Dicas: A 1º Caixa Surpresa

O relógio está preso em seu tique taque de sempre. Mais alguns segundos e a promessa de um novo ano, melhor do que o último, está preso em nossas gargantas. Nossas esperanças, crenças, sonhos e simpatias nos dão a certeza de um começo melhor. Seja passando os últimos momentos do ano em uma festa, ao lado de familiares ou apenas com você mesmo, assistindo um bom filme, é sempre reconfortante renovar nossas esperanças para o ano vindouro.
Cena do filme 200 Cigarros                              Divulgação/MTV Productions/GIF
Por isso, na primeira edição da nossa categoria Caixa Surpresa, temos uma proposta diferente: a cada semana, indicamos 1 livro, 1 filme e 1 álbum para que seu final de semana seja ainda melhor. Você pode acabar conhecendo uma antiga (nova) banda ou músico e até se apaixonar por uma história diferente. E não há nada melhor do que conhecimento para nos inspirar.


Como o nosso tema desta 1º Caixa Surpresa é o Ano Novo, não poderíamos deixar de indicar obras que dão uma nova direção para o que significa o novo, mesmo se ele for antigo!


Sugestão de livro: Como Era Verde Meu Vale - Richard Llewellyn 


A nostalgia presente na obra de Richard Llewellyn é desconcertante, porque apesar de nenhuma daquelas situações narradas terem acontecido com você, a familiaridade delas faz com que se sinta presente a cada passo dado pelos personagens. O autor conta todas as vaidades, as traições, as loucuras e os amores da família Morgan vistas através dos olhos de um narrador que nunca parece crescer: como se ele tivesse parado no tempo do vale. 

O livro narra a história de Huw, um jovem garoto galês, e sua grande família enquanto vivem humildemente em seu vale. A inteligência de Huw, portanto, é comemorada, já que, assim, ele pode ter um futuro melhor do que seus parentes. Porém, o destino acaba interferindo na vida de todos os dez irmãos, que entre casamentos infelizes, amores não correspondidos e tragédias mortais, nunca deixam de amar a terra na qual nasceram

Lançado em 1939, não demorou muito para que o talentoso diretor John Ford resolvesse transformar o livro em filme, dois anos depois. Com Maureen O'Hara e Walter Pidgeon no elenco, o longa-metragem acabou ganhando cinco Oscars, inclusive o de melhor filme (o que na época foi um escândalo, já que estava concorrendo contra Cidadão Kane de George Welles). 

Com uma linguagem saudosista, quase como se Richard tivesse sido galês ele mesmo, ler Como Era Verde Meu Vale é como comer sua comida favorita preparada pelas mãos de sua mãe e, convenhamos, não existe nada melhor do que isso. 

Sugestão de Filme: 200 Cigarros (1999) 
Divulgação/MTV Productions
Antes da versão água com açúcar de Garry Marshal sobre o ano novo ser lançado, a novata diretora Risa Bramon Garcia resolveu apostar sua sorte em Hollywood com um roteiro que contava a história de vários jovens, que entre encontros e desencontros, tentavam encontrar alguém para chamar de seu no Ano Novo de 1981. 

O filme, aliás, incluia todos os atores mais requisitados do fim dos anos 1990: Ben Affleck, Kate Hudson, Christina Ricci, Paul Rudd, Martha Plimpton e até Courtney Love, quando ela ainda levava a carreira de atriz à sério. E apesar de um elenco incrível e uma história fofa à la comédia romântica, o filme foi um fracasso de bilheteria e até hoje não conseguiu alcançar o status de cult

Convenhamos que 200 Cigarros (1999) tem lá seus defeitos: alguns personagens irritantes que em nada acrescentam à história e figurinos tão caricatos que acabamos sentindo que os personagens estão indo à uma festa a fantasia. Mas o longa-metragem, como uma comédia romântica, funciona bem. Temos personalidades diferentes que de alguma forma se mesclam e criam grandes histórias individuais. Um dos pontos altos da trama são as histórias das personagens de Kate Hudson, a Cindy, e Martha Plimpton, a Monica. 200 Cigarros também conta com a participação especial do músico Elvis Costello. 

