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5 curiosidades sobre o filme 'Ainda Estou Aqui'

 O filme 'Ainda Estou Aqui' se tornou um sucesso de bilheteria - por conta da história e, é claro, pela iminente possibilidade de indicação ao Oscar de Fernanda Torres. Se a atriz for indicada, ela será a segunda brasileira a ter essa honra: a primeira foi sua mãe, Fernanda Montenegro - que também atua na película. 

A obra conta a história do engenheiro e deputado federal Rubens Paiva, no filme vivido por Selton Mello, que é levado pelos militares nos anos 1970, em plena ditadura militar. Após o desaparecimento do marido, Eunice, papel de Fernanda Torres, sai em busca de respostas e se torna uma grande ativista dos direitos humanos. 

O poder do filme 'Ainda Estou Aqui'

Para enaltecer o poder de 'Ainda Estou Aqui', nós da Caixa de Sucessos, listamos cinco curiosidades que você, talvez, ainda não sabia sobre a obra. Vamos lá! 


1. Fernanda Torres não foi a primeira opção para viver Eunice

Fernanda Torres está esplêndida no filme 'Ainda Estou Aqui' e é praticamente impossível pensar nesta obra - e todo o peso que ela traz - sem ela, correto? Mas o diretor Walter Salles - que também dirigiu Central do Brasil (1998) - queria a atriz Mariana Lima como a protagonista. 

Em 2021, quando o filme já estava em desenvolvimento, Mariana forneceu uma entrevista ao site Veja Rio falando sobre a importância do papel: "É urgente recuperarmos nossa história, para que a gente tenha uma visão do horror do presente". 
Mariana seria a primeira escolha para o papel de Eunice

Walter Salles, em entrevista para o site Deadline em 2021, foi só elogios para a artista, afirmando que pensou o papel especialmente para ela: "Já falamos sobre colaboração, mas esperei para encontrar o papel que poderia realmente se beneficiar de seu talento extraordinário para dar à luz esse personagem. (...)Pensei nela desde o início pelo seu talento único e pela economia que tem para transmitir o núcleo emocional de uma personagem e de uma história. [Eunice Paiva] Teve que construir uma fortaleza interna para sobreviver, mas dava para sentir o trauma que ela passou". 

É bem plausível que Mariana saiu do filme por conta de impedimento na agenda, uma vez que o filme começou a ser gravado em junho de 2023. Fernanda, em entrevista para o jornal O Globo, também admitiu que não foi a primeira opção de Walter. 

Mariana não se pronunciou sobre a saída da película. 

2. Maeve Jinkings foi escolha pessoal de Walter Salles para viver Dalva Gasparian

A atriz Maeve Jinkings, que já estrelou filmes como Som ao Redor (2012) e Pédágio (2023), foi escolhida a dedo por Walter Salles para a participação especial no filme Ainda Estou Aqui (2024). Ela interpreta Dalva Gasparian - grande amiga dos Paiva - e fundadora da livraria Argumento.

A livraria Argumento no Rio de Janeiro foi criada apenas em 1978, quando Rubens já havia sido morto pelos militares durante a ditadura militar. A decisão de incluir a livraria no filme foi por conta de sua importância histórico-cultural e oposição ao regime da época - além disso, Dalva e o marido, Fernando, eram muito próximos de Eunice e Rubens. 

Livraria Argumento foi fundada e continua (re)xistindo no Rio de Janeiro

Em entrevista ao jornal Estado de Minas, o filho deles, Marcus, explicou a inclusão da livraria na história:

No retorno ao Brasil, meus pais iniciaram uma série de empreendimentos culturais voltados para o retorno da democracia. Editaram o semanário Opinião, compraram a editora Paz e Terra, lançaram a revista Argumento que acabou dando o nome para a livraria. Minha mãe, Dalva, interpretada no filme por Maeve Jinkings, esteve sempre ao lado do meu pai, assim como a Tia Eunice sempre apoiou o Tio Rubens.

 A própria Maeve vibrou com a oportunidade de interpretar Dalva, afirmando ao Jornal O Globo: "O Waltinho (Walter Salles, diretor) me chamou para fazer uma participação especial. Durante a ditadura, a livraria foi uma referência não só do ponto de vista cultural, mas também um foco de resistência política. A Dalva e o marido dela, Fernando, tiveram uma importância política muito grande na resistência à ditadura, e a livraria Argumento foi uma das dimensões dessa resistência". 

3. Selton Mello e Walter Salles são amigos dos filhos de Rubens e Eunice Paiva

Selton Mello foi escalado para viver Rubens Paiva no filme 'Ainda Estou Aqui (2024)' e surpreendeu seu amigo, Marcelo Paiva. O Marcelo é autor do livro homônimo que deu origem ao filme, além de ser filho do ex-deputado morto pela ditadura militar. 

Os dois são amigos de anos e, em entrevista para a coletiva de imprensa no Brasil, Selton admitiu: "Nunca imaginei que fosse fazer o pai do Marcelo, sou amigo dele há muitos anos. Eu tinha fotos do Rubens e ouvi coisas sobre ele do Marcelo, das irmãs e dos amigos para me preparar para o trabalho". Apesar disso, ele preferiu não ver vídeos e nem tentar imitar os trejeitos de Rubens, para tentar capturar a essência do engenheiro e não imitá-lo somente. 

