecia! 



SIMONE SIGNORET COMO RACHEL EM BARRABÁS (1961)

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Silvana Magnano é uma das atrizes italianas mais sexies de todas. Ela começou sua carreira ganhando o Miss Roma em 1946 e logo entrou para o mundo do cinema, graças ao seu romance com o também ator italiano Marcello Mastroniani.

Com performances em filmes como Arroz Amargo (Bitter Rice, 1949) e Anna (idem, 1951), a atriz logo chamou atenção do produtor Dino de Laurentiis, com quem ela se casou em 1949. Por isso, assim como muitas estrelas que casaram com pessoas importantes no mundo do entretenimento, como Sophia Loren e Carlo Ponti e Norma Shearer e Irving Thalberg, Silvana ganhou algumas vantagens.

E uma delas foi na produção de Barrabás (Barabbas, 1962). Dino de Laurentiis era o produtor do filme e apesar de não ter conseguido sua primeira escolha para a personagem principal, Yul Brynner, escalando Anthony Quinn no lugar, parecia que a atriz francesa Simone Signoret, ganhadora de um Oscar de Melhor Atriz por Almas em Leilão (Room on Top, 1959) era a favorita.

Ela viajou até Roma para fazer um teste com os figurinos, os cabelos e até nos cenários e a imprensa estava em peso documentando cada um de seus passos, inclusive enquanto ela conversava com o diretor do filme Richard Fleischer.

Simone Signoret chegando na Itália em 1961 e fazendo o teste                   Reprodução/Montagem
Parecia completamente certo de que Simone interpretaria Rachel no filme, mas uma semana depois Dino mudou de ideia - disse que queria sua esposa Silvana Mangano em Barrabás e ponto final. 

Assim foi feito.

FRANCE NUYEN COMO SUZIE EM O MUNDO DE SUZIE WONG (1960)


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Nem todas as estrelas da Broadway como Montgomery Clift e Barbra Streisand tem a sorte de conseguirem uma carreira sólida no cinema, apesar de serem ótimos atores. Julie Andrews, por exemplo, interpretava Eliza Doolittle em Minha Querida Dama na Broadway, mas o papel quando foi transformado em filme ficou para a mais experiente Audrey Hepburn. Felizmente, isso em nada feriu a carreira de Andrews. 

Esse foi quase o mesmo caso com a atriz France Nuyen, uma francesa de descendência chinesa, que interpretava a personagem Suzie Wong na Broadway no final dos anos 50 ao lado do ator William Shatner, o que o ator afirmou ser um desafio já que ela era nervosa e mal falava inglês. A peça contava a história de Suzie, uma prostituta que acaba se envolvendo com um artista sedutor. 

O interessante é que France foi contratada para fazer o filme O Mundo de Suzie Wong (The World of Suzie Wong, 1960), mas depois de um ataque nervoso, que muitos creditam ser por causa de seu relacionamento na época com Marlon Brando, ela foi despedida depois de alguns meses e foi escalada a atriz chinesa Nancy Kwan em seu lugar, de quem o produtor do longa Ray Stark havia notado em Hong Kong e gostado muito. 

Segundo a biografia William Holden de Michelangelo Capua, Ray logo demitiu o diretor vigente e contratou Richard Quine para refazer todo o trabalho. William, escalado como o pintor no longa-metragem, no entanto, disse que não se importava de fazer o filme quase todo de novo, já que acreditava que com Nancy teriam um melhor filme. 

O Mundo de Suzie Wong (1960) foi um fracasso nas bilheterias. 



Assim Caminha a Humanidade em Gigante, livro de Edna Ferber

Uma obra de ficção (ou talvez não) sobre texanos que perpetuam preconceitos contra os mexicanos, que trabalham para eles. Além do mais, tratam as mulheres como acessórios lindos e brilhantes. Uma sociedade tão diferente e completamente alienada dos Estados Unidos que habita, o Texas sempre foi tão grande quanto complexo. E a autora Edna Ferber parecia entender muito bem isso. 

