Mistérios de Hollywood

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Merle Oberon - a atriz que teve que esconder sua origem

Especialmente na antiga Hollywood era comum astros esconderem sua verdadeira origem para fazerem sucesso. Esse foi o caso com Dona Drake, atriz casada com William Travilla que era negra com pele mais clara e, por isso, fingia ser de origem mexicana para ter maiores oportunidades em Hollywood. 

Outros, apesar de não negarem sua origem, foram obrigados a fazer uma transformação total para se encaixar no status de beleza da época como Rita Hayworth e John Gavin. Por fim, ainda houve casos de astros que se recusaram a 'jogar o jogo' como o caso de Fredi Washington, uma mulher negra de pele mais clara, que estrelou o filme Imitação da Vida (1934). 

Merle Oberon, nascida Estelle Merle O'Brien Thompson, em 19 de fevereiro de 1911, faz parte do primeiro caso. A artista, que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por seu papel em O Anjo das Trevas (1936), escondeu durante toda sua vida o fato de ter origem indiana. 
Merle fez questão de esconder sua origem indiana

De acordo com a biografia 'Princess Merle: the romantic life of Merle Oberon', escrita por Charles Higham em 1983, a história de que a atriz teria nascido na Tasmânia, Austrália, em 12 de fevereiro de 1914, foi uma fabricação feita pelo produtor britânico Alexander Korda para esconder que ela havia, na verdade, nascido em Bombaim, na Índia. 

Para entender a vida de Merle, é necessário compreender a conjunção política da época na Índia. Os primeiros navios britânicos chegaram à Índia em 1612, fazendo a troca de produtos manufaturados por matérias-primas como seda, algodão e especiarias. Desde então, o império britânico passou a dominar, pouco a pouco, a região e a Índia passou a ser considerada a "joia mais cara da Coroa".

Focados em desenvolver o país, a colonização começou e britânicos passaram a morar na Índia. Para os europeus, os indianos e asiáticos eram "inferiores" e precisavam de ajuda serem civilizados. Assim, Merle assumir que tinha origem indiana seria acabar com sua carreira nos cinemas antes mesmo de começá-la. Vivien Leigh, por exemplo, nasceu na Índia, mas tinha como provar que ambos seus pais eram britânicos. 

Constance, mãe de Merle, a atriz ao centro, e a avó dela, Charlotte          Princess Merle

No livro de Charles Higham, ele consegue se conectar com Harry Shelby, primeiramente apresentado como primo de Merle. Nesta biografia, informa-se de que Charlotte - de origem Maori, povo nativo da Nova Zelândia, e Sri-Lanka - seria a mãe da artista, que nasceu fruto da união entre ela e o engenheiro mecânico Arthur Terrence O'Brien Thompson. A autobiografia informa que os dois eram um casal e estavam juntos quando Merle nasceu no Hospital St. George na Índia. 

Charles Higham ainda revelou que Arthur fazia avanços em Constance - da antiga união ilegítima de Charlotte com um plantador de chá irlandês, Henry Alfred Selby - e, por isso, Charlotte decidiu deixar a filha mais velha em Pune, uma cidade em Maharashtra, na Índia, no internato Taylor School, ao se mudar para Bombai em outubro de 1910. Merle nasceria meses depois. 

Arthur faleceu em 1914, ao servir pela Inglaterra na I Guerra Mundial, de pneumonia durante a Batalha de Somme. Pelo fato de Charlotte ser enfermeira, ela conseguiu trabalhos na área e continuou a manter sua família - até o retorno de Constance em 1916. Um ano depois, Constance conheceu Antoinette Soares, que a apresentou para o irmão, Alexander Soares. Ela se casou com ele em novembro de 1917 - na mesma época, Charlotte e Merle se mudaram para Calcutá, na Índia. 

Com Alexander, Constance teve os filhos Edna, Douglas, Harry e Stanislaus. 

Fotos de Merle na Índia durante seu tempo de escola                         Princess Merle

Vinte anos depois da publicação do livro, Maree Delofski lançou o documentário 'The Trouble With Merle (2002)', que mostra outra vertente do ocorrido. Desta vez, Harry Shelby exibe uma certidão de nascimento de Merle, no qual consta que ela seria filha de Constance e não de Charlotte. 

Aqui, há duas opções. A primeira: como o livro de Charles afirma que Arthur dava em cima de Constance, então com apenas 13 anos de idade, ele pode ser o pai biológico e, Charlotte, para evitar o escândalo, fingiu que Merle era sua filha - por ser enfermeira e ter conexões no St. George Hospital, essa farsa seria possível. Já a segunda é que Arthur assumiu a paternidade para ajudar Constance e não permitir que Merle fosse registrada sem o nome do pai. 

O documentário, inclusive, apresenta mais uma corrente sobre a origem de Merle. No caso, de que ela seria mesmo da Tasmânia, filha de Lottie Chintock, uma empregada de origem chinesa, que se envolveu com o chefe do hotel Weldborough, em Hobart, na Tasmânia, onde trabalhava, o J.W Thompson. Testemunhas afirmam que a jovem foi para a Índia ou após ser adotada por um militar ou após ser levada por uma família de sobrenome O'Brien sob a permissão de Lottie - essa versão, diferente da origem indiana, não tem comprovação alguma, apesar de uma das entrevistadas dizer ter como provar, porém nunca o faz durante o documentário. 

Merle em visita em Hobart, na Tasmânia, em 1978

Em entrevista para o jornal Okland Tribune, em 1935, Merle diz que ela nasceu em Hobart, na Tâsmania, quando seu pai e mãe visitavam a cunhada dela. O pai dela morreu três meses após seu nascimento e, assim, ela e a mãe continuaram a viver na Tâsmania até Merle completar sete anos de idade. 

Logo depois, a mãe de Oberon aceitou o convite de sua madrinha, Lady Monteith, para morarem com ela em Bombaim, na Índia. As duas ficaram ali por dois anos até morarem com o Capitão Bartley e sua esposa, tios da estrela, em Calcutá. Aos 17 anos, ela foi levada para os EUA pelo tio para uma longa viagem e nunca mais retornou. 

Oberon sempre manteve, em diversas entrevistas, que nasceu na Tasmânia, assim como Errol Flynn e, ao ser indagada, dizia que nunca lembrava com exatidão de sua vida na Austrália. Segundo a historiadora Halley Bond no podcast 'You Must Remember This, Passing for White: Merle Oberon', Merle, afetuosamente apelidada de Queenie, se focou em se 'passar como branca' na adolescência ao treinar seu sotaque britânico. Apesar disso, ela sofria racismo de suas colegas de escola por conta de sua verdadeira origem. 

Merle via o cinema como uma fuga de escape e começou a atuar na Amateur Dramatic Society, na Índia. Um então namorado dela a apresentou para o produtor Rex Ingram e, na França, ela atuou em alguns pequenos filmes até conseguir uma ponta no longa 'Os Amores de Henrique VIII' de Alexander Korda em 1933, como Ana Bolena. Ali, ela chamou atenção de Korda, seu futuro marido, que ajudaria a desenvolver sua carreira. 

