O Rei e a Rainha de Hollywood: a parceria de Joan Crawford e Clark Gable nos cinemas

Joan Crawford era uma atriz consolidada e favorita do público em 1931, quando conheceu o novato Clark Gable pela primeira vez. O ator ainda nem sonhava com seu Oscar por Aconteceu Naquela Noite (It Happened That Night, 1934) e muito menos com o papel que o tornou uma lenda do cinema: ...E O Vento Levou (Gone With The Wind, 1939). 

Já a atriz, que foi coroada a Rainha dos Filmes em 1937 pela revista Life Magazine, tinha todo o prestígio e o apoio de seus fãs, fazendo a transição do cinema mudo para o cinema falado com tamanha classe - pertencente apenas à Joan Crawford. 

Os dois se conheceram no set de filmagens de Quando o Mundo Dança (Dance, Fools, Dance, 1931) quando Gable, que ainda não era o Rei de Hollywood, foi designado ao seu primeiro importante papel em um filme B. Os dois personagens deveriam se odiar, mas a química de Clark e Joan era tão transparente que os momentos mais interessantes do filme são quando os dois atuam um com o outro. 

Joan Crawford e Clark Gable em Acorrentada (Chained, 1934) 
Não foi apenas de luxúria que a parceria de Gable e Crawford se sustentou: os dois tiveram um caso que durou anos, entre idas e vindas, mas a amizade entre eles foi o que prevaleceu sempre. Quando o ator perdeu a esposa Carole Lombard em um terrível acidente de avião, Crawford foi a confidente e amiga mais presente e em quem Gable sempre poderia contar. 

Nos cinemas, os dois atuaram em mais de sete filmes, todos de grande sucesso e que exibiam a camaradagem e amor entre os dois astros. Assim, nesta A Listinha, listamos todos os filmes da parceria de Joan Crawford e Clark Gable nos cinemas.



QUANDO O MUNDO DANÇA (DANCE, FOOLS, DANCE, 1931)

Clark Gable e Joan Crawford: que dupla! 
Clark Gable era um novato no estúdio MGM quando foi designado para o filme Quando o Mundo Dança (Dance, Fools, Dance, 1931) depois de ter chamado a atenção do co-diretor de MGM, Irving Thalberg, ao lado de Louis B.Mayer,  no filme Tentação de Luxo (Easiest Way, 1931) em um papel não creditado. 

Segundo a biografia Clark Gable: A Biography de Warren G. Harris, Minna Wallis deu uma força ao amigo e convenceu Irving a lhe dar o seguinte contrato: U$650 por semana por um ano. O plano dele era testar a química de Clark com todas as suas estrelas grandiosas - ainda mais porque seus antigos galãs Roman Novarro e John Gilbert não conseguiram fazer uma boa transição para os filmes falados. 

O plano de Irving era o seguinte: colocar Gable para atuar ao lado Norma Shearer e Greta Garbo, com pelo menos dois filmes com Joan Crawford. Assim, ele estrelaria em mais de oito filmes durante 1931 para que o público gostasse dele e se afeiçoasse por ele. 

Portanto chegou a oportunidade de interpretar o gângster Jake Luva em Quando o Mundo Dança (Dance, Fools Dance, 1931). No filme, Joan Crawford interpreta a socialite Bonnie Jordan que ao lado de seu irmão Bert Scranton (Cliff Edwards) curte a vida adoidado com o dinheiro do pai e tem um caso com o jovem Bob (Lester Vail). Quando o patriarca morre, no entanto, os dois ficam sem ter como sobreviver e Bonnie decide ganhar a vida como repórter em um grande jornal. É ali que ela fica incumbida de descobrir a verdade sobre um assassinato, que ocorreu no infame Massacre do Dia dos Namorados, que envolve o desprezível gângster Jake Luva (Clark Gable). 

Em uma das cenas mais tensas do filme!
Sobre a primeira vez que conheceu Clark Gable no set de filmagens de Quando o Mundo Dança, Joan Crawford, que ainda estava em um casamento sério com Douglas Fairbanks Jr., afirmou:
Teve uma cena em que Clark me agarrava e ameaçava matar o meu irmão. A proximidade dele teve um impacto tão forte que meus joelhos cederam. Se ele não tivesse me segurado pelos ombros, eu teria caído. Foi como uma corrente elétrica entre nós. Nós dois sentimos. 
Mas nada demais aconteceu entre os dois astros, ainda! Joan, que considerava seu papel no filme chato e sua performance nada boa, ficou apenas feliz por ter encontrado alguém como Clark que tornou a gravação menos tediosa. 

Quando o Mundo Dança (Dance, Fools, Dance, 1931) é um filme com uma história bem simples e atores coadjuvantes decentes, mas nada extraordinários. A única parte do filme que ganha vida é quando Clark Gable e Joan Crawford atuam juntos - o telespectador acaba torcendo que os dois fiquem juntos no final, mesmo que o personagem de Clark seja terrível. 

