Mostrando postagens com marcador (Cine)No Cine. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador (Cine)No Cine. Mostrar todas as postagens

'A Substância' e o preço de ser uma mulher

Atenção: spoilers sobre A Substância (2024)

Nunca tive uma experiência tão intensa no cinema quando a vez que assisti 'A Substância (2024)'. Duas senhoras sentadas ao meu lado exclamaram "que filme horrível" e foram embora na metade da sessão. Mais para o fim do filme, algumas pessoas começaram a rir da insanidade do ato final, quando o Monstro ElisaSue começa a se arrumar para apresentar o especial de Ano Novo. Eu não achei graça e as risadas me incomodaram. 

Demi Moore em 'A Substância (2024)'

Quando cheguei em casa, comecei a pensar sobre a obra de Coraline Fargeat e conclui: o mundo é sempre mais cruel com as mulheres. Recentemente, por exemplo, alguns memes começaram a brincar sobre versões mais novas de cantoras que teriam tomado a substância como Cher, cuja versão seria a Dua Lipa, e Madonna com Sabrina Carpenter. Até aí, uma brincadeira inofensiva. 

A questão só piorou quando fizeram uma montagem com a foto de Madonna, claramente debilitada, ao lado de Sabrina com os dizeres: "Alguém não respeitou o equilíbrio" - dando a entender que Sabrina teria roubado a vitalidade da cantora. Por que nós, mulheres, não temos o direito de envelhecer? Ou melhor, por que só temos esse direito se continuarmos lindas e maravilhosas - o típico "você está ótima para sua idade" como acontece com a própria Demi Moore? 

Em 'A Substância (2024)', conhecemos Elisabeth Sparkles, vivida por Demi, uma grande atriz que ganhou até uma Calçada da Fama em Hollywood, nos Estados Unidos. Com o passar dos anos, ela tem seu próprio programa fitness - inspirada no sucesso de Jane Fonda nos anos 1980 - mas o seu chefe, papel de Dennis Quaid, quer tirá-la do ar por ser "velha demais". Deprimida, ela sofre um acidente de carro e o enfermeiro do Hospital no qual ela é atendida lhe oferece a substância, prometendo uma melhor versão dela mesma. 

Demi Moore no papel definidor de sua carreira 

Ao sair do hospital, ela encontra um antigo colega de classe que a paquera. A atriz, claramente, não sente nenhum tipo de atração por ele, apenas pega seu número para ser simpática e por se sentir sozinha. E não é isso que acontece nas vidas de muitas mulheres? Às vezes damos chances para pessoas pelas quais nem nos sentimos atraídas, apenas por medo de nos sentirmos sozinhas. 

E não se enganem: homens não dão chance para mulheres que não acham atraentes - e friso no "atraentes" e não "bonitas" porque há uma diferença. Nunca vi nenhum de meus amigos ou parentes homens ficarem com mulheres que não sentiam atração apenas porque elas eram fofas ou faziam favores e cuidavam bem deles: nós mulheres sim.

Por quê? Eu não tenho a resposta para esse questionamento, mas sei que é um problema inerente do que é ser mulher. Elisabeth passa por isso após marcar um encontro com esse colega e, por própria insegurança de sua aparência, se isolar novamente. Ela se arrumou toda para ver um homem que ela nem queria, por medo de ficar sozinha. E esse medo era tanto que ficou paralisada e permaneceu como começou: só. 

Margaret Qualley - em uma grande performance - dá vida a Sue

O sentimento de Elisa com sua própria aparência é de nojo, apesar de serem os homens de sua vida, em especial seu chefe, quem nos dão ranço. O enfermeiro que lhe indicou a substância reaparece no decorrer do filme, totalmente envelhecido, e pergunta como Elisabeth está lidando com a situação de sua versão mais nova, Sue, roubando toda a sua essência. Ou seja, ele sabia desde o começo que isso aconteceria. 

Ao invés de alertá-la ou nem indicá-la para a substância, ele fez questão de dissuadi-la. Elisabeth, desesperada do jeito que estava para parecer mais jovem e bela, provavelmente não escutaria nenhum aviso. Porém é curioso que um profissional da saúde - que deveria respeitar a integridade dos pacientes - foi quem lhe introduziu à substância. 

Essa situação não é fora da realidade: no Brasil, o número de busca por procedimentos estéticos aumentou em 390%, de acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Dermatologia em 2023. São dentistas fazendo harmonização facial - com resultados desastrosos - são pseudoesteticistas fazendo peelings perigosos - como no caso da influencer Natalia Becker - ou até profissionais renomados indicando a inserção de PMMA - um componente plástico que pode causar infecção generalizada. 

Tudo em nome da beleza, assim como a própria Elisabeth fez. A estrela adquiriu uma substância sem saber a procedência, apenas com a garantia que seria uma melhor versão de si - e não se importou com as consequências e sim com o resultado imediato. Assim, surge Sue, vivida por Margaret Qualley: uma Elisabeth mais bonita, mais disposta, mais sexy, mais tudo do bom e do melhor. 

Sue: uma versão melhor de Elisabeth

Sue tem uma beleza irreal - tanto que é inatingível até para a atriz na vida real. Margaret teve que usar próteses nos seios e talvez até em outros lugares para alcançar esse patamar de sensualidade. A pele dela não tem manchas ou celulite e nem estrias. Além disso, Sue está sempre descansada e chamando a atenção por onde passa: a definição de perfeição. 

Jovem e com tantas possibilidades à sua frente, Sue se cansa de alternar os dias com Elisabeth e acaba a deixando trancada, em um quarto escuro, fingindo que ela não existe e apenas se aproveitando dela. Nenhuma das duas respeita o equilíbrio: Sue quer mais tempo para aproveitar sua juventude enquanto Elisabeth desperdiça seus dias, deprimida, por saber que nunca alcançará aquele nível de plenitude. Ambas esquecem que são uma só. 

Ao longo do filme, a personagem Sue ganha close ups de seu corpo - que ao assistir no cinema, confesso, me senti incomodada por ser um pouco demais - e uma cena de dança sensual, algo que Elisabeth sente que não poderia fazer em sua idade. Para ela, seu auge já passou e Sue é sua única chance. 

Dennis Quaid como o detestável chefe de Elisabeth e Sue 

Outro ponto que me chamou atenção no filme foi o fato de que Elisabeth, ao criar sua versão Sue, resolve voltar e provar para o seu ex-chefe que pode ser a melhor, ganhando o programa que, outrora era dela na emissora. Sue poderia ter começado seu próprio império fitness, abrir uma empresa e competir de frente com o ex-chefe, criando um ambiente mais inclusivo e empoderado. 

Mas como essa seria uma opção para ela se, nós mulheres, fomos ensinadas a agradar desde cedo? A seguir as regras que nos são impostas? É o caminho natural voltar para o que conhece e tentar satisfazer quem lhe fez mal, mesmo que isso coloque sua própria saúde mental e física em jogo. Porque a questão é mostrar para o outro que conseguimos.  

Essa realização nos faz perceber como o papel da mulher na sociedade é totalmente voltada para a satisfação masculina. Em nenhum momento do filme, Elisabeth ou Sue pensam no que querem fazer por elas - as duas buscam validação em todos os lugares, menos nelas mesmas. 

