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5 curiosidades sobre o filme 'Ainda Estou Aqui'

 O filme 'Ainda Estou Aqui' se tornou um sucesso de bilheteria - por conta da história e, é claro, pela iminente possibilidade de indicação ao Oscar de Fernanda Torres. Se a atriz for indicada, ela será a segunda brasileira a ter essa honra: a primeira foi sua mãe, Fernanda Montenegro - que também atua na película. 

A obra conta a história do engenheiro e deputado federal Rubens Paiva, no filme vivido por Selton Mello, que é levado pelos militares nos anos 1970, em plena ditadura militar. Após o desaparecimento do marido, Eunice, papel de Fernanda Torres, sai em busca de respostas e se torna uma grande ativista dos direitos humanos. 

O poder do filme 'Ainda Estou Aqui'

Para enaltecer o poder de 'Ainda Estou Aqui', nós da Caixa de Sucessos, listamos cinco curiosidades que você, talvez, ainda não sabia sobre a obra. Vamos lá! 


1. Fernanda Torres não foi a primeira opção para viver Eunice

Fernanda Torres está esplêndida no filme 'Ainda Estou Aqui' e é praticamente impossível pensar nesta obra - e todo o peso que ela traz - sem ela, correto? Mas o diretor Walter Salles - que também dirigiu Central do Brasil (1998) - queria a atriz Mariana Lima como a protagonista. 

Em 2021, quando o filme já estava em desenvolvimento, Mariana forneceu uma entrevista ao site Veja Rio falando sobre a importância do papel: "É urgente recuperarmos nossa história, para que a gente tenha uma visão do horror do presente". 
Mariana seria a primeira escolha para o papel de Eunice

Walter Salles, em entrevista para o site Deadline em 2021, foi só elogios para a artista, afirmando que pensou o papel especialmente para ela: "Já falamos sobre colaboração, mas esperei para encontrar o papel que poderia realmente se beneficiar de seu talento extraordinário para dar à luz esse personagem. (...)Pensei nela desde o início pelo seu talento único e pela economia que tem para transmitir o núcleo emocional de uma personagem e de uma história. [Eunice Paiva] Teve que construir uma fortaleza interna para sobreviver, mas dava para sentir o trauma que ela passou". 

É bem plausível que Mariana saiu do filme por conta de impedimento na agenda, uma vez que o filme começou a ser gravado em junho de 2023. Fernanda, em entrevista para o jornal O Globo, também admitiu que não foi a primeira opção de Walter. 

Mariana não se pronunciou sobre a saída da película. 

2. Maeve Jinkings foi escolha pessoal de Walter Salles para viver Dalva Gasparian

A atriz Maeve Jinkings, que já estrelou filmes como Som ao Redor (2012) e Pédágio (2023), foi escolhida a dedo por Walter Salles para a participação especial no filme Ainda Estou Aqui (2024). Ela interpreta Dalva Gasparian - grande amiga dos Paiva - e fundadora da livraria Argumento.

A livraria Argumento no Rio de Janeiro foi criada apenas em 1978, quando Rubens já havia sido morto pelos militares durante a ditadura militar. A decisão de incluir a livraria no filme foi por conta de sua importância histórico-cultural e oposição ao regime da época - além disso, Dalva e o marido, Fernando, eram muito próximos de Eunice e Rubens. 

Livraria Argumento foi fundada e continua (re)xistindo no Rio de Janeiro

Em entrevista ao jornal Estado de Minas, o filho deles, Marcus, explicou a inclusão da livraria na história:

No retorno ao Brasil, meus pais iniciaram uma série de empreendimentos culturais voltados para o retorno da democracia. Editaram o semanário Opinião, compraram a editora Paz e Terra, lançaram a revista Argumento que acabou dando o nome para a livraria. Minha mãe, Dalva, interpretada no filme por Maeve Jinkings, esteve sempre ao lado do meu pai, assim como a Tia Eunice sempre apoiou o Tio Rubens.

 A própria Maeve vibrou com a oportunidade de interpretar Dalva, afirmando ao Jornal O Globo: "O Waltinho (Walter Salles, diretor) me chamou para fazer uma participação especial. Durante a ditadura, a livraria foi uma referência não só do ponto de vista cultural, mas também um foco de resistência política. A Dalva e o marido dela, Fernando, tiveram uma importância política muito grande na resistência à ditadura, e a livraria Argumento foi uma das dimensões dessa resistência". 

3. Selton Mello e Walter Salles são amigos dos filhos de Rubens e Eunice Paiva

Selton Mello foi escalado para viver Rubens Paiva no filme 'Ainda Estou Aqui (2024)' e surpreendeu seu amigo, Marcelo Paiva. O Marcelo é autor do livro homônimo que deu origem ao filme, além de ser filho do ex-deputado morto pela ditadura militar. 

Os dois são amigos de anos e, em entrevista para a coletiva de imprensa no Brasil, Selton admitiu: "Nunca imaginei que fosse fazer o pai do Marcelo, sou amigo dele há muitos anos. Eu tinha fotos do Rubens e ouvi coisas sobre ele do Marcelo, das irmãs e dos amigos para me preparar para o trabalho". Apesar disso, ele preferiu não ver vídeos e nem tentar imitar os trejeitos de Rubens, para tentar capturar a essência do engenheiro e não imitá-lo somente. 

Marcelo, Fernanda, Walter e Selton 

Walter Salles também é amigo de anos da família Rubens Paiva e, em bate-papo com a revista Exame, diz que conviveu com eles na casa do Rio de Janeiro - que estava sempre de portas abertas: "Aquela casa é um personagem. Uma das minhas lembranças mais fortes de adolescência é de ver ela com as portas e janelas sempre abertas, onde turmas de diferentes idades se encontravam. Se no começo essa convivência com a família é brilhante, iluminada e calorosa, com filtro amarelado, depois que o Rubens é levado, tudo fica mais escuro e sóbrio". 

4. Marcelo Paiva não vê 'Ainda Estou Aqui' como série

Após o sucesso do filme 'Ainda Estou Aqui' - com cinemas esgotados e quase 1 milhão de pessoas assistindo no Brasil - começou um burburinho de que o livro de Marcelo poderia se tornar também uma série de televisão, com apoio do Globoplay. 

A confusão começou após uma suposta fala de Marcelo, de que existiria uma versão de mais de 3 horas do longa e, por isso, o próximo passo seria adaptar para a televisão. Nas redes sociais, ele deixou bem claro: "Não vai, não. Não foi isso que falei no SESC. Não existe versão de 3h20". 

