A vinda adorável de Jeanette MacDonald ao Brasil

Jeanette MacDonald ganhou o coração do público americano ao estrelar no filme Alvorada do Amor (Love Parade, 1929) e com sua parceria com Nelson Eddy em mais de cinco filmes (Rose Marie ganhou uma resenha aqui!), a soprano marcou seu lugar como uma das mais talentosas atrizes do cinema. 

Tanto que sua vinda ao Brasil em 19 de fevereiro de 1954, fazendo parte da comissão do Festival Internacional de Cinema do Brasil, que aconteceu em São Paulo, para comemorar o IV Centenário da cidade, foi recebida com muita alegria. Delegações de vários países como a Itália, Argentina, Japão e a França compareceram, mas nenhuma fez tanto alvoroço quanto os americanos. 

Ao lado de Jeanette e seu marido Gene Raymond, outras estrelas compareceram em peso como Errol Flynn e esposa, Joan Fontaine e marido, Jane Powell, Rhonda Fleming,Irenne Dunne, Ann Miller, Collier Young, Jeffrey Hunter e esposa Barbara Rush, Fred MacMurray e sua namorada June Haver, Waltder Pidgeon, Edward G. Robinson, Robert Cummings e esposa, Helmut Dantine, Janet Gaynor e seu marido, o estilista Adrian. 

Jeanette MacDonald brilhando em São Paulo                                          Revista Manchete
Jeanette embarcou ao lado de seu esposo, Gene Raymond, e seus colegas de Hollywood, em um avião em Los Angeles, no dia 18 de fevereiro, logo pela manhã. Todos deveriam desembarcar no Aeroporto de Congonhas às 17h30, mas atrasos fizeram com que o quadri-motor da Braniff Airways apenas pousasse na terra da garoa às 21h. Isso não impediu, no entanto, a recepção mais do que calorosa dos fãs, apesar de uma chuva torrencial acontecendo lá fora. 

Os astros, contudo, passaram correndo pela alfândega e logo entraram no carro, sendo protegidos pelos polícias e não tendo nenhum contato nem com os fãs e nem com a imprensa. Chegaram seguros, escoltados pela Polícia Marítima, e ficaram no Hotel Jaraguá, um dos mais chiques de São Paulo. 

Jeanette ao lado de Gene Raymond no aeroporto - atravessando a multidão de fãs        Correio Paulistano
De acordo com a revista Correio Paulistano, o itinerário dos astros da delegação americana era bem conciso:
No dia 20, uma entrevista coletiva dos astros às 15h no Palácio do Trocadero. Os artistas permanecerão em São Paulo até o dia 26, depois rumo para Rio de Janeiro para passar o Carnaval, no dia 28 visitando o presidente da República e no dia 1 de março participarão do grande baile do Municipal.
No dia 20, no entanto, Jeanette compareceu ao lado de seu marido, Gene, e seus amigos americanos ao I Festival de Cinema de São Paulo, que ocorria no famoso Cine Marrocos. Ela foi assistir a exibição dos filmes e foi flagrada na saída ao lado da estrela Laura Hidalgo, protagonista do filme argentino exibido no local, intitulado Maria Madalena, que foi todo rodado na Bahia.

Ainda segundo a revista O Cruzeiro, durante o Festival, Jeanette ficou comovida com as demonstrações de carinho dos fãs e afirmou que voltaria "feliz aos Estados Unidos, com a certeza de que sua obra no cinema ficará para sempre". E chorou.

Jeanette durante o festival no Cine Marrocos - atrás, Joan Fontaine
Porém, como já é de praxe, as visitas dos astros no Brasil não ocorrem sem aquela polêmica! No caso da delegação americana, a entrevista coletiva não ocorreu no dia planejado e os jornalistas ficaram furiosos, culpando os artistas à todo o momento. A coletiva finalmente aconteceu às 11h no dia 23 de fevereiro no Palácio do Trocadero e os americanos pediram desculpas, avisando que apenas seguiam o itinerário que lhes era passado pelos realizadores do evento, como o sr. Eric Johnston e Jorge Guinle.

