A inspirada trilha sonora de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989)

Os anos 80 estão repletos de filmes adolescentes famosos como O Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985), Curtindo a Vida Adoidado (Ferris Bueler's Day Off, 1986) e Gatinhas e Gatões (Sixteen Candles, 1984), porém talvez um dos mais doces - e subestimados - dessa era seja a obra de Cameron Crowe, o Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989). 

Em Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989), conhecemos Lloyd Dobler, vivido por John Cusack, um rapaz que tem como paixão duas coisas: o kickboxing e Diane Court, papel de Ione Skye. No dia de sua formatura do colegial, ele finalmente tem a coragem de chamá-la para sair e dali os dois desenvolvem uma amizade que se transforma em amor verdadeiro. No entanto, diferente de muitos outros filmes adolescentes, eles tem que lidar com problemas do mundo real, como a investigação do pai de Diane, James (John Mahoney) pela Receita Federal. Joan Cusack, irmã de John, também participa do filme como a irmã de Lloyd. 

Diane e Lloyd no filme de sucesso de Cameron Crowe
Mesmo que você nunca tenha assistido a esse filme, com certeza deve ter visto em comerciais ou na internet, a parte em que o personagem de Lloyd está com uma caixa de som acima da cabeça, do lado de fora da casa de Diane, implorando que ela volte para ele ao som de In Your Eyes de Peter Gabriel.

É fato de que a trilha sonora de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989) é um dos pontos altos da história de Lloyd e Diane e tudo graças a seleção de Anne Dudley e Richard Gibbs. Porém foram os produtores do filme que insistiram em músicas mais contemporâneas na trilha sonora. Conforme conta Cameron Crowe: 
Eles me disseram de última hora que se eu não tivesse uma música de sucesso na trilha sonora. Então estávamos correndo com dinheiro extra...tentando encontrar hits. - Cameron para o livro Celluloid Symphonies: Texts and Contexts in Film Music History
De acordo com as notas dentro do CD da trilha sonora de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989), outras pessoas também fizeram parte da seleção de músicas do filme, em especial a esposa de Cameron na época: Nancy Wilson, da icônica banda Heart.
Crowe e Wilson pediram que John Battis e Martin Page escrevessem a balada All for Love para que Nancy cantasse no filme. All for Love foi a primeira música que Nancy cantou sem sua irmã [ela e Ann formavam a banda Heart] e está subindo nas baladas de sucesso. - retirado do site oficial de Cameron Crowe
A canção aparece nos créditos finais do filme Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989)

Ademais, o envolvimento de Nancy Wilson com a trilha sonora de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989) foi tão grande que ela organizou as canções que foram colocadas no filme ao lado de Anne Dudley e Richard Gibbs. Cameron, um amante da música, também estava envolvido nessas etapas, ao lado de seus produtores Danny Bramson e Jerry Greenberg. 

Bandas como Living Color, Red Hot Chilli Peppers, Aerosmith, Freiheit, Mother Love Bone e Cheap Trick, foram colocadas na trilha sonora do filme representando o sentimento mais "underground" do personagem Lloyd, que assim como os artistas, não era convencional e se agarrava ao sentimento de rebeldia no que se referia ao seu futuro. 

A única vez que vemos um lado mais escancaradamente emocional de Dobler é na famosa cena com o boom box de fora da casa de Diane. Na cena, temos a icônica In Your Eyes, que quase não foi usada. Não dá para imaginar o filme sem esse hit, certo? Mas isso ficou muito perto de acontecer. 

De acordo com Cameron Crowe, em entrevista aos jornalistas Jonathan Romney e Adrian Wootton, a cena seria gravada com To Be a Lover do Billy Idol. Na época, John Cusack estava obcecado pela banda Fishbone e queria que seu personagem fizesse uma serenada com a Turn The Other Way e foi essa música usada durante a gravação da cena. Em um outro take tentaram usar o Within Your Reach do The Replacements, que acabou em outra parte do filme. O problema é que o resultado final não foi o esperado:
Mas quando exibimos o filme parecia que um fã louco do Fishbone estava fazendo uma serenata e destruiu o sentido do filme. Então eu tinha uma fita cassete com músicas feitas para o meu casamento e nesse ponto eu estava tão desesperado que eu estava escutando no meu carro - vamos tentar alguma coisa, qualquer coisa. Nada funcionava a não ser In Your Eyes que estava na fita cassete do meu casamento e era tão perfeito que contava a história do filme. Combinava perfeitamente com cada cena, era incrível. 

A canção In Your Eyes de Peter Gabriel pode ser ouvida em dois momentos do filme: na cena icônica e, ao fundo, quando Lloyd e Diane fazem amor pela primeira vez no carro do personagem. Em entrevista ao site EW, Cameron também revela que conseguir o direito de usar a música não foi fácil e que contou com uma ajudinha de Rosanna Arquette (que dizem ter sido a inspiração para In Your Eyes): 
Então eu acho que o que eu escutei depois foi que Rosanna Arquette disse apenas coisas boas sobre nós para Peter Gabriel, então ele pediu para ver o filme antes de tomar a decisão. Tinha um dia para ligar para ele no estúdio, ele estava na Alemanha, e eu acordei super cedo para falar com ele. Então ele falou comigo, naquela voz etérea, e disse: 'Eu agradeço pelo seu pedido. É uma canção muito pessoal para mim e espero que não se importe, mas tenho que recusar'. 
O diretor e roteirista de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989) estava decepcionado, mas antes de desligar o telefone fez questão de perguntar ao Peter Gabriel por que ele não quis dar os direitos da música, indagando o que tinha de errado no filme.  Foi ali que Cameron descobriu que Peter tinha assistido ao filme errado:
Foi aí que ele disse: 'É que eu acho que usar essa música em uma cena de overdose não seria certo.' E eu pergunto quando ele tem uma overdose e ele responde: 'Você está fazendo uma história com John Belushi, certo?' E eu: 'Não, não, não. É uma história de colégio com um cara de casaco.'  Então eu pedi: 'Por favor, assista ao filme do colegial e me avise.' E ele me garantiu que faria. Depois soubemos que ele aprovou o uso. 
Fotos publicitárias de Ione Skye e John Cusack para Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989)
Mesmo assim, Cameron revelou se sentir perturbado imaginando Peter Gabriel assistindo John Belushi ter uma overdose ao som de In Your Eyes - a cena é do filme Wired (idem, 1989) - e como ele ficou tão próximo de perder a canção para Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989). Custou de U$200 mil a U$300 mil para conseguir os direitos da canção.

Antes de chegaram à um acordo sobre a canção In Your Eyes, Cameron e o produtor James Brooks resolveram se prevenir e pediram para a banda The Smithereens gravarem uma música para a tão famosa cena. Eles ofereceram o hit A Girl Like You, mas o diretor não aprovou, considerando que "revelava muito sobre o enredo" de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989). O cineasta afirma ter ficado arrasado por não poder ter usado a canção.

Em entrevista a MTV: 120 Minutes, o vocalista da banda, Pat Dinizio, que trabalhou novamente com Cameron no filme Vida de Solteiro (Singles, 1992),  afirmou:
A letra é minha reação aos melhores diálogos e cenas do filme. Ele me enviou o roteiro e me pediu para escrever uma canção-tema para Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989).
Ainda segundo Pat, em entrevista ao Clifford Method, James Brooks queria que eles mudassem a letra da canção e eles se recusaram:
Depois de uma pequena discussão com James nos decidimos pegar a canção de volta e  guardar para nós. 
Apesar não serem incluídos na trilha sonora, outras bandas fazem parte de forma subliminar do filme como The Clash, que é a estampa da camiseta de Lloyd, e na primeira vez que os dois apaixonados voltam de carro, escutando 3 horas de rock até levar o amigo da festa de volta em segurança. A presença de Corey, interpretada por Lili Taylor, que quer ser uma cantora e interpreta suas canções durante algumas partes do filme, com a icônica Joe Lies e That'll Never Be Me, também mostra como a música no geral é tão importante - e essencial - na vida dos jovens. 