Merle Oberon esteve apenas 15 minutos no filme

Para desenvolver sua imagem em Hollywood, Merle precisava mais do que apenas esconder sua origem - sua cor de pele precisava ser mais clara. Assim, ela começou a usar cremes clareadores, que continham a substância tóxica de mercúrio amonizado. Além disso, a maquiagem para sua pele ficar mais clara era usada constantemente. 

Merle Oberon era descrita pelos jornais como exótica, algo que era usado à favor dela. Uma coisa era ser exótica, outra coisa era ser indiana - isso limitaria seus papeis e a colocaria na obscuridade de Hollywood. Para compor ainda mais a farsa, Oberon pediu para pintar um quadro de Charlotte, sua avó, no qual ela era representada, erroneamente, como branca. Quando as duas viajavam juntas, Merle a apresentava como sua empregada e apenas falava hindi com ela. 


Em 1937, no auge de sua carreira após estrelar em 'O Morro dos Ventos Uivantes' e 'O Anjo das Trevas', ela sofreu um terrível acidente de carro. A artista ficou com uma cicatriz acima do olho esquerdo e outro na orelha. Além disso, o impacto de clarear sua pele com cremes tóxicos havia deixado o seu rosto com pontos corroídos e manchados. 

Lucien Ballard, diretor de cinematografia que conheceu a estrela no set de 'Ódio que Mata (1944)', foi responsável por criar uma luz especial, usando um lâmpada pequena, que diminuía a aparência de suas cicatrizes e deixava o tom de sua pele mais uniforme - a luz foi nomeada como 'Obie' em homenagem a atriz. 

Exemplo da 'Obie Light' em 'Ódio que Mata (1944)'

Merle se casou quatro vezes: com Korda até 1945, com Lucien até 1949 e depois com Bruno Pagliai, de 1957 a 1973, com quem adotou os filhos Francesca e Bruno Jr. Nessa época, segundo a historiadora Cassandra Pybus, da Tasmânia, no livro 'Till apples grow on an orange tree', a artista teria feito sua primeira visita no país nos anos 50 após a morte da suposta mãe, Lottie. Outros afirmam que teriam visto um carro preto entrando na casa de Lottie, que era de Oberon. 

Em 1965, durante a promoção de um filme, ela visitaria Hobart, a cidade no qual ela disse ter nascido. John Higham, jornalista do Sidney Morning Herald, demonstrou curiosidade tamanha sobre o nascimento de Merle que ela informou estar doente e voltou para sua mansão no México ao lado do marido, Bruno, e seus herdeiros. A mansão, inclusive, nomeada Ghalál, era completamente branca - talvez uma obsessão do próprio racismo estrutural de Oberon por associar branco com pureza? 
Merle fotografada em Ghálal em 1969, no México

Apenas em 1978, casada com seu último marido, Robert Wolders, que ela finalmente colocou os pés na cidade de Hobart, depois de sua presença no Sammy Awards em Sidney, na Austrália, em outubro daquele mesmo ano. Em entrevista para Charles Higham, o então marido dela diz que se arrependeu amargamente da ideia: 

Eu queria ver o lugar onde ela nasceu. Agora percebo como ela sofreu. Ela ficou cada vez mais nervosa e doente. Ela chorava muito devido a situação. Quando eu falei para irmos ao cemitério procurar a família dela, Merle se recusou. Ela estava tão triste - Robert Wolders. 

Merle e o marido Robert Wolders em 1978

Os dois ficaram no Wrest Point Hotel, em Hobart, e chegaram a viajar de carro para Port Arthur, ponto turístico. Na volta, ela apontou de modo vago para a Residência do Governador: "Foi lá onde dizem que eu nasci". Ainda de acordo com o livro 'In Tasmania: adventures at the end of the world' de Nicholas Shakespeare, ela permaneceu sem dar nenhuma entrevista - apenas abriu uma exceção sem falar sobre suas origens - e pediu privacidade.

Em 13 de outubro de 1978, em uma sexta-feira, ela julgou o Miss Tasmânia no Wrest Room Cabaret e deu o título para a meteorologista Sue Hickey. Três dias depois, ela esteve em uma recepção civil com o prefeito de Hobart e, antes de chegar na Prefeitura, teria confidenciado para Neil Coulson: "Eu acho que é uma má hora para revelar que não nasci na Tasmânia, nasci na Índia". 

Ao chegar na Prefeitura e assinar o livro de recepção dando seu endereço como "Tasmânia e Malibu", Merle desmaiou. Durante seu discurso na cerimônia, ao falar sobre sua infância, ela começou a chorar e saiu do local, conforme confidenciou seu então marido. 

Apesar disso, diversos moradores do local afirmaram lembrar, vividamente, de que ela era de Hobart, revelando dados e fatos supostamente pessoais dela. Em Wrest Point, no começo daquele mesmo ano, havia sido inaugurado o Merle Oberon Theatre - que depois foi renomeado. 

Merle ao lado de Greer Garson e Rosalind Russell em 1964.

Pouco depois de voltar para sua casa, em Malibu, Califórnia, nos EUA, ela teve um infarto do miocárdio. Em 23 de novembro de 1979, logo após a Ação de Graças, Merle faleceu após sofrer um AVC. 

Em seu último filme 'Interval (1973)', no qual ela produziu e estrelou, Merle conta a história de uma mulher que guarda um terrível segredo e foge para tentar se resguardar. Assim como ela fez durante quase toda a sua vida. No longa, ela se apaixonou por Wolders, com quem ficou até sua morte - ele também foi parceiro de Audrey Hepburn e da viúva de Henry Fonda, Shirlee May Adams. 

Durante sua carreira, Merle fez de tudo para esconder quem era e isso a destruiu por dentro. Seu então enteado, Michael Korda, queria divulgar mais sobre sua origem no livro 'Charmed Lives' antes dela falecer e Merle ameaçou processá-lo. Oberson sabia que, em Hollywood, manter sua imagem era tudo e, por isso, não permitiria que alguém acabasse com o que ela construiu. 

Como tudo teria sido se ela não tivesse sido obrigada a esconder quem verdadeiramente era? Essa é uma resposta que nunca teremos. 


Os Carnavais de Rock Hudson no Brasil

Rock Hudson foi um dos maiores galãs de Hollywood. Em filmes como 'Tudo que o Céu Permite (1955)', 'Volta Meu Amor (1961)' e 'Assim Caminha a Humanidade (1956)', ele solidificou sua persona de másculo e viril, com um coração de ouro. Alto, bonito e forte, ele tinha todas as qualidades que faziam mulheres no mundo todo suspirar! 

Assim, quando ele desembarcou no Rio de Janeiro, em 14 de fevereiro de 1958, no Aeroporto de Galeão, via Varig, o seu fiel fã-clube estava à sua espera. Por convite de Harry Stone, o embaixador oficial de Hollywood no Brasil, o ator veio celebrar a festança com outros astros como Marilyn Maxwell, Van Heflin (em sua terceira visita ao país), Charlie Vidor, Linda Christian - e quase contou com a presença de Linda Darnell que, por uma indisposição, ficou de fora. 