Como sempre, no dia 23 de fevereiro, dia da coletiva, Jeanette estava acompanhada do marido Gene Raymond, com um vestido branco chique e com uma lenço com seu nome gravado. Os jornais da época notaram que ela odiava "ser fotografada de óculos" e sempre os tirava quando percebia que alguém tirava um click dela. As perguntas da coletiva de imprensa eram as mesmas: quando ela faria mais um filme com Nelson Eddy. Sua reposta, via Correio da Manhã:
Sim, gostaria de fazer um outro filme com o Nelson Eddy. A diferença está em encontrar a história adequada... 
Jeanette e Gene ao lado de Joan Fontaine, abaixo à esquerda na coletiva e na direita no desembarque.
Mas você está errado(a) se acha que Jeanette, por ter na época 50 anos de idade, ficou no seu hotel descansando ao lado de outras estrelas como Irenne Dunne e Janet Gaynor. MacDonald caiu na noite paulistana ao lado do marido, frequentando as incríveis "boites", ou seja, as baladas da época. 

Ao lado de jovens estrelas como Ann Miller, ela brilhou ao cantar na noite paulistana e de acordo com o Diário da Noite foi quem "mais aplausos arrancou". Tanto que, ainda na capital paulista, o jornal Correio da Manhã conta que Jeanette deu um verdadeiro show:
Na capital paulista, os americanos costumavam iniciar suas noites no Oasis (uma "boite" da época) e terminá-las no Esplanada. Esta última boite foi muito mais feliz, porque certa noite, Ann Miller, Jeanette MacDonald, Jane Powell, Walter Pidgeon, Edward G. Robinson e Gene Raymond deram um verdadeiro "show".
Jeanette ao lado da esposa de Jorge Guinle e seu marido, Gene - mais afastada, Barbara Rush
E os dias de Jeanette MacDonald no Brasil continuaram mais agitados do que nunca! No dia 24 de fevereiro, em São Paulo, todos da delegação americana foram convidados para participarem de um maravilhoso banquete na Fazenda da Penha, propriedade de Iolanda Penteado Matarazzo, a grande dama da sociedade paulista, em Leme. Foram para lá em um trem exclusivo e depois levados de ônibus para a Fazenda Empyreo, sendo recebidos com fogos de artifício e uma banda local, como relata o jornal Correio da Manhã.

A publicação ainda revela que Jeanette se divertiu muitissímo na Fazenda, comendo iguarias brasileiras como o vatapá e aracajé. Gene Raymond saiu por aí cometendo algumas "indiscrições" que supostamente não foram flagradas pelas câmeras. Já Jeanette se sentou ao lado da colega, a sempre lady, Irenne Dunne. Notou-se, também, pela imprensa, o quão educada e bondosa era Jeanette, afirmando que ela "falou muito, atendendo à todos." O regresso dos americanos se deu na madrugada, pelo mesmo trem especial.

Jeanette ao lado de Irenne - com ela segurando uma revista com sua foto estampada
A estrela de Rose Marie (idem, 1936) ficou com seus colegas americanos e o marido, Gene, em São Paulo até o dia 27 de fevereiro, o dia do encerramento do I Festival de Cinema de São Paulo, quando partiu para o Rio de Janeiro, chegando à Terra Maravilhosa para as festas de Carnaval. Toda a delegação da terra do Tio Sam ficou hospedada no luxuoso hotel Copacabana, naquele anexo incrível, e chegaram ao Rio pelo Aeroporto do Galeão.

Logo no dia 28 de fevereiro, uma dia depois de sua chegada, os americanos, incluindo a atriz, foram convidados para uma recepção no Palácio do Itaboraí, em Petrópolis no Rio de Janeiro, para encontrar o presidente Getúlio Vargas. Ele não compareceu, mas os astros confraternizaram com o governador Ernani do Amaral Peixoto e a senhora Alzira Vargas do Amaral Peixoto. Após a recepção, os astros foram convidados para jantarem na residência de Campo do sr. Fernando Delamare, em Samambaia, próximo à região serrana. Lá realizou-se uma autêntica festa carnavalesca em homenagem aos convidados.

Na foto abaixo, da revista A Noite: Suplemento, Jeanette está ao lado de seu marido e convidados no Palácio do Itaboraí, de braços dados com o governador. Que honra para ele!