Marcelo, Fernanda, Walter e Selton 

Walter Salles também é amigo de anos da família Rubens Paiva e, em bate-papo com a revista Exame, diz que conviveu com eles na casa do Rio de Janeiro - que estava sempre de portas abertas: "Aquela casa é um personagem. Uma das minhas lembranças mais fortes de adolescência é de ver ela com as portas e janelas sempre abertas, onde turmas de diferentes idades se encontravam. Se no começo essa convivência com a família é brilhante, iluminada e calorosa, com filtro amarelado, depois que o Rubens é levado, tudo fica mais escuro e sóbrio". 

4. Marcelo Paiva não vê 'Ainda Estou Aqui' como série

Após o sucesso do filme 'Ainda Estou Aqui' - com cinemas esgotados e quase 1 milhão de pessoas assistindo no Brasil - começou um burburinho de que o livro de Marcelo poderia se tornar também uma série de televisão, com apoio do Globoplay. 

A confusão começou após uma suposta fala de Marcelo, de que existiria uma versão de mais de 3 horas do longa e, por isso, o próximo passo seria adaptar para a televisão. Nas redes sociais, ele deixou bem claro: "Não vai, não. Não foi isso que falei no SESC. Não existe versão de 3h20". 

Selton e Fernanda são grandes amigos 

Essa versão corresponde à visão de Selton Mello, que teve alguns problemas iniciais com Walter, já que tudo no filme foi pensado de forma milimétrica e sem espaço para improvisos. Em sua autobiografia 'Eu Me Lembro', Mello admite: "O processo não foi fácil. (...) Eu tenho dificuldade com ensaio. Eu gosto do... Não sei, eu gosto de uma coisa menos prevista. E esse filme foi muito ensaiado". 

5. A reconstituição da casa dos Paiva foi na Urca

O filme 'Ainda Estou Aqui' se passa, em sua maioria, na casa da família Paiva que, na vida real, era localizada na Avenida Delfim Moreira, nº 80 em Ipanema.  A casa, no entanto, já foi totalmente demolida e, para recriar o ambiente, foi escolhida uma casa no valor de R$14 milhões na Urca - bairro no Rio de Janeiro que ainda mantém algumas características dos anos 1970. 

Em entrevista ao site Deadline, Walter Salles diz que se sente emocionado toda vez que passa pela casa, já demolida e que agora deu lugar à um edifício: "Havia a oposição de uma casa aberta ao mundo, a uma casa completamente fechada. E depois houve algo também traumático em que se tornou um restaurante.  E então um dia a casa foi demolida e eu também vi isso. Moro no Rio e cada vez que caminho por aquela parte da cidade não posso deixar de voltar a essa realidade. Agora, há um imenso arranha-céu com apartamentos luxuosos onde antes ficava a casa chamado Juan-les-Pins". 

Casa verdadeira dos Rubens à esquerda

Walter sempre foi grande amigo de Ana Lúcia, filha do meio dos Paiva. A família toda é composta por Marcelo, Vera, Ana, Maria Eliana e Maria Beatriz. 

Esta é uma obra que vale muito a pena ver e se emocionar nos cinemas. Está esperando o quê? Só vai! 

'A Substância' e o preço de ser uma mulher

Atenção: spoilers sobre A Substância (2024)

Nunca tive uma experiência tão intensa no cinema quando a vez que assisti 'A Substância (2024)'. Duas senhoras sentadas ao meu lado exclamaram "que filme horrível" e foram embora na metade da sessão. Mais para o fim do filme, algumas pessoas começaram a rir da insanidade do ato final, quando o Monstro ElisaSue começa a se arrumar para apresentar o especial de Ano Novo. Eu não achei graça e as risadas me incomodaram. 

Demi Moore em 'A Substância (2024)'

Quando cheguei em casa, comecei a pensar sobre a obra de Coraline Fargeat e conclui: o mundo é sempre mais cruel com as mulheres. Recentemente, por exemplo, alguns memes começaram a brincar sobre versões mais novas de cantoras que teriam tomado a substância como Cher, cuja versão seria a Dua Lipa, e Madonna com Sabrina Carpenter. Até aí, uma brincadeira inofensiva. 

A questão só piorou quando fizeram uma montagem com a foto de Madonna, claramente debilitada, ao lado de Sabrina com os dizeres: "Alguém não respeitou o equilíbrio" - dando a entender que Sabrina teria roubado a vitalidade da cantora. Por que nós, mulheres, não temos o direito de envelhecer? Ou melhor, por que só temos esse direito se continuarmos lindas e maravilhosas - o típico "você está ótima para sua idade" como acontece com a própria Demi Moore? 

Em 'A Substância (2024)', conhecemos Elisabeth Sparkles, vivida por Demi, uma grande atriz que ganhou até uma Calçada da Fama em Hollywood, nos Estados Unidos. Com o passar dos anos, ela tem seu próprio programa fitness - inspirada no sucesso de Jane Fonda nos anos 1980 - mas o seu chefe, papel de Dennis Quaid, quer tirá-la do ar por ser "velha demais". Deprimida, ela sofre um acidente de carro e o enfermeiro do Hospital no qual ela é atendida lhe oferece a substância, prometendo uma melhor versão dela mesma. 

Demi Moore no papel definidor de sua carreira 

Ao sair do hospital, ela encontra um antigo colega de classe que a paquera. A atriz, claramente, não sente nenhum tipo de atração por ele, apenas pega seu número para ser simpática e por se sentir sozinha. E não é isso que acontece nas vidas de muitas mulheres? Às vezes damos chances para pessoas pelas quais nem nos sentimos atraídas, apenas por medo de nos sentirmos sozinhas. 