A preocupação com a beleza é tanta que ela se transforma no Monstro ElisaSue 

Outra cena que exemplifica bem a necessidade de agradar os outros, mesmo que nos faça mal, é quanto Sue sorri para seu chefe apenas porque ele a pede. Na ocasião, ela estava perdendo os dentes e enfrentando as consequências por não respeitar o equilíbrio. 

Muitas vezes nos pedem para sorrir ou fazer algo que não queremos e, nós, mulheres, aceitamos para não sermos rudes ou para não constranger a outra pessoa. E quanto à nossos sentimentos? A dificuldade de nos impormos no mundo torna a nossa vida mais solitária e bem menos satisfatória. 

Poderia escrever por horas sobre cada nuance deste filme e a genialidade de Coralie em fazer um body horror abordando o envelhecimento e a ditadura da beleza - dois caminhos que se repelem e se atraem ao longo da vida de uma mulher.

Um body horror de respeito

A mais atual trend das redes sociais é 'Magras, Magras, Magras', enaltecendo o corpo magro que fez tanto sucesso no final dos anos 2000. Se você é magra natural, ótimo, a questão aqui não é com você e sim como passamos da era da positividade corporal para o enaltecimento de apenas um padrão de corpo - e todas as alternativas, não saudáveis, para alcançá-lo.

O maior ensinamento de 'A Substância' é de que Elisabeth e Sue são "uma", ou seja, o que acontece com uma afeta a outra. Se você não se cuidar agora, enfrentará as consequências mais tarde. Se você não se aceitar agora, talvez seja tarde demais no futuro. Se ame, mesmo quando for muito difícil - é o melhor que pode oferecer ao seu "eu" daqui a 30, 40 anos. 

Se não, o preço que você pagará pode ser alto demais. 

Mamonas Assassinas e os filmes que não saíram do papel

Mamonas Assassinas, uma das maiores bandas do Brasil, ganhou finalmente a cinebiografia que merecia, que estreou em 28 de dezembro de 2023 nos cinemas brasileiros. O grupo formado por Dinho, Bento, Júlio, Sérgio e Samuel, era originalmente do rock, mas encontrou no humor escrachado o verdadeiro caminho do sucesso nacional. 

Engana-se, no entanto, quem pensa que este filme, dirigido por Edson Spinello, foi o primeiro esforço para colocar a história desses rapazes de Guarulhos, em São Paulo, nas telonas. Em novembro de 1996, após a morte trágica dos integrantes da banda, em um terrível acidente de avião em 2 de março, o cineasta Lui Farias anunciou a produção de um filme sobre os Mamonas com orçamento de R$5 milhões. 

Lui, filho do também cineasta Roberto Farias, conheceu o jovem técnico da banda, o Ralado, nome artístico de André Oliveira de Brito, em um hotel no Rio de Janeiro em 1995. Ali, ele ficou interessado em criar um filme sobre os Mamonas e os procurou por telefone - o grupo apoiou o projeto e tinha combinado de encontrá-lo antes da turnê em Portugal, mas o acidente de avião ocorreu antes. 

Mamonas são ainda um grande fenômeno da web

Além de conseguir os direitos para o longa, Lui também conquistou a permissão de produzir uma série de desenhos animados sobre os Mamonas para a TV, que nunca saiu do papel. O filme seria lançado em 1998, com roteiro de Farias, Melanie Dantas e o escritor Eduardo Peninha Bueno, responsável pela biografia oficial dos Mamonas, o 'Mamonas Assassinas: Blá, Blá, Blá - A Biografia Autorizada'. O longa se chamaria 'Mamonas - O Muve'.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Lui diz que chegou a falar com os Mamonas sobre o filme antes da morte deles e Dinho tinha uma visão clara de como queria ser representado: "O Dinho sugeriu fazer alguma coisa seguindo aquelas séries japonesas. Ele se imaginava encarnando uma espécie de Jaspion".  Pelo contrato, 50% do faturamento do filme seria rachado pela empresa Palco 1 e o próprio Farias, enquanto os outros seriam divididos entre os empresários e familiares dos músicos. 

Não se sabe por que o filme não foi pra frente. Na ocasião, pediam que o ator Marcelo Farias interpretasse o Dinho no longa. Procurado pela Caixa de Sucessos, Lui Farias ainda não explicou porque o filme não saiu do papel e assim que tivermos uma resposta, atualizaremos a postagem. Pelo que se especula, no entanto, a falta de patrocínio foi a grande vilã. 


Anos se passaram sem qualquer atualização sobre um filme. Em 2001, lançou-se o documentário 'Mamonas Assassinas - Indomáveis e Inesquecíveis', um especial em conjunto com a Record e que foi narrado por Adriane Galisteu. Além disso, um álbum ao vivo com músicas inéditas do tempo de Utopia, antes deles virarem Mamonas Assassinas. 

Em 2005, no entanto, o projeto de lançar um longa sobre os Mamonas surgiu de novo! No caso, o produtor Cláudio Khans, da Tatu Filmes, começou a desenvolver um documentário sobre a banda, entrevistando familiares e amigos, que saiu sob a alcunha de 'Mamonas Pra Sempre' em 2009. Nesse ínterim, a produtora também desenvolvia um filme sobre os Mamonas, que seria dirigido por Maurício Eça. O título? 'Mamonas Assassinas - o Filme'

O vocalista William Santana, da band cover dos Mamonas e do grupo Elos Perdidos, foi cotado para interpretar Dinho no longa, conforme admitiu o baixista Rodrigo Reis para o 'Jornal do Brasil' em 2006: "A gente não sabe se o William será selecionado. Porém, aproveitando a boa sorte, estamos preparando um repertório de inéditas para o ano que vem, ou seja, músicas próprias seguindo o estilo dos Mamonas". 

William quase foi cotado para viver Dinho no filme dos Mamonas

O longa, orçado em R$6 milhões, foi adiado por falta de patrocínio, conforme o próprio Claudio afirmou em entrevista: "Nós estamos na fase de captação de recursos e elaboração do roteiro. Quanto ao elenco, ainda vamos definir os atores que integrarão o elenco do longa. Queremos começar a filmar no final do ano para estrear no meio do ano que vem. A história começa antes da banda Utopia, que depois originou os Mamonas, para assim contar um pouco da vida de cada um, antes do sucesso todo que eles fizeram". 

Em 2008, a Record resolveu encarar o desafio de fazer um filme sobre os Mamonas. Cinco anos depois, foi anunciado um filme da banda estrelado por Rodrigo Faro, grande estrela da emissora, porém logo se falou em uma minissérie dirigida por Leonardo Miranda, em 2016, com apoio de dois canais pagos, sendo um deles a Fox. 

Para a revista Rolling Stone, quando ainda era cotado para o longa, Rodrigo Faro admitiu que era uma honra ser considerado para esse papel: "Quando eu era mais novo, brincavam e diziam que eu parecia um pouco com o Dinho. A história do grupo depois que eles fizeram sucesso eu sei, gostava muito deles". A ideia era lançar o filme, que depois se tornou minissérie, na data de 20 anos do falecimento dos integrantes, mas sem patrocínio adequado, a ideia não deu certo.  

Rodrigo Faro imitou Dinho em manifestação

Em 2016, no entanto, estreou nos palcos o musical 'Mamonas para Sempre', com Ruy Brissac como Dinho - e que reprisou o papel no filme de 2023. Nesse ínterim, novos fôlegos surgiram no projeto com nomes como MC Gui, Gretchen e até Yudi Tamashiro para participarem da minissérie sobre os Mamonas, então com roteiro de Carlos Lombardi.