Depois de Quando o Mundo Dança (Dance, Fools, Dance, 1931), Joan Crawford partiu para gravar Complete Surrender e teve uma surpresa do produtor Louis B. Mayer que viu o potencial do casal: o filme seria regravado sobre o nome de Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931) e ao invés de Johnny Mack, o seu protagonista seria o tão "viril" Clark Gable.


ALMAS PECADORES (LAUGHING SINNERS, 1931)

O longa-metragem foi lançado especificamente para Crawford e Gable
Joan Crawford não poderia ter ficado surpresa quando soube que atuaria com Clark Gable novamente, mesmo que não tivessem tantas cenas juntos. Os dois tinham muito em comum: ambos vinham de famílias pobres, eram francos e obstinados e não colocariam nada e nem ninguém acima de suas carreiras. 

A química entre eles em Quando o Mundo Dança (Dance, Fools, Dance, 1931) foi tanta que Louis B. Mayer decidiu tirar Johnny Mack do papel de Carl Loomis e colocar Clark Gable, para testar como o público aceitaria Joan e Clark como protagonistas românticos. O resultado desta união não poderia ter sido melhor! 

Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931), baseada na peça Torch Song, conta a história de Ivy 'Bunny' Stevens, uma jovem dançarina que é apaixonada pelo vendedor Howard (Neil Hamilton), que a deixa para se casar com outra mulher. Deprimida, Ivy tenta pular de uma ponte para cometer suicídio, mas é impedida por Carl Loomis (Clark Gable), um membro do Exército da Salvação que está obstinado a salvar a alma e decência de Bunny. 

Joan Crawford e Neil Hamilton
O filme, no entanto, apesar de ter feito um sucesso medíocre nas bilheterias, recebeu inúmeras críticas. Isso porque Clark não era o ator certo para o papel: com sua grande presença e maneiras mais cruas, ele não era crível como um membro do Exército da Salvação. O roteiro confuso e a falta de envolvimento entre os personagens, torna Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931) um filme medíocre - que só vale a pena assistir se você for fã ferrenho de Joan e Gable. 

Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931) também causou confusão com o código Hays - conjunto de normas aplicadas aos filmes entre 1930 a 1968 - por uma cena em que o personagem de Gable soca outra pessoa e por Joan que aparecia dançando em uma mesa, com o tamborim, e sapatos de alcinhas bem sexy. 

Joan, aliás, pintou o cabelo de loiro justamente por causa da personagem Ruby (Marjorie Rambeau), que ela afirma que interpretava sua mãe no filme - e que também era loira. Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931) nunca deixa claro se Ruby é apenas uma amiga ou sua mãe. 

Algo de muito importante aconteceu nos bastidores, no entanto: foi durante as gravações de Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931), que Joan começou a se apaixonar por Gable. Ela recorda:

Eu estava caindo em uma armadilha que eu avisava jovens garotas sobre - de não se apaixonarem pelos seus atores principais. Cara, eu engoli essas palavras, mas elas eram muito doces. 

POSSUÍDA (POSSESSED, 1931)

A química entre os dois é transparente!
O caso de Clark Gable e Joan Crawford começou de vez durante as gravações de Possuída (Possessed, 1931). Se antes, eles tinham pequenos momentos de intimidade aqui e acolá, foi no set de filmagens do longa de Clarence Brown que o amor entre os dois atores se tornou inegável. 

Assim que Joan terminou a gravação de Almas Pecadoras (Laughing Sinners, 1931), lhe foi oferecido o roteiro de Possuída (Possessed, 1931) no qual ela exigiu que Gable fosse sua co-estrela. Enquanto o filme não era gravado, ela seguiu em Neste Século XX (This Modern Age, 1931), retomando a parceria com Neil Hamilton, e Gable ganhou um aumento de salário para atuar ao lado de Greta Garbo em Susan Lenox (idem, 1931).

Quando os dois estavam livres, eles começaram a gravar Possuída (Possessed, 1931) e era inegável que os dois eram um casal. Sobre o desabrochar desse caso, Joan reconta em sua autobiografia:

Nós chegávamos mais cedo apenas para ficarmos um do lado do outro. No filme, nós estávamos loucamente apaixonados e isso não parou na vida real - nossos personagens eram um reflexo de nós. Duas vezes por semana nós lanchávamos juntos - ele não poderia descartar a mesa que sentava para lanchar ao lado de Spencer Tracy. Ocasionalmente, nós conseguíamos sair e passar pela praia. Todo o dia buscávamos os olhos um do outro - era glorioso e sem esperança. Não tinha nada que pudêssemos fazer. Não tínhamos chance. 

No ínterim das gravações, no entanto, Gable se casou com Ria Johnson oficialmente no dia 29 de junho de 1931 para acalmar os rumores de seu caso público com Joan Crawford - e para satisfazer a cláusula de decência em seu contrato na MGM com o qual Louis B. Mayer o chantageou: ele ainda não era legalmente divorciado de Josephine Dillon e precisava fazê-lo e se casar com Ria. Foi exatamente o que Gable fez, afinal não queria perder seu valioso contrato: mas o caso com Joan não acabou!