Rock Hudson e Ilka Soares - inseparáveis no Brasil            Revista Manchete

De acordo com o Jornal, Rock desceu do avião acompanhado de Charles Vidor e sua esposa, mas não deu atenção às centenas de fãs que o esperavam no terraço. Em conversa com a imprensa, ele revelou que cortou o cabelo curtinho ao saber sobre o calor no Rio e pontuou sobre o Carnaval: "Sempre ouvi falar muito bem do Carnaval do Rio de Janeiro e à convite de Harry resolvi conhecê-lo. Não me avisaram para trazer uma fantasia, mas vou ver se amanhã já tenho tempo de comprar uma. Ainda não tenho [fantasia], mas disposição para brincar já tenho". 

Logo depois de passar pela Alfândega, Rock - que estava encharcado de suor - e os outros astros ficaram hospedados no Hotel Glória e também no Copacabana Palace, onde o artista se alojou. À noite, naquele mesmo dia, todos se reuniram em um coquetel na casa de Harry Stone - e a artista Vanja Orico conseguiu ficar do ladinho de Rock - que na época estava se divorciando de Phyllis Gates e se recusava a falar de seu status de relacionamento. 

Rock no desembarque ao lado de Vidor e à esquerda com Vanja Orico

Segundo o Correio da Manhã, Hudson curtiu a tarde com um copo de uísque na mão e deu alguns autógrafos, apesar de ser à contragosto, mantendo contato com a imprensa. Naquela mesma noite, sexta-feira do dia 14 de fevereiro, ele e os amigos compareceram à um cocktail no golden room do Copacabana Palace. Ilka Soares, nesta ocasião, não saia de perto dele, desde que os dois se conheceram na casa de Stone - o começo de um romance publicitário. 

Rock e Ilka em seu primeiro encontro - na sequência Rock no aeroporto

A primeira noite de folia carnavalesca logo chegou: Hudson e todos os astros compareceram ao Baile de Máscaras oferecido pelo Hotel Glória. O 'Ball Masque' foi um sucesso e o artista primeiro retribuiu o carinho com autógrafos, sendo sempre pajeado por Ilka - 'fantasiada' como uma baiana legítima. Apesar de ter tentado se afastar um pouco, a revista Manchete revela que ele logo voltou para a mesa, divertindo-se e ganhando a faixa de 'Princesa do Carnaval'.

Rock de costas e com a faixa de 'Princesa do Carnaval'

Na época, havia rumores sobre a orientação sexual de Rock, mas nada jamais foi confirmado. Por que ele ganhou essa faixa? Muito provavelmente pelas próprias insinuações que corriam nos bastidores, tanto que a matéria de Cinelândia, refere-se à ele como "vedeta" do Carnaval. Sem saber de nada, Hudson levou a situação com muito bom humor. Outra teoria é de que, como pode-se ver abaixo, ele tirou foto com uma das princesas do Carnaval, Cely Rosa, e ela pode ter colocado nele como forma de descontrair o ambiente.

Contudo, ao ver a cobertura da imprensa sobre a vinda de Rock ao Brasil, não pode se negar que eles teriam colocado a faixa nele de forma zombeteira. 

Os fãs não o deixavam em paz nem por um minuto     Cinelândia

No domingo, dia 16 de fevereiro, a agenda de Hudson e seus amigos continuou cheia: de manhã, ele, Van Heflin, Marilyn e Vidor curtiram as águas de Guanabara. À tarde, eles visitaram o Social Ramos Clube, em uma promoção feita pelo jornal Última Hora, levando os astros a conhecerem, pela primeira vez um clube na Zona Norte da cidade. Além disso, a Escola de Samba Aprendizes de Lucas se apresentou no local. 

Charles Vidor, esposa, Marilyn e Rock no Social Clube Ramos              Cinelândia

Depois de lá, eles também viram os desfiles das escolas de Samba do Salgueiro e Braz de Pina, em um camarote em frente ao Teatro Municipal, na Avenida Rio Branco- acompanhados de Wilza Carla, a Rainha do Carnaval. 

Rock Hudson e Marilyn vendo o grande desfile das escolas            O Cruzeiro

Na segunda-feira, dia 16, a grande festa no Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro -a Revista da Semana, de forma cruel, aponta que Rock foi "especialmente convidado" para o Baile dos Travestis, que ocorria naquele mesmo dia, mas teve que recusar por conta de seus outros compromissos. 

No Baile Municipal, Rock contou com a presença de Ilka a cada segundo - que não o deixava em paz - e eles continuaram nesse clima de "vai não vai". Conhecidos como "Rock and Ilka", eles apenas falavam um com o outro em italiano, já que a artista brasileira não sabia falar bem inglês. Juntos no baile, ele afirmou que Soares era "a coisa mais bonita que já viu no Rio, inclusive do que o Carnaval que é uma maravilha". 

Ele tentou comprar uma fantasia ao lado de Ilka no começo daquele mesmo dia, mas não pode andar muito na rua devido ao assédio dos fãs. 

Rock se divertindo com Ilka e Marilyn

Também para o Mundo Ilustrado, Ilka foi indagada se gostava mais de Rock ou da festa, pontuando: "Os dois são igualmente belos e inesquecíveis e não me atrevo a fazer uma escolha". O romance publicitário foi arranjado por Harry Stone e Ilka teve um bom motivo para aceitar: Charles Vidor, que dirigiu Rock em 'Adeus às Armas', lhe prometeu um papel à la Gilda nos EUA - que nunca saiu do papel. 

Rock e Ilza em seu primeiro encontro                                     Cinelândia

Seja como for, Rock seguiu a se divertir no Rio de Janeiro. Depois de três dias seguidos na folia com Ilka, ele foi visto pela revista O Cruzeiro curtindo a praia com outra mulher misteriosa, afirmando-se assim que o "romance" com Ilka havia acabado. Ele curtiu a praia da Barra da Tijuca e a reportagem apontava que esse encontro seria uma espécie de 'consolo' - na verdade, Rock estava com a secretária e, segundo Ilka, foi a própria que disse que combinaria o encontro deles no local, mas a deixou sem saber de nada. 

Nas revistas, foi plantada a notícia de que Ilka teria dado o 'migué' em Rock - possivelmente uma estratégia para a imprensa não alimentar, ainda mais, os rumores de um romance entre ambos. 

Rock aproveitando a praia no Rio                                      O Cruzeiro

Na terça-feira de Carnaval, o dia 17, mais uma celebração: desta vez no Jockey Club, no qual ele se divertiu acompanhado de Marilyn, uma fiel amiga. Rock, infelizmente, foi taxado de antipático pela imprensa - e bastante criticado pelos repórteres. 