Em entrevista para a revista Caras, em 2016, Jorge Santana, primo de Dinho, diz que a minissérie não rolou por não corresponder à realidade do grupo: "A gente não concordou porque a proposta é fazer algo bem light e estava surreal, com coisas que não aconteceram. Ele é muito bom em ficção, mas viajou muito na história. Podemos dizer que estava 15% de verdade e 85% ficção". Os familiares, de acordo com Flávio Ricco, não gostaram de adições na história sobre Dinho ter sido stripper e um suposto roubo da banda em um posto de gasolina para gravar um CD. Os diretores Marcelo Silva e Hiran Silveira saíram da linha de frente e a obra permaneceu em inércia. 

Por conta de mudanças internas na Ancine (Agência Nacional de Cinema), a produtora Total Filmes, que tinha a autorização para fazer a minissérie e o filme, ficou em um impasse. Assim, em 2019, iniciou-se o novo projeto dos Mamonas, com a escalação de Ruy, Andrey Lopes, como o tecladista Júlio Rasec, Júlio Oliveira, como Sérgio Reoli e Alberto Hinoto - sobrinho de Bento como o jovem. Jorge Santana, primo de Dinho, foi atrás de boa parte dos recursos - inclusive pela lei Rouanet que autorizou R$6 milhões de recurso em 2019 - e conseguiu o apoio da prefeitura de Guarulhos em 2017. 

O então prefeito Guti escreveu uma carta autorizando que boa parte das gravações fosse feita em Guarulhos - em longa produzido pela Globo Filmes e pela Europa Filmes. A famosa Brasília Amarela foi restaurada, inclusive, por Jorge, que admitiu em entrevista ao Extra em 2021: "A gente pegou e remontou. Ao todo, 75% do carro foi preservado. Quando recuperamos a Brasília e trouxemos, remontamos com peças de uma outra Brasília que já existia aqui em São Paulo. Tomamos o cuidado de deixá-la o mais original possível.". A Minds Idioma também se tornou uma das patrocinadoras da nova empreitada. 

Prefeito Guti, Hidelbrando Alves, pai de Dinho, e Paula Rasec     Foto: Sidnei Barros

Corta para 2022, desta vez com o orçamento adequado e distribuído para a Ancine: o filme, com o roteiro adaptado de Carlos Lombardi que, originalmente seria uma minissérie, está em pré-produção pela Total Filmes. Ruy Brissac interpreta Dinho, Beto é Bento Hinoto e Rhener Freitas estreia como Sérgio, Adriane Tunes como Samuel e Robson Lima como Júlio. 

Além deles, temos a Tik Toker Fernanda Schneider como a namorada de Dinho, a Valeria, além de Nadine Gerloff, prima de Luísa Sonza. Após o sucesso de 'Mamonas Assassinas - o Filme', este lançado em 2023, a Record transformará o longa em minissérie, adicionando mais cenas que foram descartadas, em uma parceria da Sonny com a Total Filmes - e que deve ser lançada ainda em 2024. 

'Mamonas Assassinas - o Filme' atraiu, desde sua estreia em 28 de dezembro de 2023, mais de 500 mil telespectadores por enquanto. Com críticas mistas, o importante é que a memória da banda foi preservada e que teremos muito mais Mamonas pela frente - é como dizem: 'money que é good nois num have', mas Mamonas Assassinas teremos para sempre! 

 



Roy Orbison em O Violão Heroico (The Fastest Guitar Alive, 1967)

O ano de 1966 foi devastador para Roy Orbison. O cantor - para quem acredita em simbolismos - tem uma conexão trágica com o número 6. Em 6 de junho de 1966, a esposa dele, Claudette Frady - para quem escreveu 'Claudette' e 'Pretty Woman' - faleceu em um terrível acidente de moto em Bristol, Tennessee, nos EUA. Ela foi atingida por um caminhão ao passear com o marido, com quem dividia o amor por motocicletas. 

Antes naquele mesmo ano, sem saber da tragédia que assolaria sua vida pessoal, Roy decidiu dar um passo a mais em sua carreira. Assim como Elvis Presley - um bom amigo que lhe desabrochou o amor por motos e que recusou a oferta de estrelar a mesma obra há dez anos- ele foi chamado para estrelar o musical, 'O Violão Heróico (The Fastest Guitar Alive, 1967)'

De acordo com a biografia 'The Authorized Roy Orbison', Roy já tinha assinado para estrelar o filme em maio e começaria a gravação no final de 1966. Anestesiado logo após a morte da esposa, Roy quis ainda mais se focar no trabalho para ocupar a mente e cuidar dos três filhos, Roy Jr, Anthony e Wesley, este com apenas 21 meses de vida. 

Roy Orbison em 'O Violão Heroico'

Em outubro de 1965, Roy Orbison assinou um contrato com o estúdio de cinema MGM - um ano após já fazer parte da gravadora do grupo - e seu primeiro projeto era, justamente, 'O Violão Heroico'. De acordo com entrevista para Glenn A Baker, em 1980, o contrato era, originalmente, para sete filmes e ele até criou uma produtora, a Kelton, visando estrelar e desenvolver outros projetos: "Eu fiz o primeiro filme e era para ser bem sério. E o que acontece é que, antes de chegar em Hollywood, Cat Ballou tinha ganhado um Oscar, então eles quiseram imitar e fazer um filme de faroeste engraçado. 'Vai fazer um pouco de dinheiro', eles imaginaram. E imaginaram errado". 

Em 'O Violão Heroico (The Fastest Guitar Alive, 1967)', Roy interpreta Johnny, um espião sulista que viaja durante a Guerra Civil como um músico. Ele, acompanhado do parceiro Steve (Sammy Jackson), procura um punhado de ouro enquanto foge da União. Tentando escapar dos ianques, eles contam com diversas aventuras e a ajuda das dançarinas Flo (Maggie Pierce) e Sue (Joan Freeman). O músico Sam The Sham também fez uma pequena participação. Segundo o material de imprensa, Roy estava muito feliz de trabalhar com Joan, afirmando: "Eu deveria estar pagando o estúdio para estrelar cenas com ela". 

Se o filme não tivesse sido um verdadeiro fracasso, a carreira de Roy poderia ter dado uma guinada surpreendente. Conforme revela o livro Roy Orbison Invention Of An Alternative Rock Masculinity por Peter Lehman, o cantor aparecia, pela primeira vez, sem seus óculos escuros e com uma persona mais acessível. Ele teria, talvez, trilhado o caminho de Elvis se soubesse, de fato, atuar. 


Roy, é sem dúvida, uma das grandes vozes da indústria musical, porém fica claro, para qualquer leigo, que ele estava desconfortável com o filme e não sabia o que fazer. 'O Violão Heroico (The Fastest Guitar Alive, 1967)' começou a ser gravado em 8 de setembro de 1966 e Elvis, inclusive, mandou um telegrama desejando Roy boa sorte, mas isso se provou insuficiente. 

Telegrama de Elvis do livro 'Word by Word' de Jerry Osborne - "Querido Roy, parabéns pelo começo de seu filme com o nosso bom amigo, Sam Katzman. Seus camaradas, Elvis e o Coronel". 