Os dois não faziam questão nenhuma de esconder o caso e o envolvimento de Clark e Joan ficou conhecido como o "maior segredo aberto de Hollywood".

Em Possuída (Possessed, 1931), baseado na peça The Mirage de 1920, Joan Crawford interpreta Marian Martin, uma jovem operária que sonha com uma vida de glamour e riqueza. Indisposta a se casar com seu namorado de longa-data, Al (Wallace Ford), ela parte para a cidade grande e encontra o advogado Mark Whitney (Clark Gable) que está disposto a bancá-la como sua amante. O problema começa quando Marian não sente que ser a amante é o suficiente e quando Mark resolveu a concorrer como senador.


Possuída (Possessed, 1931) reflete tanto a vida dos protagonistas, que quando Joan canta no filme How Long Will it Last?, ou seja, Quanto Tempo Vai Durar, pode-se ver claramente que ela não está atuando: ela está tão apaixonada por Gable que se pergunta por quanto tempo essa emoção vai durar. A verdade é que essa chama, realmente, nunca se apagou.

O filme, dirigido pelo brilhante diretor Clarence Brown, é um dos filmes mais acertados da dupla: tem romance, uma mensagem feminista para a época e evita os clichês mais comuns dos filmes românticos. Não há nada em Possuída (Possessed, 1931) que esteja fora de tom!

Rumores afirmam que foi mais ou menos nessa época que Joan Crawford teria ficado grávida de Clark Gable, mas teria resolvido fazer ou sofrido um aborto (as fontes divergem sobre esse caso específico). O que se sabe, no entanto: é que Gable e Crawford estavam cada vez mais unidos e até consideraram casamento, antes de Gable ser forçado a se casar legalmente com Ria.

Louis B. Mayer, diretor do estúdio, não estava nada feliz com o caso entre os dois e no próximo filme de Joan, Redimida (Letty Linton, 1931) ele tirou Gable como seu protagonista e colocou o ator Robert Montgomery: tudo para que os dois ficassem o mais separados possíveis. Tanto que eles só atuaram juntos em Amor de Dançaria (Dancing Lady, 1933), dois anos depois. 


AMOR DE DANÇARINA (DANCING LADY, 1933)

O casal sempre surpreende com seu entrosamento - mesmo com poucas cenas juntos
Durante as gravações de  Amor de Dançarina (Dancing Lady, 1933), o caso de Joan e Clark já estava esfriando e a apendicite do ator (outras fontes afirmam que era uma infecção de suas dentaduras) não ajudou nada no caso. Já separada de Douglas Fairbanks Jr, Joan chamou atenção de outra estrela do filme: o charmoso e educado Franchot Tone. 

Aconteceu o seguinte: logo na primeira semana de filmagens, que começou em 15 de julho de 1933, Clark Gable foi levado às pressas para o hospital para fazer uma apendicectomia ou tratar de sua infecção nas gengivas por causa da dentadura (seja lá o que fosse!), mas logo depois que retornou ele teve que ser internado novamente - abrindo caminho para o charme de Franchot. Ao saber disso, o ego de Clark ficou tão ferido que dizem que ele teria tentado fazer com que Tone fosse demitido do filme - sem sucesso. 

Sobre aquela época em suas vidas, Joan relembra:

Por mais que eu me importasse com Clark, aquela convicção de que nosso caso poderia durar não existia mais. Eu resolvi que nossa amizade bastaria. 
Em Amor de Dançarina (Dancing Lady, 1933), Joan interpreta Janie Barlow, uma aspirante à dançarina que busca sua grande chance de ser bem-sucedida. Ao conhecer o milionário Tod Newton (Franchot Tone), ele se apaixona por ela e faz de tudo para que ela consiga um papel no musical de Patch Gallager (Clark Gable). O que ele não esperava é que Janie se apaixonaria pelo produtor no meio do caminho. 

Franchot e Joan se casaram em 1935 e ficaram juntos por três anos 
O filme, aliás, conta com a primeira aparição de Fred Astaire e Nelson Eddy em um filme, interpretando eles mesmos! 

Amor de Dançarina (Dancing Lady, 1931) não tem a química característica de Joan e Clark e isso se explica em duas partes: 1) por causa da doença de Clark que o fez ficar ausente das gravações e diminuindo, consideravelmente, seu papel no filme e 2) pelo amor aparente entre Franchot e Joan, que dividiam o maior número de cenas. 

No mais, apesar de alguns números de dança longos demais e a falta de leveza de Joan Crawford como dançarina, o filme é uma ótima comédia romântica: repleta de momentos ternos, de números musicais esplendorosos e a novidade de ver Clark Gable dançando. Mas quem é fã do par Gable-Crawford fique avisado: a química real no filme acaba acontecendo entre Franchot e Joan. 