John Cusack, Cameron Crowe, John Mahoney e Ione Skye no set de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989)
Em entrevista ao site KMUW, para comemorar em 2019 os 30 anos de lançamento de Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989), John Cusack revelou que deu a ideia de colocar a banda The Replacements na trilha sonora do filme foi dele.  
Cameron e eu estávamos pensando no filme e tocando música do tempo todo. Estávamos criando a trilha sonora conforme o filme progredia. Nós tínhamos órbitas de músicas que dividíamos e eu o introduzi à essa canção [Within Your Reach do The Replacements]
De acordo com o site The Hollywood Reporter, até as canções que os atores escutavam no set de filmagens acabaram no filme, mostrando como a colaboração entre o diretor e os artistas pode resultar em momentos cinematográficos tão memoráveis. 

Digam o Que Quiserem (Say Anything, 1989) é a prova viva disso. 

A estadia 'bossa nova' de Lena Horne no Brasil

Lena Horne foi uma das grandes atrizes negras de Hollywood nos anos 40 e 50. Apesar do preconceito racial e das poucas chances nas telas - seus papeis em filmes A eram apenas números musicais que poderiam ser descartados em estados do Sul dos EUA - Lena conseguiu se estabelecer como uma estrela. 

Considerada uma ameaça tripla - Lena era atriz, cantora e dançarina - a bela artista perdeu inúmeras chances de até chegar a ser considerada para filmes famosos como Barco das Ilusões (Showboat, 1951) por causa de sua cor de pele. Porém, munida de seu carisma, aquele fator diferente e, é claro, de seu talento inegável, ela conseguiu marcar de vez seu lugar em Hollywood.

Tanto que sua vinda ao Brasil, em 19 de maio de 1960, para uma apresentação especial nas chamadas boites da época, no renomeado Golden Room do Copacabana Palace, à convite de Carlos Machado, todas as mesas para prestigiá-la estavam esgotadas desde abril. O valor do convite? 3.600 cruzeiros, o que equivalem hoje à R$1.310,00. 

Lena, fabulosa, em sua chegada ao Brasil em 19 de maio de 1960.
Segundo O Jornal, a vinda de Lena Horne seguiria o seguinte cronograma: ela estrelaria no Copacabana na segunda-feira, dia 23, e cantaria na TV Tupi nos dias 26 e 29. Logo depois ela já partiria no começo de junho, participando posteriormente, à convite do Príncipe Rainier e da Princesa Grace, do baile da Cruz Vermelha em Monte Carlo. 

Mas estamos nos precipitando: em 19 de maio de 1960, à bordo do avião "Super G Constelation" da Varig e acompanhada de seu marido, Lennie Hayton, Lena Horne desembarcou no Aeroporto do Galeão às 19h com um atraso de mais de seis horas, pois o avião teve uma pequena pane. Recebida com um buquê de flores por Carlos Machado, ela afirmou naquele primeiro encontro, com 29 malas à tiracolo, que trazia 17 vestidos e um maiô para sua estadia no Rio de Janeiro. Indagada pelos jornalistas se era um biquíni, Lena brincou:
Sou mãe de um casal de jovens de 17 e 19 anos, então... - Lena Horne para O Jornal

Ela também não poupou elogios ao Brasil, afirmando que o "Rio era muito quente" e que queria chegou mais cedo justamente para praticar suas músicas. Ademais, ela afirmou que almejava visitar  Brasília, a nova capital do Brasil: 

Em meu país ninguém desconhece a maravilha que o presidente Juscelino Kubitschek inaugurou como nova capital do Brasil. Pretendo conhecer pessoalmente Brasília, que eu já admirei em muitas fotos. - Lena Horne para o jornal Diário Carioca. 
Lena Horne em sua chegada ao Rio de Janeiro - à direita, seu autógrafo para o jornalista do Diário Carioca
Afirmando que gostaria de conhecer o Pão de Açúcar, Lena partiu em um cadillac para o seu apartamento de anexo nº 1 no Copacabana Palace, confidenciando ao Diário Carioca que pretendia dormir até quase às 15h, e que atenderia no dia 20 de maio, às 16h, os jornalistas para a coletiva de imprensa no Copacabana. 

Assim foi feito: Lena atendeu ao lado de seu marido toda a imprensa brasileira, contando algumas particularidades de sua estadia até aquele momento. Afirmou que em sua primeira manhã no Rio de Janeiro ligou o rádio esperando ouvir samba, mas ficou desapontada em apenas escutar "canções norte-americanas". E mais: contou que na noite anterior havia pedido um de seus pratos favoritos, feijão preto com arroz, mas veio em seu lugar a famosa feijoada carioca, que Lena jurou "nunca mais revisitar antes de sua estreia, por ser muito pesado." 

O papo também ficou mais profundo, com Lena conversando com o jornal Correio da Manhã sobre a segregação racial:
Sou negra e como negra luto contra a segregação. Ou luto contra ela simplesmente por que sou humana? América é um grande país, um ótimo pais. Mas infelizmente tem esse defeito. Qualquer dia, talvez, não o terá mais, pois já melhorou muito.
Quando um jornalista falou que ela não seria considerada negra no Brasil, Lena foi rápida na resposta:
Mas eu sou. 
Lena aproveitando a coletiva para cheirar as flores, comer, e conversar 
Ao lado de seu marido, Lennie, a atriz também abriu o jogo sobre se já havia sentido medo por ter se casado com um homem branco, afinal na época havia ainda mais preconceito do que atualmente. Sempre honesta e objetiva, ela afirmou: 
Tive [medo] sim e muito. Mas ao sentir a ausência total de qualquer problema racial no caráter de Lennie, eu subjuguei esse medo. Sofremos as mais severas críticas, da família, dos jornais, dos amigos. Mas vencemos todas. Somos casados há treze anos.  
Ainda sobre o assunto de preconceito, Lena esbravejou aos quatro ventos durante a entrevista, que era uma orgulhosa democrata e que acreditava que o partido político era o melhor para seu país, embora ela torcesse mais para o senador Murphy do que Kennedy:
Sou democrata convicta, sempre o fui e sempre admirei muito o presidente Roosevelt. Acho que agora os democratas vencerão: Kennedy terá o meu voto. 
Apesar de católica, em entrevista ao Diário Carioca, a atriz afirmou que antes de ir embora do Brasil fazia questão de prestar uma homenagem à Iemanjá, deixando claro que "já ouviu falar muito de Iemanjá e que não ignora seus estranhos sortilégios."  Indagada se preferia o teatro ou o cinema, a atriz vibrou ao falar do primeiro, pois tem contato direto com a plateia. Declarou, ademais, que era supersticiosa, acordando sempre do mesmo lado da cama, e que amava gatos, mas não os deixava dormir com ela. 

Lena durante a coletiva de imprensa no Copacabana
Lena também adiantou algumas das canções que interpretaria no seu show, como a música brasileira Bim-Bom de João Gilberto e "You do not have to know the language", canção que fala do Brasil, Copacabana e o Pão de Açúcar. A atriz deu um show de simpatia com os jornalistas - desculpando-se até pelo atraso de 10 minutos - e pousou do jeito que lhe pediam: no terraço do Copa, cheirando uma flor, comendo banana (fruta que ela adorava) e até chegou a perguntar ao marido, preocupada, se sua anágua aparecia em alguma das fotos. 
A atriz também revelou seu ator favorito: Yves Montand e definiu seu top 3 de atrizes com Elizabeth Taylor, Katherine Hepburn e Ingrid Bergman. Preocupada com o seu português, ela já havia começado aquela manhã do dia 20 treinando para seu número e garantiu, via Correio da Manhã:
Ensaiarei muito e todo o meu programa nesses primeiros dias depende do progresso dos meus ensaios. 
À noite, para comemorar a proximidade de sua estreia, atendeu um coquetel em sua homenagem na casa de Carlos Machado, seu agente no Brasil. Durante o final de semana, Lena e seu marido conheceram mais do Rio de Janeiro, conhecendo outros boites e saindo com amigos e pessoas da alta sociedade. No dia 21, ela foi homenageada em mais um coquetel: o do conselheiro dos Estados Unidos e da sra. Niles Bond. 