Assim como Elvis em seus filmes, Roy Orbison criou e cantou toda as canções de 'O Violão Heroico', produzidas também por Bill Dees. Segundo a biografia 'Only The Lonely' de Alan Clayson, o cantor teve dificuldades em desenvolver as canções, mas quis tentar deixá-las todas coesas. A canção título, por exemplo, era "para descrever minha maneira de viver, mas eu tinha um problema de atingir essa expectativa". Roy, inclusive, diz que 'Rollin On' era para seu personagem contar, "para as garotas que eles iam embora com o ouro e a única maneira de sair era cantando uma música". 

A MGM, aproveitando-se de uma manobra antiga, lançou a trilha sonora em conjunto com o filme para obter o máximo de lucro possível - se o filme fosse mal, a trilha lucraria em seu lugar. 'O Violão Heróico' não tinha nenhuma música de grande destaque, mas três músicas eram muito boas e, curiosamente, não estavam no filme: Best Friends, Heading South e There Won't Be Many Coming Home. 


O trabalho de Roy com a trilha sonora ocorreu seis semanas antes de começar a praticar para o filme. De acordo com a revista Cash Box, em agosto de 1966, ele pré-gravou as canções em Nashville, Texas, por três dias com a ajuda dos produtores Jerry Katzman e Fred Karger. Ainda desolado pelo luto, o guitarrista Harold Bradley diz que nem lembra de Roy nas sessões, com os produtores e o agente dele, Wesley Rose, assumindo à frente. 

Nos bastidores, Roy demorava cerca de uma hora para se arrumar, especialmente com a maquiagem e o novo visual capilar. Em certo momento, os filhos mais velhos do casamento com a falecida Claudette, Roy Jr e Anthony, posaram com o pai nos bastidores da MGM, em Culver City, Califórnia, durante as gravações de 'O Violão Heroico'. Os dois falecerem em um terrível incêndio na mansão onde moravam, em Old Hickory Lake, Hendersonville, Tennesse, em 18 de setembro de 1968 - o caçula, Wesley, foi o único sobrevivente. 

Roy e os filhos, Roy Jr e Anthony

O guitarrista Terry Widlake relembrou, em entrevista, que Roy teria quebrado o pé em uma das cenas do filme e o fato de ter que usar gesso o enlouquecia: "Roy quebrou a perna no set. Em uma cena, ele tocava a guitarra com o pé. Quando ele levantou, uma tela caiu em cima dele e quebrou a perna. Eles tiveram que parar as gravações por conta disso, o que ele não suportava. Ele mal podia esperar para se livrar disso, então ele me disse para cortar com um daqueles canivetes que ele usava para montar modelos de aviões". O diretor, Michael Moore, nega que isso tenha acontecido e garante que o filme seguiu o cronograma sem atrasos. 

Dirigido por Michael D. Moore, com produção de Sam Katzman e roteiro de Robert E. Kent, o longa transcorreu sem grandes atribulações. 'O Violão Heroico (The Fastes Guitar Alive, 1967)' foi lançado em 19 de julho de 1967 e foi um fracasso de crítica e bilheteria, com uma visão estereotipada dos povos indígenas - apesar de todos pegarem mais leve com a atuação de Roy justamente pela morte de sua esposa, então com apenas 26 anos de idade. 

Em entrevista para o jornal Liverpool Echo, em 11 de março de 1967, Roy forneceu maiores detalhes sobre outros filmes que tinha em mente - antes da estreia de seu primeiro e último longa: "O outro filme é sobre um mágico e há seis garotas que cantam e dançam. A ideia veio de um incidente verdadeiro quando alguns simpatizantes planejavam explodir o Met de São Francisco, mas não o fizeram. Agora, estou pensando em fazer outro filme. Este será moderno e eu terei duas ou três linhas de história". Nenhum deles se concretizaria. 

Michael Moore, o diretor, com os atores no set de filmagens

Em entrevista para Diana Howe, Michael relembra que conheceu Orbison durante um jantar após ser escolhido como diretor por Sam Katzman. O cantor usou os óculos escuros à noite toda e quando Michael, finalmente, conseguiu fazer com que Roy os tirasse, descobriu que "seus olhos tinham uma aparência cansada e não focavam bem e eu sabia que deveria filmá-los de modo cuidadoso"
"Minhas memórias do filme são todas felizes. Foi divertido de fazer, com um elenco muito bom de trabalhar e uma ótima atmosfera. Todo mundo cooperava e como era o primeiro filme de Roy, todas as pessoas o ajudaram muito" - afirmou Michael, definindo Roy como "trabalhador, muito inteligente, com ótimos hábitos de trabalho, além de ser simpático e educado"

Mickey, que também morou em Malibu em seus anos finais - assim como Roy - não cansou de elogiá-lo em matéria replicada no site Pepperdine: "Eu o tinha em tão alta estima e também era muito fã de sua música. Nossa, eu acho que ainda tenho a guitarra feita para o filme...aquela com a arma"

Roy Orbison com a famosa guitarra/arma

O músico Rodney Justo, que trabalhou como cantor de backup para Roy, relembrou para o livro 'Rhapsody in Black', a estreia do longa no Reino Unido. Segundo ele, o filme "teria atingido status cult se fosse pior. Todos os caras na banda estavam: 'Sim, sim...isso está ótimo Roy', mas assim que estávamos longe ficávamos: 'Ah não'". Terry, no entanto, diz que Roy levou a situação numa boa e, uma vez por ano, fazia uma exibição de 'O Violão Heroico' com comentários de cada cena, sabendo como "era ruim"

Roy nunca mais estrelou em outro filme, mudando de ideia apenas para fazer uma aparição no 'Roadie (idem, 1980)'. Nesse ínterim, ele se casou novamente com Barbara em 25 de março de 1969 e com ela teve dois filhos, Roy Jr. e Alex Orbison. Em entrevista para o filho Roy, Michael voltou a enaltecer a grande voz, afirmando que o artista poderia ter feito mais longas se quisesse: 
Seu pai ultrapassou todas as dificuldades. Nós tínhamos indígenas, fuga com carruagens, ele tinha que atirar com a guitarra em cima do cavalo. E tantos números de canto e dança. Nós sabíamos, porém, que não teríamos problemas com a dança ou o canto. 
Roy Orbison em cena do filme 'O Violão Heroico'

'O Violão Heroico (The Fastes Guitar Alive, 1967)' nunca atingiu o status cult, porém foi homenageado por Quentin Tarantino no filme 'Os Oito Odiados (The Hateful Eight, 1965). A canção 'There Won't Be Many Coming Home' foi usada nos créditos finais da obra, mostrando que a verdadeira força de Roy é como cantor e não ator - e com uma voz dessas, que definiu também a obra 'Veludo Azul (Blue Velvet, 1986)' de David Lynch, ele não precisa de mais nada! 


Adélia Sampaio e a importância de Amor Maldito (1984)

Minha primeira conversa com Adélia Sampaio, a primeira mulher negra a dirigir um filme no Brasil, foi em 2016. Naquela época, eu preparava meu TCC [Trabalho de Conclusão de Curso] - ao lado de minhas amigas - sobre mulheres no cinema. Quase seis anos se passaram até que eu entrasse em contato com a diretora de novo e, para minha surpresa, ela continuava bastante solícita. 

Apesar da conversa ter sido toda por e-mail, pude notar duas coisas importantes: a rapidez com que Adélia respondia minhas perguntas -eu mandava o e-mail e em menos de 10 minutos ela me replicava - e como as frases eram curtas e objetivas. Adélia é uma mulher que não perde tempo e, para mim, esse foi um dos motivos pelos quais ela conseguiu criar tantos projetos, inclusive seu filme mais famoso 'Amor Maldito (1984)'. 