Selton e Fernanda são grandes amigos 

Essa versão corresponde à visão de Selton Mello, que teve alguns problemas iniciais com Walter, já que tudo no filme foi pensado de forma milimétrica e sem espaço para improvisos. Em sua autobiografia 'Eu Me Lembro', Mello admite: "O processo não foi fácil. (...) Eu tenho dificuldade com ensaio. Eu gosto do... Não sei, eu gosto de uma coisa menos prevista. E esse filme foi muito ensaiado". 

5. A reconstituição da casa dos Paiva foi na Urca

O filme 'Ainda Estou Aqui' se passa, em sua maioria, na casa da família Paiva que, na vida real, era localizada na Avenida Delfim Moreira, nº 80 em Ipanema.  A casa, no entanto, já foi totalmente demolida e, para recriar o ambiente, foi escolhida uma casa no valor de R$14 milhões na Urca - bairro no Rio de Janeiro que ainda mantém algumas características dos anos 1970. 

Em entrevista ao site Deadline, Walter Salles diz que se sente emocionado toda vez que passa pela casa, já demolida e que agora deu lugar à um edifício: "Havia a oposição de uma casa aberta ao mundo, a uma casa completamente fechada. E depois houve algo também traumático em que se tornou um restaurante.  E então um dia a casa foi demolida e eu também vi isso. Moro no Rio e cada vez que caminho por aquela parte da cidade não posso deixar de voltar a essa realidade. Agora, há um imenso arranha-céu com apartamentos luxuosos onde antes ficava a casa chamado Juan-les-Pins". 

Casa verdadeira dos Rubens à esquerda

Walter sempre foi grande amigo de Ana Lúcia, filha do meio dos Paiva. A família toda é composta por Marcelo, Vera, Ana, Maria Eliana e Maria Beatriz. 

Esta é uma obra que vale muito a pena ver e se emocionar nos cinemas. Está esperando o quê? Só vai! 

Refilmagens protagonizadas por suas estrelas originais

Remakes não são novidades em Hollywood! Há o desenvolvimento de refilmagens de filmes como 'Dirty Dancing', 'Nosferatu' e até de 'Barbarella' - sempre com uma pitada atual, e muitos atores da primeira versão retornam em novos papeis. Mas são poucas as refilmagens que contam com as estrelas originais no mesmo papel. 

Nesta A Listinha, revisitamos grandes clássicos e atores que reviveram papeis incríveis, anos depois, e com a mesma sagacidade de outrora.

Clark Gable em Terra de Paixão (1932) e Mogambo (1953)
Clark em 1932 e em 1953 

Clark Gable era o grande galã dos anos 30 - e com uma parceria imbatível com a amiga, Jean Harlow - quando estrelou em Terra de Paixão (Red Dust, 1932). No filme, ele interpreta o jovem Dennis Carson, dono de um seringal na Indochina, agora Vietnã, que está envolvido com a prostituta Vantine, papel de Harlow. 

Quando a esposa de um engenheiro chega ao local, a jovem Barbara, vivida por Mary Astor, Dennis se apaixona por ela e o roteiro se desenvolve. Vinte anos depois do primeiro filme, Clark voltou a interpretar o mesmo papel em Mogambo (idem, 1953), mas com o personagem de outro nome, Victor Marswell. 

Ava Gardner, desta vez, interpreta o papel que era de Harlow enquanto Grace Kelly - com quem Clark se envolveu na vida real durante as filmagens - fazia o papel de Astor. Ambos os filmes, baseado na peça Red Dust de Wilson Collinson, foram sucessos de bilheteria. 

Tyrone Power em Quem Ama... Castiga! (1937) e Esse Impulso Maravilhoso (1948)
Tyrone permaneceu belo em todas as suas fases

Tyrone Power era outro galã indiscutível da era de ouro de Hollywood. Em 1937, ele ainda cimentava seu sucesso e foi colocado como par, mais uma vez, ao lado de Loretta Young. Os dois, com suas belezas óbvias, elevaram o filme Quem Ama...Castiga! (Love is News, 1937). Nele, Ty interpreta Stephen, um jornalista que persegue uma herdeira, Tony, vivida por Loretta, e para se vingar ela finge que os dois estão noivos. 

O filme foi um sucesso e os dois, no total, estrelaram em cinco filmes juntos. Mais de dez anos depois, Tyrone reprisou seu papel no remake Esse Impulso Maravilhoso (That Wonderful Urge, 1948), desta vez com a também belíssima Gene Tierney - com quem ele tentou viver um romance, mas sem abertura da parte dela. 

Em Esse Impulso Maravilhoso (That Wonderful Urge, 1948), Ty agora é o repórter Thomas e, diferente do original, ele persegue a herdeira durante uma viagem em Sun Valley, nos EUA. Ambos os longas, no entanto, foram sucesso de bilheteria. 

James Stewart em Harvey (1950) e Harvey (1972)
James Stewart brilhou em ambos os filmes

James Stewart é um grande ator e isso fica mais do que óbvio em Meu Amigo Harvey (Harvey, 1950), que ele estrelou como Elwood P. Dowd. Baseado na peça homônima de Mary Chase, James interpreta um homem excêntrico que tem como melhor amigo um coelho gigante e imaginário chamado Harvey. A irmã dele já não aguenta a situação e tenta interná-lo em um sanatório, mas as confusões apenas começaram. 

O filme foi um sucesso e garantiu um Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Josephine Hull, que vivia a divertida irmã mais velha. Harvey ganhou uma refilmagem em 1996 com Harry Anderson no papel que era de James e também Leslie Nielsen - porém antes disso Stewart reprisou o papel em um filme feito para a TV em 1972, ao lado de Helen Hayes. 

James estrelou como Elwood em diversas versões da peça na Broadway e afirmou que ficou "muito satisfeito" com sua performance na obra de 1972. Em 2018, houve burburinho de mais um remake de Harvey estrelado, mas sem nenhuma novidade. 


Ingrid Bergman - Intermezzo 1936 e 1939
Ingrid no filme sueco e também no americano - grandes sucessos 

Ingrid Bergman ainda não havia feito sua grande estreia em Hollywood em em meados dos anos 30, mas chamou atenção por seus papeis em filmes suecos como A Mulher que Vendeu a Alma (1938) - que virou um remake com Joan Crawford nos anos 40, o Um Rosto de Mulher (1941)- e em Intermezzo (1936). Em Intermezzo, ela vive Anita, uma jovem pianista que se apaixona por um violinista casado, papel de Gösta Ekman. 

O produtor David O Selznick, que assistiu o filme em uma de suas passagens pela Suécia e se apaixonou, resolveu levar Ingrid para a América. Assim, nasceu o remake de Intermezzo, desta vez de 1939, com Ingrid reprisando o papel da jovem Anita e Leslie Howard como o professor Holger. 