Edna Ferber era uma escritora e jornalista de sucesso                                           Divulgação
Apesar do choque inicial, principalmente na época do lançamento de Gigante (Giant, de Edna Ferber) em 1952, ao saber-se que sua autora era uma mulher que havia nascido em Michigan, nos Estados Unidos e nunca havia sequer visitado o Texas, o livro foi um sucesso estrondoso. Alguns anos depois, em 1956, seu livro tomou forma em um filme estrelado por Elizabeth Taylor, Rock Hudson e o falecido James Dean chamado Assim Caminha a Humanidade (Giant, 1956), lançado depois da morte de Dean que foi em 30 de setembro de 1955.

Mas ao contrário do que se pensa, Edna Ferber era uma mulher de fibra e não se intimidava nem com suas críticas e nem com os estúdios de Hollywood: "Eu escrevi o livro Gigante. Eu escrevi como queria escrever. Não foi escrita com a ideia de ser lançada como um filme. Eu nunca a escrevi desse modo." Apesar disso, inúmeras das histórias de Edna chegaram às telonas como ShowBoat (1926), Cimarron - A Jornada da Vida (1920), a peça No Teatro da Vida, além de Saratonga Trunk (Mulher Exótica) que foi estrelado por Ingrid Bergman e Gary Cooper. 

Edna Ferber nasceu em 15 de agosto de 1885 e assim que se formou do colégio já começou a trabalhar para jornais em Wisconsin, nos Estados Unidos. Seu primeiro livro foi publicado em 1911, aos 26 anos de idade, chamado Dawn O'Hara. E, apesar de uma longa lista de histórias em seu currículo, o seu trabalho mais famoso hoje em dia é justamente Gigante por unir as três das maiores estrelas do cinema em um filme só. 

James Dean e Elizabeth Taylor em cena do filme Assim Caminha a Humanidade (1956)                   Divulgação
Gigante de Edna Ferber conta a história de Leslie Lyntton, no filme vivida por Taylor, uma garota de sociedade dos EUA que pode não ser uma beldade, mas tem inteligência, elegância e astúcia de sobra. Assim ela chama atenção de Bick Benedict, no filme interpretado por Rock Hudson, um grande e forte fazendeiro do Texas que com seu jeito macho e simples de ver o mundo, acaba atraindo Leslie, principalmente do modo apaixonado que ele fala de sua terra. O casamento acontece rapidamente e logo Leslie descobre que a vida no Texas, nos Estados Unidos é feito de distâncias e distâncias sem fim. 

A distância dos ricos com os mexicanos, de quem a terra foi roubada, a distância entre os empregados, em especial Jett Rinker, vivido por James Dean no filme Assim Caminha a Humanidade (1956), um faz-tudo que se apaixona por Leslie e de quem sua infelicidade e ganância o corrói. 

Vale lembrar que essa é uma história bem diferente do que os texanos estavam acostumados a verem sobre si nas telonas, afinal John Wayne os representava de modo durão e justo, sempre enaltecendo seu estilo de vida. Após o lançamento de Gigante, Edna recebia ameaças de mortes constantes de pessoas certas de que ela ameaçava o estilo de vida da população. Até a Warner Bros, produtora do filme, ficou preocupada pelas similaridades representadas com a realidade de diversas pessoas que o livro retratava. 

De acordo com o livro Edna Ferber's Hollywood: American Fictions of Gender, Race, and History de J. E. Smyth, a família Benedict foi inspirada pela família Kleberg, uma das mais influentes do Texas. A família construiu o King Ranch, conhecido como Reata no livro de Ferber, e o fez crescer e chegar ao número de mais de 2,400 km² de extensão. A família também foi responsável por colocar uma estação de trem no sul do Texas. 

Já a figura de Jett Rink foi baseada no milionário do petróleo Glenn McCarthy, que já com 26 anos de idade tinha duas perfurações de petróleo no Texas e como a personagem do livro, ele sonhava muito querendo construir um grande hotel na sua cidade, um sonho que ele alcançou, mas não sem consequências. 