Adélia Sampaio                              Reprodução/Arquivo Pessoal

Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 20 de dezembro de 1944, Adélia Sampaio é filha, como ela mesma descreve, de "uma empregada doméstica, Guiomar, e criada em um asilo em Santa Luzia", onde não teve acesso aos estudos. A futura diretora ficou lá dos 5 aos 13 anos quando reencontrou a mãe e irmã, Eliana Cobbett no Rio de Janeiro. Adélia era bastante próxima da 'mana' e, foi graças à ela que se apaixonou pelo cinema - um caminho sem volta. 

"Por causa dela tive o deslumbre de entrar no cinema Metro Passeio para assistir 'Ivan- o Terrível (1944)'. O namorado dela na época William Cobbett [sócio da Tabajara Filmes, com quem Eliana se casaria] trazia filmes russos para o mercado brasileiro. Quando entrei assustada naquela imensa sala escura e surge na tela o personagem Ivan. Fiquei louca e me dizia internamente (isso é a janela do mundo um dia vou debruçar nela)", relembrou Adélia em nosso bate-papo. 

Adélia ao lado da mãe, Guiomar           Arquivo Pessoal

Antes de ser continuista no filme 'Gente Fina é Outra Coisa (1976)' de Pedro Carlos Rovai, Adélia já havia participado de diversas outras produções desde o começo dos anos 70. "Me orgulho muito por ter desempenhado com alegrias a função de Diretora de Produção, que na época era muito disputada", admitiu a diretora. 

Mas estamos nos adiantando! Antes disso, em 1962, a vida de Sampaio era mais pacata. Ganhando cada vez mais experiência ao lado da irmã e o marido dela, Adélia conheceu o marido, Pedro Porfirio. Ele produzia, sozinho, o jornal A Liga, defensor de ideias libertárias, pouco antes da ditadura militar se instaurar no Brasil. Em 21 de junho de 1963, ela e Pedro se casaram e passaram por uma barra pesada, transitando de emprego a emprego. 

Os dois conseguiram se tornar editores da revista Chuvisco no ano seguinte, transformando toda a idelogia e formato da publicação. Em 1965, nasceu o primeiro filho do casal, Vladmir, que é jornalista, e Georgia Melina, que foi figurinista premiada da TV Globo, em 1968. Naquele mesmo ano, Adélia conseguiu um emprego como telefonista na produtora Difilm, fundada por sua irmã, enquanto o marido trabalhava no jornal Correio da Manhã. Paralelamente, ela organizava sessões em 16mm para cineclubistas. 

Pedro Porfirio e Adélia no dia de seu casamento                       Arquivo Pessoal

Pedro foi preso em junho de 1968 pela ditadura militar e, infelizmente, Adélia chegou a ficar presa por um dia após ser pega, sob acusações falsas, com uma mala de dinheiro. Luiz Carlos Barreto, responsável pela distribuidora, se negou a demiti-la e a incentivou a libertar o marido. Apesar de algumas brigas conjugais, Adélia conseguiu libertá-lo da prisão em 1970 - e neste ano eles se separam. 

De acordo com a incrível pesquisa 'As Trajetórias de Adélia Sampaio no Cinema Brasileiro' de Clarissa Cé Oliveira, que você pode acessar aqui!, a irmã da cineasta, Eliana, é considerada uma das primeiras produtoras-executivas do Brasil. Ela faleceu em 2007 aos 65 anos de idade e foi essencial para o cinema brasileiro e, consequentemente, na carreira de Adélia. 

Adélia estava disposta a crescer na profissão e começou pelo teatro! Em novembro de 1971, ela se tornou produtora da peça 'Faça Alguma Coisa pelo Coelho, Bicho?' que estreou no Teatro Santa Rosa, no Rio, sob direção de Procópio Mariano, para ajudar o então quase ex-marido, Pedro. Segundo Adélia, o jornalista foi proibido de exercer a profissão e ela lhe deu a ideia de escrever um conto infantil. "Tenho hoje uma pasta cheia de recortes sobre a peça todos os colegas publicaram. A peça foi um sucesso, a história de uma onça que luta para provar a inocência do Coelho", relembrou a diretora. 

Encenação da peça Coelho em 1974                        Revista Manchete

Logo depois, ela fez um curso de continuista e começou a trabalhar em produções da Difilm, conciliando seu trabalho no teatro. Em 1974, ela se envolveu na peça 'Viva o Cordão Encarnado', inspirado no texto do escritor Luiz Marinho, que se tornou o primeiro musical verdadeiramente brasileiro. A apresentação foi dirigida por Luis Mendonça. 

Fui atrás da Elke Maravilha e a convenci a fazer a peça. Ilva Niño, Gracinda Freire, Tonico Pereira e Tony Ferreira, enfim 40 atores ao todo me orgulho muito de ter viabilizado o texto do primeiro musical brasileiro. - revelou Adélia durante nosso bate-papo. 

Além disso, foi produtora na peça 'Reinações de Monteiro Lobato' daquele mesmo ano.  

Gracinda e Elke em encenação da peça musical                             O Cruzeiro

Após participar ativamente de peças de teatro e em produções de filmes, como gerente e diretora de produção, Adélia Sampaio desenvolveu o roteiro do curta 'Uma Rosa Para Você', de 1973, dirigido por Vanja Orico, a grande diva do cinema brasileiro por conta de 'O Cangaceiro'. Pouco tempo depois, Adélia criou a história 'O Segredo da Rosa (1974)', ao lado de Mário Paris e Deise Valle, também dirigido por Vanja, da qual foi produtora e produtora-executiva.  

"Vanja havia feito o filme Jesuíno Brilhante - O Cangaceiro [1972], onde eu fazia produção, já tínhamos contatos. Foi lindo e gratificante eu gostava muito da Vanja. Eu a admirava desde que ela colocou um gibão de coro, chapéu da cangaceira e fez a volta na torre Eiffel para divulgar o cinema brasileiro", revelou Adélia em referência a bombástica visita de Vanja ao Festival de Cannes. Em 1973, Adélia criou sua própria produtora: a A.F. Sampaio Produções Artísticas. 

A cineasta trabalhou em diversos cargos no cinema, desde maquiadora a boom [operadora de microfone], além, é claro, de produtora e assistente em filmes como 'A Cartomante (1974)', 'Roy - O Gargalhador Profissional, 'Guerra da Lagosta', 'Chocolate e Morango', 'Ele, Ela, Quem?', 'Tenda dos Milagres', 'O Seminarista'- todos originalmente de 1977 - 'Parceiros da Aventura' e 'O Coronel e O Lobisomem', ambos de 1979. Neste ano, ela deu entrada em parceria de sua produtora com a Embrafilmes. 

Adelia nos bastidores de 'Ele, Ela Quem?', lançado em 1980          Reprodução/Arquivo Pessoal

Durante nossa troca de e-mails, Adélia fez questão de negar os boatos de que o filme 'Parceiros da Aventura' teria sido taxado de "a obra dos negrinhos" no Festival de Gramado em 1978: "Seria a primeira direção de Zé Medeiros meu amigo (maior fotógrafo do Brasil). Sugeri ao Zé que poderíamos montar um longa com 80% de atores negros. Dei entrada na Embrafilme para financiamento e foi negado por defender que preto não vendia. Resolvi ir para os jornais e eles recuaram quando saiu o resultado dos financiamentos, o nosso era o menor.  Ainda assim pegamos com proposta de não cortar nada. Nunca houve essa história de negrinhos, o que houve é que o filme voltou de lá com cinco prêmios!". 