Ambos os filmes foram um sucesso de bilheteria e cimentaram o grande talento de Ingrid - que se tornou uma das atrizes mais requisitadas e renomadas de Hollywood. Em sua autobiografia My Story, ela relembra que se recusou a mudar a aparência natural como muitas estrelas da época faziam - e essa se tornou sua marca registrada. 

Sean Connery - Thunderball e Never Say Never Again (007)

Sean Connery como seu personagem mais famoso: James Bond

O nome é Bond, James Bond. Provavelmente você está pensando: por que Connery está nesta lista por filmes diferentes de 007? E é aí que você se engana! Em 007 contra a Chantagem Atômica (Thunderball, 1965), o ator precisa lutar contra o tempo para encontrar as ogivas nucleares da Spectre e impedir que o mundo inteiro seja destruído ou fique à mercê da instituição. 

Esse foi o quarto filme de Bond estrelado por Sean Connery. Corta para 007 - Nunca Mais outra Vez (Never Say Never Again, 1983), que conta com Sean reprisando seu papel como Bond na mesma trama de 1965: o livro Thunderball de 1961, escrito por Ian Fleming. Essa foi a sétima e última vez de Connery no papel de Bond. 

Em ambos os filmes, baseados no mesmo livro, o Bond de Connery precisa lutar contra a Spectre e suas ogivas nucleares. O livro, por ter sido publicado após uma ideia de Fleming para roteiro com os colegas Kevin McClory e Jack Whittingham (sem creditar os dois), enfrentou diversos problemas de direitos autorais. 

Penélope Cruz em Presos na Escuridão e Vanilla Sky - 1997 e 2001

Penélope Cruz fez um grande sucesso em filmes 

Penélope Cruz já era uma estrela consolidada na Espanha ao estrelar o filme Presos na Escuridão (Abre los ojos, 1997) como Sofia. No longa, dirigido por Alejandro Amenábar, ela conhece César, vivido por Eduardo Noriega, em uma festa e eles se apaixonam. Após a insistência de uma ex-namorada ciumenta, ele acaba perdendo a sua beleza e se vê envolvida em uma sequência de situações estranhas. 

Em 2001, Hollywood decidiu fazer um remake do sucesso espanhol e assim nasceu Vanilla Sky, estrelado por Tom Cruise e Cameron Diaz. Cruise ficou encantado pelo filme e comprou os direitos dele, chegando a indagar o diretor se Penélope era alguém fácil com quem se trabalhar. Os dois tiveram um caso nos bastidores do longa - uma adaptação fiel de Abre los ojos. 

Em ambas as obras, Penélope interpreta o arquétipo da mulher perfeita - um tipo de manic pixic dream girl - em que ela está ali apenas para impulsionar a narrativa do protagonista homem. Linda, feminina, ela é descrita como um sonho transformado em realidade. 




5 curiosidades sobre a borbulhante Olivia Newton-John

Olivia Newton-John conseguiu transceder gerações com sua personalidade borbulhante, seu talento inegável e sua carreira musical. Não acredita? 'Physical', por exemplo, um dos maiores hits da cantora nos anos 80, serviu de inspiração para a música homônima de Dua Lipa, lançada em 2020. 'Grease - Nos Tempos da Brilhantina (1978)' continua a ser um dos filmes de maior sucesso do mundo e a peça está em cartaz, este ano, no Brasil. 

A atriz faleceu em 8 de agosto de 2022, vítima de um câncer de mama metastático, aos 73 anos de idade. Olivia estava rodeada de sua família e amigos, pessoas que ela sempre prezou acima da fama, e deixou um legado além do artistico para os fãs: em 2012, ela criou o 'Olivia Newton-John Cancer & Wellness Foundation' para arrecadar fundos em prol da pesquisa sobre o câncer. 

Em sua homenagem, listamos 5 curiosidades sobre essa personalidade inesquecível. 

Olivia não foi a escolha inicial para interpretar Sandy em Grease

Olivia e John em 'Grease - Nos Tempos da Brilhantina (1978)'

Olivia marcou seu lugar como Sandy em Grease, mas a realidade é que ela não foi a primeira escolha para o papel. O filme, lançado em 1978, foi baseado na peça homônima criada por Jim Jacobs e Warren Casey em 1971 e se tornou um dos maiores sucessos da Broadway - fazendo com que Hollywood decidisse adaptar a peça para o cinema. 

Quando o longa começou a ser montado, os produtores Robert Stigwood e Alan Carr ofereceram o papel primeiro a Susan Dey que, na época, fazia sucesso na série 'A Família Dó-Re-Mi (1970-1974)', porém ela recusou porque queria fazer papeis mais 'adultos'. Na sequência, Marie Osmond também recebeu uma oferta, mas não quis saber e explicou para a Fox News em 2016:
Inicialmente, eu recebi o roteiro e era muito mais picante do que Olivia acabou fazendo. Mas eu estava em um momento na vida que queria ter filhos e eu não gostava do fato da garota ter que ficar 'malvada' para conseguir o cara. Eu acho que é o cara quem tem que trabalhar muito para conseguir a garota. 
Marie Osmond e Susan Dey - quase 'Sandys'

Outras atrizes que foram consideradas para o papel de Sandy? Carrie Fisher, a eterna princesa Léia de 'Star Wars', já que o diretor Randal Kleiser era amigo de George Lucas - e ele mostrou algumas cenas de Carrie para que ela fosse considerada para o papel. Segundo matéria da Vanity Fair, Randal não sabia que a atriz poderia cantar e dançar e se concentrou em outras candidatas. 

A cantora Linda Ronstadt também esteve no páreo, assim como Deborah Raffin, mas Olivia ganhou o papel após conhecer Alan Carr em um jantar em 1977. Assim que ele viu a cantora, sabia que ela seria a Sandy perfeita e a tentou convencer disso, até que o próprio John Travolta apareceu na casa dela para persuadi-la a estrelar 'Grease'. 

Em sua autobiografia 'Don't Stop Believin' de 2019, Olivia relembrou o teste de 'química' que fez com Travolta: "Quando entramos naquele cômodo juntos, era mágica e todo mundo sabia. Nós sabíamos. Eles não poderiam negar essa conexão. Estávamos um do lado do outro. Sandy e Danny ali em carne e osso. A melhor parte? Não tínhamos lido nem uma linha". 

Olivia sofreu retaliação ao ganhar um CMA Award, prêmio da música country, em 1974

Olivia ganhou o prêmio e enfureceu outros artistas country

Apesar de ser querida por praticamente todos, Olivia mostrou que não era unanimidade em 1974 ao ganhar o prêmio de Vocalista do Ano no CMA Awards, uma premiação nos EUA destinada aos artistas country. A australiana erradicada venceu concorrentes fortes como Loretta Lynn e a sempre maravilhosa Dolly Parton. Quando o nome de Olivia foi anunciado, inclusive, os apresentadores não pareceram nada satisfeitos na ocasião. 