Sobre o começo de seu romance com Franchot, Joan afirmou: 

Com Franchot, para mim não foi amor à primeira vista, foi como muito à primeira vista. Franchot me disse, no entanto, que se apaixonou por mim na primeira vez que me viu.

Assim, o sempre atento Louis B. Mayer achou que já era seguro colocar Joan e Clark como co-protagonistas de novo e assim chegou Acorrentada (Chained, 1934). 

ACORRENTADA (CHAINED, 1934)

O beijo é tão famoso que está na cena de beijos perdidos do Cinema Paradiso.
Com o romance e os filmes entre Franchot Tone e Joan Crawford se empilhando, o público ainda clamava pela parceria da atriz e Clark Gable e conseguiram isso com Acorrentada (Chained, 1934).

O romance entre as duas co-estrelas estava esfriando, mas isso não significa que a química entre eles havia se perdido. Otto Kruger, que interpretou o amante mais velho da personagem de Joan, relembra:

Não era fácil estar em um filme com aqueles dois e esperar conseguir um pouco de atenção, mas eles eram maravilhosos, divertidos de se trabalhar, e não tentavam roubar a cena. Puramente profissional.

Em Acorrentada (Chained, 1934), Joan interpreta a jovem Diane Lovering, amante de um importante empresário Richard (Otto Kruger). Quando ele resolve se separar da esposa e ela não lhe dá o divórcio, ele dá a escolha para Diane: fazer uma viagem de navio para pensar no relacionamento e escolher se quer ou não ficar com ele. Mal Richard pensa que Diane encontraria o charmoso Michael Bradley (Clark Gable).

Joan e Gable na famosa cena da piscina
O filme, dirigido por Clarence Brown, o mesmo de Possuída, foi o primeiro que contou com o operador de câmera, George Folsey, que criou uma técnica para realçar as lindas feições da atriz. Para isso, ele a filmava um pouco acima do nível dos olhos e usava uma luz principal revestida com óleo para se focar nos melhores atributos de Joan: seus olhos e maçã do rosto. A parceria foi tão acertada que George e Joan trabalharam em mais sete filmes.

Foi no set de filmagens, aliás, que Joan conheceu seu pai, Thomas Le Seur pela primeira vez, mas após essa breve introdução, os dois nunca mais se viram. A atriz não estava interessada em nada vindo de seu pai. Já Clark, embora ainda casado com Ria, continuava com alguns de seus casos com estrelas e especula-se que mesmo com Joan namorando Franchot, o romance entre as duas estrelas de Acorrentada (Chained, 1934) nunca realmente acabou.

Acorrentada (Chained, 1934) é um filme que mostra o melhor de Gable e Crawford: o perfeito timing de comédia, inúmeras cenas calientes (para a época) com os dois e um roteiro muito bem amarrado e consistente - sem cenas ou falas desnecessárias. Um verdadeiro clássico da filmografia do casal e que foi muito bem-recebido pelo público e críticos na época.

Percebendo que tinha uma mina de ouro e seguro da posição de Franchot na vida de Joan, Louis B. Mayer não demorou nada para escalar Joan e Gable em Quando o Diabo Atiça (Forsaking All Others, 1934).


QUANDO O DIABO ATIÇA (FORSAKING ALL OTHER, 1934)

Um dos filmes mais "água com açúcar" da dupla
Outro sucesso de bilheteria, com uma história medíocre, Quando o Diabo Atiça (Forsaking All Others, 1934) reuniu quase que imediatamente Clark e Joan de volta para as telonas. Louis B. Mayer deveria estar confiante de que eles não teriam mais um caso - mas ele estava errado! 

Clark, Ria, Joan e Franchot continuavam a sair socialmente em encontros duplos e a negativa de Joan em se casar com Tone, apesar dos inúmeros pedidos dele, não ajudavam o seu caso. Em entrevista a um jornal em 1934, via o Blog Finding Franchot Tone, Joan afirmou sobre casamento: 

Eu não faria isso com o meu pior inimigo. Eu já fiz uma vez e ninguém vai me fazer passar por isso de novo. Eu não consigo explicar por que, mas os casamentos não duram neste tipo de negócio.

Assim, Quando o Diabo Atiça (Forsaking All Others, 1934) foi o último filme da dupla, do qual se seguiria um hiato de dois anos. O telespectador pode notar que, apesar de Gable e Joan serem par romântico, eles não tinham tanto tempo juntos neste filme quanto em outros longas - seria uma estratégia de Louis B. Mayer para manter as estrelas mais separadas? 

Robert Montgomery, Joan Crawford e Clark Gable
Em Quando o Diabo Atiça (Forsaking All Others, 1934), baseado na peça homônima de Frank Morgan Cavett, Joan interpreta a jovem vivaz Mary Clay que vai se casar com o seu amor de infância Dillon Todd (Robert Montgomery). Na véspera de seu casamento, ela recebe uma surpresa: a chegada de seu outro amigo, Jeff Williams (Clark Gable) que está apaixonado por ela. Sem saber, Mary vai em frente com o casamento, mas é abandonada por Dillon que se casa com outra mulher. Ainda apaixonada, ela faz de tudo para consegui-lo de volta. 