Rock novamente com Marilyn no Jockey Club

Depois da folia do Carnaval, Rock chamou a imprensa para seu quarto de Hotel no Copacabana Palace, na quarta-feira de cinzas, dia 19, para falar sobre seu novo filme 'Adeus às Armas'. Bem relaxado e com uma camiseta listrada, ele falou sobre sua diversão no Carnaval:
Pelo que se vê nas fotos eu devo ter me sentido muito bem. Foi sim, uma coisa extraordinária. Se puder voltar no futuro, voltarei sempre que der - em entrevista para o Correio da Manhã. 

Na sequência, ergueu os braços ao ser indagado sobre a mulher brasileira, frisando: "Simplesmente estupenda". Já falando com o jornal Última Hora, ele admitiu que se divertiu muito durante o baile do Hotel Glória. Na quinta-feira, 20, ele esteve presente no espetáculo 'Mister Samba' com amigos e, é claro, o bon-vivant Jorge Guinle. 

Rock em entrevista com a imprensa           Jornal O Globo

No dia 21, ele conheceu o então presidente Juscelino Kubitscheck, acompanhado de Marilyn e Van no Palácio do Catete. Em 22 de fevereiro de 1958, Rock foi embora de vez do Brasil e recebeu um beijo de despedida de Ilka. Para o Jornal do Brasil, ao ser indagada, por que a amizade com Rock não virou romance, ela deu a entender: "Porque ele...bem, por várias razões". 

Em entrevistas posteriores, Ilka diz que nunca desconfiou dele ser homossexual por ser bastante contido, pontuando para a Coleção Aplauso Oficial: "Eu não estava fazendo nada então não vi problema algum. Depois que ele foi embora, me mandou um telegrama agradecendo a companhia adorável"

O fim de Ilka e Rock                                       Jornal do Brasil

Para o Correio da Manhã, ao embarcar no Aeroporto de Galeão para voltar aos Estados Unidos às 18h30, ele prometeu que voltaria ao Brasil, até para filmar algo inclusive: "Com toda certeza, se houver oportunidade. (...) Levarei, no mínimo, três semanas para relembrar essa semana no Rio, com todas as emoções. Depois disso poderei destacar algo. No momento tudo se aglomera como se fosse um sonho maravilhoso". 

Acima, Rock com Vanja e na plateia do Mister Samba. Abaixo com Ilka e o Presidente

1973

Prometendo e cumprindo, Rock voltou ao Brasil em 1973. Na época, ele já não era mais o grande galã de Hollywood, mas seguia com a fama e o talento intactos. Ele estava em Buenos Aires e decidiu aterrissar, novamente, no Rio de Janeiro em 3 de março daquele ano, após pedido de Harry Stone - ele estava acompanhado de seu assessor, Tom Clark, e, no mesmo dia, chegaram Roman Polanski e o ator Jack Nicholson. 

Rock Hudson celebrando novamente o Carnaval no Rio                 Manchete

Divulgando seu mais recente filme 'Inimigos à Força', ele desembarcou no Aeroporto do Galeão às 19h50 e, falando com a imprensa, disse que não tinha uma agenda fixa, mas que estava feliz de estar de volta, via Jornal do Brasil: "Vim pela primeira vez ao Rio em 1957 [na verdade 58], ou seja, há 16 anos, e gostei muito dos desfiles das escolas de samba"

No dia 5 de março, ele foi um dos jurados no baile do Hotel Glória, mesmo local onde ele se divertiu imensamente em 1958, para eleger as melhores fantasias no Rio Carnaval Show. Lá, o artista protagonizou um grande momento com Beki Klabin, que foi até o local exibir sua fantasia ao desfilar pela Portela.

Rock se levantou, a beijou, e também arriscou alguns passos no samba. 

Rock Hudson e Beki - uma grande dupla 

Na segunda-feira (5), ele participou, ali no solo mesmo, com as pessoas comuns, do desfile das Escolas de Samba na Presidente Vargas. Em certo momento, Rock se juntou à uma roda e começou a dançar com as outras pessoas, livremente e feliz - vestindo apenas uma regata preta e uma calça. 

Por conta disso, sua vida pública foi chamada de "devassa" pelo O Cruzeiro

Rock anunciou que faria uma coletiva de imprensa para o filme no Copa Leme Hotel, no Rio de Janeiro, mas não há registros dessa entrevista. Ele também aproveitou o baile do Copacabana Hotel, mas sem fantasias ou com fotos tão alegres e descontraídas quanto o que vemos no desfile das escolas de samba. 

Rock estava eufórico e bastante feliz 

O artista, inclusive, também participou do Carnaval do Copacabana, mas estava muito mais comportado aquela noite. Ele ficou hospedado no Leme Palace Hotel e em sua autobiografia, o 'His Story', escrito com Sara Davidson, ele se lembrou do Rio em suas duas estadias com muito carinho - tanto que planejava voltar em 1974 e até pediu ajuda para criar uma linda fantasia, algo que não se concretizou. 
Nós ficamos no meio de rodas de samba e as pessoas nos passavam garrafas de bebida e nós tomávamos.  - revelou Tom Clark, seu amigo de longa data e que o acompanhou na folia. 

Rock no Copacabana Palace 

Logo após o Carnaval, Rock e Tom deixaram o Brasil, em uma cobertura bem menos extensa por conta da fama do artista, que já estava em declínio. Infelizmente, o grande astro faleceu em 2 de outubro de 1985, vítima das complicações da AIDS. 

Apesar disso, Rock Hudson sempre se divertiu em suas vindas ao Brasil, esbanjando graça em meio as reportagens preconceituosas - e isso, assim como sua existência, sempre será um grande símbolo de resistência. 

Mamonas Assassinas e os filmes que não saíram do papel

Mamonas Assassinas, uma das maiores bandas do Brasil, ganhou finalmente a cinebiografia que merecia, que estreou em 28 de dezembro de 2023 nos cinemas brasileiros. O grupo formado por Dinho, Bento, Júlio, Sérgio e Samuel, era originalmente do rock, mas encontrou no humor escrachado o verdadeiro caminho do sucesso nacional. 

Engana-se, no entanto, quem pensa que este filme, dirigido por Edson Spinello, foi o primeiro esforço para colocar a história desses rapazes de Guarulhos, em São Paulo, nas telonas. Em novembro de 1996, após a morte trágica dos integrantes da banda, em um terrível acidente de avião em 2 de março, o cineasta Lui Farias anunciou a produção de um filme sobre os Mamonas com orçamento de R$5 milhões. 

Lui, filho do também cineasta Roberto Farias, conheceu o jovem técnico da banda, o Ralado, nome artístico de André Oliveira de Brito, em um hotel no Rio de Janeiro em 1995. Ali, ele ficou interessado em criar um filme sobre os Mamonas e os procurou por telefone - o grupo apoiou o projeto e tinha combinado de encontrá-lo antes da turnê em Portugal, mas o acidente de avião ocorreu antes. 