Ernani - o felizardo!
Nesse ínterim de 28 de fevereiro a 5 de março de 1954, Jeanette e a delegação americana compareceram a uma infinidade de festas, inclusive uma dada pelo próprio ministro Oswaldo Aranha, no sítio do ilustre sr. Inácio Nogueira. Na festa/almoço, Oswaldo conversou animadamente com Jeanette e também a levou para dançar - foi notado pelo jornal O Cruzeiro que ela dançava tão bem quanto cantava. Outro que também bailou com a estrela foi o sr. Assis Chateaubriand - e parecia nas nuvens com a situação!

Jeanette na recepção - com muito samba. Acima com Oswaldo e abaixo com Assis
Também ocorreu um chique coquetel na casa do casal Jorge Prado, seguido por um jantar bem-chique do empresário e senhor Horácio Lafer. De acordo com a coluna da sociedade de Jacinto de Thormes, para o Diário Carioca, a festa ocorreu no começo de março, e Jeanette ficou deslumbrada com a fineza do local. Ela teria dito que "há anos não tinha visto um jantar tão elegante". Gene Raymond, por outro lado, ficou temeroso pela presença do colunista e o sr. Bento Ribeiro Dantas, o assegurou que ele não precisava temê-lo, pois era do "bem".

Jeanette ao lado de Horácio Lafer
Jeanette também aproveitou os bailes carnavalescos durante sua estadia no Rio de Janeiro. Com uma frisa particular ao lado dos outros astros, ela "se jogou" nos bailes no Municipal, embora não tenha comparecida fantasiada, como Ann Miller e Jane Powell.

De acordo com o jornal Manchete, as atividades favoritas de Jeanette foram jogar confetes e serpentinas, evitando a muvuca típica do carnaval, e acenando para seus queridos fãs.

Jeanette ao lado de Gene e Janet Gaynor -aproveitando o Carnaval carioca
O resto da estadia de Jeanette e o marido, Gene Raymond, foi só alegria, tanto que a atriz fez questão de visitar o Teatro Municipal do Rio de Janeiro antes de partir do Brasil, ficando mais de uma hora no local. Antes de partir ela fez questão de se encontrar com Barreto Pinto, de quem era grande amiga, assim como era da cantora Bidu Sayão:
Barreto Pinto, já somos velhos amigos desde 1939, quando esteve em Hollywood. Não lhe quis, porém, importunar, avisando dessa minha visita. Mas agora, ao retirar-me, quero dizer-lhe que estou profundamente impressionada com o que me foi possível ver. O Teatro Municipal goza de uma grande reputação e prestígio no mundo inteiro pelas suas grandes Temporadas Líricas. -Jeanette em entrevista ao jornal Diário da Noite.
Barreto replicou, dando brecha para um convite de que Jeanette se apresentasse no Festival do Rio de Janeiro em outubro daquele mesmo ano. A atriz, no entanto, educadamente recusou:
Quem sabe? E contudo parece impossível em 1954, devido a grande turnê que tenho que empreender agora pelos países escandinavos. 
Jeanette, Gene e Barreto Pinto no Teatro Municipal
Mas engana-se quem pensa que a partida dos americanos foi sem alguns contratempos. De acordo com os jornais da época, o avião da Braniff estava programado para deixar o Aeroporto do Galeão às 11h do dia 5 de março de 1954. Não foi isso que aconteceu já que alguns artistas não acordaram e a partida só aconteceu às 12h30.

No aguardo da partida do avião, Jeanette e Gene ficaram sentados em uma das mesas do restaurante do Aeroporto ao lado de Walter Pidgeon e seu affair brasileiro, conhecida apenas como L. B. Segundo o jornal Tribuna da Imprensa, a razão do atraso foi Edward G. Robinson, June Haver e Fred MacMurray, que partiriam direto para Hollywood, mas decidiram, depois de não serem acordados à tempo, tomar o avião que partiria para Buenos Aires com os outros artistas.