George Jones e Tammy Wynette, então, criaram uma organização chamada Association of Country Entertainers (ACE), ou seja, 'Associação dos Artistas do Country' para tentar impedir que outros músicos, que não eram do gênero, fossem indicados aos prêmios. E para se ter uma ideia até que não pegaram tão pesado com Newton-John: em 1975, quando John Denver ganhou a estatueta, o apresentador botou fogo no cartão com o nome do artista - ao vivo! 

Em sua autobiografia, Olivia diz que se sentiu terrível com a situação, mas "não o suficiente para devolver seu prêmio" e relembrou que recebeu o apoio da sempre maravilhosa Dolly Parton: "Alguns artistas country, inclusive Dolly Parton e Loretta Lynn, me defenderam e sempre fui muito grata pelo apoio delas. Depois, eu gravei Jolene de Dolly e nós jantamos juntas. Ela é incrível e simplesmente deslumbrante". 


Jeff Conaway, o Kenickie de Grease, se tornou cunhado de Olivia Newton-John

Olivia, a irmã Rona e Jeff

Jeff Conaway interpretou Danny de 'Grease' na peça da Broadway, mas no filme foi escalado como Kenickie. O ator, de então 26 anos de idade, era bastante mulherengo e ficou com diversas atrizes nos bastidores, mas assim como John Travolta, ele tinha uma grande queda por Olivia Newton-John.

O destino, no entanto, quis diferente: de acordo com a própria Olivia em sua autobiografia, Jeff conheceu a irmã dela, Rona, quando ela foi visitá-la no set de filmagens em uma festa oferecida por Alan Carr. Os dois se apaixonaram e estavam de casamento marcado - que foi cancelado quando o artista quis que ela assinasse um acordo pré-nupcial. Seis meses depois, eles se casaram em Las Vegas, precisamente em 9 de janeiro de 1980, depois de assistirem a um show de Frank Sinatra. 

Jeff e Rona ficaram casados de 1980 a 1985 e nunca tiveram filhos juntos, apesar do artista ter se tornado padrasto de Tottie, Brett e Emerson - este último por ser mais novo foi com quem Conaway teve mais contato. Olivia, que chamava Jeff de 'o garanhão' para a irmã, não manteve contato com o astro após o divórcio de Rona, mas sempre teve muito carinho por ele. 

Olivia e Jeff no relançamento de Grease em 1998

Quando Jeff faleceu em 2011, vítima de uma overdose após uma luta pública contra bebida e drogas, Olivia prestou suas condolências: "É tão triste. Jeff tinha um bom coração e era muito talentoso. Ele era uma grande parte da nossa família e sentiremos falta dele". 

Olivia foi aterrorizada por dois perseguidores

Olivia Newton-John nos anos 80

Nos anos 1980, Olivia Newton-John tinha um flop com Xanadu (idem, 1980), mas estava à todo o vapor com sua música. Infelizmente, ela não pode aproveitar todo o sucesso de 'Physical', o hit de seu álbum homônimo, por ser alvo de dois perseguidores: Michael Owen Perry e Ralph Nau

Michael Owen Perry foi o primeiro stalker da atriz e o mais perigoso: ele começou a mandar cartas ameaçadores para a estrela, acreditando que ela se comunicava com ele através de seus olhos. Assustada, já que ele sabia onde ela morava, Olivia decidiu contratar uma segurança 24 horas para ficar em sua casa. Em 17 de julho de 1983, Michael matou cinco pessoas de sua família: seus pais, Chester e Grace, dois primos, Randy e Brian, e seu sobrinho de dois anos de idade, Anthony - todos foram atingidos com balas nos olhos. 

O assassino tinha uma lista de pessoas que pretendia matar e o nome de Olivia estava lá. Para a sorte da eterna Sandy de 'Grease', uma busca nacional foi feita para encontrá-lo após os assassinatos e Michael foi preso por roubar uma loja à beira da estrada. Michael foi sentenciado, em 1985, à pena de morte, mas por ser declarado legalmente insano, ele ainda espera sua vez no corredor da morte. 

Michael e Ralph Nau: stalkers sem limites

Gavin deBecker, responsável pela equipe de segurança de Olivia, ofereceu à polícia algumas das cartas de Michael para a estrela, que lia-se: "Eu sei sobre Apollo e as nove musas. Como eu disse, eu vi Xanadu pela primeira vez em meses. Depois de ver o filme, eu vi diversas garotas que parecem com você com cabelo longo e agora cabelo curto". 

Ralph Nau também era um stalker perigoso. Logo após toda a confusão com Michael, Olivia decidiu viajar para o Havaí e foi nessa ocasião que a equipe de segurança encontrou Ralph na cama dela, relaxando. No caso, o jovem não perseguia apenas Olivia, inclusive viajando para Austrália: ele foi atrás de Cher e escreveu cartas para Madonna, Vanna White e Marie Osmond. Além do mais: ele afirmou que era o verdadeiro pai de Redmond O'Neal, filho de Farrah Fawcett e Ryan O'Neil. 

Em 9 de agosto de 1984, Ralph foi preso por ter matado o irmão de oito anos de idade com um machado. Em julho de 1989, com a possível liberação do stalker do Elgin Mental Health Center, nos EUA, Olivia Newton-John, Sheena Easton e Cher se uniram e escreveram uma carta para impedir que Ralph saísse do centro. Antes disso, passou quase uma década atrás de Olivia, mandando 600 cartas - o jovem, com transtornos mentais, acreditava que os dois eram almas gêmeas e foram distanciados por alguém chamada Maria. 

Olivia Newton-John com a filha e Matt em Byron Bay, na Austrália

Em 1991, a Justiça concedeu sua liberação após internação involuntária, porém ele permaneceu no local. Após todo esse susto, Olivia voltou a morar na Austrália com seu então marido Matt Lattanzi e a filha deles, Chloe. 

Olivia Newton-John esteve no Brasil três vezes

Olivia com o então namorado Matt no Brasil em 1982 - Rio de Janeiro

Olivia Newton-John se encantou pelo Brasil e o povo brasileiro a amava de volta! Em 15 de fevereiro de 1982, a estrela vinha ao nosso país pela primeira vez, ao lado do então namorado Matt, para divulgar seu hit 'Physical'. A cantora, na ocasião, aproveitou o samba, conheceu diversas personalidades brasileiras e até gravou uma participação especial na novela 'Jogo da Vida', da TV Globo, nos capítulos 120 e 121 como atração da estreia do fictício Bar Cowboy. 