E não se enganem: homens não dão chance para mulheres que não acham atraentes - e friso no "atraentes" e não "bonitas" porque há uma diferença. Nunca vi nenhum de meus amigos ou parentes homens ficarem com mulheres que não sentiam atração apenas porque elas eram fofas ou faziam favores e cuidavam bem deles: nós mulheres sim.

Por quê? Eu não tenho a resposta para esse questionamento, mas sei que é um problema inerente do que é ser mulher. Elisabeth passa por isso após marcar um encontro com esse colega e, por própria insegurança de sua aparência, se isolar novamente. Ela se arrumou toda para ver um homem que ela nem queria, por medo de ficar sozinha. E esse medo era tanto que ficou paralisada e permaneceu como começou: só. 

Margaret Qualley - em uma grande performance - dá vida a Sue

O sentimento de Elisa com sua própria aparência é de nojo, apesar de serem os homens de sua vida, em especial seu chefe, quem nos dão ranço. O enfermeiro que lhe indicou a substância reaparece no decorrer do filme, totalmente envelhecido, e pergunta como Elisabeth está lidando com a situação de sua versão mais nova, Sue, roubando toda a sua essência. Ou seja, ele sabia desde o começo que isso aconteceria. 

Ao invés de alertá-la ou nem indicá-la para a substância, ele fez questão de dissuadi-la. Elisabeth, desesperada do jeito que estava para parecer mais jovem e bela, provavelmente não escutaria nenhum aviso. Porém é curioso que um profissional da saúde - que deveria respeitar a integridade dos pacientes - foi quem lhe introduziu à substância. 

Essa situação não é fora da realidade: no Brasil, o número de busca por procedimentos estéticos aumentou em 390%, de acordo com estudo da Sociedade Brasileira de Dermatologia em 2023. São dentistas fazendo harmonização facial - com resultados desastrosos - são pseudoesteticistas fazendo peelings perigosos - como no caso da influencer Natalia Becker - ou até profissionais renomados indicando a inserção de PMMA - um componente plástico que pode causar infecção generalizada. 

Tudo em nome da beleza, assim como a própria Elisabeth fez. A estrela adquiriu uma substância sem saber a procedência, apenas com a garantia que seria uma melhor versão de si - e não se importou com as consequências e sim com o resultado imediato. Assim, surge Sue, vivida por Margaret Qualley: uma Elisabeth mais bonita, mais disposta, mais sexy, mais tudo do bom e do melhor. 

Sue: uma versão melhor de Elisabeth

Sue tem uma beleza irreal - tanto que é inatingível até para a atriz na vida real. Margaret teve que usar próteses nos seios e talvez até em outros lugares para alcançar esse patamar de sensualidade. A pele dela não tem manchas ou celulite e nem estrias. Além disso, Sue está sempre descansada e chamando a atenção por onde passa: a definição de perfeição. 

Jovem e com tantas possibilidades à sua frente, Sue se cansa de alternar os dias com Elisabeth e acaba a deixando trancada, em um quarto escuro, fingindo que ela não existe e apenas se aproveitando dela. Nenhuma das duas respeita o equilíbrio: Sue quer mais tempo para aproveitar sua juventude enquanto Elisabeth desperdiça seus dias, deprimida, por saber que nunca alcançará aquele nível de plenitude. Ambas esquecem que são uma só. 

Ao longo do filme, a personagem Sue ganha close ups de seu corpo - que ao assistir no cinema, confesso, me senti incomodada por ser um pouco demais - e uma cena de dança sensual, algo que Elisabeth sente que não poderia fazer em sua idade. Para ela, seu auge já passou e Sue é sua única chance. 

Dennis Quaid como o detestável chefe de Elisabeth e Sue 

Outro ponto que me chamou atenção no filme foi o fato de que Elisabeth, ao criar sua versão Sue, resolve voltar e provar para o seu ex-chefe que pode ser a melhor, ganhando o programa que, outrora era dela na emissora. Sue poderia ter começado seu próprio império fitness, abrir uma empresa e competir de frente com o ex-chefe, criando um ambiente mais inclusivo e empoderado. 

Mas como essa seria uma opção para ela se, nós mulheres, fomos ensinadas a agradar desde cedo? A seguir as regras que nos são impostas? É o caminho natural voltar para o que conhece e tentar satisfazer quem lhe fez mal, mesmo que isso coloque sua própria saúde mental e física em jogo. Porque a questão é mostrar para o outro que conseguimos.  

Essa realização nos faz perceber como o papel da mulher na sociedade é totalmente voltada para a satisfação masculina. Em nenhum momento do filme, Elisabeth ou Sue pensam no que querem fazer por elas - as duas buscam validação em todos os lugares, menos nelas mesmas. 

A preocupação com a beleza é tanta que ela se transforma no Monstro ElisaSue 

Outra cena que exemplifica bem a necessidade de agradar os outros, mesmo que nos faça mal, é quanto Sue sorri para seu chefe apenas porque ele a pede. Na ocasião, ela estava perdendo os dentes e enfrentando as consequências por não respeitar o equilíbrio. 

Muitas vezes nos pedem para sorrir ou fazer algo que não queremos e, nós, mulheres, aceitamos para não sermos rudes ou para não constranger a outra pessoa. E quanto à nossos sentimentos? A dificuldade de nos impormos no mundo torna a nossa vida mais solitária e bem menos satisfatória. 

Poderia escrever por horas sobre cada nuance deste filme e a genialidade de Coralie em fazer um body horror abordando o envelhecimento e a ditadura da beleza - dois caminhos que se repelem e se atraem ao longo da vida de uma mulher.