A família Kleberg e Glenn McCarthy - inspirações de Edna                 Divulgação/Montagem 
Mas em entrevista para o The Mike Wallace Interview em 1957, Glenn ficou um pouco relutante em concordar com as semelhanças do livro e sua vida pessoal: "É um pouco como minhas experiências...bem, não é minha opinião de que Ferber escreveu minha vida no livro, mas é a opinião de vários amigos meus em Hollywood. Eu não gostei do livro, achei que foi oportunista."  

O livro, no entanto, era sim inspirado em Glenn McCarthy. A autora, conhecida por escrever livros que descreviam ou tratavam de pessoas marginalizadas ou com uma história mais ficcionalizada, estava de olho na relação de amor e ódio que as pessoas tinham com o Texas. 

Assim quando Glenn McCarthy, que ao nascer pobre, achou petróleo e construiu com todo seu dinheiro um hotel no Texas, o Shamrock, chamando várias estrelas como Carmen Miranda e Errol Flynn para inauguração e fazendo uma festança; inclusive mostrando um filme que havia produzido; a oportunidade e o debate era bom demais para Edna Ferber deixar passar.  Afinal: o Texas era uma gigante contradição - produzia cowboys justiceiros e machistas, que queriam que tudo permanecesse igual, e homens do petróleo que desperdiçavam e muito seu dinheiro, sem pensar em consequências. 

O hotel que Glenn tanto queria construir em 1949                                          Divulgação
A linguagem do livro de Edna não é nada informal. A escritora gasta muito tempo falando sobre o clima do Texas, que como sabe-se é quente e seco, e é nisso que ela peca. Talvez tenha sido uma tática para demonstrar com a vida no Texas é árdua e um tanto monótona, mas para o leitor isso mais parece uma tática de preencher algumas páginas a mais sem muito esforço. 

O romance de Leslie e Bick não parece convincente. Os dois não tem nada em comum e, apesar de algumas surpresas no meio do caminho da vida a dois, parecia que a noiva tinha muito mais química com o tio de seu marido, apesar dele ser anos mais velho do que ela.  Leslie e Bick discutem por tudo, o tempo todo e não concordam em nada ao que diz respeito ao Texas - se ela quer ajudar os mexicanos a terem uma melhor condição de vida, ele manda para que ela não se meta, se ela quer transformar a casa, ele também não deixa. 

Mas, apesar de todas as contradições entre os relacionamentos amorosos em Gigante, o forte do livro é como ele lida com o preconceito. Desde o filho mais velho de Bick, o  franzino Jordan.  apaixonando-se e casando com uma mexicana, até Judy, uma jovem independente que quer desvendar o mundo e proteger àqueles com menos oportunidades do que ela, a família Benedict tinha tudo para dar errado, mas deu certo. É isso que torna o livro Gigante de Edna Ferber tão especial.  
"Assim que eles saíram da lanchonete, ainda conseguiam escutar a voz do homem e da mulher em disputa: 'Você é louco, Floyd, apenas a mãe e o menino eram mexicanos, não os outros.' Ah, a mais velha tinha cabelos negros e era muito magra. Ela não me engana.' (página 395 do livro Gigante de Edna Ferber)
A família Benedict representa, no livro de Edna, portanto, o Texas, um estado tão grande com inúmeras conflitos, que tinha tudo para dar errado, mas deu muito certo. Já Jett Rink representa a ambição do Estado e como ela, em grandes quantidades, sem um âncora, pode levar à destruição. Os Benedicts são o exemplo do modo de vida texano antigo e Jett Rink, o novo, o excitante e o destrutivo, por fim. 

O melhor do livro de Edna Ferber é que ela não mostra os Benedict ou Jett Rink como certo ou errado e vice/versa. Os dois tem suas falhas extremas, como o racismo, a ganância e a superioridade texana. Todos fazem parte de uma sociedade patriarcal que tenta reprimir a mente curiosa e pensante de Leslie, ingênua na vida, mas sagaz nos livros. 

Gigante, livro de Edna Ferber é uma daquelas histórias que fica com você bem depois de sua leitura. Seja amando ou odiando o livro, a verdade é que Edna teve a coragem de retratar o Texas e o preconceito dos EUA contra os imigrantes antes de muitos outros. Infelizmente, essa é uma pauta que continua mais atual do que nunca e a obra da escritora merece ser mencionada neste discussão. 