E diversão é o que não vai faltar neste filme se for encarado como realmente é: uma comédia romântica.  

Sugestão de álbum: Debbie por Debbie Reynolds (1959) 
Divulgação/Hallmark
Debbie Reynolds ganhou fama aos 20 anos quando participou do filme Cantando na Chuva (1952). Mas foi quando estrelou no filme Tammy: A Flor do Pântano, cinco anos depois, que ela solidificou sua fama como atriz e, de quebra, conseguiu fazer sucesso com a canção-tema do filme,Tammy, que a rendeu um dos grandes prêmios da música: um disco de ouro.  

Assim, na época, pareceu lógico criar um álbum para Debbie Reynolds mostrar seu talento vocal. Com 12 faixas românticas, nem todas estão disponíveis para apreciação gratuita, mas com a perda inigualável de Debbie aos 84 anos de idade, um dia depois que sua filha Carrie Fisher morreu de um ataque cardíaco, acredito ser importante homenagear esta grande artista, que além de ter uma grande carreira cinematográfica, ainda tentava à todo custo, proteger as recordações da antiga Hollywood e pretendia criar um museu com artefatos daquela época. 

Com uma voz doce, embora sem treinamento profissional, Debbie sempre colocava muita emoção em suas atuações e músicas e isso ficará ainda mais claro quando você der uma chance ao seu álbum de estreia. E uma coisa posso atestar: que de novata, Debbie Reynolds nunca teve nada.  

As melhores participações especiais de Charmed

Seriam elas irmãs que por acaso são bruxas ou bruxas que são irmãs? Durante uma longa jornada de oito temporadas seguimos a vida de quatro das feiticeiras mais poderosas do mundo. Nos primeiros três anos da série o Power of Three (poder das três) foi convocado pela irmã mais velha Prue (Shannon Doherty), por Piper (Holly Marie Combs) e pela caçula Phoebe (Alyssa Milano) que a cada semana combatiam um demônio diferente enquanto aprendiam mais sobre esse mundo sobrenatural. 
Prue, Piper e Phoebe                                              Divulgação/WB Channel/Gif 
Depois da tragédia de perderem uma das irmãs, a sempre centrada Prue, a personagem Paige foi introduzida depois de uma busca incessante de atrizes para preencherem o papel. No final a escolhida foi Rose McGowan, que ficou no show por cinco anos como a irmã mais nova, sendo metade bruxa, metade whitelighter (uma espécie de anjo da guarda) possuindo o tão cobiçado poder de orbitar. 


Mas além das irmãs e dos seus casos amorosos, que ocuparam uma boa parte da série, uma das coisas mais divertidas em Charmed foi a participação especial de artistas que acabaram fazendo ainda mais sucesso fora da série! 



T.J Hyne como Danny, um whitelighter 


Ele aparece já na abertura do episódio                                     Divulgação/WB Channel 

Antes de fazer sucesso como o doutor Hodgins na série de sucesso Bones, que por sinal terá sua última temporada em 2017, T. J Hyne fez uma pequena participação em Charmed, durante a sétima temporada do show no sexto episódio intitulado Once in a Blue Moon


Nele, T. J interpreta Danny, um whitelighter, uma espécie de anjo da guarda de bruxas, que foi designado para cuidar das três irmãs, já que Leo (Brian Krause) ainda é um ancião e não pode cuidar das garotas como antes. O único problema é que ele acaba morto antes mesmo de conseguir iniciar seu trabalho e uma busca desenfreada pelo culpado começa. 



Depois de Charmed, T.J continuou participando de séries e filmes, mas até hoje ele é mais conhecido como o rei do laboratório no Instituto Jeffersonian


Amy Adams como Maggie Murphy, uma inocente

Amy Adams antes de se transformar em uma estrela de cinema               Divulgação/WB Channel 
Antes de se tornar conhecida mundialmente pelo seu talento e ser indicada para cinco Oscars como melhor atriz, Amy Adams participava da série Charmed durante a 2ª temporada do programa no décimo sexto episódio chamado Murphy's Luck. Ela era uma das inocentes das irmãs, ou seja, uma civil que precisava de ajuda para se livrar das forças sobrenaturais malignas que estavam em sua vida. 