Apesar de ser uma comédia, Quando o Diabo Atiça (Forsaking All Others, 1934) não tem nada de engraçado: é na verdade incrivelmente mediano. Montgomery que é um bom ator se perde no papel de Dillon e se torna extremamente irritante fazendo o telespectador se perguntar o que a personagem de Joan vê nele. As poucas cenas entre Joan e Gable também prejudicam o desenvolvimento do filme - não se sabe por que ele a ama e nem como Mary vem a amá-lo. A culpa não é dos atores, no entanto, e sim do roteiro. Atenção, no entanto, para uma jovem Rosalind Russell como a socialite Eleanor. 

Joan concordava com essa concepção e afirmou com todas as letras: "o filme não era muito bom, mas o elenco ajudou". Montgomery ainda complementou:

Nós fizemos o nosso melhor para manter esse barco flutuando. Você não poderia ter pedido por um elenco melhor. Muitas risadas no set, mas talvez não na audiência. 

O filme, apesar dos problemas no roteiro, foi mais um sucesso para a MGM. Infelizmente, com a relutância de Joan em firmar casamento com Franchot, Gable e Joan não atuariam juntos por mais algum tempo. 

Após dois anos de namoro, Joan e Franchot se casaram no dia 11 de outubro de 1935 e não pensem que o ator era um mero substituto de Gable: a atriz realmente gostava dele, de sua sofisticação e de seu caráter e já havia desistido de ter um romance duradouro com Clark, quem ela achava que não serviria para ser marido.

Outra coisa que deu um "empurrãozinho" para Joan se casar com Franchot: o fato de ele ter uma química incrível com Bette Davis durante a gravação de Perigosa (Dangerous, 1935) e Bette ter se apaixonado por ele. Isso apressou a decisão de Joan de se casar com ele. 
A amizade com Franchot tinha durado por dois anos e foi se desenvolvendo devagar no que eu achei que seria o amor da minha vida. Como eu o respeitava! Ele tinha tanta graça e sanidade. Mesmo assim, eu hesitei - poderíamos ser felizes com nossas carreiras? 
A resposta foi sim: mas por um curtíssimo período de tempo.  

DO AMOR NINGUÉM FOGE (LOVE ON THE RUN, 1936)

Um dos filmes mais divertidos da dupla!
Louis B Mayer, já seguro que o casamento de Joan e Franchot estava bem sólido, resolveu escalar os dois para atuar ao lado de Clark Gable em Do Amor Ninguém Foge (Love on The Run, 1936). O único problema no paraíso era o crescente alcoolismo de Franchot e o relacionamento abusivo entre o casal - ele a batia e ela revidava. 

Nesses momentos, ela provavelmente buscou algum tipo de alívio com Clark Gable, mas se o fez foi de forma bem discreta: se Franchot descobrisse, as consequências seriam terríveis!  E além do mais, Clark já tinha (re)conhecido o amor de sua vida: Carole Lombard, que depois de dançar com ela durante o May Fair Ball em 19 de abril de 1936, ficou completamente apaixonado. Assim, com a determinação de Joan em fazer o casamento funcionar e a chegada de Lombard, o caso esfriou novamente para a amizade. 

Apesar de toda essa tensão na vida pessoal de Joan, no set de filmagens Gable e Tone não poderiam ter se dado melhor, especialmente por que já tinha atuado juntos em O Grande Motim (Mutiny on The Bounty, 1935), no qual Franchot foi indicado ao Oscar de Melhor Ator e se tornaram bons amigos - a inveja não existia mais. 

Franchot e Tone são super camaradas no filme
Em Do Amor Ninguém Foge (Love on The Run, 1936) Clark e Franchot interpretam os amigos jornalistas Michael e Barnabus que sempre tentam superar um ao outro ao escrever notícias. Michael fica encarregado de cobrir o casamento da socialite Sally Parker (Joan Crawford), mas ela decide fugir antes do casamento e conta com a ajuda do jornalista. O que eles não faziam ideia é que no avião havia um importante documento que definiria uma intriga política. Perseguidos, Michael e Barnabus ainda se focam em conseguir uma história para seus jornais com Sally sem saber de nada. 

Obviamente tentando imitar o sucesso de Aconteceu Naquela Noite (It Happened One Night, 1934), o filme erra nesse sentido: com um roteiro bem bobo e confuso, Quando O Diabo Atiça (Love On The Run, 1936), só funciona se o telespectador esquecer que há uma trama política e ver o longa como uma simples comédia romântica screwball. 

Joan, apesar da mediocridade de Quando O Diabo Atiça (Love On The Run, 1936), afirmou que esse é um de seus filmes favoritos:

Eu aproveitei demais esse filme. Não era um grande filme, mas todo mundo com que eu falei parece ter amado. 