Em 1992, Olivia voltou ao Brasil, desta vez para participar da convenção Eco-92 como Embaixadora da ONU para Meio Ambiente. Ela desembarcou no Rio de Janeiro em junho daquele ano e, um mês depois, de volta à Los Angeles, descobriu que estava com câncer de mama pela primeira vez - ela foi diagnosticada três vezes com a doença. 

"Talvez tenha sido o fato de eu ter acabado de voltar do Brazil após representar a ONU e gravar uma música em prol do meio ambiente. Eu estava muito honrada de estar lá, mas parecia que tinha sugado toda a energia de mim. Eu voltei para Los Angeles exausta e algo não estava bem", relembrou Olivia em sua autobiografia, notando que o nódulo desta vez dóia. A mamografia não revelou nada, entretanto ela insistiu em uma biópsia e descobriu o câncer - lição importante: sempre confie em sua intuição! 



Em 2016, a eterna Sandy veio a última vez ao nosso país e se apresentou no Rio de Janeiro e em São Paulo. Ela se apresentou em 1º de março de 2016 no Theatro Municipal na Cidade Maravilhosa e no dia 3 no Espaço das Américas, em São Paulo com o show batizado 'Summer Nights', em comemoração aos seus 50 anos de carreira com hits como 'I Honestly Love You' e 'Physical'. 

Em entrevista ao Jornal O Globo, Newton-John não lembrava tão bem todas suas visitas ao nosso país, contudo tinha muito carinho: "Acho que fiz um show, talvez não. Ai, meu Deus, faz muito tempo... uns 35 anos! Fui ao Rio e foi espetacular. Vi o desfile das escolas de samba de um camarote com alguns amigos". 

Olivia em apresentação no Rio em 2016

A música brasileira tem muito ritmo, é alegre e maravilhosa. O Rio é um lugar incrível, cheio de charme, com uma natureza inigualável - celebrou a atriz para o Tribuna da Imprensa em 1982. 

Seremos eternamente devotados à você, Olivia!  

A conscientização social dos filmes dirigidos por Ida Lupino

Ida Lupino pode até ter ficado conhecida, em certo ponto de sua carreira, como a 'versão feminina de Hitchcock', mas ela provou ir além desse rótulo. Seu trabalho a partir dos anos 50, especialmente o noir O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953) e em séries de televisão, tinha uma aura sombria e ironia equivalentes à do grande diretor. Essa semelhança, contudo, termina aí: Ida, mesmo em filmes considerados mais leves, tinha como foco explorar e esmiuçar grandes tabus - emocionando e empatizando seus espectadores.  

Ida começou como atriz, mas sempre deu sinais de expandir sua influência. Em entrevistas promocionais para o filme É Difícil ser Feliz (The Hard Way, 1943), ela, por exemplo, revelou que sonhava em ser diretora:  

Eu sempre pensei que, um dia, eu deixaria de atuar e tentaria dirigir. Eu fui muito afortunada de trabalhar com ótimos diretores e aprendi muito com eles. Eu também tenho as minhas próprias teorias que eu gostaria de testar e desenvolver. 

 

Ida Lupino no set de filmagens de O Bígamo (The Bigamist, 1953)

Em 1947, após estrelar em longas como Dentro da Noite (They Drive By Night, 1940), Seu Último Refúgio (High Sierra, 1941) e O Lobo do Mar (The Sea Wolf, 1941), Ida deu adeus à Warner Bros e se tornou uma freelancer. Um ano depois, ela se casou com o produtor cinematográfico Collier Young e os dois investiram no sonho de produzirem e dirigirem seus próprios longas. 

De acordo com a biografia 'Ida Lupino, a Biography' de William Donati, uma conversa da atriz com Roberto Rossellini, em uma festa em 1948, lhe deu o empurrão necessário para filmar 'Mãe Solteira (Not Wanted, 1949). "Em filmes de Hollywood, a estrela está enlouquecendo, ou bebe muito ou quer matar a sua esposa. Quando vocês farão filmes sobre pessoas ordinárias, em situações ordinárias?", indagou ele. 

Mãe Solteira (Not Wanted, 1949)

Sally Forrest em Mãe Solteira (Not Wanted, 1949)

Ida Lupino encontrou o projeto certo para se aventurar nos bastidores, após ler um rascunho escrito pelo roteirista Malvin Wald sobre uma mãe solteira que doa seu bebê. Paul Jerrico, na ocasião, foi contatado para transformar a história em um roteiro sólido. Com tudo pronto, o marido dela, Collier, tentou produzir o longa pela Columbia, mas o diretor do estúdio, Harry Cohn se ôpos veementemente. 

Young, sem pestanejar, se demitiu - algo que enfureceu a esposa. A chance de Ida, contudo, veio com o estúdio Emerald Productions, que era especializado em filmes de baixo orçamento. O fato do casal já ter investido dinheiro no filme The Judge (idem, 1949) ajudou que eles obtivessem o apoio da produtora. Ida, no começo dessa jornada, seria apenas creditada como produtora e roteirista, mas o diretor Elmer Clifton sofreu um ataque cardíaco antes do começo das gravações. Em 28 de fevereiro de 1949, o primeiro dia das filmagens de Mãe Solteira (Not Wanted, 1949), Ida Lupino finalmente se tornou uma diretora. 

Sally Forrest e Leo Penn, pai de Sean Penn, em cena do filme

Em Mãe Solteira (Not Wanted, 1949), Sally Forrest vive Sally, uma jovem que se apaixona perdidamente pelo pianista Steve Ryan (papel de Leo Penn - pai de Sean Penn). Após um breve romance, o músico vai embora da cidade e ela vai atrás dele. Logo depois, ela descobre que está grávida e, apesar da ajuda do gentil Drew (Keefe Brasselle), ela não sabe o que fazer. 

Sally, que se tornou a estrela de três dos filmes dirigidos por Lupino, foi escolhida após uma audição com mais de 250 garotas. Keefe, por sua vez, recebeu uma chance após Ida ficar sabendo que ele estava sofrendo para se firmar como ator - na audição ele estava tão nervoso que mal conseguia falar. Leo foi contratado após Collie vê-lo em uma foto de banco de talentos. Nos caso dos três atores, o filme Mãe Solteira (Not Wanted, 1949) foi a grande brecha que eles almejavam nos cinemas. 

Como o cerne do filme - uma mãe grávida que resolve doar seu bebê - era um grande tabu na época, e ainda o é hoje, o Escritório de Administração do Código de Produção de Hollywood interviu e exigiu que muitas cenas fossem apenas 'insinuadas' e não 'explícitas'. Ida palpitava onde e como podia para melhorar o roteiro. 