No episódio, Maggie, que sempre foi uma mulher que buscava ajudar o próximo, vê tudo isso mudando quando ela fica sobre o domínio de um darklighter (a versão malvada de um whitelighter), que aliás foi interpretado pelo ator Arnold Vosloo do filme A Múmia (1999), que quer impedir que ela se torne uma whitelighter no futuro. As irmãs descobrem o plano e tentam ajudar a inocente. 



Amy não estava longe de alcançar o sucesso na telona quando participou da série em 2000. Sua grande chance chegou dois anos depois ao participar do longa-metragem Prenda-me se For Capaz. 



Zachary Quinto como um bruxo 

Zachary foi o vilão desse episódio de Charmed                       Divulgação/WB Channel

Se hoje Zachary Quinto é conhecido pela nova geração de fãs da saga Star Trek como o querido Spock, quando ele participou de Charmed ele era apenas mais um ator iniciante. Ele fez sua participação na quinta temporada do programa durante o décimo oitavo episódio intitulado Cat House.  

Nele Zachary vive um bruxo que pretende enfraquecer o poder das três jovens bruxas ao matar o animal de estimação delas, a gata Kit. O único problema é que Piper e Leo, que agora são casados, estão com problemas no relacionamento, o que faz com que Piper lance um feitiço para tentar resolver as coisas, enquanto os dois fazem terapia de casal. 

Cinco anos depois de sua participação em Charmed, Quinto estrelou em Star Trek (2009) e depois disso não parou mais de fazer filmes e participar de séries com mais destaque. 

John Cho como Mark Chao, um fantasma e inocente

Outro ator que posteriormente fez parte da nova saga Star Trek              Divulgação/WB Channel
O ator John Cho pode até ser conhecido atualmente como o Sulu nos novos filmes da saga Star Trek, assim como Zachary Quinto que também participou da série, mas na época em que ele participou de Charmed os produtores consideraram o ator e o episódio como um dos mais importantes da série. 

Isso porque, de acordo com o produtor executivo Brad Kern em entrevista ao site TV Line, foi neste episódio, o quarto da primeira temporada intitulado Dead Man Dating, que eles encontraram o tom certo para o show: "Era romântico, supernatural, emocional, engraçado e diferente, realmente abriu nossos olhos." 

Nele, Cho interpretava um homem que foi erroneamente assassinado e precisava da ajuda das irmãs para não ser capturado por um antigo espírito maligno que queria sua alma. Piper acaba se apaixonando por ele e apesar de participar de apenas um episódio, Mark Chao permanece um favorito dos fãs. 

Michael Weatherly como Brendan Rowe, um bruxo

Em Charmed, os bruxos são, ou eram, sempre os malvados                           Divulgação/WB Channel
Antes dos brutais erros de continuidade de Charmed a partir da quarta temporada em diante, um homem com poderes de feitiçaria, ou seja, um bruxo, era considerado malvado, enquanto que as mulheres, e apenas elas, herdavam o lado bom da mágica. Claro que isso mudou quando Piper deu à luz Wyatt, seu primogênito. 

Mas quando a regra ainda valia, no décimo oitavo episódio da 1ª temporada intitulado When Bad Warlocks Turn Good, as três irmãs encontraram Brendan, um bruxo que deseja escapar de seu destino e para isso precisa de proteção até se tornar padre, quando não poderá ser mais tentado. 

Michael Weatherly foi escolhido para interpretar o personagem, sendo mais conhecido por interpretar o agente Anthony DiNozzo em NCIS: Investigação Criminal

Jon Hamm como Jack Brody, pai de Kyle (namorado de Paige) 

Jon participou da série antes de se tornar famoso com Mad Men             Divulgação/WB Channel 
O personagem de Jon Hamm em Mad Men pode até ser um conquistador de mulheres, mas quando o ator participou de Charmed ele interpretou um homem de família, o pai de Kyle Broody, agente da polícia e namorado de Paige durante a sétima temporada do show

Jack Brody faz parte do décimo primeiro episódio de Charmed intitulado Ordinary Witches, quando Kyle e Paige vão para o passado tentar descobrir o que realmente matou os pais do agente, que eram arqueólogos renomados. 