Joan se separou de Franchot Tone em 1939 e Clark se divorciou legalmente de Ria durante as gravações de ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) para se casar com Carole Lombard, uma semana depois. 

ALMAS REBELDES (STRANGE CARGO, 1940)

Joan Crawford e Clark Gable em sua colaboração final 
Almas Rebeldes (Strange Cargo, 1940) veio em um momento desigual na carreira dos astros: com ...E O Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) Clark era um dos maiores astros do mundo. Já Joan foi declarada Veneno de Bilheteria em 1938 e uma série de filmes ruins no estúdio MGM (com exceção de As Mulheres de 1939), ela era vista com desdém e sem a sofisticação de Greta Garbo e Norma Shearer. Assim, estava atrás, desesperadamente, de papeis melhores. 

Joan viu essa chance com Almas Rebeldes (Strange Cargo, 1940) e resolveu encará-lo com unhas e dentes. Spencer Tracy recusou o papel principal e Joan sugeriu Clark. Os dois amigos não estavam nos melhores termos desde a recusa de Joan de estrelar o drama histórico Parnell - O Rei sem Coroa (Parnell, 1937) que foi para Myrna Loy. Clark se sentiu traído pela amiga e com o fracasso do longa e a amizade se deteriorou um pouco. 

O fato de ele estar tão bem casado com Carole Lombard também não ajudou muito. Joan havia decidido não continuar com Clark porque não achava que ele era bom material para marido e ali, como um homem devotado à esposa, ela se sentia um tanto arrependida:

Eu nunca achei que Clark seria um bom marido. Um bom amante, sim, um bom amigo, mas eu achava que ele seria um marido infiel. Eu não achava que ele ficaria satisfeito com uma só mulher. Ele nem precisava perguntar, sempre tinha alguém se jogando para ele. Eu sempre achei que ele não iria querer ter uma esposa atriz e sim alguém que fosse devotada à ele. Eu estava errada. 

A última parceria dos dois no cinema
Em Almas Rebeldes (Strange Cargo, 1940), baseado no livro Not Too Narrow, Not Too Deep de Richard Sale, Clark Gable interpreta o criminoso André Verne que tenta escapar da prisão de qualquer jeito possível. Em um de seus trabalhos nas docas, ele conhece a showgirl Julie (Joan Crawford) e tenta fugir com ela. Verne acaba preso novamente e com a ajuda do plano de outros presos, ele consegue escapar e seu caminho se cruza com Julie novamente. O grupo tem que sobreviver à vários obstáculos e Verne tem que decidir entre honra ou liberdade. 

O filme lá tem os seus momentos bons, mas peca pelo discurso extremamente religioso e óbvio: se a figura de Cambreau (Ian Hunter) não fosse tão onipresente e certo de tudo, o longa seria de uma fluidez mais orgânica. No fim, Almas Rebeldes (Strange Cargo, 1940) é um filme confuso que prevalece, mais uma vez, pela ótima química entre Gable e Joan. 

Aquela certa química ainda estava entre nós. Fazer um filme com Clark era sempre tão energizante e, relaxante em outro sentido. Ele não fazia esforço, mas o resultado era maravilhoso. - Joan Crawford 
Alguns sites afirmam que havia tensão entre Joan e Clark durante as gravações, mas o problema real foi que a MGM queria colocar o nome do ator antes do de Crawford. Ela lutou contra unhas e dentes e conseguiu seu nome em primeiro lugar - no material de divulgação, no entanto, o nome de Gable era o destaque. 


Os dois seguiram como amigos e se uniram ainda mais com a morte trágica de Carole Lombard em 1942, após o avião em que ela estava para voltar para casa caiu no Oceano Pacífico. Joan foi uma de suas amigas mais queridas nessa época e fez questão de gravar Eles Beijaram a Noiva (They All Kissed The Bride, 1942) que seria o próximo filme de Lombard. 

Ela doou todo o seu salário para o Movimento Internacional da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho e demitiu seu agente quando ele pediu seu usual 10%. Clark, logo depois, se alistou ao Exército para lutar na II Guerra Mundial, pela memória de sua falecida esposa. 

Joan Crawford e Clark Gable continuaram amigos durante a vida toda. 

A criatura em O Monstro da Lagoa Negra (1954)

Julie Adams, a eterna Kay Lawrence de O Monstro da Lagoa Negra (Creature from The Black Lagoon, 1954), morreu aos 92 anos de idade no dia 3 de fevereiro de 2019. Apesar de ter feito vários outros filmes, participações em séries e até arriscado um pé no teatro, é impossível desconectar a imagem de Julie da cena maravilhosa dela nadando no lago, em sincronia, com o monstro

Os efeitos especiais do filme, desde as cenas de nado e ataque da criatura até o próprio visual do monstro, foram um esforço de equipe liderado por Bud Westmore (diretor de maquiagem artística), Russell A. Gausman e Ray Jeffers (responsáveis pelo cenário), Scotty Welbourne, responsável pela fotografia na água e James Curtis Havens que dirigiu as cenas debaixo d'água de O Monstro da Lagoa Negra (Creature from The Black Lagoon, 1954). 