Ida Lupino dirigindo enquanto Elmer estava atrás dela

Elmer,que ainda se recuperava do ataque cardíaco, participava das gravações, mas era Ida quem tomava as rédeas do filme. Uma matéria do Daily News, em março daquele ano, notou que era a atriz quem estava comandando tudo, mas bastante graciosa, ela negou: "Eu não estou dirigindo, nem pensaria nisso".

Em Mãe Solteira (Not Wanted, 1949), Ida também encontrou problemas com os investidores, em especial na cena da casa das mães solteiras. A atriz queria exibir garotas brancas, negras e japonesas convivendo em harmonia no local, mas foi proibida. Irritada, ela os desafiou ao colocar uma garota de descendência japonesa no longa e apenas pôde mantê-la porque já era tarde demais para tirá-la do corte final. 

Mãe Solteira (Not Wanted, 1949) ficou pronto em 14 dias, com uma orçamento baixíssimo de apenas US$153 mil. A obra foi recebida com críticas mistas, mas o público compareceu em peso na estreia em 24 de junho de 1949 - arrecadando mais de US$1 milhão. O êxito de Ida, que não quis levar crédito como diretora mesmo tendo gravado tudo, foi tão grande que ela possuiu liberdade total em seu próximo filme Quem Ama não Teme (Never Fear, 1950). 
Todos nós deveríamos trabalhar para aliviar a pobreza e a doença que causa essa condição [mães solo que doam seus bebês]. O amor é algo precioso. Todos os humanos precisam amar e ser amados. A vida não nos dá os meios de achar amor sem os limites de nossas convenções e muitos de nós os encontram fora. E é por isso que estamos fazendo esse filme. Essas garotas têm direito de serem compreendidas. - Ida em entrevista sobre o filme em 18 de fevereiro de 1949 para a filha de Eleanor Roosevelt, Anna. 

Quem Ama não Teme (Never Fear, 1950)

Sally e Keefe: os queridinhos de Ida Lupino

Com o sucesso de Mãe Solteira (Not Wanted, 1949), Ida Lupino estava nas nuvens! Decicida a ter ainda mais controle, ela formou com o marido a produtora The Filmakers, cujo objetivo era abordar problemas sociais. Para completar, Malvin Wald foi convidado e se tornou tesoureiro. O primeiro longa da produtora foi anunciado: Quem Ama não Teme (Never Fear, 1950), que seria dirigido, originalmente, por Frank Cavett. Os investidores, no entanto, queriam Ida, já que nos bastidores todos sabiam que foi ela quem dirigiu o sucesso de Mãe Solteira. 

Animada, ela e Collier começaram a desenvolver a história de Quem Ama Não Teme (Never Fear, 1950), que reuniu Sally Forrest e Keefe Brasselle novamente. No longa, Sally interpreta a dançarina Carol Williams, que acaba contraindo poliomelite e fica internada em uma clínica de reabilitação, onde ela conhece o cativante Len, interpretado por Hugh O'Brian. Seu noivo, Guy, vivido por Keefe, faz o que pode para ajudá-la nessa transição, mas Carol quase desiste de tudo. Esse projeto era próximo de Ida já que, em 1934, ela também contraiu a doença e a venceu. 

Ida Lupino checando a maquiagem de Sally nos bastidores do filme

Malvin Wald foi consultado para contribuir com o longa e, em conversa com donos de cinemas, descobriu que o assunto da poliomelite não seria bem-recebido. Em 1949, nos EUA, uma verdadeira epidemia da doença se alastrou, deixando uma 1 a cada 1000 crianças paralíticas. Wald alertou o casal, mas Collier convenceu Ida de que valeria a pena investir em Quem Ama não Teme (Never Fear, 1950) - e ela acreditou, confiando na expertise do marido. 

Nos primeiros dias de filmagens, Lupino torceu o pé em um cabo solto e foi obrigada a dirigir o longa todo sentada. Muita das cenas, inclusive, foram gravadas em um centro real de recuperação para polio, a Kabat-Kaiser Rehabilition Institute em Santa Monica, Califórnia, nos EUA. No local podemos ver, em detalhes, toda a recuperação da personagem e até uma cena de dança de cadeiras de roda - inédito para a época! 

Cena do filme Quem Ama Não Teme - algo inédito na época

O filme foi completado em 15 dias por um orçamento de US$150 mil, cujo US$65 mil foi retirado de um empréstimo com o agente de Ida, Charles Feldman, após os investidores 'darem para trás'. Com pouco dinheiro, Collier não conseguiu exibir o filme em grandes teatros e muitos deles, inclusive, não queriam exibir um assunto tão pesado e próximo como a poliomelite - na ocasião ainda não havia vacina para a doença. 

O fracasso do filme contribuiu para a deterioração do casamento de Ida e Collier, porém a gota d'água veio quando o produtor firmou um contrato terrível com a RKO, estúdio de Howard Hughes. Em 28 de dezembro de 1949, segundo o livro The Women of Warner Brothers, de Daniel Bubbeo, Ida entrou com um pedido de divórcio e começou um romance com o ator Howard Duff. Quem Ama não Teme (Never Fear, 1950) fracassou nas bilheterias, mas deixou uma marca em todas as vítimas da polio pela sua sinceridade e representação fiel de pessoas doentes. 

Eu recebi diversas cartas de pessoas que achavam que isso tinha acontecido, de verdade, com os atores. Eu recebi tantas cartas de pessoas com poliomelite que diziam: 'O que você fez me inspirou'. Foi muito emocionante - relembra Sally Forrest no livro The Women of Warner Bros. 

O Mundo é Culpado (Outrage, 1950)

Mala Powers foi a atriz principal deste filme importantíssimo 

Ida Lupino estava presa, assim como Collier e Malvin, ao contrato com a RKO, que detinha os direitos de todas as suas obras e aprovação de atores e projetos. Disposta a fazer o melhor, a diretora se afundou no trabalho e decidiu desenvolver seu mais novo longa-metragem: a história de uma menina que é estuprada e as consequências desse trauma em sua vida. 

Mala Powers, uma novata de dezoito anos de idade, foi a escolhida para dar a vida à personagem Ann Walton em O Mundo é o Culpado (Outrage, 1950) - que se chamaria inicialmente de Nobody's Safe, ou seja, 'Ninguém está Seguro'. A parte mais impressionante do longa é, justamente, a tentativa de fuga de Ann ao ser perseguida pelo seu agressor. A tensão, o movimento de câmeras e a música criam uma atmosfera de puro terror - algo que qualquer um, especialmente uma mulher que já foi perseguida na rua ou teve essa sensação, pode perfeitamente entender.  