Assim, com muita emoção, a delegação americana, incluindo Jeanette MacDonald, foi embora do Brasil no dia 5 de março de 1954, pelo aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro, sem a companhia de Janet Gaynor e Adrian, Jane Powell e Rhonda Fleming, rumo ao Festival de Cinematográfico de Mar de La Prata, em Buenos Aires, Argentina, onde todos ficaram por uma semana antes de retornarem para casa.
Um up close da diva Jeanette MacDonald: viva!
Tônia Carrero, grande atriz brasileira, foi uma das que teve sorte de conhecer Jeanette e as outras estrelas ao vivo durante o Festival e afirmou, via A Noite:
Foi muito comovida que apertei a mão de Jeanette, de Janet Gaynor e Irenne Dunne, grandes artistas que conheço desde infância. Acostumei-me, desde menina, a apreciar o trabalho dessas artistas e vê-las agora, conversar com eles na minha terra, não podia deixar de me causar uma grata emoção. 
E assim foi a visita de Jeanette MacDonald no Brasil: adorável, deixando claro que ela era uma artista de primeira classe que encantou à todos com sua gentileza, modos e principalmente a sua voz - e andar - de anjo.

5 atrizes que lançaram tendência com a ajuda de Max Factor

Inteligência e ser chique são fatores necessários na carreira de uma mulher, tanto em maquiagem quanto em roupas. - Max Factor, 1937.

Max Factor, nome verdadeiro Maksymilian Faktorowicz, foi responsável pelo visual de inúmeras estrelas icônicas de Hollywood, como Marlene Dietrich, Bette Davis e Norma Shearer. Nascido na Polônia, Rússia em 15 de setembro de 1877, sua família era pobre e seus pai (sua mãe faleceu quando era uma criança) não tinha condições de pagar uma educação formal nem para ele e nem para os seus outros nove irmãos. 

De acordo com o livro Max Factor - O homem que mudou as faces do mundo de Fred E. Basten, Max ajudava a família como podia, vendendo laranjas e trabalhando no lobby de um cinema no Czarina Theater. Ele começou como assistente de um dentista e depois virou aprendiz do melhor construtor de perucas e esteticista em sua cidade natal, Lodz. Aos 13 anos, recebeu um upgrade trabalhando com o famoso cabeleireiro e criador de maquiagem, Anton de Berlim e um ano depois se juntou ao grande Korpo, construtor de perucas e maquiador da Imperial Russia Grand Opera. 

Após seu tempo atendendo a corte russa, Max foi alistado pelo serviço imperial e ficou quatro anos no Exército. Ao sair, abriu sua própria loja que chamou atenção dos Romanoffs e ele se tornou o queridinho da corte, porém isso significava que ele não tinha liberdade alguma - nem para namorar ou fazer algo além do que a realeza queria. Conheceu sua futura - e primeira de três- esposa, Esther Rose, em sua própria loja de cosméticos, os dois casaram-se em segredo e com a ajuda de um general, Max conseguiu fugir da Russia e foi direto para a América, especificamente St. Louis para participar da grande e famosa feira da região. 

Max Factor - um homem imponente, mas de baixa estatura
Com um parceiro que falava inglês, Max Factor (cujo o nome surgiu num erro da alfândega) estreou na feira de St. Louis com muito sucesso e logo os seus produtos de cosméticos já eram cobiçados por todos os Estados Unidos. 

O famoso esteticista apenas ingressou em Hollywood em 1914, quando criou uma base para as peles dos atores que não derreteria, formaria fissuras ou mancharia sob as luzes fortes dos holofotes e se tornou, assim, o esteticista mais procurado pelas estrelas do cinema norte-americano. Com 12 tons de base, chamada Supreme Greasepaint, de consistência bem mais fina do que as usadas no teatro, ele as vendia em forma de creme e em tubos - e o melhor de tudo não eram tão grudentas quanto as anteriores e eram específicas para peles secas e/ou oleosas. 

Dois anos depois, segundo o livro Max Factor and Hollywood: A Glamorous History de Erika Thomas o russo foi contratado para supervisar a maquiagem de um filme, o intitulado Joana D'Arc - A Donzela de Orleans (Joan The Woman, 1916). Essa foi a primeira vez em Hollywood que uma pessoa era contratada para supervisionar apenas a maquiagem dos atores, de acordo com as luzes e filmagens: antes as estrelas tinham que se virar sozinhas.