Um livro denso, com inúmeras contradições e ensinamentos, Gigante é uma história para ser digerida aos poucos, mas ah, é um dos melhores livros para começar discussões e debates sobre raça e privilégio, algo de extrema importância, hoje e sempre. 


INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO 


Livro: Gigante
Autora: Edna Ferber 
Páginas: 409 

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A quase perfeição de Orgulho e Preconceito, minissérie de 1995

Uma das cenas mais marcantes da televisão britânica e do mundo da TV, de longe, é a cena de Mr. Darcy, interpretado por Colin Firth, na minissérie Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice, 1995), na qual ela sai do lago de sua mansão com suas roupas e a camisa branca toda molhada. A expressão espantada, mas desejosa de Elizabeth Bennet, vivida por Jennifer Ehle, é a de muitas pessoas ao redor do mundo ao ver essa cena. 

Mas não foi sempre que a BBC ou o cinema acertou ao trazer o Mr. Darcy e Elizabeth Bennet nas telonas. A primeira versão do livro Orgulho e Preconceito de Jane Austen para os cinemas foi em 1940 no filme estrelado por Laurence Olivier e Greer Garson. Puxando bem para o lado cômico, o filme não segue o mesmo ambiente do livro, já que a película reaproveitou as vestimentas do filme ...E o Vento Levou (1939). Em 1967, a BBC resolveu fazer uma minissérie de Orgulho e Preconceito, além de uma versão anterior em 1952, mas no que todos os episódios foram perdidos. 

Por isso, a emissora de TV BBC já tinha uma fórmula quase certeira para fazer com que a minissérie Orgulho e Preconceito (1995) fosse um sucesso! E foi. 

Jennifer Ehle e Colin Firth até namoraram durante e depois das filmagens                             Divulgação
Tudo começou em 1987 quando a produtora Sue Birtwistle era uma caloura na Universidade de  Coventry na Inglaterra. Seu tutor era o professor de letras e roteirista Andrew Davies e os dois conversaram sobre fazer uma adaptação de Orgulho e Preconceito em um filme ou minissérie. De acordo com a produtora, em entrevista ao site A&E, ela sempre amou esse livro de Jane Austen: 


Eu e Andrew estávamos assistindo à uma versão de Northanger Abbey e depois dos créditos terminarem e as luzes acenderem, eu disse para o Andrew: 'Nós simplesmente temos que fazer Orgulho e Preconceito' e nós prometemos ali mesmo. Isso foi há sete anos atrás. Nós sabíamos que esse era o livro favorito um do outro. 

Assim a promessa se tornou realidade, mas não sem desafios. Sue e seu professor Andrew tiveram que oferecer suas ideais à inúmeras emissoras de televisão, até que a ITV, emissora britânica, resolveu dar uma chance ao projeto, como confessa Sue: "Nós fizemos a ideia soar bem moderna, bem contemporânea. Ele estava muito alegre e ficou nos perguntando se tínhamos os direitos pelo livro. Nós asseguramos que sim e ele ficou muito chocado quando contamos que era o livro Orgulho e Preconceito de Jane Austen." 

Mas depois de enviarem os três dos seis roteiros para a emissora, a ITV achou que era cedo demais para fazer uma nova adaptação, já que a última minissérie adaptada do livro foi em 1979 e eles trouxeram a ideia à BBC, canal famoso britânico, que topou trazer a ideia deles para a realidade em conjunto com o canal A&E! 

Sue Birtwistle e Andrew Davies - os dois responsáveis por essa grande adaptação                 Divulgação
E desde o começo, os dois queriam mudar o jeito que as adaptações da obra de Jane Austen eram feitas. Em entrevista ao jornal BBC em 2015, ele disse: "Nós queríamos muita energia no show e o livro justifica porque a Elizabeth está sempre correndo por aí e ficando suada e com lama embaixo de seu vestido, o que parece excitar Mr. Darcy. Então nós pensamos em fazer algo o mais físico possível, sem ser ridículo. Vamos lembrar as pessoas que não é apenas uma comédia social, é sobre desejo e pessoas novas lidando com seus desejos e vamos mostrar isso o quanto for possível." Assim, a minissérie Orgulho e Preconceito de 1995 as cenas eram feitas em sua maioria fora do estúdio com a combinação de diálogos e movimentação dos atores. 