Ida Lupino dirigindo Mala Powers e Robert Clarke 

O Mundo é o Culpado (Outrage, 1950) começa bastante forte, exibindo os julgamentos que a personagem recebe após o ataque, a relação destruída com o então noivo, Jim, vivido por Robert Clarke, e o estresse pós-traumático de Ann. Na metade do filme, começa-se a explorar um possível romance entre Ann e o reverendo Bruce, papel de Tod Andrews, que a ajuda quando ela mais precisa. Apesar desse lado 'água com açúcar', o filme transmite com maestria sua mensagem - até o fim. 

O filme foi lançado em março de 1950, com algumas críticas mistas, mas foi um dos maiores sucessos da RKO daquele ano. Com um comando certeiro no set de filmagens, Ida, que pedia para ser chamada de 'mamãe' pelos atores, conseguia suas cenas de forma objetiva e contando com a colaboração de todos. 

Em entrevista em 1974, segundo o livro Ida Lupino, Director: Her Art And Resilience In Times Of Transition de Therese Grisham and Julie Grossman, ela definiu O Mundo é o Culpado (Outrage, 1950): 
Eu acho que foi algo bom de se fazer na época, sem ser muito moralista. Afinal, não foi  culpa da garota. Eu apenas pensei que o efeito que o estupro pode ter em uma garota não é muito discutido. A garota não fala sobre isso ou vai até à polícia. Ela tem medo de que não acreditem nela. 

Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951)

Sally Forrest interpreta uma filha sob o jugo da mãe, vivida por Claire Trevor

Ida Lupino, desde o começo de sua carreira por trás das câmeras, se focava em trazer filmes de valioso teor social para o público. Então por que ela decidiu gravar Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951), a história sobre uma tenista que é dominada pela ambição de sua própria mãe? Baseado no conto 'Mother of a Champion' de John Tunis, escrito para a Harper’s Monthly Magazine em 1929 - e baseado na vida da tenista Helen Wills Moody - o longa analisa as ambições das mulheres versus o que a sociedade espera deles e, portanto, é perfeito para quebrar os tabus do que se espera de uma mulher. 

Em Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951), Sally Forrest interpreta Florence, uma jovem que tem um futuro brilhante no tênis. A mãe dela, Millie, vivida pela incrivelmente talentosa Claire Trevor, é bastante ambiciosa e quer prover tudo do bom e do melhor para a filha. O problema é que ela acaba afastando a jovem de uma carreira brilhante ao colocar o dinheiro em primeiro lugar, favorecendo o namorado rígído da filha, Gordon, vivido por Robert Clarke. 

Ida Lupino rodeada de homens durante a exibição de Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951)

Desta vez, para o desgosto de Ida, Howard Hughes estava bastante focado no filme, já que ele amava tênis. O empresário foi quem deu a ideia para o título 'Hard, Fast and Beautiful' e também fez questão de que o som das bolas de tênis fossem críveis. "O senhor Hughes era um homem estranho que ficava intrigado com o som das bolas de tênis", relembra Forrest, "Ele insistia para que o som fosse certo. Ele passava muito tempo na sala de edição para isso". 

O estúdio RKO investiu cerca de US$25 mil para uma premiere com toda a pompa para o filme, que ocorreu em São Francisco, nos EUA - uma decisão bastante inusitada, já que a maioria dos longas eram exibidos em Los Angeles. Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951) custou apenas USS$300 mil, sendo o filme com o orçamento mais caro de Ida até então. 

Em 23 de maio de 1951, Laços de Sangue (Hard, Fast and Beautiful!, 1951) estreou nos cinemas e, apesar de uma arrecadação razoável e críticas boas, o filme não fez tanto sucesso quanto se esperava, com Hughes ficando com a maioria da bilheteria. 

O Mundo odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953)

O Mundo odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953) - um dos filmes mais emblemáticos de Ida

Ida Lupino estava na melhor fase de sua vida pessoal: após pagar a dívida ao seu agente, estrelando no filme Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951), ela finalmente havia se tornado mãe: com Duff, teve uma filha chamada Bridget, nascida em 23 de abril de 1952. Além disso, ela seguiu lançando filmes e atuando através da produtora The Filmakers com: Escravo de Si Mesmo (Beware My Love, 1952) e Abismos do Desejo (On the Loose, 1951). 

Recuperando-se do pós-parto e do nascimento prematuro da filha, cujos padrinhos eram seu ex-marido, Collier e a então esposa Joan Fontaine, Ida resolveu mergulhar no trabalho - desta vez se inspirando no caso real dos assassinatos ocorridos em 1951 por Billy Cook. Assim nasceu O Mundo odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953), longa que ela estava incerta de fazer por ser muito diferente do que estava acostumada. Collier, no entanto, a incentivou e, desta vez, deu certo!

Ida dirigindo os atores Frank Lovejoy e Edmond O'Brien

Em O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953), que tornou Ida a primeira cineasta a dirigir um filme noir, conta-se a história de dois amigos, Roy, vivido por Edmond O'Brien, e Gilbert, papel de Frank Lovejoy, que estão indo, de carro, para um final de semana de pesca. Quando Emmett Myers, interpretado por William Talman, pede uma carona, eles aceitam sem imaginar de que se tornariam reféns e passariam dias de desespero. 

Ida Lupino se encontrou, brevemente, com o próprio Billy Cook antes de começar a co-escrever o roteiro com Collier Young, que teve títulos como 'The Difference' e 'The Persuader'. O filme começou a ser desenvolvido em março de 1952, mas o julgamento contra o assassino ainda estava em seu curso. Para piorar, o  Escritório de Administração do Código de Produção de Hollywood, se opunha à representação de um homicída nas telonas e, por isso, de Billy Cook, o antagonista passou a se chamar Emmett. 

Com um toque Ida de ser, ela adicionou mexicanos na história de forma não-estereotipada, e permitindo que eles falassem em espanhol, sem legendas, muito antes dessa manobra ser utilizada, novamente, por Steven Spielberg no remake de Amor, Sublime Amor (West Side Story, 2021). 

Ida estava incerta de fazer o filme, mas foi um grande sucesso 

Logo depois do nascimento da filha, Bridget, Ida começou a gravar O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953), entre junho a julho de 1952. O filme estreou em 20 de março de 1953 e foi um dos maiores sucessos daquele ano para a RKO Pictures e cimentou a grandeza da atriz como diretora. Para se ter uma ideia, ela era, naquela época, a única mulher a fazer parte do Director's Guild - associação dos diretores dos EUA. 