Os infográficos de "harmonia de cores" de Max Factor 
Em 1918, Factor inovou novamente criando a harmonia de cores, criado especialmente para as estrelas do cinema. Nela, o esteticista afirmava que loiras, morenas, loiras escuras (brownettes) e ruivas necessitavam de cores diferentes para alcançarem suas melhores aparências. Max afirmava que existiam "pó, blush e batons e sombras" em sua linha de maquiagem que melhor realçavam as características de cada mulher e as famosas de Hollywood logo apareceram em sua loja como um enxame de abelhas - de novo. 

As mulheres não-famosas e que até então não usavam maquiagem (os produtos eram apenas usados por estrelas de cinema ou teatro) se baseavam na harmonia de cores para finalmente começarem a se pintarem, introduzindo o Society Make-up. Nele, existia salões específicos para cada tom de cabelo, adicionados em 1935: o "Blonde Room" inaugurado por Jean Harlow de cor azul, o "Brunette Room" por Claudette Colbert de cor rosa, o "Bronwette Room" por Rochelle Hudson era pêssego e o "Redhead Room", de cor verde, por Ginger Rogers, mesmo ela não sendo ruiva.

Max era o deus da maquiagem e as estrelas (e estúdios) apenas viviam no seu mundo. Vem conferir estrelas que uniram o talento único de Factor com os dela e lançaram tendência, abaixo! 

Jean Harlow
Max Factor aplicando rouge em uma de suas musas: Jean Harlow 
O primeiro encontro de Max Factor e Jean Harlow aconteceu graças ao produtor Howard Hughes, que havia contratado a futura estrela para ser a protagonista em seu filme Anjos do Inferno (Hell's Angels, 1930). 

Excêntrico, o produtor queria que Jean tivesse um visual diferente das demais atrizes de fama da época e a levou para as mãos de Max Factor, a referência de beleza de Hollywood, em meados de 1928. De acordo com o livro Max Factor's Hollywood, Hughes teria sido bem específico sobre o que ele queria para Harlow:
Efetuar uma alteração em sua aparência, uma que a faria se tornar internacionalmente conhecida e falada do dia para a noite. 
Apesar do que o site oficial dos produtos de Max Factor afirma, Jean Harlow sempre deixou claro que a pessoa que cunhou a frase "platinum blonde", ou seja, loira platinada, foi Lincoln Ouarberg, publicista de Hughes. Jean ficou conhecida como a "blonde bombshell" e graças ao tratamento de cor que ganhou no salão de Factor  para clarear ainda mais os seus cabelos já loiros (uma versão alternativa do ash blonde), ela ganhou o visual que a destacaria para sempre. 

Em 1954, quando Max Factor Jr. já havia tomado as rédeas da companhia, há várias menções de que Factor foi o responsável pela transformação do cabelo da atriz. Harlow sempre aparecia em propagandas sobre a "harmonia de cores" da companhia, cujo o esteticista reformulou para que as paletas se adequassem ao cabelo platinado e a pele pálida da atriz.

Anúncio da linha feita para Harlow
O que se sabe de fato, além disso, é que Max Factor criou uma paleta de cores única para combinar com o novo tom de Harlow: com uma maquiagem mais pesada e escura nos olhos e lábios no mesmo tom e delineados para contrastar com sua palidez.

Os mesmos livros sobre o Max que afirmam que foi ele o criador do platinum blonde, também declaram que o esteticista aplicava partículas de ouro nas perucas de Marlene Dietrich, o que já foi refutado por sua própria filha, Maria RivaMas como Factor era o único expert de maquiagem naquela época em Hollywood, com certeza ele deve ter sido o responsável pelo conceito da cor de cabelo de Jean, mas é óbvio que não foi ele quem realizou a transição - afinal ele não era cabeleireiro.

Clara Bow
Para Bow, a it girl de Hollywood, ele criou o "cupid's bow"
Clara Bow, a primeira it girl de Hollywood, e Max Factor tinham um relacionamento de muita amizade, dentro e fora dos sets de filmagens. Em testemunho para a revista Cosmopolitan, em 1932, parte de seu contrato com Factor, a grande queridinha da América afirmou:
Pelos últimos seis anos eu uso as maquiagens de Max Factor e eu a considero a única maquiagem satisfatória que existe no mercado. 
Conhecido como "Pops" (pai, tradução livre) pelos famosos de Hollywood, Max teria conhecido Clara depois que alguns de seus primeiros testes não teriam dado certo. De acordo com a notícia Max Factor - Creator of Cinderellas do jornal The Telegraph, Clara procurou o esteticista em sua loja de Hollywood e lhe pediu conselhos de como se destacar. 