Mamonas são ainda um grande fenômeno da web

Além de conseguir os direitos para o longa, Lui também conquistou a permissão de produzir uma série de desenhos animados sobre os Mamonas para a TV, que nunca saiu do papel. O filme seria lançado em 1998, com roteiro de Farias, Melanie Dantas e o escritor Eduardo Peninha Bueno, responsável pela biografia oficial dos Mamonas, o 'Mamonas Assassinas: Blá, Blá, Blá - A Biografia Autorizada'. O longa se chamaria 'Mamonas - O Muve'.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Lui diz que chegou a falar com os Mamonas sobre o filme antes da morte deles e Dinho tinha uma visão clara de como queria ser representado: "O Dinho sugeriu fazer alguma coisa seguindo aquelas séries japonesas. Ele se imaginava encarnando uma espécie de Jaspion".  Pelo contrato, 50% do faturamento do filme seria rachado pela empresa Palco 1 e o próprio Farias, enquanto os outros seriam divididos entre os empresários e familiares dos músicos. 

Não se sabe por que o filme não foi pra frente. Na ocasião, pediam que o ator Marcelo Farias interpretasse o Dinho no longa. Procurado pela Caixa de Sucessos, Lui Farias ainda não explicou porque o filme não saiu do papel e assim que tivermos uma resposta, atualizaremos a postagem. Pelo que se especula, no entanto, a falta de patrocínio foi a grande vilã. 


Anos se passaram sem qualquer atualização sobre um filme. Em 2001, lançou-se o documentário 'Mamonas Assassinas - Indomáveis e Inesquecíveis', um especial em conjunto com a Record e que foi narrado por Adriane Galisteu. Além disso, um álbum ao vivo com músicas inéditas do tempo de Utopia, antes deles virarem Mamonas Assassinas. 

Em 2005, no entanto, o projeto de lançar um longa sobre os Mamonas surgiu de novo! No caso, o produtor Cláudio Khans, da Tatu Filmes, começou a desenvolver um documentário sobre a banda, entrevistando familiares e amigos, que saiu sob a alcunha de 'Mamonas Pra Sempre' em 2009. Nesse ínterim, a produtora também desenvolvia um filme sobre os Mamonas, que seria dirigido por Maurício Eça. O título? 'Mamonas Assassinas - o Filme'

O vocalista William Santana, da band cover dos Mamonas e do grupo Elos Perdidos, foi cotado para interpretar Dinho no longa, conforme admitiu o baixista Rodrigo Reis para o 'Jornal do Brasil' em 2006: "A gente não sabe se o William será selecionado. Porém, aproveitando a boa sorte, estamos preparando um repertório de inéditas para o ano que vem, ou seja, músicas próprias seguindo o estilo dos Mamonas". 

William quase foi cotado para viver Dinho no filme dos Mamonas

O longa, orçado em R$6 milhões, foi adiado por falta de patrocínio, conforme o próprio Claudio afirmou em entrevista: "Nós estamos na fase de captação de recursos e elaboração do roteiro. Quanto ao elenco, ainda vamos definir os atores que integrarão o elenco do longa. Queremos começar a filmar no final do ano para estrear no meio do ano que vem. A história começa antes da banda Utopia, que depois originou os Mamonas, para assim contar um pouco da vida de cada um, antes do sucesso todo que eles fizeram". 

Em 2008, a Record resolveu encarar o desafio de fazer um filme sobre os Mamonas. Cinco anos depois, foi anunciado um filme da banda estrelado por Rodrigo Faro, grande estrela da emissora, porém logo se falou em uma minissérie dirigida por Leonardo Miranda, em 2016, com apoio de dois canais pagos, sendo um deles a Fox. 

Para a revista Rolling Stone, quando ainda era cotado para o longa, Rodrigo Faro admitiu que era uma honra ser considerado para esse papel: "Quando eu era mais novo, brincavam e diziam que eu parecia um pouco com o Dinho. A história do grupo depois que eles fizeram sucesso eu sei, gostava muito deles". A ideia era lançar o filme, que depois se tornou minissérie, na data de 20 anos do falecimento dos integrantes, mas sem patrocínio adequado, a ideia não deu certo.  

Rodrigo Faro imitou Dinho em manifestação

Em 2016, no entanto, estreou nos palcos o musical 'Mamonas para Sempre', com Ruy Brissac como Dinho - e que reprisou o papel no filme de 2023. Nesse ínterim, novos fôlegos surgiram no projeto com nomes como MC Gui, Gretchen e até Yudi Tamashiro para participarem da minissérie sobre os Mamonas, então com roteiro de Carlos Lombardi.

Em entrevista para a revista Caras, em 2016, Jorge Santana, primo de Dinho, diz que a minissérie não rolou por não corresponder à realidade do grupo: "A gente não concordou porque a proposta é fazer algo bem light e estava surreal, com coisas que não aconteceram. Ele é muito bom em ficção, mas viajou muito na história. Podemos dizer que estava 15% de verdade e 85% ficção". Os familiares, de acordo com Flávio Ricco, não gostaram de adições na história sobre Dinho ter sido stripper e um suposto roubo da banda em um posto de gasolina para gravar um CD. Os diretores Marcelo Silva e Hiran Silveira saíram da linha de frente e a obra permaneceu em inércia. 

Por conta de mudanças internas na Ancine (Agência Nacional de Cinema), a produtora Total Filmes, que tinha a autorização para fazer a minissérie e o filme, ficou em um impasse. Assim, em 2019, iniciou-se o novo projeto dos Mamonas, com a escalação de Ruy, Andrey Lopes, como o tecladista Júlio Rasec, Júlio Oliveira, como Sérgio Reoli e Alberto Hinoto - sobrinho de Bento como o jovem. Jorge Santana, primo de Dinho, foi atrás de boa parte dos recursos - inclusive pela lei Rouanet que autorizou R$6 milhões de recurso em 2019 - e conseguiu o apoio da prefeitura de Guarulhos em 2017. 

O então prefeito Guti escreveu uma carta autorizando que boa parte das gravações fosse feita em Guarulhos - em longa produzido pela Globo Filmes e pela Europa Filmes. A famosa Brasília Amarela foi restaurada, inclusive, por Jorge, que admitiu em entrevista ao Extra em 2021: "A gente pegou e remontou. Ao todo, 75% do carro foi preservado. Quando recuperamos a Brasília e trouxemos, remontamos com peças de uma outra Brasília que já existia aqui em São Paulo. Tomamos o cuidado de deixá-la o mais original possível.". A Minds Idioma também se tornou uma das patrocinadoras da nova empreitada. 

Prefeito Guti, Hidelbrando Alves, pai de Dinho, e Paula Rasec     Foto: Sidnei Barros

Corta para 2022, desta vez com o orçamento adequado e distribuído para a Ancine: o filme, com o roteiro adaptado de Carlos Lombardi que, originalmente seria uma minissérie, está em pré-produção pela Total Filmes. Ruy Brissac interpreta Dinho, Beto é Bento Hinoto e Rhener Freitas estreia como Sérgio, Adriane Tunes como Samuel e Robson Lima como Júlio. 