Um body horror de respeito

A mais atual trend das redes sociais é 'Magras, Magras, Magras', enaltecendo o corpo magro que fez tanto sucesso no final dos anos 2000. Se você é magra natural, ótimo, a questão aqui não é com você e sim como passamos da era da positividade corporal para o enaltecimento de apenas um padrão de corpo - e todas as alternativas, não saudáveis, para alcançá-lo.

O maior ensinamento de 'A Substância' é de que Elisabeth e Sue são "uma", ou seja, o que acontece com uma afeta a outra. Se você não se cuidar agora, enfrentará as consequências mais tarde. Se você não se aceitar agora, talvez seja tarde demais no futuro. Se ame, mesmo quando for muito difícil - é o melhor que pode oferecer ao seu "eu" daqui a 30, 40 anos. 

Se não, o preço que você pagará pode ser alto demais. 

Merle Oberon - a atriz que teve que esconder sua origem

Especialmente na antiga Hollywood era comum astros esconderem sua verdadeira origem para fazerem sucesso. Esse foi o caso com Dona Drake, atriz casada com William Travilla que era negra com pele mais clara e, por isso, fingia ser de origem mexicana para ter maiores oportunidades em Hollywood. 

Outros, apesar de não negarem sua origem, foram obrigados a fazer uma transformação total para se encaixar no status de beleza da época como Rita Hayworth e John Gavin. Por fim, ainda houve casos de astros que se recusaram a 'jogar o jogo' como o caso de Fredi Washington, uma mulher negra de pele mais clara, que estrelou o filme Imitação da Vida (1934). 

Merle Oberon, nascida Estelle Merle O'Brien Thompson, em 19 de fevereiro de 1911, faz parte do primeiro caso. A artista, que foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por seu papel em O Anjo das Trevas (1936), escondeu durante toda sua vida o fato de ter origem indiana. 
Merle fez questão de esconder sua origem indiana

De acordo com a biografia 'Princess Merle: the romantic life of Merle Oberon', escrita por Charles Higham em 1983, a história de que a atriz teria nascido na Tasmânia, Austrália, em 12 de fevereiro de 1914, foi uma fabricação feita pelo produtor britânico Alexander Korda para esconder que ela havia, na verdade, nascido em Bombaim, na Índia. 

Para entender a vida de Merle, é necessário compreender a conjunção política da época na Índia. Os primeiros navios britânicos chegaram à Índia em 1612, fazendo a troca de produtos manufaturados por matérias-primas como seda, algodão e especiarias. Desde então, o império britânico passou a dominar, pouco a pouco, a região e a Índia passou a ser considerada a "joia mais cara da Coroa".

Focados em desenvolver o país, a colonização começou e britânicos passaram a morar na Índia. Para os europeus, os indianos e asiáticos eram "inferiores" e precisavam de ajuda serem civilizados. Assim, Merle assumir que tinha origem indiana seria acabar com sua carreira nos cinemas antes mesmo de começá-la. Vivien Leigh, por exemplo, nasceu na Índia, mas tinha como provar que ambos seus pais eram britânicos. 

Constance, mãe de Merle, a atriz ao centro, e a avó dela, Charlotte          Princess Merle

No livro de Charles Higham, ele consegue se conectar com Harry Shelby, primeiramente apresentado como primo de Merle. Nesta biografia, informa-se de que Charlotte - de origem Maori, povo nativo da Nova Zelândia, e Sri-Lanka - seria a mãe da artista, que nasceu fruto da união entre ela e o engenheiro mecânico Arthur Terrence O'Brien Thompson. A autobiografia informa que os dois eram um casal e estavam juntos quando Merle nasceu no Hospital St. George na Índia. 

Charles Higham ainda revelou que Arthur fazia avanços em Constance - da antiga união ilegítima de Charlotte com um plantador de chá irlandês, Henry Alfred Selby - e, por isso, Charlotte decidiu deixar a filha mais velha em Pune, uma cidade em Maharashtra, na Índia, no internato Taylor School, ao se mudar para Bombai em outubro de 1910. Merle nasceria meses depois. 

Arthur faleceu em 1914, ao servir pela Inglaterra na I Guerra Mundial, de pneumonia durante a Batalha de Somme. Pelo fato de Charlotte ser enfermeira, ela conseguiu trabalhos na área e continuou a manter sua família - até o retorno de Constance em 1916. Um ano depois, Constance conheceu Antoinette Soares, que a apresentou para o irmão, Alexander Soares. Ela se casou com ele em novembro de 1917 - na mesma época, Charlotte e Merle se mudaram para Calcutá, na Índia. 

Com Alexander, Constance teve os filhos Edna, Douglas, Harry e Stanislaus. 

Fotos de Merle na Índia durante seu tempo de escola                         Princess Merle

Vinte anos depois da publicação do livro, Maree Delofski lançou o documentário 'The Trouble With Merle (2002)', que mostra outra vertente do ocorrido. Desta vez, Harry Shelby exibe uma certidão de nascimento de Merle, no qual consta que ela seria filha de Constance e não de Charlotte. 

Aqui, há duas opções. A primeira: como o livro de Charles afirma que Arthur dava em cima de Constance, então com apenas 13 anos de idade, ele pode ser o pai biológico e, Charlotte, para evitar o escândalo, fingiu que Merle era sua filha - por ser enfermeira e ter conexões no St. George Hospital, essa farsa seria possível. Já a segunda é que Arthur assumiu a paternidade para ajudar Constance e não permitir que Merle fosse registrada sem o nome do pai. 