Julie, ou melhor Kay, assustada com o realismo da criatura                            Divulgação
De acordo com o livro Meet the Creature from the Black Lagoon por Brent Peterson, o fato de O Monstro da Lagoa Negra (Creature from The Black Lagoon, 1954) ter sido todo filmado em formato 3D, ou seja, em vidros de papelão com lentes especiais, realçava todos os detalhes do longa, fazendo com que eles pulassem para fora das telonas. 

O mais importante, no entanto, era a formação da criatura, muito mais do que os atores que os interpretavam. Para as cenas em terra firme, Ben Chapman foi o escolhido por sua imponente altura: 1,95 cm! Já para aquelas que aconteciam na água, e que exigiam uma expertise, o escalado foi Ricou Browning, um campeão olímpico que conseguia segurar sua respiração por mais de cinco minutos debaixo d'água. . 

Chapman, no entanto, tinha uma rixa com Ricou, até afirmando, erroneamente, que ele teria sido seu dublê debaixo d'água. Mas em entrevista ao site The Reel Gilman, Ben Chapman resolveu se focar no filme e contou como era feito o traje que usava de monstro, que demorava até três horas para ser colocado:
O traje era feito de borracha de espuma. Não era pesado, era bem leve. Era confortável, a única coisa ruim é que era apenas de uma peça e só o meu rosto recebia ar. O resto estava todo fechado, o que era perigoso já que se você fecha seus poros, é desse jeito que seu corpo respira. [...] Se eu estivesse em um lago e me sentia hiperventilando, eu entrava na água e nadava o dia todo. Se eu estivesse no estúdio, eu tinha um cara com uma mangueira. 
No caso de Browning, a borracha de espuma embaixo d'água deixava o traje pesado e frio e ele tinha que batalhar para poder se esquentar. No começo, a equipe lhe dava algumas doses de whisky para ficar mais acesso, mas quando ele começou a ficar bêbado e "nadando em zigue zague", a alternativa foi descartada e o nadador teve que lidar com o frio.

O Monstro da Lagoa Negra foi baseado no folclore brasileiro o Cabloco D'Água, tanto que o longa se passa no Brasil.  O Cabloco é um ser mítico, defensor do Rio São Francisco que tem uma aparência monstruosa com garras e barbatanas, e que defende o rio de pescadores e exploradores. Ele pode viver fora d'água, mas não pode ficar muito longe da beira do lago. A Universal queria tanto que os telespectadores acreditassem que a criatura era real que não creditou os atores no longa-metragem, para tentar criar uma atmosfera de mistério entre os fãs do filme. 

Milicent Patrick, atriz e maquiadora, foi outra que não recebeu o devido crédito no filme, mas foi a responsável pela criação da criatura e todo o visual que os fãs conhecem e amam. Era vista, inclusive, no set de filmagens dando alguns retoques artísticos em sua criação. Em 1952, trabalhando no estúdio da Universal, a experiente artista foi contratada por Bud Westmore para criar todo o visual da criatura, tendo feito o mesmo para filmes renomados de terror como Abbott e Costello Enfrentando o Médico e o Monstro (1953) e Veio do Espaço (1953). 

Milicent foi a segunda mulher, depois de Diana Gemora, a projetar um monstro icônico dos cinemas.
Segundo a entrevista de Milicent para o jornal The Brooklyn Eagle Daily em 1954 intitulado Science Fiction Monsters - Who Invents Them? A Girl!, a criatura, ou melhor o visual final de como seria o Gill-Man demorou seis semanas para ficar pronto:
Eu fiquei seis semanas fazendo ele. Ele mudou de forma três vezes antes de receber a aprovação dos executivos que dão a última palavra em Hollywood. A forma que ele está agora, eu acho fofo. Mas isso é porque eu trabalhei nele durante tanto tempo. Espera-se que ele assuste outras pessoas. 
Apesar do que é divulgado em muitos sites e jornais, Milicent foi a única responsável pela concepção visual do Gill-Man. Bud Westmore e sua equipe de maquiagem artística ficaram encarregados apenas da tarefa de esculpir o monstro. O processo era feito da seguinte maneira: colocavam um gesso para tirar um molde de cada pessoa que usaria o traje, que era preenchido com látex líquido, colorizado de verde no caso da criatura, com nuances de ouro e marrom para dar mais profundidade ao traje. 

O molde de látex, com todos os acessórios prontos, era colado em um tecido de algodão bem fino e de tamanho exato dos atores, junto com a cabeça, com espaço grande para os olhos e a boca, e o pé sendo colocados separadamente. Os detalhes eram adicionados e colocados por cima desse molde que no corpo, era de espuma de borracha.

As botas, que representavam o pé tinham um zíper que iam até as panturrilhas com um barbatana cobrindo essa parte. A mesma coisa acontecia com as mãos: os zíperes, do lado de dentro das luvas, eram cobertos por outras barbatanas. As luvas então eram presas no resto do traje para parecer que eram um só. Finalmente, a parte da cabeça também tinha um zíper atrás, coberto por mais uma barbatana. Assim foi criado a criatura!