Além deles, temos a Tik Toker Fernanda Schneider como a namorada de Dinho, a Valeria, além de Nadine Gerloff, prima de Luísa Sonza. Após o sucesso de 'Mamonas Assassinas - o Filme', este lançado em 2023, a Record transformará o longa em minissérie, adicionando mais cenas que foram descartadas, em uma parceria da Sonny com a Total Filmes - e que deve ser lançada ainda em 2024. 

'Mamonas Assassinas - o Filme' atraiu, desde sua estreia em 28 de dezembro de 2023, mais de 500 mil telespectadores por enquanto. Com críticas mistas, o importante é que a memória da banda foi preservada e que teremos muito mais Mamonas pela frente - é como dizem: 'money que é good nois num have', mas Mamonas Assassinas teremos para sempre! 

 



Um papo com Agles Steib

 O home office me tornou uma noveleira de carteirinha! A última novela que havia assistido foi em 2007, quando odiei o final de  'Pé na Jaca', da TV Globo, e prometi que nunca mais veria outro folhetim. Chega 2020 e, com ela, a pandemia da Covid-19. Trabalhando de casa, me rendi ao canal Viva e todas as suas séries e novelas. 

Em 2023, ainda no esquema home office, peguei a reprise de 'Senhora do Destino' e comecei a seguir Agles Steib no Instagram. Assim, surgiu a oportunidade de conversar com ele, que interpretou Maikel Jackson das Neves, filho de Rita de Cássia - grande papel de Adriane Lessa - na novela. Aos 40 anos de idade, nascido em 9 de agosto de 1983, o ator está cada vez mais focado em voltar com tudo para as telinhas, buscando papeis desafiadores. 

Conversamos por vídeo e pude perceber como ele estava feliz de falar sobre seus projetos. Morando atualmente no Rio de Janeiro, onde nasceu, Agles vive uma renascença em sua carreira. Participando da série 'Use Sua Voz', da HBO Max como advogado, ele compartilha alguns vídeos de bastidores em seu Instagram, extremamente orgulhoso e aproveitando para divulgar todo o seu talento. 

Agles Steib                                                 Reprodução/Arquivo Pessoal

Agles Steib é seu nome artístico - o sobrenome é em homenagem à um de seus padrastos, que o ajudou financeiramente: "Ele ajudou a minha mãe quando eu era pequeno. Morei na Suíça aos 12 anos de idade, então ele foi um camarada que ajudou muito a minha família e sou muito grato. Por isso coloquei em homenagem a ele". O nome verdadeiro de Agles, uma junção do nome do pai dele e da mãe, é Agles Barbosa Barros. 

A carreira do artista começou, inclusive, através da mãe, Leonete Carol, que trabalhava como maquiadora na extinta TV Manchete. O pai dele era da área militar. Depois, Leonete migrou como freelancer para a TV Globo: "Ela me incentivou desde pequeno, eu a acompanhava nas festas artísticas e isso foi me inspirando. Eu resolvi estudar, meter a cara nos estudos e hoje em dia, graças a Deus, sou essa pessoa guerreira e trabalhadora. Que valoriza a carreira e desde pequeno eu me inspiro em artistas como Charlie Chaplin, Grande Otelo, Oscarito". Agles é tão fã de Chaplin que, em 2004, escreveu um curta metragem chamado 'Chaplin Brasileiro', que contou com a presença de Stepan Nercessian e o filho, Pedro. 

A carreira de Agles iniciou-se como comediante, disputando alguns festivais e investindo em um tipo de humor "mais escrachado e corporal". O ator, atualmente, visa a direção, para produzir as próprias ideias e seus trabalhos: "Ganhei o prêmio de Melhor Direção, fui premiado com Raticidas, eu satirizei com mensagem de paz, mas era uma comédia. Tive o Ireneu de 'Sai da Porta Deolinda'. Eu vim do mundo clown, dos espetáculos". 

Agles em 'Sai da Porta Deolinda' 

Além de atuar nas quatro esferas da atuação: cinema, teatro, televisão e publicidade, Agles também se aventurou na dublagem e pensa em voltar para essa área no futuro. "Tenho vontade de fazer dublagem, adoro um desenho animado, acho que futuramente...a dublagem é difícil porque exige que o ator leia muito, tem que ler, com o tempo, seguir tudo certinho. Tem a coisa da expressão labial, mas eu almejo sim, tudo que leva a arte, a interpretação eu quero fazer". 

Em 2017, Agles criou a 'Steib Produções', na qual produziu diversos tipos de filmes, curtas e esquetes, porém ele enfrentou problemas com a chegada da pandemia da Covid-19: "Eu tive uma queda na pandemia com a produtora. Fiquei ruim financeiramente, fiquei sem trabalho, sem dinheiro, mas graças a Deus hoje tem dois meses que eu atualizei, estamos voltando. Vamos voltar a fazer curta metragens. Deus me devolveu a produtora e estamos planejando novos caminhos". O artista aproveitou para me contar sobre o seu futuro filme 'Magarça', que fala sobre os centros de recuperação no Rio de Janeiro. 

"É um documentário, estou roteirizando ainda. Ganhamos prêmio de Melhor Roteiro e Melhor Ator com um média metragem chamado 'Cidade Refúgio', um filme que eu tenho diversas parcerias. Magarça é uma continuação, mostrando a obra dos missionários que combatem a marginalidade espiritualmente, sem violência", afirmou Agles - que se preocupa com o viés social em todos os seus projetos: "Eu vou legendar, vai para festivais". 


Cristão, Agles também faz esquetes voltadas para esse público, porém acredita que a arte deve ser universal: "Arte é arte, não misturo a religião com a minha obra. (...) Eu acho que sou um camarada que o ser humano não tem o poder de querer consertar as pessoas, só Deus conserta as feridas da alma. Acho que a violência deve ser combatida com amor, não violência com violência". 

Confortável em nosso bate-papo, aproveitei para perguntar sobre a passagem dele pela Bolívia. Em 2021, ele foi para lá e ficou quase um ano, em busca de novas oportunidades: "Acabei indo pra lá, tentei algumas coisas, fiz testes de produção e trabalhei com restaurante, a grande verdade é que fui tentar algo fora. Eu tinha alguns familiares perto do Acre e fui pra lá, queria conhecer Peru, fiquei por um ano, mas não deu nada certo. Nada como eu esperava. Para viajar você precisa ir calçado, não é chegar só". 

Pergunto se ele conseguiu algum teste e ele confirma que sim, mas nada que vingou. Em entrevista para a revista Quem, no ano passado, Agles dividiu momentos tensos que passou no país: "Fui comprar um refrigerante para o Ano Novo e já tinha passado da hora que o comércio fecha por lá. O taxista viu que eu não falava muito bem espanhol e me indicou um mercadinho, falou: 'ali vende tudo'. Chegando lá, tinham mais de 20 pessoas que começaram a passar a mão em mim, e era um assalto. Levaram meu celular, minha carteira, tudo. Lá é um país perigoso, sem falar que ainda tem desaparecimento de pessoas para o tráfico de órgãos". O dinheiro que ele conseguia lá mal dava para sustentar as filhas dele Mariana, de 17 anos, e Maria Luiza de 6. 