O documentário, inclusive, apresenta mais uma corrente sobre a origem de Merle. No caso, de que ela seria mesmo da Tasmânia, filha de Lottie Chintock, uma empregada de origem chinesa, que se envolveu com o chefe do hotel Weldborough, em Hobart, na Tasmânia, onde trabalhava, o J.W Thompson. Testemunhas afirmam que a jovem foi para a Índia ou após ser adotada por um militar ou após ser levada por uma família de sobrenome O'Brien sob a permissão de Lottie - essa versão, diferente da origem indiana, não tem comprovação alguma, apesar de uma das entrevistadas dizer ter como provar, porém nunca o faz durante o documentário. 

Merle em visita em Hobart, na Tasmânia, em 1978

Em entrevista para o jornal Okland Tribune, em 1935, Merle diz que ela nasceu em Hobart, na Tâsmania, quando seu pai e mãe visitavam a cunhada dela. O pai dela morreu três meses após seu nascimento e, assim, ela e a mãe continuaram a viver na Tâsmania até Merle completar sete anos de idade. 

Logo depois, a mãe de Oberon aceitou o convite de sua madrinha, Lady Monteith, para morarem com ela em Bombaim, na Índia. As duas ficaram ali por dois anos até morarem com o Capitão Bartley e sua esposa, tios da estrela, em Calcutá. Aos 17 anos, ela foi levada para os EUA pelo tio para uma longa viagem e nunca mais retornou. 

Oberon sempre manteve, em diversas entrevistas, que nasceu na Tasmânia, assim como Errol Flynn e, ao ser indagada, dizia que nunca lembrava com exatidão de sua vida na Austrália. Segundo a historiadora Halley Bond no podcast 'You Must Remember This, Passing for White: Merle Oberon', Merle, afetuosamente apelidada de Queenie, se focou em se 'passar como branca' na adolescência ao treinar seu sotaque britânico. Apesar disso, ela sofria racismo de suas colegas de escola por conta de sua verdadeira origem. 

Merle via o cinema como uma fuga de escape e começou a atuar na Amateur Dramatic Society, na Índia. Um então namorado dela a apresentou para o produtor Rex Ingram e, na França, ela atuou em alguns pequenos filmes até conseguir uma ponta no longa 'Os Amores de Henrique VIII' de Alexander Korda em 1933, como Ana Bolena. Ali, ela chamou atenção de Korda, seu futuro marido, que ajudaria a desenvolver sua carreira. 

Merle Oberon esteve apenas 15 minutos no filme

Para desenvolver sua imagem em Hollywood, Merle precisava mais do que apenas esconder sua origem - sua cor de pele precisava ser mais clara. Assim, ela começou a usar cremes clareadores, que continham a substância tóxica de mercúrio amonizado. Além disso, a maquiagem para sua pele ficar mais clara era usada constantemente. 

Merle Oberon era descrita pelos jornais como exótica, algo que era usado à favor dela. Uma coisa era ser exótica, outra coisa era ser indiana - isso limitaria seus papeis e a colocaria na obscuridade de Hollywood. Para compor ainda mais a farsa, Oberon pediu para pintar um quadro de Charlotte, sua avó, no qual ela era representada, erroneamente, como branca. Quando as duas viajavam juntas, Merle a apresentava como sua empregada e apenas falava hindi com ela. 


Em 1937, no auge de sua carreira após estrelar em 'O Morro dos Ventos Uivantes' e 'O Anjo das Trevas', ela sofreu um terrível acidente de carro. A artista ficou com uma cicatriz acima do olho esquerdo e outro na orelha. Além disso, o impacto de clarear sua pele com cremes tóxicos havia deixado o seu rosto com pontos corroídos e manchados. 

Lucien Ballard, diretor de cinematografia que conheceu a estrela no set de 'Ódio que Mata (1944)', foi responsável por criar uma luz especial, usando um lâmpada pequena, que diminuía a aparência de suas cicatrizes e deixava o tom de sua pele mais uniforme - a luz foi nomeada como 'Obie' em homenagem a atriz. 

Exemplo da 'Obie Light' em 'Ódio que Mata (1944)'

Merle se casou quatro vezes: com Korda até 1945, com Lucien até 1949 e depois com Bruno Pagliai, de 1957 a 1973, com quem adotou os filhos Francesca e Bruno Jr. Nessa época, segundo a historiadora Cassandra Pybus, da Tasmânia, no livro 'Till apples grow on an orange tree', a artista teria feito sua primeira visita no país nos anos 50 após a morte da suposta mãe, Lottie. Outros afirmam que teriam visto um carro preto entrando na casa de Lottie, que era de Oberon. 

Em 1965, durante a promoção de um filme, ela visitaria Hobart, a cidade no qual ela disse ter nascido. John Higham, jornalista do Sidney Morning Herald, demonstrou curiosidade tamanha sobre o nascimento de Merle que ela informou estar doente e voltou para sua mansão no México ao lado do marido, Bruno, e seus herdeiros. A mansão, inclusive, nomeada Ghalál, era completamente branca - talvez uma obsessão do próprio racismo estrutural de Oberon por associar branco com pureza? 
Merle fotografada em Ghálal em 1969, no México

Apenas em 1978, casada com seu último marido, Robert Wolders, que ela finalmente colocou os pés na cidade de Hobart, depois de sua presença no Sammy Awards em Sidney, na Austrália, em outubro daquele mesmo ano. Em entrevista para Charles Higham, o então marido dela diz que se arrependeu amargamente da ideia: 

Eu queria ver o lugar onde ela nasceu. Agora percebo como ela sofreu. Ela ficou cada vez mais nervosa e doente. Ela chorava muito devido a situação. Quando eu falei para irmos ao cemitério procurar a família dela, Merle se recusou. Ela estava tão triste - Robert Wolders. 

