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Mamonas Assassinas e os filmes que não saíram do papel

Mamonas Assassinas, uma das maiores bandas do Brasil, ganhou finalmente a cinebiografia que merecia, que estreou em 28 de dezembro de 2023 nos cinemas brasileiros. O grupo formado por Dinho, Bento, Júlio, Sérgio e Samuel, era originalmente do rock, mas encontrou no humor escrachado o verdadeiro caminho do sucesso nacional. 

Engana-se, no entanto, quem pensa que este filme, dirigido por Edson Spinello, foi o primeiro esforço para colocar a história desses rapazes de Guarulhos, em São Paulo, nas telonas. Em novembro de 1996, após a morte trágica dos integrantes da banda, em um terrível acidente de avião em 2 de março, o cineasta Lui Farias anunciou a produção de um filme sobre os Mamonas com orçamento de R$5 milhões. 

Lui, filho do também cineasta Roberto Farias, conheceu o jovem técnico da banda, o Ralado, nome artístico de André Oliveira de Brito, em um hotel no Rio de Janeiro em 1995. Ali, ele ficou interessado em criar um filme sobre os Mamonas e os procurou por telefone - o grupo apoiou o projeto e tinha combinado de encontrá-lo antes da turnê em Portugal, mas o acidente de avião ocorreu antes. 

Mamonas são ainda um grande fenômeno da web

Além de conseguir os direitos para o longa, Lui também conquistou a permissão de produzir uma série de desenhos animados sobre os Mamonas para a TV, que nunca saiu do papel. O filme seria lançado em 1998, com roteiro de Farias, Melanie Dantas e o escritor Eduardo Peninha Bueno, responsável pela biografia oficial dos Mamonas, o 'Mamonas Assassinas: Blá, Blá, Blá - A Biografia Autorizada'. O longa se chamaria 'Mamonas - O Muve'.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Lui diz que chegou a falar com os Mamonas sobre o filme antes da morte deles e Dinho tinha uma visão clara de como queria ser representado: "O Dinho sugeriu fazer alguma coisa seguindo aquelas séries japonesas. Ele se imaginava encarnando uma espécie de Jaspion".  Pelo contrato, 50% do faturamento do filme seria rachado pela empresa Palco 1 e o próprio Farias, enquanto os outros seriam divididos entre os empresários e familiares dos músicos. 

Não se sabe por que o filme não foi pra frente. Na ocasião, pediam que o ator Marcelo Farias interpretasse o Dinho no longa. Procurado pela Caixa de Sucessos, Lui Farias ainda não explicou porque o filme não saiu do papel e assim que tivermos uma resposta, atualizaremos a postagem. Pelo que se especula, no entanto, a falta de patrocínio foi a grande vilã. 


Anos se passaram sem qualquer atualização sobre um filme. Em 2001, lançou-se o documentário 'Mamonas Assassinas - Indomáveis e Inesquecíveis', um especial em conjunto com a Record e que foi narrado por Adriane Galisteu. Além disso, um álbum ao vivo com músicas inéditas do tempo de Utopia, antes deles virarem Mamonas Assassinas. 

Em 2005, no entanto, o projeto de lançar um longa sobre os Mamonas surgiu de novo! No caso, o produtor Cláudio Khans, da Tatu Filmes, começou a desenvolver um documentário sobre a banda, entrevistando familiares e amigos, que saiu sob a alcunha de 'Mamonas Pra Sempre' em 2009. Nesse ínterim, a produtora também desenvolvia um filme sobre os Mamonas, que seria dirigido por Maurício Eça. O título? 'Mamonas Assassinas - o Filme'

O vocalista William Santana, da band cover dos Mamonas e do grupo Elos Perdidos, foi cotado para interpretar Dinho no longa, conforme admitiu o baixista Rodrigo Reis para o 'Jornal do Brasil' em 2006: "A gente não sabe se o William será selecionado. Porém, aproveitando a boa sorte, estamos preparando um repertório de inéditas para o ano que vem, ou seja, músicas próprias seguindo o estilo dos Mamonas". 

William quase foi cotado para viver Dinho no filme dos Mamonas

O longa, orçado em R$6 milhões, foi adiado por falta de patrocínio, conforme o próprio Claudio afirmou em entrevista: "Nós estamos na fase de captação de recursos e elaboração do roteiro. Quanto ao elenco, ainda vamos definir os atores que integrarão o elenco do longa. Queremos começar a filmar no final do ano para estrear no meio do ano que vem. A história começa antes da banda Utopia, que depois originou os Mamonas, para assim contar um pouco da vida de cada um, antes do sucesso todo que eles fizeram". 