Em 2022, ele tentou voltar para a Bolívia novamente e ficou cinco dias incomunicável - o que gerou diversas manchetes no Brasil. O ator voltou são e salvo para casa e tirou, dessa experiência, ainda mais fôlego para continuar com sua arte no nosso país. 
  
Mas estamos nos adiantando, afinal o começo da carreira de Agles é essencial. Ele participou de 'Linha Direta' e essas esquetes foram os primeiros papeis dele na TV Globo. O artista é bastante grato a produtora Malu Fontenelle, que ainda o chama para diversos trabalhos: "Era a escola de atores da TV Globo. A emissora tinha a Oficina da Globo, de atores que iria lançar. Mas só tinha os camaradas de olhos azuis e nunca fiz parte disso. Então eu fazia coisas mais no estilo Linha Direta, eu fiz 20, e foi ali que comecei a exercer e me deu segurança. O Fred Mayrink foi um cara que me ajudou muito, aprendi e futuramente fiquei mais bonitinho e a Globo me colocou para fazer um galã negro em Tecendo o Saber e como Maikel na 'Senhora do Destino'". 

Agles foi bastante solícito em nosso bate-papo            Reprodução/Arquivo Pessoal

Agles participou três vezes de 'Malhação' - em 1995, 2007 e 2011 - e a primeira vez esteve presente como elenco de apoio, depois como personagem e em 2011, como um traficante de drogas. Atenta, volto à conversa sobre galãs e pergunto sobre o preconceito inerente na TV, no qual protagonistas negros são escassos, algo que Steib confirma: "Depois que fiz Maikel Jackson e me deram uma namorada, que era a Bianca Comparato, a Globo me colocou como galã no 'Tecendo o Saber', no canal Futura, fiz par com a Aline Aguiar. Mas depois que cresci na academia, eles me deram perfis mais casca grossa, rústica e comecei a fazer personagens mais macabros". 

"O negro, em si, na teledramaturgia, não foge dos biótipos dos personagens. Um parâmetro que segue a sociedade porque a sociedade é tão preconceituosa quanto isso. A teledramaturgia ainda não alcançou o universo igual dos Estados Unidos, que tem seriados negros. Ainda está fraco, tem poucos personagens para negros", continua Agles, deixando sempre claro o quanto é grato pelo seu tempo na TV Globo: "Fui muito bem aproveitado lá".


Para Agles, a separação racial é real e existe, mas isso não deveria ocorrer em um mundo ideal, em especial por ele ser cristão. Indago se ele sempre foi religioso ou se teve um 'estalo' em sua vida, ao que ele abre o coração: teve uma depressão ao se ver envolvido no sucesso artístico. 

"Eu relato até no meu documentário sobre a minha vida, eu acho que o ator, essa profissão é glamourosa e delicada também, porque envolve o psique, a alma e não é uma profissão normal. Não é só isso, a arte de atuar vai muito além, você vive outra pessoa. Eu falo para aqueles que vivem mesmo o personagem e não aqueles que usufruem como uma diversão", admite Agles, que é à favor de apoio psicológico para atores: "Os atores novos se não tiverem essa preparação, não vão entender essa metamorfose, esses altos e baixos. É uma profissão disputada e confesso que hoje sou um campeão, então quando ele perde não aceita aquilo. Fiquei muito doente e me encontrei na religião, Jesus Cristo me deu uma vontade de crescer". 

Após 'Senhora do Destino', ele entrou em uma depressão e encontrou vontade de viver graças à encontrar Jesus em sua vida. "É uma profissão delicada e que exige terapia, o que exige o sucesso e como ficar ali. Nem todo mundo fica no sucesso por muito tempo, vai e volta e o artista precisa de alguém para direcionar isso. E isso não existe na nossa carreira", volta a frisar Agles, pedindo que a obrigatoriedade de psicólogos para atores fosse destaque em nossa matéria: "Deveria ter no contrato, no de cantor e o jogador de futebol também". 

Agles em 'Senhora do Destino'

A conversa com Agles, é óbvio, logo volta para 'Senhora do Destino' e seu personagem Mikael Jackson, filho de Rita, papel de Adriana Lessa, e irmão de Lady Daiane, vivida por Jéssica Sodré. Fico curiosa e indago se, na época do sucesso da novela, um psicólogo teria o ajudado. Ele me responde sem dúvidas: "Mas na época eu fui impulsionado, fui no fervor e no calor do sucesso e não me tencionei. Mas hoje eu tencionei e tenho diversos amigos, o Wilson do Cine Chance que está me levando para o meio artístico de novo. Eu sinto, hoje, essa necessidade. Posso entrar e sair tranquilo, mas antigamente por viver diversos personagens, na minha fraqueza, aquilo vem naturalmente e não entendia. O ator às vezes começa a pirar". 

Entusiasmado com o personagem Maikel Jackson, por ser fã do músico, Agles estava focado, de todo o jeito, para que o papel fosse seu: "Eu sempre fui apaixonado e quando a produtora de elenco Elaine Macedo me chamou pro teste de elenco, eu queria muito fazer. O Mikael Jackson teve um grande sucesso e a Susana Vieira me ajudou muito. Tanto que o próprio Michael acabou me conhecendo. Foi uma homenagem". Ele disputou o papel com mais de 2 mil atores negros e, na primeira vez, errou por conta do nervosismo. No segundo teste, com a ajuda de uma coach, ele foi muito bem e ficou na final, fazendo o teste de família. 
"Todos estavam com cabelo raspado e eu estava com cabelão, estilo americano. No Projac, queria falar com o Wolf Maya, eu queria até dormir lá. Quando cheguei, eles me diziam que ele não iria falar comigo, mas o encontrei sozinho no corredor e ele falou que eu estava muito 'branco' para o personagem e eu tomei um sol e voltei no Projac, sem conseguir encontrá-lo. Lá, eu vi um rapaz negro e ele me disse que fez o teste do Mikael Jackson e encontrei uma fila imensa. Fiz meu quarto teste, estava no final da fila e foi o último a fazer. Falei com a Elaine e fiz a audição, pedi uma força para Deus e não errei nada. Chegando no final, ela me disse: 'Quem sabe os últimos não serão os primeiros?'. Foi um grande presente de Deus, mudou a minha vida".  - afirma Agles sobre Senhora do Destino. 
Agles ao lado de Adriane Lessa e Jéssica Sodré                            Reprodução

Aos 20 anos de idade quando 'Senhora do Destino' estrelou, Agles jurava que estava fazendo o maior sucesso e, para testar sua popularidade, foi na balada: "Botei a bandana, que foi algo que eu coloquei pro personagem e quando eu cheguei, ninguém me reconheceu. Passava uma semana e nada. Uma vez eu tinha uma assessora que me falou de um desfile em Caxias e pediram pra mim e Jéssica ir lá. Fui desanimado, mas quando desci do carro, o pessoal da escola começou a gritar 'Agles'. O segurança teve que nos colocar em uma salinha porque era muita gente. Eu vi ali o poder da teledramaturgia e isso me deu uma base, isso foi algo fabuloso, em especial por ser parte da segunda família negra da novela no Brasil". Todos os atores mantém uma boa relação e percebi, em nossa conversa, o quanto Agles se sentia orgulhoso desse personagem tão querido. 