Para aumentar o suspense do filme, eu gravei as cenas em lugares claustrofóbicos do carro para intensificar o calor do lado de fora, as barreiras do deserto. Eu tentava manter o espectador à beira do assento com uma linha de violência prestes à explodir a qualquer momento. - relembra Ida em entrevista no livro The Making of The Hitch-Hiker Illustrated Por Mary Ann Anderson

O Bígamo (The Bigamist, 1953) 

Ida Lupino e Edmond O'Brien em O Bígamo (The Bigamist, 1953)

Provando não ter medo de desafios, Ida Lupino se tornou uma das estrelas de seu próximo filme O Bígamo (The Bigamist, 1953), além de dirigi-lo -tornando-se a primeira mulher a dirigir a si mesma em um filme - e, de quebra, convidou a atual esposa de seu ex-marido, Joan Fontaine, para ser uma das protagonistas. 

Baseado na história de Lawrence B. Marcus e Lou Schor, O Bígamo (The Bigamist, 1953), segue a tradição de Lupino trabalhar com os mesmos atores, pelo menos duas vezes. Nele, Edmond O'Brien interpreta Harry, que pretende adotar uma criança com a esposa, Eve, papel de Joan. O dono da agência, Mr. Jordan, vivido pelo Edmund Gwenn - o eterno Papai Noel do Milagre na Rua 34 - suspeita das frequentes viagem de Harry e descobre que ele tem uma outra esposa, Phyllis, interpretada por Lupino .

Joan, Collier e Ida Lupino durante as filmagens de O Bígamo (The Bigamist, 1953) 

O filme começou a ser gravado em junho de 1953 após a decisão do The Filmakers de deixar a RKO e distribuir seus projetos de forma independente. Os investidores gostaram de O Bígamo (The Bigamist, 1953) especialmente porque, apesar de tratar de um assunto polêmico, o filme não se desviava para um lado sórdido e sim para os sentimentos e a indecisão de um homem. 

O Bígamo (The Bigamist, 1953) foi lançado em 24 de novembro de 1953 e com críticas mistas, em especial pelo fim 'em aberto'. Um dos grandes problemas foi a distribuição limitada do filme, que não conseguiu chegar em tantas pessoas e, assim, arrecadou menos do que o esperado. 

Com essas dificuldades de distribuição da produtora, Ida recebeu a proposta de trabalhar na televisão pelo operador de câmera de O Bígamo, George Discant com o grupo 'Four Star', formado por David Niven, Charles Boyer e Dick Powell. Ela estava insegura em aceitar, mas acabou cedendo e dirigiu diversos episódios televisivos ao longo de dez anos. A produtora dela, 'The Filmakers', havia se dissolvido em 1955 após completar o filme A Vólupia do Crime (Mad at The World, 1955).  

Aqueles eram dias incríveis. Nós descobrimos novos talentos e nós fizemos o tipo de filme que é considerado 'new wave' hoje. Nós abordamos assuntos que eram polêmicos na época - mães solteiras [hoje mães solo], suborno no tênis, crimes de um mochileiro, a bigamia e o polio. - entrevista de Ida para a revista Action em 1967, da matéria 'Me, Mother Directress'. 

Anjos Rebeldes (The Trouble with Angels, 1966)

Hayley Mills e June Harding na volta de Ida aos cinemas

Após perder o preconceito com a televisão, algo comum entre os atores de Hollywood, Ida Lupino dirigiu episódios de 'Alfred Hitchcock Apresenta', 'Paladino do Oeste', 'Os Intocáveis' e 'Dr. Kildare', até aparecer a oportunidade de dirigir o filme Anjos Rebeldes (The Trouble With Angels, 1966). A diretora recebeu o convite do produtor William Frye, para compor uma gravação composta quase toda de mulheres, e não perdeu a oportunidade. 

Em Anjos Rebeldes (The Trouble With Angels, 1966), a grandiosa Rosalind Russell interpreta a Madre Superiora de uma escola católica apenas para garotas. O que ela não esperava eram as confusões que as jovens Mary Clancy, vivida por Hayley Mills, e Rachel Devery, papel de June Harding, aprontariam em sua amada escola. Misturando comédia com um pouco de ousadia - convidando a artista burlesca Gypsy Rose Lee para fazer uma ponta - o filme era baseado no livro 'A Vida com a Madre Superiora' de Jane Trahey. 

Ida, focada, ao dirigir o filme Anjos Rebeldes

Rosalind Russell e Ida se deram muito bem durante as filmagens, com Lupino mais uma vez impressionando com a sua dedicação e profissionalismo. A diretora, inclusive, fez amizade com as verdadeiras freiras da St. Mary's Home for Children, onde a obra foi gravada em Pensilvânia, nos EUA. Infelizmente, a 20th Century Fox deletou diversas cenas gravadas por Ida - que não tinha o controle criativo do longa. 

Anjos Rebeldes (The Trouble With Angels, 1966) foi lançado em 6 de abril de 1966 e recebido de forma bem morna pelo público e pela crítica. Na época, vale lembrar, havia uma overdose de longas sobre freiras, desde o sucesso de A Noviça Rebelde (Sound of Music, 1965), mas Ida conseguiu mesclar a comédia com a religiosidade de forma perfeita e traçou uma obra divertidíssima! 

Aos 48 anos de idade, mãe de uma garota de 14 anos e com um casamento atribulado com Howard Duff, Ida não tinha mais aquela audacidade dos primeiros filmes, preferindo mostrar sua maestria por trás das câmeras - o que também não deixava de ser corajoso. Ela preferia ficar mais perto de casa e após Anjos Rebeldes (The Trouble With Angels, 1966) voltou a se focar na televisão e na atuação. 

Menção honrosa: Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951)

Ida e Robert Ryan em Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951)

A menção honrosa de Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951) é por conta da suposta direção, mais uma vez, não creditada a Ida Lupino. Ela foi convidada pelo diretor Nicholas Ray para estrelar nesse filme noir, que com certeza serviu de base para O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953). 

Em Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951), Robert Ryan interpreta o policial Jim Wilson que é designado para investigar a morte de uma garota no interior. Ao chegar no local, ele acaba encantado por Mary, papel de Ida, uma jovem cega que o fascina. 

De acordo com o livro Ida Lupino as Film Director, 1949-1953: An Auteur Approach de Lucy Ann Liggett Stewart, o autor David Thomson reportou que Ida gravou algumas cenas do filme quando Nicholas Ray ficou doente, mas não existe outra matéria, biografia ou entrevista de Ida que confirme esse fato. Apesar disso, Cinzas que Queimam (On Dangerous Ground, 1951) é um grande filme e a performance da atriz é fantástica. 

Ida Lupino dirigindo o filme O Mundo é o Culpado (Outrage, 1950)

Ida Lupino era pioneira no sentido mais literal da palavra: a única diretora ativa em Hollywood após a II Guerra Mundial, ela não teve medo de expor problemas sociais, de fazer o que queria da forma como queria e cimentando, assim, seu nome na história.  



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