O ator, aliás, não teve que esperar muito para alcançar o sucesso depois disso, já que dois anos depois ele foi escalado como Don Draper em Mad Men

Janice Dickinson como ela mesma (e Paige) 

A modelo fez uma pequena ponta na série                                Divulgação/WB Channel 
Uma modelo internacionalmente famosa, Janice Dickinson é conhecida pela sua língua afiada, suas opiniões fortes e, é claro, pelas suas cirurgias plásticas. E todas essas qualidades foram postas em prática quando ela participou do show, como ela mesma, no primeiro episódio da última temporada de Charmed, chamado Still Charmed and Kicking

Nele, as três irmãs estão presentes em seus funerais, com novas identidades, depois de forjarem suas próprias mortes. Chateada porque ela não tem muitas pessoas que lamentavam sua morte, Paige aparece na cerimônia como a famosa Janice Dickinson. 

Uma das participações especiais mais bem-humoradas da série, sem dúvida! 

James Avery como Zola, um ancião

Um ancião no pedaço                                              Divulgação/WB Channel

Mais conhecido como o tio Philip da série Um Maluco no Pedaço, James Avery fez uma pequena participação especial em Charmed como um dos anciões que tentam fazer com que Leo, depois de uma série de frustrações, volte ao caminho da luz. 

Ele aparece na sétima temporada da série, durante o primeiro episódio (A Call To Arms). É depois de seu desaparecimento que os outros anciões começam a suspeitar que Leo o tenha assassinado, causando uma ruptura ainda maior no relacionamento entre eles e as três irmãs. 

James, aliás, continuou fazendo participações especiais em outras séries e filmes, mas sempre será querido pelo seu papel em Um Maluco no Pedaço

Misha Collins como Eric Bragg, inocente 

Ele também teve um pequeno flerte com Phoebe                             Divulgação/WB Channel
Em um dos seus primeiros papeis como ator, Misha participou de Charmed como Eric Bragg, um inocente que tenta proteger seu pai de demônios, que estão atrás dos dois porque eles possuem a chave para desvendar uma das maiores fontes de poder do mundo: os registros akáshicos


Phoebe o conhece ao fazer um trabalho voluntário em um asilo, cuidando do pai de Eric, e a partir daí pai e filho se transformam em inocentes que precisam de proteção. Misha, aliás, pode ser visto no sétimo episódio da 2ª temporada de Charmed, intitulada They're Everywhere, antes de realmente fazer sucesso como o anjo Castiel na querida série Supernatural


Logo depois dessa participação especial ele foi escalado para o filme Garota Interrompida e desde então sua carreira não parou mais! 





A origem de O Clube dos Cinco (1985)

O filme do Clube do Cinco (1985) é um dos meus favoritos, tendo ganhado meu coração já no epigrama de abertura, que é um trecho da canção Changes, do álbum Hunky Dory (1971), do meu cantor predileto: David Bowie. (Aliás, Bowie tem uma conexão forte com o filme, como vocês podem ver pelo post em meu blog pessoal). O trecho escolhido foi o seguinte:

"E essas crianças nas quais vocês cospem enquanto elas tentam mudar seus mundos, elas são imunes às suas consultas, elas sabem muito bem pelo o que estão passando."
Universal Pictures/Gif
E seu impacto é profundo. Logo de cara sabemos sobre o que o filme fala: de quatro adolescentes, bem diferentes, que tem que passar um dia de detenção no colégio Shermer High School no fatídico sábado, no dia 24 de março de 1984 por terem quebrado as regras da escola. Na narração voice-over de Brian, sabemos a personalidade de cada um: o cérebro Brian Johnson (Anthony Michael Hall), o atleta Andrew Clarke (Emilio Estevez), a doidinha Allison Reynolds (Ally Sheedy), a princesa Claire Standish (Molly Ringwald) e o criminoso John Bender (Judd Nelson). 