Merle e o marido Robert Wolders em 1978

Os dois ficaram no Wrest Point Hotel, em Hobart, e chegaram a viajar de carro para Port Arthur, ponto turístico. Na volta, ela apontou de modo vago para a Residência do Governador: "Foi lá onde dizem que eu nasci". Ainda de acordo com o livro 'In Tasmania: adventures at the end of the world' de Nicholas Shakespeare, ela permaneceu sem dar nenhuma entrevista - apenas abriu uma exceção sem falar sobre suas origens - e pediu privacidade.

Em 13 de outubro de 1978, em uma sexta-feira, ela julgou o Miss Tasmânia no Wrest Room Cabaret e deu o título para a meteorologista Sue Hickey. Três dias depois, ela esteve em uma recepção civil com o prefeito de Hobart e, antes de chegar na Prefeitura, teria confidenciado para Neil Coulson: "Eu acho que é uma má hora para revelar que não nasci na Tasmânia, nasci na Índia". 

Ao chegar na Prefeitura e assinar o livro de recepção dando seu endereço como "Tasmânia e Malibu", Merle desmaiou. Durante seu discurso na cerimônia, ao falar sobre sua infância, ela começou a chorar e saiu do local, conforme confidenciou seu então marido. 

Apesar disso, diversos moradores do local afirmaram lembrar, vividamente, de que ela era de Hobart, revelando dados e fatos supostamente pessoais dela. Em Wrest Point, no começo daquele mesmo ano, havia sido inaugurado o Merle Oberon Theatre - que depois foi renomeado. 

Merle ao lado de Greer Garson e Rosalind Russell em 1964.

Pouco depois de voltar para sua casa, em Malibu, Califórnia, nos EUA, ela teve um infarto do miocárdio. Em 23 de novembro de 1979, logo após a Ação de Graças, Merle faleceu após sofrer um AVC. 

Em seu último filme 'Interval (1973)', no qual ela produziu e estrelou, Merle conta a história de uma mulher que guarda um terrível segredo e foge para tentar se resguardar. Assim como ela fez durante quase toda a sua vida. No longa, ela se apaixonou por Wolders, com quem ficou até sua morte - ele também foi parceiro de Audrey Hepburn e da viúva de Henry Fonda, Shirlee May Adams. 

Durante sua carreira, Merle fez de tudo para esconder quem era e isso a destruiu por dentro. Seu então enteado, Michael Korda, queria divulgar mais sobre sua origem no livro 'Charmed Lives' antes dela falecer e Merle ameaçou processá-lo. Oberson sabia que, em Hollywood, manter sua imagem era tudo e, por isso, não permitiria que alguém acabasse com o que ela construiu. 

Como tudo teria sido se ela não tivesse sido obrigada a esconder quem verdadeiramente era? Essa é uma resposta que nunca teremos. 


Os Carnavais de Rock Hudson no Brasil

Rock Hudson foi um dos maiores galãs de Hollywood. Em filmes como 'Tudo que o Céu Permite (1955)', 'Volta Meu Amor (1961)' e 'Assim Caminha a Humanidade (1956)', ele solidificou sua persona de másculo e viril, com um coração de ouro. Alto, bonito e forte, ele tinha todas as qualidades que faziam mulheres no mundo todo suspirar! 

Assim, quando ele desembarcou no Rio de Janeiro, em 14 de fevereiro de 1958, no Aeroporto de Galeão, via Varig, o seu fiel fã-clube estava à sua espera. Por convite de Harry Stone, o embaixador oficial de Hollywood no Brasil, o ator veio celebrar a festança com outros astros como Marilyn Maxwell, Van Heflin (em sua terceira visita ao país), Charlie Vidor, Linda Christian - e quase contou com a presença de Linda Darnell que, por uma indisposição, ficou de fora. 

Rock Hudson e Ilka Soares - inseparáveis no Brasil            Revista Manchete

De acordo com o Jornal, Rock desceu do avião acompanhado de Charles Vidor e sua esposa, mas não deu atenção às centenas de fãs que o esperavam no terraço. Em conversa com a imprensa, ele revelou que cortou o cabelo curtinho ao saber sobre o calor no Rio e pontuou sobre o Carnaval: "Sempre ouvi falar muito bem do Carnaval do Rio de Janeiro e à convite de Harry resolvi conhecê-lo. Não me avisaram para trazer uma fantasia, mas vou ver se amanhã já tenho tempo de comprar uma. Ainda não tenho [fantasia], mas disposição para brincar já tenho". 

Logo depois de passar pela Alfândega, Rock - que estava encharcado de suor - e os outros astros ficaram hospedados no Hotel Glória e também no Copacabana Palace, onde o artista se alojou. À noite, naquele mesmo dia, todos se reuniram em um coquetel na casa de Harry Stone - e a artista Vanja Orico conseguiu ficar do ladinho de Rock - que na época estava se divorciando de Phyllis Gates e se recusava a falar de seu status de relacionamento. 