Sem se esquecer de sua semana lotada de shows no Golden Room do Copacabana Palace, Lena ensaiava de forma árdua e valeu a pena: sua noite de estreia, no dia 23 de maio às 1h30, foi um estrondoso sucesso! 

Lena com um lindo vestido preto justo em sua noite de estreia, dia 23
Todos os críticos de seu show foram resolutos: Lena foi um grande sucesso, apesar de um começo um tanto morno, e não devia em nada à performer anterior, a grande Ella Fitzgerald. Pedro Müller, em sua coluna JB em Sociedade, no Jornal do Brasil, recontou sobre o momento: 
Entrou no palco nervosíssima, cantou alguns números que o público não conhecia, conseguiu as primeiras palmas com a canção The Lady is a Tramp e, de aplausos em aplausos, o público delirou quando a cantora norte-americana entrou com um samba de João Gilberto, da bossa-nova, em excelente português para quem tinha dois dias de Brasil. Mas o Golden Room quase veio abaixo, quando ela convidou o pandeirista Charles, a tocar alguns passos com ela. 
A noite de estreia do dia 23 de maio de 1960 foi um grande sucesso para Lena - e para seu marido que a acompanhou tocando piano- e no final do espetáculo, de acordo com o jornal Última Hora, João Gilberto e sua esposa foram visitar a atriz norte-americana em seu quarto no Copa. Durante a presença do intérprete de Bim-Bom, tocou ao fundo a canção Chega de Saudade. 

Lena conhecendo João Gilberto - se veriam mais vezes
No total, os produtores do show de Lena Horne no Brasil ficaram aliviados: arrecadaram 2 milhões de cruzeiros por sua temporada toda. De acordo com a mesma coluna, JB Na Sociedade, a segunda noite de Lena no Copacabana também foi um grande sucesso.
Pela segunda vez Lena Horne entrou no palco de Copacabana. Desta, estava calma, de vestido verde e com seu repertório melhor distribuído. E o resultado traduziu-se em grande salva de palmas. 
Já no dia 26, Lena se preparava para estrear na televisão brasileira, mais especificamente no canal 6 da TV Tupi, às 22h30. Infelizmente não há fotos de sua estreia na TV, mas temos um relato de sua apresentação, via Diário de Notícias
(...) Lena Horne continua a ser uma intérprete de primeira categoria. (...) Em destaque do programa: The Man I Love de Gershwin e Stormy Weather. Lena, rebolando, cantou esplendidamente o Bim-bom de Jão Gilberto. Se isso é bossa-nova, gostamos e muito. Lena cantou o Bim em nosso idioma, sucesso.
Infelizmente, como nem tudo são flores, os críticos de TV reclamaram das interrupções desnecessárias dos locutores,  Norma Blum e Antonio Leite, além da falha na segunda parte da transmissão por problemas técnicos. No dia 29, na sua segunda apresentação na TV Tupi, a falha técnica aconteceu novamente, mas Lena brilhou.  

A única foto que consegui encontrar da apresentação de Lena na TV brasileira
As apresentações de Lena no Copacabana Palace aconteceram sem muitas atribulações e o jornal O Cruzeiro até fez uma surpresa para a atriz, convidando João Gilberto para visitá-la mais uma vez durante os seus ensaios e cantar ao seu lado, Bim-Bom. 

Lena ao lado de João Gilberto -dizem que ela teria ficado encantada por ele. 
Infelizmente, mais para o fim de sua temporada, Lena ficou afônica e por recomendação médica não pode se apresentar no seu último dia do Copacabana, domingo, dia 29. Mesmo assim, ela aproveitou essa "tragédia" ao máximo, e fez questão de conhecer ainda mais do Rio de Janeiro. 

De acordo com o Mundo Ilustrado, ela causou o maior tumulto em uma joalheria na Rua Gonçalves Dias. À noite, dias antes de sua partida, ela participou de duas festas muito importantes: a primeira parada foi no Little Club, no qual Booker Pitman, o maior saxofonista do mundo, a recebeu para uma sessão de jazz. Seu marido, Lennie, seus músicos e o guitarrista Bola Sete a receberam de braços abertos e Lena se divertiu muito - apenas não cantou. 

Lena andando pelas ruas do Rio e ao lado com Booker e Bola Sete                            Mundo Ilustrado
Posteriormente, Lena compareceu à uma festa dada em sua homenagem por Carlos Machado, antes de sua partida. Na comemoração, só a creme de la creme da música brasileira: Dorival Caymmi, Ari Barroso, João Gilberto, Norma Bengell, Bibi Ferreira e muitos outros. 

Lena, acima, com a esposa de Carlos Machado. Abaixo, com Caymmi e os outros artistas 
Na festança de despedida de Lena, ela também aprendeu a sambar com os outros músicos e deu um show no meio da sala de Carlos Machado. Muito feliz, ela ecoou o sentimento de sua estreia no Copacabana, ao afirmar: 
Os cariocas are wonderful. 
Lena conversando com os músicos e dando um show de samba.                                 Manchete
No dia 31 de junho, um dia antes de sua partida para os Estados Unidos, Lena também visitou o Instituto Brasileiro de Café, onde aprendeu a fazer um típico café brasileiro e até lhe prometeram um saco de grãos que seria enviado para sua casa pela sede do IBC nos Estados Unidos. Recebeu, também, flores, um conjunto de xícaras de prata e uma cafeteira e aproveitou para elogiar bastante o café brasileiro, ao lado de Carlos Machado e Oscar Ornstein. 

Lena partiu para os Estados Unidos no dia 2 de junho de 1960, embarcando no navio SS Argentina já que odiava voar. Ficou ansiosa por ir de navio, já que acreditava que a embarcação faria uma parada na Bahia, local que ela gostaria muito de visitar. Infelizmente, o navio não aportaria na cidade daquela vez. 

Em sua última conversa com a imprensa, Lena garantiu que amou no Brasil "as batidas de maracujá, siri e camarão frito" e que voltaria em breve. A atriz acabou não voltando ao Brasil, mas deixou seu lugar marcado como uma amante da bossa nova e com uma energia tipicamente brasileira. 

Lena tomando o típico cafezinho brasileiro
Sobre sua estadia no Brasil, que Lena aproveitou ao máximo e que diferente de outros artistas, aconteceu sem nenhuma polêmica, a atriz resumiu bem em sua fala para a revista O Cruzeiro:
Não foi o café, não foi o Pelé, nem Carnaval, foi a bossa nova que mais adorei no Brasil. 

Amor eterno: a parceria de Elizabeth Taylor e Richard Burton nos cinemas

Elizabeth Taylor, assim como Richard Burton, sempre viveu a vida ao máximo: bebia o quanto queria, comia o que queria, não reprimindo nunca suas paixões e desejos. 

Quando a bela dos olhos violetas conheceu o tão charmoso galês, ela ainda estava casada com o cantor e ator Eddie Fisher, que havia se separado de forma bem pública em 1959 de sua então esposa Debbie Reynolds, com quem ele tinha dois filhos, Carrie e Todd Fisher, para ficar com Taylor.  Nem é preciso dizer que o caso de Elizabeth e Eddie causou o maior rebuliço na imprensa internacional, e quando todos já estavam quase normalizando o casamento dos dois, Elizabeth aparece estampada na revista da Photoplay aos beijos com o ator galês, num dos maiores acontecimentos de 1962. 

O caso de Elizabeth Taylor e Richard Burton, dentro e fora das telas, então estava apenas começando. 

Elizabeth Taylor e Richard Burton - um amor de altos e baixos
Mas talvez a história esteja um pouco avançada demais para quem não é tão fã assim dos atores. Elizabeth e Richard, na verdade, já haviam se encontrado bem antes do filme Cleópatra (idem, 1963) em uma festa em 1953 na casa de Jean Simmons (uma das amantes de Burton na época) e Stewart Granger. O charmoso artista', notório por ser um sucesso entre as mulheres, tentou flertar de forma intensa com a jovem atriz, mas ela estava mais ocupada lendo seu livro e tentando ignorá-lo. Elizabeth afirmou, no entanto, que o encontro teria acontecido quando ela tinha 19 anos, namorando Michael Wilding. 