Mas eles são muito mais do que apenas seus rótulos, como vemos ao longo do filme. E os bastidores não foram tão diferentes assim, a começar pela concepção do roteiro. John Hughes, roteirista e diretor do Clube do Cinco e de vários outros filmes adolescentes dos anos 1980, escreveu esse roteiro em apenas dois dias entre 4 e 5 de julho de 1982! O nome original do filme era A Detenção. Segundo uma entrevista do diretor para o jornal Chicago Tribune em 1985, ele mudou de ideia ao falar com o filho adolescente de seu amigo: 

"Um amigo meu de Needham, Bob Ricther, que vive em Glencoe tem dois filhos com os quais eu também fiz amizade, especialmente sua filha Tiffany que escutou a minha ideia para o roteiro de Gatinhas e Gatões, gostou e me encorajou a fazê-lo. E Bobby, o outro filho adolescente dele, foi quem me deu a ideia do nome The Breakfast Club (Clube dos Cinco) que veio do apelido da detenção matutina na New Trier High School." 
O elenco principal do Clube dos Cinco (1985)                                                     Divulgação

Mas a jornada para que o Clube dos Cinco se tornasse um clássico não foi tão fácil assim. Quando o roteiro do filme ainda se chamava A Detenção, John Hughes conseguiu um acordo com uma produtora chamada A&M Films para filmar seu roteiro por 750 mil dólares. Nessa versão, John Cusack interpretaria John Bender e Virginia Mardsen viveria uma das garotas, como o livro John Hughes: A Life in Film de Kirk Honeycutt detalha. Mas Hughes ficou com medo que se o filme não fosse bem sucedido, sua carreira como roteirista e diretor poderia acabar antes mesmo de começar. 

Por isso, ele decidiu apostar na comédia romântica Gatinhas e Gatões, que chamou a atenção do produtor Ned Tanen, um grande defensor de Hughes, que conseguiu convencer a Universal Pictures a distribuir e financiar o Clube dos Cinco, apesar do sucesso modesto do antecessor, Gatinhas e Gatões

Molly Ringwald como Samantha em Gatinhas e Gatões(1984)                   Universal Pictures/Gif
O Clube dos Cinco começou a ser gravado em março de 1984, com 32 dias de gravação, sendo filmado todo em sequência. Molly Ringwald e Anthony Michael Hall foram escolhidos por já terem trabalhado com Hughes em seu primeiro filme, mas a história com Ally, John e Emilio foi diferente. Ally conseguiu o papel de Allison porque ela tinha feito um teste para o filme Gatinhas e Gatões, para interpretar a irmã mais velha de Samantha (Molly Ringwald), e Hughes tinha admirado seu trabalho em Bad Boys(1983), tanto que resolveu mandar o roteiro para ela. Ally, é claro, aceitou. 


Emilio já era bem conhecido na época, tendo atuado em filmes como Vidas sem Rumo (1983) e Repo Man (1984), e foi atrás do papel de John Bender, mas como Hughes não encontrou nenhum outro ator capaz de interpretar o atleta Andrew Clarke, Emilio assumiu o papel. Já Judd Nelson, na época o mais velho da equipe, com 24 anos de idade, apareceu para o teste de elenco na Universal vestido como o seu personagem, carregando, inclusive um canivete. John Hughes acabou se decidindo por ele ao invés de John Cusack, pois ele era bem mais ameaçador. 



Mesmo com as pessoas certas, o filme ainda passou por poucas e boas. A começar pela persistência de Judd a continuar no personagem, mesmo fora de cena, implicando com seus colegas de trabalho, especialmente Molly Ringwald. Como ela era a musa teen de Hughes, ele não ficou nada feliz com esse tratamento e quase tentou expulsá-lo do filme. 