A maior paixão do artista é a atuação e, é exatamente por isso, que ele valoriza todos os tipos de trabalhos. Ele, inclusive, participou do longa-metragem polêmico, 'Turistas' de 2006, dirigido por John Stockwell. O filme trata sobre um esquema que ocorre no Brasil, no qual gringos são sequestrados e seus órgãos roubados. Na ocasião da estreia, diversos atores brasileiros se arrependeram de participar. Marcos Rangel, um dos atores, chegou a descrever a experiência como "desespero".

Esse não foi o caso de Steib, que interpretou Kiko ao lado de atores como Josh Duhamel e Olivia Wilde, que explica: "Foi uma oportunidade fabulosa. Um trabalho foi chamando o outro e acredito na lei da atração. Alguns americanos vieram aqui fazer um teste e existia um brasileiro, Raul Guterres, foi uma ligação do cinema internacional e nacional. Foi através dele que vieram os Mercenários, Velozes e Furiosos e alguns disseram que o filme seria algo ruim para o Brasil. E não foi isso, o diretor até ficou chateado que eu não me manifestei à favor, mas a produtora Europa Filmes não deixou por causa desses atores porque criaria um movimento e o filme não passaria aqui". 

Agles e Melissa George no filme 'Os Turistas'                         Reprodução

"Com os Turistas, eles vieram e fizeram o teste. Milhares de atores, eu fiquei na final com Jonathan Haagensen, de Cidade de Deus. Foi um filme muito disputado e me dei bem porque estudei em uma escola americana aqui no Rio e gostaram do meu sotaque. O diretor se amarrou na minha e me chamou, o que foi um grande presente. Essa coisa da lei da atração acredito, isso é bíblico, eu atrai e consegui fazer um filme americano", contou ele, falando também de sua experiência ao atuar em outro filme americano, o Lilyhammer 3: "Foi uma maravilha, mas eu já tinha sido convidado. Foi agora, depois de mais velho". 

Pergunto sobre a experiência de participar dos 'Turistas' e Agles se anima ainda mais ao falar sobre esse momento em sua vida: "Eu viajei para Bahia, São Paulo, e o plano da minha carreira era sair do Brasil. O Raul Guterres, que lançou Rodrigo Santoro, também iria me levar pra esse lado, mas acabei não indo. Por causa da questão do Brasil, eu não pensei alto e se eu pensasse como hoje, teria feito. Talvez não era pra mim", admitiu ele, que diz já ter conhecido Rodrigo Santoro - e até atuou com ele: "O Rodrigo é muto legal, muito humilde e aprendi muito com ele. Ele tem uma carreira centrada e teve esse acompanhamento. A carreira internacional, ainda não chegamos nesse patamar. Os atores de fora ganham mais e têm um acompanhamento esplêndido, certinha". 

Apesar de tantas experiências incríveis, Agles diz que, de todos os papeis que interpretou, Mikael Jackson está em seu coração: "A lei da atração...eu escutava música do Michael Jackson desde pequeno, essas coisas clássicas. Foi algo muito bacana e tinha fãs que me chamavam de Mikael". Pai, ele admite que as filhas não querem atuar e a mais velha pensa em ser médica - porém ele frisa que não as impediria de serem artistas se, um dia, quisessem. 

Agles com a mãe e a filha mais velha             Reprodução

Papo vai, papo vem, falamos sobre oportunidades na carreira e eu faço a pergunta do momento: ele prefere o novo tipo de contrato por obra da TV Globo? Agles, que saiu da emissora em 2009, garante: "Prefiro por obra porque, o meio de comunicação está tão grande, existem outros canais. Com a vinda da Netflix, de outros canais, acho legal a oportunidade para outros atores. A Globo é uma grande emissora, mas tem novas oportunidades"

Agles não está parado e já está com outros papeis engatilhados - mas pede que não sejam divulgados por enquanto. O que ele me permitiu revelar, eu descrevo a seguir: em janeiro de 2024, em data a definir, ele lançará seu primeiro livro, intitulado 'Provérbios Contemporâneos dos Sábios' com mais de 700 frases de autoria própria: "Estamos preparando a capa, falta pouco, corrigindo algumas coisas. Eu fiz uma frase que o 'sucesso é como fogos de artifício, você acende e ele estoura'". Formado em cinema pela Estácio, Agles conseguiu diversos contatos na faculdade e mantém as conexões antigas e novas, em especial na Globo que ele considera "família". 

Durante a pandemia da Covid-19, Steib trabalhou em diversas áreas e sem qualquer vergonha de admitir: em restaurantes, como vendedor de shopping - onde era reconhecido por clientes - e entregando folhetos: "No shopping era direto, no Natal, pedi para trabalhar na loja de um amigo e eles ficavam se perguntando. As pessoas julgam, mas essa profissão não dá muito dinheiro. O pessoal pensa que somos como jogadores de futebol, dá algo bacana, mas hoje eu vivo dos patrocínios. Tenho o patrocínio da academia(chamada Ellite Fitness), de uma loja de roupas, a Tiuidi, faço eventos". Ele está disponível para parcerias no Instagram @agles_steib

Agles segue em busca de novas oportunidades       Reprodução/Arquivo Pessoal

O artista também pensa em seus colegas artistas, fazendo parte do projeto 'Movie Help'"É um filme ajuda, onde eu faço um trabalho voltado à um curta metragem de cinco minutos, mais um monólogo e 12 fotos editadas. Para o ator ter um material para mostrar para os preparadores de elenco". E não para por aí: "Estou com uma associação chamada 'Foco em Artes', que é voltada para as pessoas que estão na geladeira, para que eles tenham a oportunidade de mostrarem o seu talento. O interessado vai passar pela associação e achar alguém para atuar nesse filme". 

Leviano por muitos anos com sua carreira, , como ele admite em nossa entrevista, Agles está muito mais focado e disposto a trabalhar duro para realizar suas conquistas: "Já recusei muitos papeis, mas não me arrependi". Em suas páginas oficiais, ele revive seus grandes papeis no cinema, na televisão e no teatro, divulgando todo o seu talento e potencial. 

O papo com Agles Steib me fez perceber quantos grandes atores, como ele, estão só à espreita de uma grande oportunidade. E se essa oportunidade não chega, eles fazem acontecer e vão à procura de novos meios e ideias. Agles vê, aproveita e desenvolve - e desejamos, sempre, muito sucesso! 


Agradecimentos à Agles Steib, que conversou comigo em 28 de novembro de 2023. 


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