Em seu diário, Richard Burton escreveu sobre aquele primeiro encontro com Elizabeth: 
Ela era tão extraordinariamente linda que eu quase ri em voz alta...ela era, sem dúvida alguma, uma verdadeira beldade. Ela era demais. Ela era uma escura e flexível dádiva. Ela era, em suma, demais e não só isso, estava completamente me ignorando. - trecho de Furious Love: Elizabeth Taylor, Richard Burton, and the Marriage of the Century Por Sam Kashner, Nancy Schoenberger

Oito anos depois, Elizabeth Taylor e Richard Burton se encontraram novamente no set de filmagens de Cleópatra (idem, 1963) e as faíscas de desejo e paixão rolaram soltas. A escolha original para interpretar a figura real de Marco Antônio foi Stephen Boyd, mas com os diversos atrasos - e doenças de Elizabeth durante a produção -Joseph Mankiewicz, o novo diretor da película, decidiu escalar Burton como Marco e o resto é historia, e um dos casos mais notórios de toda a Hollywood. 

Confira todos os 11 filmes dessa dupla incendiária, abaixo! 

Cleópatra (idem, 1963)
Cleópatra e Marco Antônio: onde tudo começou...
Apesar de ser um papel cobiçado por inúmeras atrizes, Elizabeth Taylor não estava nada a fim de interpretar a monarca do Egito. Ela achava que o filme Cleópatra (idem, 1963) não seria tudo aquilo que a indústria cinematográfica estava falando e para dificultar as negociações, pediu o salário de U$1 milhão - até então uma quantia jamais paga para ator nenhum em Hollywood. 

Quando os produtores ficaram ultrajados pelo valor pedido e negaram, Elizabeth mudou de ideia e queria interpretar Cleópatra de qualquer jeito. Depois de várias negociações - e demandas da atriz - Elizabeth ganharia seu tão sonhado salário que totalizaria U$ 1 milhão: um salário de U$750 mil, U$4.500 por semana para despesas de moradia durante as filmagens, 10% do lucro da bilheteria e mais um bônus de U$50 mil se o filme fosse gravado dentro do cronograma (o que não aconteceu).

Em Cleópatra, Elizabeth interpreta a grande governante do Egito, que é tão bela quanto fatal, que enquanto tem que lutar pelo seu povo, ela também tem que resistir as avanços do império Romano, envolvendo-se então com Julio César, interpretado por Rex Harrison, para proteger o que é seu. Quando César morre, Cleópatra volta sua atenção para Marco Antônio, vivido por Richard Burton, e um caso eletrizante e mortal nasce.

Elizabeth Taylor e Richard Burton no set de filmagens de Cleópatra (idem, 1963)
Elizabeth Taylor era considerada, por muitos, a mulher ideal para interpretar a beldade Cleópatra e ela começou a gravar suas cenas para o longa-metragem no final de 1960 em Londres, mas em janeiro de 1961, a  viúva de Mike Todd ficou doente- a primeira de várias.

Com uma gripe que se transformou em meningite e dupla pneumonia, ela teve que passar por uma traqueostomia para conseguir respirar e salvar sua vida. Seu estado era tão grave que ela ficou em coma por alguns dias e alguns jornais até haviam a declarado como morta. Uma sobrevivente, Elizabeth já conseguia se sentar e falar um mês após a cirurgia e fez questão de receber seu Oscar de Melhor Atriz por seu papel no filme Disque Butterfield 8 (Butterfield, 8, 1960) exibindo orgulhosa a marca da cirurgia em seu pescoço.

Com atrasos na produção, já que Elizabeth era, na visão de todos, a única Cleópatra possível, em setembro de 1961, o diretor Rouben Mamoulian foi substituído por Joseph L Mankiewicz, e a gravação passou de Londres para Roma com um novo Marco Antônio escalado: Richard Burton.

Em entrevista replicada no livro Elizabeth Taylor por Grace May Carte, Elizabeth Taylor relembra a primeira cantada que Burton lhe deu no set de filmagens de Roma em 22 de janeiro de 1962:
Ele me disse: 'Alguém já lhe disse que você é uma garota muito bonita?' E eu disse para mim mesma: 'Oy gevalt! Ele é o grande amante, de grande astúcia, o grande intelectual de Wales e ele me vem com uma cantada dessas?'
Apesar da cantada falha, a química entre Richard Burton e Elizabeth Taylor era inegável e após ele comparecer de ressaca no set de filmagens - vulnerável - a atriz passou a gostar ainda mais dele. Isos culminou com o declínio de seu casamento com Eddie Fisher, com quem ela se casou meros meses após a morte de seu terceiro marido, Mike Todd (um dos grandes amores de sua vida), vítima de um acidente aéreo. O público que se voltou contra Taylor por ela ter "roubado" Eddie de Debbie Reynolds, agora com a quase-morte da atriz de olhos violeta, tinham lhe perdoado. Nem imaginavam que o maior escândalo ainda estava por vir!

Como os cenários e os figurinos de Cleópatra (idem, 1963) estavam incompletos, nos primeiros meses de gravação, Elizabeth não interagia muito com Richard e se esquivar de suas investidas era fácil. Na época, o ator ainda era casado com Sybil Williams, que abandonou a carreira de atriz para cuidar de suas filhas, Kate e Jessica Burton.

Elizabeth Taylor, Richard Burton e Eddie Fisher no set de Cleópatra (idem, 1963)
Mas ficou aparente que algo além de um caso aconteceria entre eles, quando no primeiro grande beijo entre Cleópatra e Marco Antônio os dois atores não se desgrudavam, mesmo depois do diretor pronunciar corta e que já era hora do almoço. Logo, Burton e Taylor, se encontravam na Villa em que a atriz estava hospedada e ficavam íntimos na frente de Eddie Fisher, com quem Taylor, surpreendentemente, estava adotando uma menina chamada Maria (em homenagem a Maria Schell, que encontrou a criança para Taylor). Em uma festa, Burton pediu na frente de Fisher que Elizabeth escolhesse quem ela amava: a atriz foi direto para os braços do ator. 

O caso entre Elizabeth e Richard começou no início de 1962 e durou até julho daquele mesmo ano, quando eles encerraram as gravações de Cleópatra (idem, 1963) e a atriz lhe mandou uma carta terminando tudo, afirmando que eles estavam "machucando pessoas demais". Richard amava muito Elizabeth, mas estava relutante em largar sua esposa e filhas - além do mais, sua relação com a beldade era volátil, com tentativas de suicídio, algumas agressões físicas e muita bebedeira. Assim, eles retomaram contato no final daquele ano, apenas como amigos e Taylor estava resoluta em nunca mais voltar para Fisher - que em um ponto em junho de 1962 a ameaçou com uma arma - ela pegou as crianças e foi embora da Villa em Roma.

Apesar disso, o estrago já estava feito: a escandalosa publicidade do romance entre Richard Burton e Elizabeth Taylor, com uma foto dos dois bem íntimos em um iate, estampou todos os jornais e revistas da época e a negação da atriz em se retratar perante aos fãs e jornalistas assombrou a Fox, produtora de Cleópatra. Assim, após o lançamento do filme, o estúdio processou o ex-casal em 1964 em U$50 milhões por "conduta indecorosa" durante e depois da película, afirmando que isso havia depreciado o valor comercial do longa-metragem. 

Elizabeth finalmente soube que deveria ficar com Richard, quando seu filho mais novo Christopher, lhe confidenciou:
Eu rezei ontem à noite para Deus que você e Richard se casassem. 
E nem precisava da aprovação dos filhos: Richard era um vício para Elizabeth, e vice-versa, e os dois não conseguiam se manter afastados por muito tempo. Enquanto Eddie fazia tudo que a atriz mandava, Richard a desafiava e sua pose de "macho" a conquistava cada vez mais. Para ficar perto dele, Lizzie faria tudo: e o fez - pedindo para interpretar a esposa do amado no filme Gente Muito Importante (The V.I.P.s, 1963).