O livro Orgulho e Preconceito conta a história de cinco irmãs, Elizabeth, Jane, Mary, Catherine e Lydia Bennet que tem uma mãe muito futriqueira a Sra. Bennet que vai fazer de tudo para que suas filhas se casem. É aí que a chegada de dois cavalheiros distintos em Meryton, na Inglaterra, o Mr. Darcy e o Mr. Bingley, dois solteiros com uma renda muito vantajosa, efervescem a cidade e transforma completamente a vida da família Bennet. 

Não é preciso dizer que a personagem de Mr. Darcy é tão emblemática que o ator que vai interpretá-lo sofre uma grande pressão de estar à altura. Mas surpreendentemente não foi por isso que Colin Firth quase decidiu passar a chance de interpretar o personagem. Como contou Sue Birtswistle para o jornal The Guardian: 'Eu sabia que ele seria perfeito. Mas ninguém concordou comigo, muito menos Colin. Ele achava que Jane Austen era algo muito de menininha e não queria fazer um drama clássico. Ele não fazia ideia de que o Mr. Darcy era uma personagem tão importante da literatura e ficou chocado com a reação das pessoas quando contou que estava considerando fazer o papel - comentários de que Mr. Darcy deveria ser sexy e que [Laurence] Olivier o interpretou e que ele não faria melhor." Colin quase interpretou uma drag queen no filme Priscilla A Rainha do Deserto, ao invés do Mr. Darcy.

Sue Birtwistle trabalhou com Colin Firth no filme Dutch Girls, de 1985 e sempre soube que ele seria perfeito no papel. Para tanto, como conta o livro Colin Firth: The Biography de Alison Maloney, ela teve que escrever uma longa carta explicando porque acharia que ele seria perfeito e enviando o roteiro dos seis episódios. Assim que o ator leu, já estava dentro, como ele conta no livro The Making Of Pride and Prejudice: "Era incrível. Eu não consegui largar nem para sair de casa. Eu não acho que nenhum roteiro me deixou tão animado assim, apenas no termo de romance da história." 

Outra curiosidade é que Colin tingiu o cabelo para participar da minissérie - seu cabelo era um tanto ruivo       Divulgação
Já Jennifer Ehle, uma americana que estudava artes cênicas na Inglaterra nos anos 90 e que até pintou as sobrancelhas de preto para que na audição pudessem vê-la mais fielmente como Elizabeth Bennet - já que a atriz era loira, revelou que sempre quis interpretar a personagem: "Elizabeth é um papel incrível. Eu li o livro pela primeira vez com 12 anos de idade e foi o primeiro livro de romance adulto que li. Eu tentei ler O Morro dos Ventos Uivantes, mas eu não consegui entender - era uma paixão muita adulta. Com o Mr. Darcy eu entendi e me apaixonei por ele e por Elizabeth." 

Ela foi escolhida entre uma seleção de mulheres atrizes entre 20 a 30 anos de idade e de acordo com o diretor da minissérie, Simon Lagton, ela foi escolhida por sua tenacidade: "Elizabeth Bennet deveria ter um apelo mais sensual porque a estaríamos vendo por mais de seis horas. Isso não significava que ela deveria parecer como uma deusa, o contrário, mas eu sabia que Jennifer tinha isso. Mas eu tive que convencer os produtores, o diretor de casting e o editor do roteiro, que eram todas mulheres. Ela era tão composta. Ela acertava em cheio toda vez. Ela era formada. Eu fiquei espantado com ela, todo mundo estava." 