John Hughes não gostava nada do jeito que Judd tratava Molly                              Divulgação
Mas como o documentário Don't You Forget About Me (2009) mostra, Judd deu inúmeros palpites certos para o seu personagem, como na cena na qual ele tem que escolher seu lugar para sentar na biblioteca. O ator revela que foi sua ideia de fazer com que Bender escolhesse o lugar no qual o Brian estava sentado, pois para ele era isso que seu personagem faria naquela situação. O elenco, aliás, estava em tanta sintonia, que quando eles se reúnem e contam por que estão na detenção, os próprios atores inventaram suas histórias, tudo com a supervisão de Hughes, é claro. Ally Sheedy, aliás, foi quem deu a ideia de colocar o epigrama do David Bowie no começo do filme

Já Hughes, em entrevista ao Hollywood Reporter em 1987, contou que adorava realizar longas cenas, tanto que o primeiro corte de O Clube do Cinco tinha mais de duas horas. Ele também confessou lidava com cada ator de um modo diferente para que eles ficassem sempre no personagem: "Com a Ally eu me foquei nas atitudes que a personagem dela faria e a encorajei a se focar nisso. Com Hall, eu falava com ele sobre tudo menos sobre a cena em si. Eu tinha que mantê-lo distraído e aí quando as câmeras rolavam ele agiria naturalmente." 

Molly e John Hughes fizeram apenas mais um filme depois deste, o A Garota de Rosa Shocking de 1986. Depois os dois seguiram em caminhos diferentes, algo que Molly creditou inúmeras vezes ao fato de querer fazer papeis mais desafiadores.Depois de algumas declarações polêmicas, como afirmar que poderia interpretar a personagem de A Garota de Rosa Shocking "até dormindo", a parceria dos dois foi quebrada e apesar de um envio de carta e um buquê de flores, eles nunca mais se falaram e o diretor morreu em 2009 de um ataque cardíaco fatal. 


John Hughes em 1985                                                                  Divulgação/Gif
Apesar de todo o drama nos bastidores e as dificuldades, e prazeres, ao filmar O Clube dos Cinco, é inegável que John Hughes tinha muito talento. Sua capacidade de reunir pessoas tão diferentes e criar um filme que até hoje ressoa com o público jovem diz muito sobre sua visão, que ele credita ao fato de não só observar os jovens, mas escutá-los: 

Muitos diretores representam os adolescentes como imorais e ignorantes, com objetivos bem óbvios. Eles acham que os adolescentes não são muito espertos. Mas não acredito que esse seja o caso. Eu os escuto. Eu os respeito. Eu não desprezo o que eles tem a dizer porque eles tem 16 anos. Alguns deles são tão brilhantes quando adultos que conheci: tudo que falta à eles é perspectiva própria. 



Livro: Carmen - Prosper Mérimée

"O amor é filho da boêmia, que nunca, nunca conheceu nenhuma lei." - George Bizet da ópera Carmen. 
Columbia Pictures/Gif
Carmem é uma das personagens mais intrigantes da literatura internacional. Decidida, sagaz, cruel e sem papas na língua, ela desperta paixões tão rapidamente quanto as termina. E é por essas e outras qualidades que a personagem já foi interpretada em filmes, por atrizes como Rita Hayworth e Dorothy Dandridge, dominando até o teatro, com uma ópera para ninguém botar defeito idealizada pela mente mais que capaz de George Bizet. 

Mas vamos por partes: a personagem Carmen, uma cigana que manipula todos os homens à sua volta, foi criada pelo escritor Prosper Mérimée, um romancista francês, nascido em 1803. Ele nasceu em uma família de boa reputação e decidiu seguir carreira como advogado, mas sua paixão pelas letras era grande demais para ser questionada. Resolveu, então, focar na carreira de escritor e teve sua primeira peça escrita em 1822, chamada Cromwell (embora, incerto da qualidade da obra, acabou nunca a publicando). 

Só que ele não se deu por derrotado: Mérimée se tornou um grande estudioso e logo foi elevado ao cargo de Inspetor Geral de Monumentos Históricos. Foi a partir daí que ele começou a realizar viagens para estudar as ruínas na França e na Espanha. E foi na exatamente na Espanha que a história de Carmen começou a se formar. 