Assim nasceu o 'Le Scandele' ou seja, 'O Escândalo'. Em 12 de junho de 1963, Cleópatra (idem, 1963) estreou e arrecadou U$44 milhões de dólares, sendo um dos 10 filmes mais lucrativos daquele ano - o problema era que os custos foram tantos que nem essa quantia foi o suficiente para o estúdio ficar positivo- não que isso afetasse a popularidade Burton e Liz. 

Gente Muito Importante (The V.I.P.s, 1963)
Elizabeth pediu para ser escalada, apenas para ficar perto de seu amado. 
Como parecia que Richard havia feito sua escolha de se manter no casamento com Sybil, Elizabeth resignou-se apenas a passar o máximo de tempo com Richard, sem necessariamente que o envolvimento fosse físico. 
Eu amava tanto Richard que pela primeira vez, não era um amor egoísta. Eu não queria casar com o Richard, porque eu não queria que ele fosse infeliz. Eu não queria que Sybil fosse infeliz. Eu ficaria perfeitamente contente em apenas falar com ele no telefone de vez em quando. - Elizabeth Taylor em sua autobiografia.
Na vida real, no entanto, não era bem assim. Elizabeth fez questão de ser escalada no filme Gente Muito Importante (The V.I.P.s, 1963) apenas para ficar perto de Richard - mesmo com a recente tentativa de suicídio de Sybil e a recusa do ator de deixar a família. Sophia Loren interpretaria a esposa de Burton no filme, mas Elizabeth bateu o pé para o roteirista Tolly Grunwald e ambos foram escalados para os papeis, antes mesmo das gravações de Cleópatra (idem, 1963) terminarem.

Em Gente Muito Importante (The V.I.P.s, 1963), Elizabeth interpreta Frances Andros, uma milionária que quer deixar seu marido, Paul, vivido por Burton, para ficar com seu amante, o playboy Marc Champeselle, interpretado por Louis Jourdan. Ao lado dela, outras pessoas ficam presas em Londres graças à uma neblina que paralisa todo o tráfego aéreo e o destino de todos pode mudar. 

O filme começou a ser gravado em dezembro de 1962, em Londres, e ficou claro que o aspecto físico do relacionamento dos dois não tinha acabado: ambos ficaram hospedados em suítes adjacentes no Dorchester Hotel e saiam, bebiam, e se divertiam como nunca antes. O ator ainda não havia se separado de Sybil e dividia sua atenção entre a esposa e sua amante.

Foto publicitária de Richard e Elizabeth para o filme 
Em março de 1963, ao final das gravações, os jornais já noticiavam Elizabeth Taylor e Richard Burton como um casal consolidado. No começo, a família de Richard também era contra o caso, até que aos poucos Elizabeth foi os conquistando. 

Os dois apareciam em entrevistas juntos, como se já fossem um casal público, e aparentavam ter muita intimidade um com o outro. Em uma entrevista para o jornal The Australian Women's Weekly em julho de 1963, no último dia de gravação do filme, o jornalista nota que ele até a dirigia no set de filmagens:
Para o close-up de tristeza de Elizabeth, Richard caminhou lentamente em sua direção entoando um poema. Quando ele atingiu a palavra 'bela', ele o repetiu de forma hipnótica e uma expressão obediente de tristeza perpassou pelo rosto de Liz. 
Essas aparições bem públicas de Liz e Burton devem ter entristecido e muito Sybil - que sabia que seu marido tinha casos, mas nunca antes eles foram expostos para a mídia. Os atores se divertiam juntos por Londres, bebendo, brigando e fazendo amor e apesar das idas de Richard para sua família, ele estava cada vez mais preso no encanto de Elizabeth. 

Burton havia pedido o divórcio para Sybil em janeiro de 1963, enquanto gravava o filme Gente Muito Importante (The V.I.P.s, 1963), mas como ele constantemente mudava de ideia, a separação foi se arrastando. Finalmente, após o fim das gravações e da publicidade em cima dos dois, Sybil estava certa de que Burton nunca mais voltaria e deu início ao processo de divórcio em dezembro de 1963. Ela nunca mais falaria com ele por toda sua vida.  

Gente muito Importante (The V.I.P.s, 1963) estreou em 20 de setembro de 1963, para capitalizar no romance bem público de Elizabeth e Richard. Em outubro, Liz estava no encalço de seu amado, que se preparava para gravar A Noite do Iguana (The Night of The Iguana, 1964). Ali ficou muito claro: os dois estavam juntos e era para valer. 

Adeus às Ilusões (The Sandpiper, 1965)

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Antes da produção de Adeus às Ilusões (The Sandpiper, 1965), o relacionamento de Elizabeth Taylor e Richard Burton já estava consolidado para o público. Após o divórcio de Burton ser finalizado, Elizabeth entrou com o pedido de divórcio de Eddie Fisher em janeiro de 1964, que foi finalizado em 6 de março. A atriz, aliás, não perdeu tempo: em 15 de março de 1964 ela se casava com Burton em Montreal, onde ela o acompanhava para os ensaios de Hamlet para o teatro.

Em outubro de 1964, já marido e mulher, ambos partiram para a França para gravarem Adeus às Ilusões (The Sandpiper, 1965), depois de adotarem legalmente Maria Burton. 

No filme, Elizabeth interpreta Laura, uma artista com um estilo de vida bem diferente e escandalosa para a época, que matricula seu filho em uma escola particular cristã. O pastor e diretor da escola, Edward, vivido por Burton, fica chocado com Laura, mas depois de um tempo fica encantado por ela - mesmo sendo casado. 

Richard Burton e Elizabeth Taylor no dia de seu primeiro casamento
Adeus às Ilusões (The Sandpiper, 1963) teve outra conotação especial: o perdão entre ela e Debbie Reynolds. As duas se encontraram no navio rumo à França, onde Taylor terminaria de gravar o longa-metragem. Elas conversaram e finalmente fizeram as pazes. 

Apesar de recém-casados, Burton continuava com seu temperamento volátil e não deixou de brigar até com o diretor do filme, Vincente Minelli. Burton, em uma ocasião, não concordou com uma das direções e de acordo com o livro Elizabeth Taylor, the Last Star Por Kitty Kelley, ele teria afirmado:
Isso é absurdo. Mas pelo dinheiro nós vamos dançar. 
Nós, agora, significava Elizabeth e ele. Apesar do sucesso comercial de Adeus às Ilusões (The Sandpiper, 1965), o filme não era nada especial e foi um fracasso de crítica. A única coisa boa que o filme trouxe à Elizabeth, além da reaproximação com Debbie e um bom salário, foi que ela conheceu o roteirista Ernest Lehman que lhe ofereceu o que é considerado o melhor papel de ambos em parceria: no filme Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf, 1966).

Nesse ínterim, Burton começou a gravar o filme O Espião que Saiu do Frio (The Spy Who Came from the Cold, 1965) ao lado de sua ex-amante, Claire Boom. Elizabeth, claramente enciumada, nunca deixava Burton sozinho nos sets de filmagem e os problemas só se empilhavam: seu chaffeur perdeu o filho e atropelou uma pedestre na rua, sua filha Maria pegou catapora, Elizabeth teve suas joias roubadas e seu pai, em março de 1965, sofreu um ataque cardíaco. 

Tudo se acertou, no final, com a ida da família Burton para as férias em Riveira - o tempo em família foi revigorante para todos. 

Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf, 1966) 
Um dos melhores filmes do casal!
Isso, aliás, lhes preparou para as gravações mais sérias do filme Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf, 1966), que começou em uma nota positiva para Richard: sua ex-esposa, Sybil, havia se casado novamente com o cantor de rock Jordan Christopher, da banda The Wild Ones, com quem ela ficou casada até a morte dele em 1996. 

Para o Richard, isso significava economizar U$50 mil em pensão, embora ele ainda usasse parte de seu dinheiro para pagar a instituição de sua filha Jessica, que tinha sido diagnosticada como "deficiente mental". Assim, Elizabeth e Richard podiam se focar apenas no novo filme, que Elizabeth tinha suas ressalvas em participar: achava que a personagem Marta era um desafio grande demais para ela. 