Rock no desembarque ao lado de Vidor e à esquerda com Vanja Orico

Segundo o Correio da Manhã, Hudson curtiu a tarde com um copo de uísque na mão e deu alguns autógrafos, apesar de ser à contragosto, mantendo contato com a imprensa. Naquela mesma noite, sexta-feira do dia 14 de fevereiro, ele e os amigos compareceram à um cocktail no golden room do Copacabana Palace. Ilka Soares, nesta ocasião, não saia de perto dele, desde que os dois se conheceram na casa de Stone - o começo de um romance publicitário. 

Rock e Ilka em seu primeiro encontro - na sequência Rock no aeroporto

A primeira noite de folia carnavalesca logo chegou: Hudson e todos os astros compareceram ao Baile de Máscaras oferecido pelo Hotel Glória. O 'Ball Masque' foi um sucesso e o artista primeiro retribuiu o carinho com autógrafos, sendo sempre pajeado por Ilka - 'fantasiada' como uma baiana legítima. Apesar de ter tentado se afastar um pouco, a revista Manchete revela que ele logo voltou para a mesa, divertindo-se e ganhando a faixa de 'Princesa do Carnaval'.

Rock de costas e com a faixa de 'Princesa do Carnaval'

Na época, havia rumores sobre a orientação sexual de Rock, mas nada jamais foi confirmado. Por que ele ganhou essa faixa? Muito provavelmente pelas próprias insinuações que corriam nos bastidores, tanto que a matéria de Cinelândia, refere-se à ele como "vedeta" do Carnaval. Sem saber de nada, Hudson levou a situação com muito bom humor. Outra teoria é de que, como pode-se ver abaixo, ele tirou foto com uma das princesas do Carnaval, Cely Rosa, e ela pode ter colocado nele como forma de descontrair o ambiente.

Contudo, ao ver a cobertura da imprensa sobre a vinda de Rock ao Brasil, não pode se negar que eles teriam colocado a faixa nele de forma zombeteira. 

Os fãs não o deixavam em paz nem por um minuto     Cinelândia

No domingo, dia 16 de fevereiro, a agenda de Hudson e seus amigos continuou cheia: de manhã, ele, Van Heflin, Marilyn e Vidor curtiram as águas de Guanabara. À tarde, eles visitaram o Social Ramos Clube, em uma promoção feita pelo jornal Última Hora, levando os astros a conhecerem, pela primeira vez um clube na Zona Norte da cidade. Além disso, a Escola de Samba Aprendizes de Lucas se apresentou no local. 

Charles Vidor, esposa, Marilyn e Rock no Social Clube Ramos              Cinelândia

Depois de lá, eles também viram os desfiles das escolas de Samba do Salgueiro e Braz de Pina, em um camarote em frente ao Teatro Municipal, na Avenida Rio Branco- acompanhados de Wilza Carla, a Rainha do Carnaval. 

Rock Hudson e Marilyn vendo o grande desfile das escolas            O Cruzeiro

Na segunda-feira, dia 16, a grande festa no Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro -a Revista da Semana, de forma cruel, aponta que Rock foi "especialmente convidado" para o Baile dos Travestis, que ocorria naquele mesmo dia, mas teve que recusar por conta de seus outros compromissos. 

No Baile Municipal, Rock contou com a presença de Ilka a cada segundo - que não o deixava em paz - e eles continuaram nesse clima de "vai não vai". Conhecidos como "Rock and Ilka", eles apenas falavam um com o outro em italiano, já que a artista brasileira não sabia falar bem inglês. Juntos no baile, ele afirmou que Soares era "a coisa mais bonita que já viu no Rio, inclusive do que o Carnaval que é uma maravilha". 

Ele tentou comprar uma fantasia ao lado de Ilka no começo daquele mesmo dia, mas não pode andar muito na rua devido ao assédio dos fãs. 

Rock se divertindo com Ilka e Marilyn

Também para o Mundo Ilustrado, Ilka foi indagada se gostava mais de Rock ou da festa, pontuando: "Os dois são igualmente belos e inesquecíveis e não me atrevo a fazer uma escolha". O romance publicitário foi arranjado por Harry Stone e Ilka teve um bom motivo para aceitar: Charles Vidor, que dirigiu Rock em 'Adeus às Armas', lhe prometeu um papel à la Gilda nos EUA - que nunca saiu do papel. 

Rock e Ilza em seu primeiro encontro                                     Cinelândia

Seja como for, Rock seguiu a se divertir no Rio de Janeiro. Depois de três dias seguidos na folia com Ilka, ele foi visto pela revista O Cruzeiro curtindo a praia com outra mulher misteriosa, afirmando-se assim que o "romance" com Ilka havia acabado. Ele curtiu a praia da Barra da Tijuca e a reportagem apontava que esse encontro seria uma espécie de 'consolo' - na verdade, Rock estava com a secretária e, segundo Ilka, foi a própria que disse que combinaria o encontro deles no local, mas a deixou sem saber de nada. 

Nas revistas, foi plantada a notícia de que Ilka teria dado o 'migué' em Rock - possivelmente uma estratégia para a imprensa não alimentar, ainda mais, os rumores de um romance entre ambos. 

Rock aproveitando a praia no Rio                                      O Cruzeiro

Na terça-feira de Carnaval, o dia 17, mais uma celebração: desta vez no Jockey Club, no qual ele se divertiu acompanhado de Marilyn, uma fiel amiga. Rock, infelizmente, foi taxado de antipático pela imprensa - e bastante criticado pelos repórteres. 