Prosper Mérimée       Domínio Público
Segundo o livro Carmen, a Gypsy Geography escrito por Ninocthka Bennahum, depois da Revolução de Julho na Espanha, em 1830, Mérimée foi até o país e acabou conhecendo e fazendo amizade com Cipriano de Montijo, um conde que ficou encantado pelas histórias do escritor e o levou para conhecer sua filha e sua esposa, a condessa Montijo. 

Aliás, segundo o livro de Ninocthka, foi a condessa que recontou a famosa história que deu origem ao livro Carmen. Mas com algumas ressalvas, é claro. O conto que a condessa compartilhou com Merimée era de um jornal local que noticiava que um jacquerie, ou seja, um plebeu, matou sua amante cigana por ciúmes por ela ter se "devotado ao público" e por ter se "recusado a ficar apenas com ele." 

Mas a história de Carmen e seu amante Don José só ficou pronta mais de quinze anos depois. A demora? Pode ter sido por causa da posição dele como tutor e conselheiro da filha dos Montijo, Eugénie, que se casou com o imperador da França, Napoleão III. Ou também porque, Merimée, tão aplicado em seus estudos do povo espanhol e cigano, não queria escrever apenas um livro de romance. Ele queria que a cultura e os costumes do povo fossem apreciados também. 

Mesmo que a gestação da personagem tenha demorado um pouco além da conta, a Carmen de Prosper Mérimée finalmente nasceu! Ela foi publicada no jornal parisiense quinzenal chamado La Revue des Deux Mondes em 1845, na edição de outubro e no ano seguinte foi publicado como livro. 

  Jornal Revue des Deux Mondes/Arquivo


O epigrama escolhido para acompanhar a história de Carmen foi o do escritor grego Palladas, que diz o seguinte: "A mulher é uma chatice. Só existe duas ocasiões quando ela não é: na cama - e morta." E como o livro é narrado por um homem, Don José, e escrito por um homem também, não me surpreende a frase sexista para falar sobre a personagem. Ela é afinal, uma cigana que enfeitiça homens e os subjuga ao seu bel prazer, sem nunca conseguir ficar livre das amarras do amor e daqueles que a desejavam. 

O livro é divido em quatro partes. Na primeira, conhecemos o narrador secundário, que podemos presumir que seja o próprio Mérimée, em sua viagem pelo interior da Espanha quando ele encontra o perigoso criminoso Don José e os dois formam uma amizade. Depois disso, o narrador é roubado por Carmen e José é preso, fazendo com que ele comece a contar como conheceu a cigana que roubou seu coração. O único problema é que Carmen nunca irá se prender a ninguém e é assim que a história do livro realmente começa

A peculiaridade do romance está na quarta parte, na qual há uma breve explicação do narrador sobre os ciganos na Espanha, descrevendo costumes e até a sua linguagem romani. Já a história de Carmen é dividida em duas narrativas: a de Don José e do narrador secundário, o próprio Mérimée, que contam como o amor por Carmen fez um jovem promissor se afundar cada vez mais na loucura. Carmen, no entanto, luta contra o rótulo e várias vezes avisa José de que jamais se prenderá à alguém. 

Mesmo com os avisos, ele faz de tudo para tê-la só para si. 
Algumas das atrizes que interpretaram a icônica Carmen                           Divulgação/Edição


O livro é curto, minha edição não tem mais do que 111 páginas, quase como se fosse uma crônica longa, que mostra como o amor pode nos deixar cegos. Essa, aliás, é uma história tão universal que além de dar origem à famosa ópera de George Bizet, Carmen, também inspirou mais de dez longas metragens entre as quais destaco Os Amores de Carmen (1948), com a diva Rita Hayworth e Carmen Jones (1954) 

Ainda sobre o livro, consegui comprar meu exemplar por apenas R$4,00 e devo admitir que esse é um clássico fascinante. Carmen rouba o show em todas as páginas e apesar da leitura rápida, ele não é um clássico à toa e a objetividade do narrador unida com o conhecimento de Prosper Mérimée formam um livro excepcional, que deve ser lido. Sempre.



Informações adicionais: 
                                 
Livro: Carmen

Autor: Prosper Mérimée 

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