Em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf, 1966), Elizabeth interpreta Martha, uma mulher desiludida e na meia idade, casada com o professor de História George, vivido por Richard Burton. Os dois estão em um ponto baixo do casamento e George é surpreendido com a notícia que Martha convidou outro casal para uma saideira: o instrutor Nick (George Segal) e a tímida Honey, vivida por Sandy Dennis. O que era para ser uma noite divertida, transforma-se em um pesadelo conjugal. 

Elizabeth e Richard no filme e à direita, Sybil e seu novo marido - logo ela abriu a descolada boate Arthur
Apesar de temerosa, Elizabeth caiu de cabeça nas preparações de Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf?, 1966) e engordou mais de nove quilos para viver a personagem: além de aplicar uma maquiagem para parecer mais velha e uma peruca com cabelos brancos.

No primeiro ano de casados - o filme começou a ser gravado em julho de 1965 com a direção de Mike Nichols - muitos fãs e jornalistas temeram que a dificuldade de interpretar um casal que se odeia poderia prejudicar o relacionamento de Burton e Liz. O ator, no entanto, negou:
Eu acho que o nosso casamento é o mais forte que eu conheço e Virgina Woolf não alterou isso. - trecho de entrevista do livro Elizabeth Taylor: A Shining Legacy
Elizabeth sempre adorou um drama e deixou claro que as brigas entre eles no set de filmagens, para o papel, ajudaram e muito seu casamento, pois quando chegavam em casa eles "se abraçavam". Mesmo assim, o alcoolismo de Burton estava fora de controle e muitas vezes ele perdia algumas cenas por afirmar não estar bem para gravar, ou dando alguma outra desculpa.

Mesmo assim, o romance entre os dois não poderia ter ficado mais forte: no aniversário de 40 anos de Burton, Elizabeth lhe deu um maravilhoso e caro conversível. Ambos foram indicados ao Oscar de Melhor Atriz e Ator, respectivamente, mas apenas Elizabeth ganhou sua estatueta. 

Com uma linguagem chocante e explícita, Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf?, 1966) estreou em 21 de junho de 1966 nos cinemas e se provou um outro sucesso para os Burtons, tanto comercial quanto de crítica. Assim, eles se preparavam com tudo para capitalizarem na fama de casal "brigão" com o clássico de Shakespeare, A Megera Domada (The Taming of The Shrew, 1967). 

A Megera Domada (The Taming of The Shrew, 1967)

O casal se divertiu muito ao gravar o filme 
Em março de 1966, o casal voltou à Roma, local que deu origem ao seu romance em 1962, para gravar o clássico A Megera Domada (The Taming of The Shrew, 1967) com a direção de Franco Zeffirelli, e com ajuda de custo de produção deles mesmos.

No longa-metragem, Burton interpreta Petrúquio, um homem que sonha em se tornar rico, e tem a difícil missão de cortejar Catarina, papel de Taylor, já que a irmã mais nova dela deseja se casar, mas não pode porque seu pai quer que a filha mais velha se case primeiro - como era de costume. Com um temperamento difícil, Catarina transforma o que seria algo tranquilo em uma verdadeira guerra.

Apostando fortemente na persona de "amor e ódio" dos Burtons, A Megera Domada (The Taming of The Shrew, 1967) é um filme de comédia delicioso - e um dos melhores da dupla - que retrata muito bem como o público via o casal, numa produção deslumbrante com músicas feitas por Nino Rota, além de figurinos e maquiagens incríveis. 

Franco e Richard beijando a incrível Elizabeth
O casamento de Richard e Lizzie estava melhor do que nunca. Relembrando sobre esse período de sua vida, a atriz afirmou que a duração das filmagens de A Megera Domada (The Taming of The Shrew, 1967) foi como "uma longa lua-de-mel". 

Antes do lançamento do filme, que arrecadou U$12 milhões, Elizabeth foi novamente hospitalizada para fazer uma curetagem. Burton, em seu diário publicado, mostrou sua grande devoção à Elizabeth, escrevendo sobre o caso: 
Eu fui para cama com uma grande depressão e pesadelos de que ela poderia morrer. 
As crises de saúde de Elizabeth, no entanto, já eram conhecidas e frequentes e como uma sobrevivente, ela deu a volta por cima. Infelizmente não podemos dizer o mesmo de seu próximo filme com Burton: Doutor Faustus (Doctor Faustus, 1967). 

Doutor Faustus (Doctor Faustus, 1967)
Elizabeth não fala em seu papel
Após a vitória de Burton como Melhor Ator no prêmio David di Notello, Richard estava confiante com sua persona de estrela de cinema, e resolveu se arriscar em um papel que ele adorava e já havia interpretado nos palcos: o do doutor Faustus. 

O roteiro foi baseado na peça que ele estreou em 1966 e que contou com a participação especial - e breve- de Elizabeth Taylor. Com o sucesso de A Megera Domada (The Taming of The Shrew, 1967), no qual Burton foi um dos produtores, ele conseguiu dinheiro o suficiente para financiar seu projeto dos sonhos. Elizabeth sabia do risco - uma produção no qual apenas ela e seu marido eram nomes reconhecidos, os outros eram alunos de drama da Faculdade de Oxford - mas quis fazer o papel para agradá-lo e para que ele finalmente dirigisse seu primeiro filme depois de um gostinho em A Megera Domada. 

Em Doutor Faustus (Doctor Faustus, 1967), baseado na peça A Trágica História do Doutor Fausto de Christopher Marlowe, Richard interpreta Fausto, um homem com um apetite insaciável por poder, que troca sua alma com o Diabo em busca de cumprir seus maiores sonhos. Elizabeth Taylor faz sua participação como Helena de Tróia, em um papel silencioso. 

Elizabeth e Richard durante as filmagens do filme
Apesar das críticas negativas sobre o filme - que foi lançado no Reino Unido em 1967 e apenas internacionalmente em 1968 - e o fato de que foi o primeiro longa do casal que arrecadou pouco nas bilheterias, Elizabeth se lembra de forma carinhosa sobre o Doutor Fausto (Doctor Faustus, 1967) em entrevista ao LA Times: 
Foi muito divertido e o Richard estava maravilhoso. Infelizmente, acabou sendo apenas visto em Universidades, mas se alguém quer ver Faustus como deve ser, o filme é isso. 
Nesta época, os gastos dos Burtons estavam chegando à limites extremos - os dois e seus filhos viajavam de um local para o outro com uma entourage de dezenas de pessoas - e com os presentes caros que compravam um para o outro, todas as festas que davam, eles precisavam de uma grana rápida.

Foi por isso, de acordo com o livro Furious Love: Elizabeth Taylor e Richard Burton The Marriage of the Century por Sam Kashner, Nancy Schoenberger, eles concordaram em participar de Os Farsantes (The Comedians, 1967).

Os Farsantes (The Comedians, 1967) 
O casal estava no auge de sua paixão: mas a atuação nem tanto
Os Farsantes (The Comedians, 1967) marcou a primeira vez que Richard ganhava mais do que Elizabeth em um filme - e mais, a primeira vez que seu nome vinha primeiro nos créditos. Mesmo assim, o ator se sentia cada vez mais preso no relacionamento público que tinha e com a imprensa rondando cada movimento, ele bebia e se tornava mais agressivo verbalmente com Elizabeth. 

Apesar da fama e do dinheiro que ele sempre sonhou - e ao lado da mulher por quem ele era completamente apaixonado - o vício de Richard por bebidas alcoólicas se tornava muito grave. Por isso que as gravações de Os Farsantes (The Comedians, 1967) não foram as férias que Elizabeth sonhava. 

O longa-metragem, baseado no roteiro de Graham Greene, conta a história de várias pessoas que desembarcam no Haiti, inclusive o hoteleiro chamado Brown, vivido por Burton, que de volta ao país começa um romance com Martha, papel de Elizabeth, que já é casada com o diplomata Manuel Pineda, interpretado Peter Ustinov. Tudo isso durante o reinado de Papa Doc, que causou terror no Haiti durante seu governo até 1971. Lilian Gish também participou da película. 