Em 2008, a Record resolveu encarar o desafio de fazer um filme sobre os Mamonas. Cinco anos depois, foi anunciado um filme da banda estrelado por Rodrigo Faro, grande estrela da emissora, porém logo se falou em uma minissérie dirigida por Leonardo Miranda, em 2016, com apoio de dois canais pagos, sendo um deles a Fox. 

Para a revista Rolling Stone, quando ainda era cotado para o longa, Rodrigo Faro admitiu que era uma honra ser considerado para esse papel: "Quando eu era mais novo, brincavam e diziam que eu parecia um pouco com o Dinho. A história do grupo depois que eles fizeram sucesso eu sei, gostava muito deles". A ideia era lançar o filme, que depois se tornou minissérie, na data de 20 anos do falecimento dos integrantes, mas sem patrocínio adequado, a ideia não deu certo.  

Rodrigo Faro imitou Dinho em manifestação

Em 2016, no entanto, estreou nos palcos o musical 'Mamonas para Sempre', com Ruy Brissac como Dinho - e que reprisou o papel no filme de 2023. Nesse ínterim, novos fôlegos surgiram no projeto com nomes como MC Gui, Gretchen e até Yudi Tamashiro para participarem da minissérie sobre os Mamonas, então com roteiro de Carlos Lombardi.

Em entrevista para a revista Caras, em 2016, Jorge Santana, primo de Dinho, diz que a minissérie não rolou por não corresponder à realidade do grupo: "A gente não concordou porque a proposta é fazer algo bem light e estava surreal, com coisas que não aconteceram. Ele é muito bom em ficção, mas viajou muito na história. Podemos dizer que estava 15% de verdade e 85% ficção". Os familiares, de acordo com Flávio Ricco, não gostaram de adições na história sobre Dinho ter sido stripper e um suposto roubo da banda em um posto de gasolina para gravar um CD. Os diretores Marcelo Silva e Hiran Silveira saíram da linha de frente e a obra permaneceu em inércia. 

Por conta de mudanças internas na Ancine (Agência Nacional de Cinema), a produtora Total Filmes, que tinha a autorização para fazer a minissérie e o filme, ficou em um impasse. Assim, em 2019, iniciou-se o novo projeto dos Mamonas, com a escalação de Ruy, Andrey Lopes, como o tecladista Júlio Rasec, Júlio Oliveira, como Sérgio Reoli e Alberto Hinoto - sobrinho de Bento como o jovem. Jorge Santana, primo de Dinho, foi atrás de boa parte dos recursos - inclusive pela lei Rouanet que autorizou R$6 milhões de recurso em 2019 - e conseguiu o apoio da prefeitura de Guarulhos em 2017. 

O então prefeito Guti escreveu uma carta autorizando que boa parte das gravações fosse feita em Guarulhos - em longa produzido pela Globo Filmes e pela Europa Filmes. A famosa Brasília Amarela foi restaurada, inclusive, por Jorge, que admitiu em entrevista ao Extra em 2021: "A gente pegou e remontou. Ao todo, 75% do carro foi preservado. Quando recuperamos a Brasília e trouxemos, remontamos com peças de uma outra Brasília que já existia aqui em São Paulo. Tomamos o cuidado de deixá-la o mais original possível.". A Minds Idioma também se tornou uma das patrocinadoras da nova empreitada. 

Prefeito Guti, Hidelbrando Alves, pai de Dinho, e Paula Rasec     Foto: Sidnei Barros

Corta para 2022, desta vez com o orçamento adequado e distribuído para a Ancine: o filme, com o roteiro adaptado de Carlos Lombardi que, originalmente seria uma minissérie, está em pré-produção pela Total Filmes. Ruy Brissac interpreta Dinho, Beto é Bento Hinoto e Rhener Freitas estreia como Sérgio, Adriane Tunes como Samuel e Robson Lima como Júlio. 

Além deles, temos a Tik Toker Fernanda Schneider como a namorada de Dinho, a Valeria, além de Nadine Gerloff, prima de Luísa Sonza. Após o sucesso de 'Mamonas Assassinas - o Filme', este lançado em 2023, a Record transformará o longa em minissérie, adicionando mais cenas que foram descartadas, em uma parceria da Sonny com a Total Filmes - e que deve ser lançada ainda em 2024. 

'Mamonas Assassinas - o Filme' atraiu, desde sua estreia em 28 de dezembro de 2023, mais de 500 mil telespectadores por enquanto. Com críticas mistas, o importante é que a memória da banda foi preservada e que teremos muito mais Mamonas pela frente - é como dizem: 'money que é good nois num have', mas Mamonas Assassinas teremos para sempre! 

 



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