Assim, a ruivinha mais famosa de Hollywood nos anos 20, recebeu um tratamento completo de Factor, que deixou suas sobrancelhas mais arqueadas, marcou suas bochechas com um tom de carmin e pintou um "cupid's bow", ou seja, um arco de cupido em seus lábios. Clara Gordon Bow então estava mais perto de se tornar a it girl do cinema. 

Um up close nos lábios famosos de Clara Bow
Os lábios de Clara Bow, o conhecido como "cupid's bow" nada mais era que uma versão menos exagerada do "bee-stung lips", que foi desenvolvido por Factor lá nos anos 10 e se tornou famoso ao ser usado pela primeira vez por Mae Murray. 

O "cupid's bow" e o "bee-stung lips", que também são conhecidos como "rosebud lips"(ou seja, lábios de botões de rosa) e até como "vampire lips" foram criados por uma necessidade em Hollywood devido às luzes quentes de iluminação dos cenários.

A pomada labial, até então usada pelas estrelas, derretia durante as cenas e escorria por todo o rosto das atrizes. Portanto, Max Factor decidiu inovar, assim como fez com suas bases, e criou um novo estilo de batom e aplicação que resolveu o problema das estrelas, tornando-as ícones de beleza como Bow!

Mae Murray
Com Mae Murray, a pioneira dos "lábios picados por abelhas"
Mae Murray ficou eternizada como a "garota dos lábios picados por abelhas", ou em seu original, "the girl with the bee-stung lips". A loira que começou no showbussiness como uma ziegfield girl, logo alcançou fama nos cinemas, apesar de já estar nos meados de seus trinta anos de idade. 

Ela ficou conhecida por essa alcunha graças à alguns agentes de publicidade de Hollywood ao aparecer com o visual, pela primeira vez, no filme The Big Sister (idem, 1916). Segundo a biografia de Murray, o Mae Murray: The Girl With The Bee Stung Lips de Michael G. Ankerich, a atriz já tinha os lábios bem cheios e a técnica de Max Factor apenas os acentuou:
Me deram essa publicidade de "lábios picados por abelhas", porque meu lábio superior é bem cheio. Eu fiquei conhecida por todo esse tempo por essa alcunha. Foi muito bom, eu não me oponho quanto à isso.
Em seus livros de maquiagem, Factor demonstrava como atingir o visual de Mae Murray e, consequentemente, o de Clara Bow. Para tanto, era necessário seguir os seguintes passos: cobrir a boca com uma base da cor da pele, em seguida colocar um batom líquido vermelho (no caso das atrizes de cor preta para as telas nos filmes preto e branco) bem vivo no centro dos lábios, passando um pouco da linha natural do lábio superior para deixar o visual mais cheio, e ir misturando para fora, sem atingir o canto da boca. 

Portanto, a boca das estrelas ficava com um formato de botão de rosa, bem delicado e delineado, já que a consistência do batom líquido era resistente e não derreteria com as fortes luzes do estúdio. 

Foto de Max demonstrando a técnica
Mae Murray continuou usando o estilo "bee-stung lips" até quando já era mais velha e nunca deixou de lado sua origem mais fabulosa. Como sabemos que Max Factor foi o único maquiador oficial de Hollywood no começo dos anos 10, é inegável que esse visual criado para Mae foi responsabilidade de Factor. 

Os lábios da ex-ziegfield girl se tornaram uma febre entre as mulheres e logo Factor teve que abrir sua primeira loja de maquiagem, ou como ele gostava de chamar: make-up, intitulada Society Make-Up, em 1920, para permitir que as mulheres pudessem imitar o visual de suas estrelas favoritas. 