Elizabeth com crianças em Benim
Como Papa Doc ainda governava Haiti na época do filme, não era seguro que Os Farsantes (The Comedians, 1967) fosse gravado no país, então a produção foi realocada para Daomé (atual Benim) na África em janeiro de 1967. Os Burtons adoraram que lá eles não eram reconhecidos de maneira alguma e que as crianças eram tão curiosas e afáveis. Isso só fez aumentar o desejo que eles tinham de ter um filho, mas após as complicações de Elizabeth nas gravidezes anteriores, isso era impossível. 

Assim, o casal, apesar de bebedeira crescente de Richard, continuava vivendo pacificamente em família mesmo com a notícia de que Burton havia perdido o Oscar de Melhor Ator em Quem Tem Medo de Virginia Woolf? (Who's Afraid of Virginia Woolf?, 1966). Elizabeth não foi ao Oscar receber seu prêmio justamente por solidariedade ao marido.

Mesmo assim, nada parecia deixá-lo contente. Em seu diário, em 10 de março de 1967, Burton confidenciou:
Eu não sei por que bebo tanto. Eu não estou infeliz e não gosto muito disso - da bebida. 
O fato de o próximo filme do casal, O Homem que Veio de Longe (Boom, 1968) também não ter sido um hit em público feriu bastante o ego Richard. Para Elizabeth não, ela não se importava tanto com isso.

O Homem que Veio de Longe (Boom!, 1968)
Os filmes do casal após A Megera Domada não foram um hit com o público
Richard e Elizabeth estavam no auge de seu casamento: o ator se dava super bem com os filhos da beldade e a filha adotiva dos dois, Maria Burton, depois de inúmeras cirurgias de quadril, estava se recuperando muito bem, e o casal conversava, bebia e se amava. 

Mas nem o mais forte dos amores - e das químicas das telonas - podem impedir que um filme seja uma bomba, como foi o caso de O Homem Que Veio de Longe (Boom!, 1968). As gravações do filme começaram no meio de 1967 e foram marcados pela compra de Kalizma (batizado com o nome das filhas do casal: Kate, Liza e Maria), o novo e luxuoso iate da família. 

Baseado na peça O Trem de Leite Não Para Mais Aqui de Tennessee Williams, Elizabeth interpreta Sissy Goforth, uma mulher com uma doença terminal, que mora em uma grande mansão, cercada de funcionários e mimos. Um dia, apesar de morar em uma ilha isolada, ela ganha a visita do misterioso Angelo del Morte, um homem charmoso que pode ser a própria morte. Infelizmente, os Burtons estavam errados para o papel: Elizabeth era muito nova e Richard muito velho. 

Elizabeth e Richard à bordo de Kalizma durante as gravações de O Home Que Veio de Longe
O casal abraçou Kalizma como seu novo lar e eles aproveitavam os tempos de lazer ao lado dos filhos enquanto gravavam o longa. Ninguém poderia prever, no entanto, que após o lançamento de O Homem Que Veio de Longe (Boom!, 1968) o casal enfrentaria ainda mais desafios.

Em 1968, Elizabeth Taylor retirou um mioma e logo passou por uma histerectomia - acabando de vez as chances dos Burtons de terem um filho biológico. Logo antes, Richard tinha sido demitido do set de um filme por chegar atrasado - algo que lhe devastou por ser taxado de "antiprofissional". Em outubro daquele ano, o pai de Elizabeth faleceu.

Apesar de tudo, em seus diários naquela época, Richard ainda era completamente apaixonado por Liz:
Ela consegue aturar minhas impossibilidades e meu alcoolismo, ela é uma dor no meu estômago quando estou longe dela e ela me ama! (...)Eu vou amá-la até o dia que eu morrer. - 18 de dezembro de 1968, trecho retirado do livro The Richard Burton Diaries. 
Os dois, a partir dali, começaram a fazer alguns filmes separados e Burton lhe dava joias caras como La Peregrina, The Krupp e o Diamante Taylor-Burton. Infelizmente com as dores crônicas de Elizabeth e o consumo de alcool de Richard, os desafios do casamento começavam a ser excessivos.

Sob o Bosque do Leite (Under Milk Wood, 1971)
O primeiro filme dos Burtons juntos após quase quatro anos
Os Burtons se amavam, mas o fato é que Richard entrava cada vez mais em uma espiral de depressão por ter perdido o seu tão sonhado Oscar. Entre O Homem Que Veio de Longe (Boom!, 1968) e Sob o Bosque de Leite (Under Milk Wood, 1971) ele havia sido indicado ao Oscar de Melhor Ator por Ana de Mil Dias (Anne of a Thousand Days, 1969), no qual Elizabeth participou como uma extra e morria de ciúmes da atriz Genevive Bujold, perdendo o prêmio para John Wayne. 

As crises de saúde de Elizabeth, de acordo com o livro Furious Love, eram tão frequentes que Burton estava cansado delas. Adicionando às brigas e a sobriedade de Burton por recomendação médica, o casamento deles tinha momentos altos e baixos. Infelizmente, Burton voltou a beber quando eles gravavam Sob o Bosque de Leite (Under Milk Wood, 1971).

Um projeto de amor de Richard, o filme foi baseado na obra no poeta galês Dylan Thomas, e conta a história do Capitão Tom Cat, vivido por Peter O'Toole, um homem cego que em uma noite deserta começa a relembrar todos os relacionamentos de seu passado, incluindo a prostituta Rosie Probert, que foi o grande amor de sua vida. 

Elizabeth, apaixonada, sempre ficava perto de seu marido: em Anna e em Sob o Bosque de Leite
Gravado em janeiro de 1971, com um orçamento de um terço de um milhão, Richard se sentiu revigorado ao voltar para o país de Galês, sem a entourage dele e de Elizabeth, divertindo-se e em contato com suas raízes. Elizabeth, novamente, teve um papel pequeno no longa, mas como seu nome e o do Richard eram chamarizes, eles ganharam o topo dos créditos. 

Em 1971, aliás, Richard quase morreu à bordo de um voo particular e seu relacionamento entre tapas e beijos com Elizabeth ganhou mais um novo capítulo: gratidão.
Eu achei que iria morrer instantaneamente e de uma vez, sem dizer novamente o quanto a amo, para me desculpar por quebrar meu contrato para olhar por ela, por desapontá-la com um bang e por não dizer as milhares de coisas que deveria ter dito e por não perceber e demonstrar meu potencial como marido, provedor, amante e tudo. - diário de Richard, setembro 1971. 
Infelizmente, parecia que o casal era marcado por uma sucessão de bons e maus momentos e a partir do momento que estavam os dois sóbrios, logo eles caíram novamente na espiral do álcool, já que Elizabeth não conseguia beber sozinha e Burton não podia ficar longe das tentações por muito tempo. 

Assim, ambos se uniram em mais um fracasso de bilheteria e crítica em Unidos Pelo Mal (Hammersmith Is Out, 1972). 

Unidos Pelo Mal (Hammersmith Is Out, 1972)
Outra péssima ideia para os Burtons
Segundo o livro The Most Beautiful Woman in the World: The Obsessions, Passions, and Courage of Elizabeth Taylor, 1972 marcou duas grandes tragédias para Burton e Taylor. Para ele, a morte de seu irmão Itor, que lhe causou ainda mais tristeza e lhe afundou no álcool de vez. Para ela, o caso entre Burton e Nathalie Delon no filme A Barba Azul (Bluebeard, 1972). 

Eventualmente, Elizabeth o perdoou e os dois voltaram a viver juntos. Mas o Richard soube naquele instante que o casamento deles estava perdido. Ele afirmou em entrevista:
No momento em que eu comecei a me sentir atraído por outras mulheres, eu sabia. Nosso tempo estava contado.
Antes, no entanto, eles se comprometeram em gravar Unidos Pelo Mal (Hammersmith Is Out, 1972). Em uma nova versão da história de Fausto, que eles gravaram em 1967 em tempos mais felizes, Elizabeth interpretava a garçonete Jimmie Jean, e Richard um louco que escapou do sanatório e convence o jovem Billy Breedlove, vivido por Beau Bridges, a lhe ajudar dando à ele tudo que ele sempre sonhou. 