Todos os outros atores, a não ser aquelas mais conhecidos no mundo artístico como Colin e Alison Steadman (a Sra. Bennet), tiveram que passar por uma audição, inclusive Susannah Harker, que interpreta Jane Bennet, apesar de sua mãe, Polly Adams, ter interpretado a mesma personagem em 1967. Outra curiosidade interessante é que a atriz estava grávida durante a filmagem da minissérie e que seu par na minissérie Orgulho e Preconceito de 1995 era Crispin Boham Carter, primo de Helena Boham Carter e que achava que iria interpretar o vilão da história, Wickham, quando foi escalado. 

Jane Bennet (Susannah Baker) e Mr. Bingley (Crispin Boham Carter), o casal doce                     Divulgação
A gravação da minissérie Orgulho e Preconceito de 1995 começou em junho de 1994 em Grantham, um vilarejo na Inglaterra e as filmagens se estenderam em outras cidades próximas, com um orçamento de 6 milhões de euros e cinco meses de duração. Apesar de ser o protagonista, a personagem de Colin Firth viaja muito a negócios e ele não se sentia tão próximo do elenco, justamente por ter grandes períodos de folga. 

Outra dificuldade da filmagem da minissérie eram as mudanças constantes de locação que não permitiam que os membros dos bastidores conseguissem terminar as gravações, dependendo do tempo e até de contratempos e acidentes. Mas a localização e o tamanho das casas eram um testamento de qual era o lugar de cada pessoa na sociedade na época, como conta Sue no minidocumentário Pride and Prejudice from Page to Screen: "Nós começamos a procurar lugares antes mesmo de estarmos oficialmente em produção. E Jared lembrou que viu um vilarejo em Laycott que daria uma ótima Meryton. E achamos que deveríamos começar por aí já que é muito difícil achar um vilarejo inteiro que você pode usar." 

O vilarejo, a mansão de Mr. Darcy e a casa das Bennets

Mas a cena mais difícil de se realizar foi a do banho no lago de Mr. Darcy. Na verdade, quem pulou no lago foi um dublê e não Colin Firth, já que o lago poderia ter alguma fonte de doença e a claúsula de seguro do ator não permitiria esse tipo de risco. Tentaram então filmar Colin em um tanque, mas na sua primeira tentativa chegou até o fundo com o nariz e quase o quebrou, com sangue por todo lado. Assim ficou decidido pelo dublê. 

Mas a cena icônica do lago de Mr. Darcy na versão de 1995 quase aconteceu nu. A BBC, no entanto, vetou a nudez, e os produtores tiveram a ideia de uma roupa de baixo, que consideraram um tanto quanto ridícula, posteriormente. Assim nasceu a cena em que Mr. Darcy depois de uma cavalgada se refresca com suas roupas, uma das cenas mais sensuais dos anos 90. 


A estreia da série Orgulho e Preconceito aconteceu em 24 de setembro de 1995 e o sucesso foi tremendo, tanto que a história conta que uma senhora de 103 anos de idade foi proibida de ver o resto da série, já que quase teve um ataque cardíaco! 

Uma das minisséries de maior audiência na TV britânica, com mais de 10 milhões de casas sintonizadas no programa, Orgulho e Preconceito (1995), apesar de ter tudo para falhar foi um grande sucesso e lançou de vez a carreira de Colin Firth no cinema internacional. 

A interpretação de Colin Firth no papel é tão icônica, apesar de seu irmão encorajá-lo a desistir do papel, que inúmeros livros foram escritos com sua personagem e a cena do lago em mente. O livro O Diário de Bridget Jones de Helen Fielding foi escrito pela autora depois que ela viu a minissérie e quando foi a hora de adaptar a história para o cinema, Colin Firth reprisou três vezes o papel do namorado perfeito, Mr. Darcy. 

Já o livro Austenlândia de Shannon Hale também foi inspirado na minissérie e a personagem obcecada pelo Mr. Darcy e o romance perfeito tem uma cópia de papelão em tamanho real de Colin Firth como a personagem da minissérie. 

Embora a versão favorita de Orgulho e Preconceito seja um debate frequente entre fãs, pode-se dizer que a produção da minissérie de 1995 está bem próxima da perfeição. Pergunte para Colin Firth! 


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