Há muitos anos, defendia a tese de que a técnica (turma da pesada) deveria ler o roteiro do filme que iam fazer. Foi difícil, mas culturalmente aos poucos consegui o que desperta o desejo de evoluir na carreira. - revelou ela, que acredita piamente que o cinema é a janela da vida. 

Adélia em entrevista em 1988                                     Reprodução

Como mulher - e negra - Adélia enfrentou diversos desafios para se firmar na profissão, mas com a força de vontade e determinação conseguiu, aos poucos, realizar seu grande desejo: a direção. Em 1979, após adquirir conhecimento como produtora, ela dirigiu seu primeiro curta-metragem 'Denúncia Vazia', que conta a história de dois velhinhos, interpretados por Rodolfo Arena e Catalina Bonack, que decidem se suicidar após receber uma nota de despejo. Ela se inspirou na história real de um casal e até a sobrinha deles aprovou a obra. 

O curta se realizou, conforma ela mesmo relatou, ao conseguir que Rodolfo Arena, ator e diretor, "aceitasse ser dirigido pela preta iniciante e pobre. Paguei a ele o cachê em prestação. Já havia feito como diretora de produção filmes com ele. Consegui com José Louzeiro [amigo e escritor] o empréstimo de um apartamento que ele usava para trabalhar e contei com o cenógrafo premiado Regis Monteiro. Assim fizemos o filme com um ajuntamento de pessoas amigas, pena que elas estão partindo. Depois rodei os curtas 'Adulto Não Brinca' (1980), 'Agora um Deus Dança em Mim' (1981) e 'Na poeira das Ruas' (1984) - este conta com a canção 'Fascinação' de Elis Regina. 

Adélia dirigindo Adolfo no curta 'Denúncia Vazia' de 1979                 Reprodução

Em 1984, Adélia realizou o longa-metragem 'Amor Maldito' (1984), tornando-se a primeira mulher negra a dirigir um filme no Brasil. Assim como todos os seus curtas, a cineasta se baseou em uma história real para a obra -além de sua própria relação com o marido: de uma ex-miss, Vânia Silva Batista, que havia se suicidado pulando da janela de seu apartamento em 1980. A namorada, Ninuccia Bianchi, sem provas, era acusada de tê-la matado. Após um longo julgamento midiático, ela foi inocentada, porém perdeu seu emprego e a proximidade de amigos e familiares. 

Adélia contou com a ajuda, novamente, de seu amigo José Louzeiro, que era repórter policial e escritor, e eles montaram o roteiro com base no julgamento. O maior problema foi conseguir financiamento para o longa-metragem, que contava a história de amor entre duas mulheres.  

Primeira porrada veio da Embrafilme e Rio Filmes, [com quem ela já havia feito três curtas], que não permitiram sequer enviar o roteiro de autoria do José Louzeiro, embora eu tenha como produtora viabilizar via Embrafilme o ultimo filme do Lulu de Barros. Cumpri todas as etapas, não valeu de nada. Consegui fazer o filme com a sabedoria de minha irmã Eliana Cobbett, uma engenheira elétrica [Eddy Santos, que a conheceu na empresa Furnas, e lhe deu R$30 mil para o filme], meu ajuntamento e atores que se propuseram a fazer o filme com cachê relativo.

O casal William e Eliana - essenciais para o cinema e para Adélia        Jornal do Brasil 1980

'Amor Maldito' não gastou com estúdios, já que foi gravado todo em locações reais, emprestado por pessoas próximas ou convencidas por Eliana, que era a produtora executiva do longa. Guiomar, a mãe de Adélia, inclusive, a ajudou a achar uma Igreja para gravar, mas ficou furiosa quando soube que o espeço foi redecorado como uma de vertente evangélica.  

Como produtora, antes mesmo de ser diretora, Adélia manteve contato com diversos artistas e, assim, conseguiu Monique LaFond, Wilma Dias e Tony Ferreira para participarem do longa. Sem grandes verbas, ela propôs porcentual de qualquer retorno que o filme daria - e isso foi para todos, desde quem estava na frente e também por trás das câmeras. 

Em 'Amor Maldito', Wilma Dias - conhecida por sair da banana no programa Planeta dos Homens - interpreta a miss Sueli. Monique, em um papel bastante desafiador, interpretava Fernanda, sua esposa, que tem que se defender nos tribunais quando Sueli se suicida. Para a revista Manchete, Adélia descreveu o projeto com bastante orgulho: "Pela primeira vez um filme brasileiro tem a maior parte de suas sequências desenroladas em um tribunal, mas o mais importante é destacar a maneira adulta, sem preconceito, de abordar a homossexualidade". 


Como o filme tinha uma temática nova e que quebrava o tabu da homossexualidade, nenhum distribuidor de cinema queria exibi-lo. Magalhães, dono de um cinema de São Paulo que se tornaria o Kinoplex, deu a ideia para Adélia de vender 'Amor Maldito' como uma pornochanchada - gênero que fazia sucesso nos anos 70 e 80 no Brasil como um soft porn- para que ele fosse rentável. Sem saída, Adélia conversou com sua equipe e todos concordaram com essa opção. 

Em entrevista à Caixa de Sucessos, Adélia contou como foi difícil tomar essa decisão: "Me senti alvitada, eu e todos que fizeram o filme. foi uma tristeza, sentados no Amarelinho achamos que devíamos aceitar. Voltei para São Paulo, autorizei o material de porta de cinema e o filme entrou no terceiro dia. Leon Cakoff, o mais respeitado critico de cinema de São Paulo, foi assistir e fez uma bela defesa, lamentando o fato do filme estar no cinema de categoria pornô! No dia seguinte lotou o cinema e o Magalhães abriu mais duas casas". 

Amor Maldito foi exibido em todo o Brasil e acabou se pagando, ou seja, todos que investiram no filme tiveram seu dinheiro de volta, porém sem margem de lucro. Logo depois das sessões, Adélia foi convidada a exibir o filme no Lesbian Gay Festival em São Francisco, nos EUA e até conseguiu alguém para legendar a película. A Embrafilme, distribuidora, no entanto, decidiu levar outra obra, o Asa Branca que, segundo Adélia, foi "vaiado". 

Wilma e Monique em cena do filme                                 Reprodução

Sempre mesclando o cinema com o teatro, Adélia se tornou produtora da peça 'Tutti' de Ubirajara Fidalgo e, nos anos 80, criou o projeto 'Teatro no Subúrbio', permitindo que pessoas de regiões periféricas tivessem acesso aos espetáculos. A peça infantil 'Jamelaço' deu início a produção, em parceria com a Cooperativa de Cinema, que acabou após a chegada do "furacão Collor", como a cineasta bem se lembrou. 

Além de tudo isso, Adélia fazia questão de ajudar seus colegas de trabalho. Ela se tornou membro ativo do Sindicato dos Artistas e Técnicos, criando o Sindicato do Cinema. "Na época o recolhimento do imposto sindical dos técnicos de cinema era maior. Nos juntamos e fundamos o Sindicato do Cinema que tem hoje sede própria na Rua do Teatro, no centro do Rio de Janeiro", revelou a roteirista. 