As brigas entre eles agora no set de filmagens eram inegáveis e de acordo com o livro Elizabeth Taylor: The Last Star, Elizabeth se irritava cada vez mais com a proximidade de Richard e com o fato de sua bebedeira lhe tornar uma pessoa muito amarga. Já ele não tinha mais tanta simpatia pelas doenças recorrentes de Elizabeth e começava a ficar interessado em outras mulheres.

Elizabeth se tornou avó aos 38 anos de idade logo depois que seu filho Michael se casou e via a criança como se fosse a filha que ela e Richard nunca tiveram. Infelizmente, os problemas no casamento já eram tantos que o próximo e último filme do casal foi premonitório: Divórcio Dele, Divórcio Dela (Divorce His, Divorce Hers, 1973). 

Divórcio Dele, Divórcio Dela (Divorce His, Divorce Hers, 1973)
O último filme do casal: apaixonados demais para ficarem juntos 
Em novembro de 1972, com o casamento já à ruínas, Elizabeth e Richard concordaram em estrelarem no filme Divórcio Dele, Divórcio Dela (Divorce His, Divorce Hers, 1973) para cumprir uma das obrigações de Richard com a emissora de televisão HTV. Apesar do casamento em crise, os dois ainda estavam se esforçando para permanecerem juntos e Elizabeth até considerou adotar mais uma criança com ele. 

Nele, Richard interpreta Martin Reynolds, um homem rico que em sua viagem à Roma relembra de seu casamento de 18 anos com Jane, vivida por Elizabeth. Na parte do "divórcio dele", Martin lembra de sua vida com a ex-esposa como "sadomasoquista". Já no "divórcio dela" analisa-se como a união entre eles afetou negativamente os seus filhos. 

De acordo com o livro How to Be a Movie Star: Elizabeth Taylor in Hollywood de William J Mann, quando Elizabeth chegou ao set de filmagens mais cedo do que esperado, durante uma cena de Richard, ele foi embora "incapaz de encarar o circo que seguia sua mulher para onde fosse."

O ciúmes excessivo de Elizabeth, a bebedeira de Richard, culpando Elizabeth por tudo, e as crescentes brigas do casal estavam saindo de controle e em uma última tentativa de se acertarem, Elizabeth estava em Nova York após terminar de gravar Meu Corpo Em Tuas Mãos (Ash Wednesday, 1973), filme em que Richard tinha certeza que Elizabeth estava tendo um caso com Helmut Berger, e concordou em se encontrar com Richard em sua casa em Long Island. Ele a buscou no aeroporto e os dois brigaram tanto sobre a bebedeira de Burton que ela nem ao menos saiu do carro e já voltou para Nova York.

Em 4 de julho de 1973, Elizabeth resolveu soltar uma nota sobre a separação iminente dela e de Richard para a imprensa, afirmando:
Estou convencida de que essa seria uma boa ideia que Richard e eu nos separássemos por um tempo. Talvez nós nos amassemos muito. Eu nunca acreditei que alguma coisa assim fosse possível. Mas estivemos sempre juntos e eu acredito que isso causou uma falha de comunicação. Eu acredito com todo o coração que a nossa separação vai nos trazer de volta para onde deveríamos estar - juntos. (...)Nos desejem sorte nesse tempo difícil - rezem por nós. 
Devastado com a decisão de Taylor de anunciar a separação, Burton resolveu ficar sóbrio e escrevia inúmeras cartas românticas para a amada, negando à todos que um divórcio realmente aconteceria. Em 20 de julho de 1973, Elizabeth encontrou Richard em Roma onde eles passaram nove dias reconciliados - isso não durou graças a recaída de Burton às bebidas e pela atriz ter certeza que ele a estava traindo com Sophia Loren, sua co-estrela no filme A Viagem Proibida (The Voyage, 1974).

Elizabeth e Richard em 1973 - ainda tentando salvar o casamento
Apesar de já terem entrado com o processo de divórcio, no final de novembro de 1973 Elizabeth passou por uma operação de retirada de cistos do ovário e Richard correu para ficar ao seu lado. Henry Wyberg estava fora - ela voltava para ficar com Richard em Roma e os jornais anunciavam que era para sempre. Infelizmente, durante as gravações de O Homem da Klan (The Klansman, 1974), Richard continuou a beber até cair e ficou com várias mulheres, comprando até um anel para uma delas. Elizabeth soube, foi embora e se divorciou dele de vez em 26 de junho de 1974 - Richard estava se desintoxicando no hospital e não pode comparecer a audiência.

Logo depois do divórcio, Richard ficou noivo de outra Elizabeth - a princesa da Iugoslávia. Elizabeth, a atriz, ficou devastada, mas sem motivos: o galês e a princesa se separaram em dezembro de 1974. Em agosto de 1975, Elizabeth e Richard se reencontraram para discutirem um acordo financeiro sobre o divórcio e ficaram encantados um com o outro novamente. Após a atriz acreditar que estava com câncer, um alarme falso, Burton lhe pediu em casamento de novo.

Em 10 de outubro de 1975 os dois se casaram pela segunda vez em Bostwana, na África em uma cerimônia ao ar-livre.

Foto do segundo casamento dos dois: durou apenas 9 meses.
Richard, no entanto, se sentia preso no casamento com Elizabeth, farto de ser conhecido como o sr. Elizabeth Taylor, e logo voltou seus olhos para a modelo Suzy Hunt em janeiro de 1976. O ator pediu o divórcio para Elizabeth e ele foi oficializado em 1 de agosto de 1976 - Burton se casaria com Suzy naquele mesmo ano. Logo, a atriz se casou com o senador John Warner.

Em 1982, separados de seus respectivos parceiros, "Liz e Dick" se reuniram em uma festa e concordaram em atuarem juntos mais uma vez, na peça Private Lives. Um fracasso de crítica, os fãs se uniram em massa para ver o antigo casal, que apesar de rumores de reconciliação não ficariam juntos. Richard se casou com sua secretária, Sally Hay em 1983 durante uma brecha da peça.

Neste mesmo ano Elizabeth se internou na clínica Betty Ford, a primeira celebridade a fazê-lo de forma tão pública, para tratar de seu vício em álcool e pílulas que se agravaram durante a peça. Após sair da reabilitação, ela e Richard mantiveram contato por telefone até a morte do ator em 5 de agosto de 1984, devido à uma hemorragia cerebral.

Apesar de se casar mais uma vez, em 1991 com o construtor Larry Fortensky, que ela conheceu em 1988 em sua segunda estadia na clínica Betty Ford, Elizabeth sempre permaneceu apaixonada por Richard e afirmou:
Atencioso, amoroso, esse era o Richard. No meu coração, eu sempre acreditei que nós teríamos nos casado uma terceira e última vez...desde aqueles momentos em Roma, nós estávamos completamente e enlouquecidamente apaixonados. Nós tínhamos mais tempo, não o suficiente. - Elizabeth Taylor para a Vanity Fair.
Elizabeth e Richard no aniversário de 50 anos da estrela em 1982.
Elizabeth não pode comparecer ao enterro de Richard - Sally barrou sua entrada - mas ela se despediu dele em seu túmulo e continuou a honrá-lo por toda sua vida em entrevistas e em livros que escreveu. Ela sempre testemunhou que os dois grandes amores de sua vida foram Mike Todd e Richard Burton e que se sentia grata por tudo que passou com eles - o bom, o ruim e o terrível.

Um casal que fascina por sua extravagância - tanto por jóias quanto pela paixão explosiva que sentiam um pelo outro - Liz e Dick (apelido que odiavam) marcaram para sempre a história do cinema, com seus filmes ótimos, medíocres e até ruins, e a certeza que um amor tão grande quanto o deles é algo raro. Raro e lindo de (re)visitar.


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