Bud Westmore, Chris Mueller Jr e Milicent Patrick: responsáveis pela criatura. Abaixo, Ricou sendo moldado e Ben na fantasia
Com toda a publicidade da Universal centrada em Milicent Patrick, que estava sendo denominado de A Bela que Desenhou a Besta, Bud ficou possesso e mandou memorandos dentro do estúdio afirmando que ele era o criador da criatura, sendo que Milicent apenas ajudou a finalizar seu já iniciado trabalho, e que ele nunca mais a contrataria para nada dentro do estúdio. Uma clara tentativa de diminuir o trabalho de Milicent Patrick, como elabora o livro The Lady From The Black Lagoon de Mallory O'Meara, baseado na vida da artista. 

Porém não foi apenas Milicent que teve seu nome apagado dos créditos do filme. Apesar de Scotty Welbourne ser creditado como chefe de fotografia debaixo d'água, Ricou Browning conta que o profissional era o verdadeiro responsável de como ele deveria agir em suas cenas, em entrevista ao livro Universal Terrors, 1951-1955: Eight Classic Horror and Science Fiction Films por Tom Weaver, David Schecter, Robert J. Kiss
Nós ficávamos na beira do lago com Havens [creditado como diretor das cenas aquáticas] e nós falávamos e ensaiávamos a cena que seria, por exemplo, 'a criatura nada atrás da garota'. Então quando o resto de nós íamos lá para baixo, nós tínhamos que achar um jeito de gravar a cena e como teria que ser feito. Scotty e eu eramos os responsáveis por isso. Se eu tinha ido bem, Scotty e eu dizíamos: 'Foi ótimo' e Havens dizia: 'Ok' e então fazíamos a próxima sequência. 
Ricou, aliás, junto com a dublê de Julie Adams, a Ginger Stanley, foram responsáveis pela belíssima cena de "balé na água" do filme. A atriz revelou que, para ela, a cena era como "fazer amor" e elabora:
Para mim, um dos momentos mais excitantes de O Monstro da Lagoa Negra foi quando fomos ver Florida Unit Dailies com Ricou e Ginger fazendo o seu belíssimo balé na água.O jeito que ele imitava cada movimento dela era incrível e ainda mais maravilhoso quando foi juntando com as minhas próprias cenas nadando na superfície. Eu ainda amo ver essa cena. 

A maior parte de O Monstro da Lagoa Negra (Creature from The Black Lagoon, 1954) foi gravada na Califórnia no estúdio da Universal, mas a fantástica cena de balé aquático foi a única gravada fora: no sul da Flórida em Wakulla Springs.

Nas cenas no tanque de água da Universal, Ricou Browning usava a técnica de respirar com uma mangueira de ar, no qual vários homens em diversos cantos do tanque, ficavam com um à postos caso ele precisasse respirar.

Ele relembra: "Eu teria um homem de segurança segurando a mangueira de ar enquanto eu estivesse respirando. Quando eu estivesse pronto, eu dava um sinal de ok ao Scotty e continuava respirando. Quando ele me desse o ok e eu deixava a mangueira com o homem e nadava. Do outro lado havia um outro homem que estava com uma mangueira se eu precisasse."

Acima, no tanque da Universal. Abaixo, no lago da Flórida. 
O tanque do estúdio Universal, conforme o livro Universal Terrors, 1951-1955: Eight Classic Horror and Science Fiction Films por Tom Weaver, David Schecter, Robert J. Kisstinha 9 metros de profundidade e 6 metros de diâmetro, com um buraco para a entrada e outo para a saída. Existiam várias réplicas da cabeça do Gill-Man para as cenas debaixo d'água e apenas uma peça de corpo, processo esse que demorava mais para ser feito do que os outros. Como era extremamente colado, os atores que interpretavam a criatura tinham que manter o peso sempre regular, sem engordarem ou emagrecerem.

Os artistas Jack Kevan, que supervisionou o visual final da criatura, Chris Mueller e Bob Hickman foram os verdadeiros responsáveis por esculpir o Gill-Man e por transformar, em realidade, o desenho de Milicent.

Apesar de ganhar mais dois filmes, a Revanche do Monstro (Revenge of The Creature, 1955) e À Caça do Monstro (The Creature Walks Among Us, 1956) foi o longa original, lançado em 12 de fevereiro de 1954, que conquistou o coração do público e dos fãs de filmes de terror. Nenhuma das outras continuações contou com os atores originais e a magia da criatura, foi pouco a pouco, se perdendo sem conseguir ser replicada.

Em O Monstro da Lagoa Negra (Creature From The Black Lagoon, 1954) tudo se encaixa e mostra , ainda, como uma terrível criatura pode ser tão bela: basta olhar mais de perto.

Life Magazine

© all rights reserved
made with by templateszoo