Em 1987, Adélia dirigiu o documentário Fugindo do Passado: Um Drink Para Tetéia, uma História Banal, baseado no livro de Beyla Genauer, o 'Levantar Voo'. Nele, vítimas e torturadores falavam sobre a ditadura militar no Brasil, um assunto de extrema importância para a produtora -já que ela foi diretamente afetada pelo regime nos anos 60 e 70. O filme não foi escolhido para participar do Festival de Brasília do Cinema Brasieiro - se fosse, Adélia teria sido a única mulher, e negra, a competir pelos troféus Candangos de longa-metragem. 

Adélia dirigindo e ajudando a equipe                                        Reprodução

Sempre "mesclando cinema e teatro", conforme Sampaio relembrou, ela se tornou produtora de espetáculos como: 'Diretas Já, Já' em 1989,  'Fim de Semana na Casa da Zélia', de 1996, 'Tibobó City' em 2001, 'Dois Nego e Uma Branca', que se tornaria uma trilogia, e 'Um Nego e Duas Brancas' entre os anos de 2003 e 2005. 

Em 2004, Adélia escreveu o roteiro, ao lado de Paulo Markun, para o documentário 'AI-5 - O Dia que Não Existiu'. A obra aborda o ato institucional que decretou, de vez, a ditadura no Brasil. "Quero viver o tempo que for para deixar registrado a barbárie que fez a ditadura. Viajo muito para dar palestras e percebo que os jovens assistiram o documentário e posso falar mais", frisou a diretora. 

Em 1993, ao lado da filha, ela criou a Girassol Azul Produções Artisticas Ltda, e continuou a produzir e se envolver em filmes. Anos depois, em 2018, Adélia voltou a chamar atenção ao lançar o curta 'O Mundo de Dentro' e, durante nosso bate-papo, ela revelou que pretende rodar a continuação: 'O Olhar de Dentro'. 
"Este curta faz parte de uma tribologia onde me aprofundo nas mazelas e feitos de mulheres da geração 60. Uma das atrizes que faria seria minha amiga Maria Lucia Dahl, que faleceu recente. Se não tivesse a pandemia, íamos rodar logo após o 'Olhar de Dentro'. Pretendo rodar em agosto [deste ano com Stella Miranda] e que Deus me permita". 
Adélia Sampaio                                                  Reprodução

A ressurgência de Adélia Sampaio não é nova, mas é muito merecida! Em 2017, ela foi a inspiração para a criação da 'Mostra Adélia Sampaio' em Brasília, com o objetivo de fortalecer as produções de mulheres negras - e o evento já está em sua quinta edição. A diretora também deu o nome ao 'Prêmio Adélia Sampaio' no Iº Encontro de Cineastas e Produtoras Negras. Infelizmente, um ano antes, Adélia foi parada no aeroporto de Porto Alegre e obrigada a passar por uma revista por possuir próteses metálicas na coluna e um de seus joelhos - provando, assim, como o racismo ainda é intrínseco à nossa sociedade, apesar dos avanços em paralelo. 

Ao longo dos anos, em especial após ter sua história resgatada por Edileuza Penha de Souza, pesquisadora da Universidade de Brasília, Adélia foi homenageada em diversos festivais no nosso país, em mostras, exibições e conversas com o público. Focada, ela pretende tirar do papel o sonho de transformar 'A Barca dos Visitantes', a partir de cartas enviadas a presos políticos durante a ditadura, em realidade, focando na história da libertação do ex-marido, Pedro Porfirio - buscando captação de dinheiro desde 2014. 

Para Adélia, o mais essencial em sua arte é "falar ou mostrar o emocional dos seres humanos" e, por isso, forneceu o seguinte conselho para os cineastas iniciantes: "É importante ter fé e não deixar escapar nenhuma oportunidade, mesmo que ela te pareça pequena. Estabelecer pessoas em ajuntamento porque cinema não é uma arte isolada, ela caminha sempre para o coletivo. E principalmente acreditar. Eu ouvia minha mãe dizer sempre: 'pra cima do medo, coragem'. Abandonar o medo e as inseguranças". 

Adélia Sampaio nos anos 80                                     Reprodução

Hoje avó de três, Adélia inspirou outras cineastas negras como Camila de Moraes- a única além dela que teve seu filme 'O Caso do Homem Errado (2017)' exposto em cinemas comerciais - Sabrina Fidalgo, Larissa Fulana de Tal e Glenda Nicácio - e muitas outras. As profissionais têm maior exposição, porém o caminho ainda é árduo. Nos anos 80, em entrevista à revista Poti, a diretora definiu: "Somos uma sociedade machista. Vivemos em um país onde mesmo que a mulher produza tanto quanto o homem, a remuneração, a priori, sempre será menor porque ele tem 'mais capacidade'". 

Indagada sobre essa afirmação, em pleno 2022, Sampaio admitiu que a situação "não mudou quase nada". Porém enquanto tivermos o exemplo e as obras dela essa realidade pode e deve ser diferente.  

_______________________________________
Fontes:
A Saga de Uma Mulher Negra com o Cinema - Revista Trip
Matéria Jornal Hoje em Dia 2021
Cineastas Negros e Negras Fora do Eixo São Paulo - SESC
As Trajetórias de Adélia Sampaio no Cinema Brasileiro de Clarissa Cé Oliveira
Revista Filme Cultura

Muito obrigada Adélia por conversar comigo por e-mail. 

Por que 'O Poderoso Chefão III' foi tão mal recebido pela crítica?

A maldição do terceiro filme já é território conhecido para qualquer fã de franquia: seja de Star Wars a Pânico ou X-Men até Rocky. Nem 'O Poderoso Chefão' fugiu dessa sina, com o terceiro filme tornando-se a 'maçã podre' da obra-prima escrita por Mario Puzzo e dirigida por Francis Ford Coppola. Os primeiros longas não mostravam qualquer sinal de falha: 'O Poderoso Chefão I e II' ganharam 9 Oscars e cimentaram as carreiras de Al Pacino, Talia Shire, James Caan, John Cazale (que faleceu em 1978), Diane Keaton e Robert de Niro. 

'O Poderoso Chefão III', apesar de uma arrecadação de bilheteria acima da média, foi condenado pela maioria dos críticos. Essa repulsa pela obra fez com que Coppola, 30 anos depois, lançasse uma versão de diretor para tentar reparar a injustiça, alterando cenas e até o título como 'O Poderoso Chefão 3 - Desfecho: A Morte de Michael Corleone'. 

Al Pacino eternizou o personagem Michael Corleone 

Não obstante, essa tentativa não foi suficiente para amenizar o desastre de 'O Poderoso Chefão III' da memória de diversos espectadores. Lá nos anos 80, Coppola não estava animado em dirigir o filme e apenas concordou para pagar as dívidas de sua produtora, a Zoetrope Studios, com o fracasso do longa 'O Fundo do Coração (One From The Heart, 1982)'. 

De 1974 a 1989, outros nomes foram mencionados para seguir com o legado do 'Padrinho' como Sylvester Stallone, como diretor e astro, Eddie Murphy com um papel menor, e até John Travolta, e os diretores: Martin Scorsese, Richard Brooks e Dan Curtis. O chefe-executivo do estúdio Paramount, Frank Mancuso, foi quem fez de tudo para 'puxar' Coppola de volta - e conseguiu! 

Mario Puzzo foi anunciado para escrever o roteiro em junho de 1986. Três anos depois, ele e Coppola tinham um rascunho do novo 'Poderoso Chefão III' - que foi registrado em 10 de maio de 1989. Na história original, Tom Hagen, o consigliere irlândes de Michael, vivido por Robert Duvall, tinha um papel substancioso, mas não entraria em uma guerra de máfias com o chefe - permanecendo um fiel escudeiro.