Rock novamente com Marilyn no Jockey Club

Depois da folia do Carnaval, Rock chamou a imprensa para seu quarto de Hotel no Copacabana Palace, na quarta-feira de cinzas, dia 19, para falar sobre seu novo filme 'Adeus às Armas'. Bem relaxado e com uma camiseta listrada, ele falou sobre sua diversão no Carnaval:
Pelo que se vê nas fotos eu devo ter me sentido muito bem. Foi sim, uma coisa extraordinária. Se puder voltar no futuro, voltarei sempre que der - em entrevista para o Correio da Manhã. 

Na sequência, ergueu os braços ao ser indagado sobre a mulher brasileira, frisando: "Simplesmente estupenda". Já falando com o jornal Última Hora, ele admitiu que se divertiu muito durante o baile do Hotel Glória. Na quinta-feira, 20, ele esteve presente no espetáculo 'Mister Samba' com amigos e, é claro, o bon-vivant Jorge Guinle. 

Rock em entrevista com a imprensa           Jornal O Globo

No dia 21, ele conheceu o então presidente Juscelino Kubitscheck, acompanhado de Marilyn e Van no Palácio do Catete. Em 22 de fevereiro de 1958, Rock foi embora de vez do Brasil e recebeu um beijo de despedida de Ilka. Para o Jornal do Brasil, ao ser indagada, por que a amizade com Rock não virou romance, ela deu a entender: "Porque ele...bem, por várias razões". 

Em entrevistas posteriores, Ilka diz que nunca desconfiou dele ser homossexual por ser bastante contido, pontuando para a Coleção Aplauso Oficial: "Eu não estava fazendo nada então não vi problema algum. Depois que ele foi embora, me mandou um telegrama agradecendo a companhia adorável"

O fim de Ilka e Rock                                       Jornal do Brasil

Para o Correio da Manhã, ao embarcar no Aeroporto de Galeão para voltar aos Estados Unidos às 18h30, ele prometeu que voltaria ao Brasil, até para filmar algo inclusive: "Com toda certeza, se houver oportunidade. (...) Levarei, no mínimo, três semanas para relembrar essa semana no Rio, com todas as emoções. Depois disso poderei destacar algo. No momento tudo se aglomera como se fosse um sonho maravilhoso". 

Acima, Rock com Vanja e na plateia do Mister Samba. Abaixo com Ilka e o Presidente

1973

Prometendo e cumprindo, Rock voltou ao Brasil em 1973. Na época, ele já não era mais o grande galã de Hollywood, mas seguia com a fama e o talento intactos. Ele estava em Buenos Aires e decidiu aterrissar, novamente, no Rio de Janeiro em 3 de março daquele ano, após pedido de Harry Stone - ele estava acompanhado de seu assessor, Tom Clark, e, no mesmo dia, chegaram Roman Polanski e o ator Jack Nicholson. 

Rock Hudson celebrando novamente o Carnaval no Rio                 Manchete

Divulgando seu mais recente filme 'Inimigos à Força', ele desembarcou no Aeroporto do Galeão às 19h50 e, falando com a imprensa, disse que não tinha uma agenda fixa, mas que estava feliz de estar de volta, via Jornal do Brasil: "Vim pela primeira vez ao Rio em 1957 [na verdade 58], ou seja, há 16 anos, e gostei muito dos desfiles das escolas de samba"

No dia 5 de março, ele foi um dos jurados no baile do Hotel Glória, mesmo local onde ele se divertiu imensamente em 1958, para eleger as melhores fantasias no Rio Carnaval Show. Lá, o artista protagonizou um grande momento com Beki Klabin, que foi até o local exibir sua fantasia ao desfilar pela Portela.

Rock se levantou, a beijou, e também arriscou alguns passos no samba. 

Rock Hudson e Beki - uma grande dupla 

Na segunda-feira (5), ele participou, ali no solo mesmo, com as pessoas comuns, do desfile das Escolas de Samba na Presidente Vargas. Em certo momento, Rock se juntou à uma roda e começou a dançar com as outras pessoas, livremente e feliz - vestindo apenas uma regata preta e uma calça. 

Por conta disso, sua vida pública foi chamada de "devassa" pelo O Cruzeiro

Rock anunciou que faria uma coletiva de imprensa para o filme no Copa Leme Hotel, no Rio de Janeiro, mas não há registros dessa entrevista. Ele também aproveitou o baile do Copacabana Hotel, mas sem fantasias ou com fotos tão alegres e descontraídas quanto o que vemos no desfile das escolas de samba. 

Rock estava eufórico e bastante feliz 

O artista, inclusive, também participou do Carnaval do Copacabana, mas estava muito mais comportado aquela noite. Ele ficou hospedado no Leme Palace Hotel e em sua autobiografia, o 'His Story', escrito com Sara Davidson, ele se lembrou do Rio em suas duas estadias com muito carinho - tanto que planejava voltar em 1974 e até pediu ajuda para criar uma linda fantasia, algo que não se concretizou. 
Nós ficamos no meio de rodas de samba e as pessoas nos passavam garrafas de bebida e nós tomávamos.  - revelou Tom Clark, seu amigo de longa data e que o acompanhou na folia. 

Rock no Copacabana Palace 

Logo após o Carnaval, Rock e Tom deixaram o Brasil, em uma cobertura bem menos extensa por conta da fama do artista, que já estava em declínio. Infelizmente, o grande astro faleceu em 2 de outubro de 1985, vítima das complicações da AIDS. 

Apesar disso, Rock Hudson sempre se divertiu em suas vindas ao Brasil, esbanjando graça em meio as reportagens preconceituosas - e isso, assim como sua existência, sempre será um grande símbolo de resistência. 
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