Robert Duvall era uma das peças chaves do filme

Robert desistiu de participar do filme ao descobrir que ganharia menos do que Al Pacino e Diane Keaton, que vivia a ex-esposa de Michael, Kay. Em pronunciamento à Parade Magazine, o ator afirmou: "Tem dois ou três atores ganhando mais do que eu. Isso não está certo". Seu personagem foi 'substituído' pelo advogado B.J Harrison, vivido por George Hamilton. 

'O Poderoso Chefão III' sofreu algumas alterações no roteiro, mas diferente do que muitos fãs acreditam, o cerne da história sempre foi a mesma: Michael, farto de viver na ilegalidade, faz um pacto com a Igreja Católica para controlar a empresa Imobiliare. Nesse ínterim, ele encontra o filho ilegítimo de seu irmão, Sonny, o Vincent, quem ele molda para ser o novo 'Padrinho'. 

Andy Garcia e Al Pacino no eterno clássico

O papel de Mary, filha de Kay e Michael, nos primeiros rascunhos, não era tão substancioso e apenas ganhou ênfase após Robert Duvall se negar a participar do filme. Winona Ryder foi escalada para viver a filha dos Corleones e chegou a pousar em Roma em novembro de 1989 para as gravações. Após Ryder ser internada por exaustão, Coppola estava livre para fazer o que já queria: colocar a filha, Sofia Coppola, em seu lugar. 

Quando meu pai estava escrevendo o filme, ele baseou muito da personagem em mim. Eu até fiz alguns testes com a personagem antes de Winona ser escalada - admitiu Sofia em entrevista ao EW em 1990. Anabella SciorraLaura San Giacomo foram consideradas, mas Coppola foi direto: "Eu vou tentar a Sofia". 

Sofia Coppola não era experiente como atriz

Francis Ford Coppola, portanto, tem apenas à si mesmo para culpar pelo fracasso de 'O Poderoso Chefão III'. Apesar das críticas e acusações de nepotismo de diversos atores do longa - que não foram identificados - e do fato de Sofia não ter experiência concreta como atriz - não conseguindo pronunciar nem Corleone direito sem ajuda de uma fonoaudióloga- ele insistiu em colocá-la no papel. 

A mãe dela, Eleanor, em relato para a Vogue Magazine, relembrou que a filha "diversas vezes começava a chorar", devido à tanta pressão. Com o lançamento do filme houve até boatos de que Sofia precisou dublar algumas cenas antes da grande estreia por conta de sua péssima dicção - algo que foi negado pelo cineasta. 

Com apenas 18 anos de idade, era mais fácil o cineasta ter contratado outra pessoa, poupando a filha do escrutínio da mídia. Sofia, anos depois, se mostrou uma diretora competente. Coppola, no entanto, sempre teve a mania de colocar parentes em seus filmes: sua irmã, Talia Shire, interpreta Connie Corleone na franquia enquanto Sofia esteve nos dois outros filmes anteriores, em papeis menores. Nicolas Cage, seu sobrinho, foi barrado de interpretar Vincent, personagem que foi para Andy Garcia.

Sofia e Andy Garcia em 'O Poderoso Chefão III'

As gravações de 'O Poderoso Chefão III', depois do atraso por conta de Winona Ryder, seguiram de forma bastante tranquila. Al Pacino e Andy Garcia fizeram questão de ajudar Sofia, mantendo-a bem confortável. Pacino e Diane Keaton, contudo, tinham uma relação ressentida após namorarem por quase 18 anos - ela queria se casar e ele se recusava. 

Os dois terminaram o relacionamento durante o filme, após Keaton descobrir que o namorado teve uma filha com Jan Tarrant. Ambos entraram em uma trégua quando a mãe dele, Rose, faleceu, continuando o namoro ioiô. Em entrevista à revista Vanity Fair, Diane admite que não gostou de 'O Poderoso Chefão III': "Quando eu vi, pensei: 'O filme não funciona'. Eu não estava nem aí, pensei: 'Não, não é bom'". 

Em sua autobiografia 'Then Again', Diane relembra as diversas versões do final de 'O Poderoso Chefão III' e como todos estavam confusos e sem direção - na maioria das vezes, Francis dirigia diretamente de seu trailer. Ela também recorda que Frank Mancuso não queria Sofia no papel de maneira alguma, mas não conseguiu deter Coppola. 

Diane Keaton e Al Pacino: terminaram durante as gravações

Robert Duvall sintetizou que 'O Poderoso Chefão III' apenas saiu do papel por conta de "lucro e dinheiro" e ele não estava tão errado assim. Coppola não queria revistar o filme e, por isso, a história parece sem inspiração. Se os dois primeiros longas falavam sobre a máfia, este último era sobre a tentativa de redenção de Corleone, focando mais em seus dramas pessoais do que pela busca de poder, deturbando a essência da obra. 

'O Poderoso Chefão III' estreou em 25 de dezembro de 1990 nos Estados Unidos e as críticas foram medianas, apontando Sofia como o elo fraco do filme - em especial por ter um arco tão importante e não apresentar a performance adequada. A maioria dos jornalistas concordou: o longa falhava em trazer ação, dinamismo e profundidade das personagens. 

'O Poderoso Chefão III' é considerado um dos piores filmes da trilogia

A obra foi indicada para sete Oscars, incluindo Melhor Filme, Ator para Andy Garcia, e Diretor, afinal: era um filme de Coppola e até um longa "ruim" dele está acima do melhor trabalho de diversos diretores. 'O Poderoso Chefão III' não ganhou em nenhuma categoria, mas Sofia, com apenas 19 anos de idade, recebeu os prêmios de Pior Atriz Coadjuvante e Pior Nova Estrela do Razzie Awards em 1991 - ficando conhecida como a estrela da pior cena de morte dos cinemas.

Para a revista New York Times, Coppola admite que se sentiu culpado pelo fracasso de 'O Poderoso Chefão III': "A filha foi atingida pela bala por Michael Corleone e a minha filha fez o mesmo por mim". O diretor diz que, de sua parte, não dirigirá mais nenhum filme sobre a família Corleone. 

Sofia, por sua vez, garantiu que ser responsabilizada pelo desempenho medíocre de 'O Poderoso Chefão III' foi difícil: "Foi bem embaraçoso ser jogada no olho do público daquela maneira. Mas não era meu sonho ser atriz, então não fiquei triste. Eu tinha outros interesses, não me destruiu". A diretora ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original por 'Encontros e Desencontros (2003)'. 

Al Pacino e Francis nos bastidores do terceiro filme

Francis Ford Coppola revelou, em pronunciamento ao The Hollywood Reporter, que considerava a nova versão de 'O Poderoso Chefão III', lançada em 2020, uma espécie de vingança à performance da filha. Não temos esse milagre! O longa, contudo, ganhou uma maior conexão entre as histórias, mesmo que siga bem inferior aos dois primeiros filmes. 

A Paramount, estúdio responsável pelo 'O Poderoso Chefão', não descarta o lançamento de mais um filme baseado nos personagens de Mario Puzzo. Mas o que a parte III deixa de lição? Prezar sempre pelo roteiro, pela escalação e não fazer uma sequência apenas visando o lucro - isso nunca funciona! 


© all rights reserved
made with by templateszoo