Joan Crawford 
Joan Crawford ao lado de Max: para ela, o maquiador inventou o "hunter's bow lips"
Joan Crawford era apenas a jovem Lucille LeSuer quando ela chegou no estúdio MGM em 1925 e logo Louis B. Mayer divulgou um concurso nos jornais para mudar o nome de sua futura estrela. Os fãs escolheram o seu nome artístico, pelo qual ela ficaria conhecida para sempre. 

Mas Joan recebeu uma ajuda de Max Factor para continuar em voga e nunca sair de moda. Se nos anos 20, ele a ajudou a refinar o visual flapper, com o cabelo curtinho e a maquiagem mais pesada, nos anos 30, a estrela queria algo diferente, que a destacasse do resto de suas colegas na MGM.

Para Crawford, então, Factor criou o "the smear" (ou seja, o borrão) que ficou conhecido para o público como o "hunter's bow lips" (os lábios do arco do caçador) em uma tentativa de criar um visual de lábios para a estrela diferente do que havia feito com Mae Murray e Clara Bow. 
A vida por si só é colorida, mas até uma personalidade colorida pode ter um pouco mais de charme. As cores misturadas para o meu tom -cabelo castanho-dourado, olhos azuis e pele bronzeada - é o Max Factor Summer Tan Powder. - testemunho de Crawford para a revista Cosmopolitan, 1933. 
De acordo com o livro Max Factor's Hollywood: glamour, movies, make-up, Factor escutou o pedido de Crawford, que queria lábios mais cheios e então o esteticista criou a solução: o centro do lábio superior tinha apenas um pequeno arco, enquanto o canto de ambos os lados ficava mais cheio e volumoso. Sua boca era desenhada como se fosse um "rosnado". 

O famoso lábio feito por Max Factor
A primeira vez que Joan apareceu nas telas com o famoso "hunter's bow lips" foi em Redimida (Letty Lynton, 1932) e a revelação foi um sucesso! Nos anos 40, Joan começou a fazer uma versão bem mais exagerada - e caricata - do estilo, porém é inegável como a maquiagem realmente realçava suas melhores qualidades. 

Não encontrei evidências de que o "hunter's bow lips" era tão concorrido assim pelos fãs de Crawford, como o Cupid's Bow Lips, mas a estrela e Max tinham uma relação de muita confiança e ela sempre fazia propagandas de seus produtos.

Sobre ela, Clara Bow e Mae Murray, Max Factor creditou:
[Elas] ajudaram a acabar com o preconceito que os americanos tinham contra batom.
Vale lembrar que até os anos 30, mulheres comuns não tinham acesso a maquiagem e o batom era especialmente ligado, no consenso da sociedade, com mulheres de vida fácil ou artistas - que não era uma profissão bem-vista.  

Phyllis Haver
A atriz foi a primeira a usar cílios postiços no cinema
Phyllis Haver não era uma grande atriz da era dos anos 10 de Hollywood. Ela começou com papeis pequenos em comédias, mas logo buscou mais desafios, tentando evoluir para se tornar uma "vamp" das telonas. 

Foi aí que ela se encontrou com Max Factor, a única referência unânime de beleza entre as atrizes e os atores também. Apesar de ser uma grande beldade, Haver não fotografava bem porque seus cílios eram muito curtos e não causavam o impacto necessário. Nem fazendo o esquema de separar os fios e penteá-los lhe dava o volume necessário e seus olhos eram muito pequenos para apenas serem sombreados. 

Assim, Max Factor inventou um par de cílios postiços, feito especialmente para o uso da loira cativante, e composto por cabelos humanos, ao aplicá-las diretamente nos seus cílios. Vale lembrar, no entanto, que o primeiro par de cílios falsos do cinema foi criado em 1916, pelo próprio Factor, quando o diretor D. W. Griffith de Intolerância (Intolerance), queria que os olhos de Seena Owen brilhassem ainda mais nas telas.

Os cílios incríveis de Phyllis Haver - e usando o "cupid's bow" também!
Com o makeover recebido de Max Factor, Haver começou a ganhar ainda mais notoriedade e cada vez mais papeis. Apesar disso, fez propaganda de máscara de cílios para a empresa Maybelline em 1929, afirmando que usava o produto para ter o "seu melhor efeito nas telas do cinema." Foi mais ou menos nessa época que ela saiu dos holofotes, quando se casou com William Sheeman, anunciando sua aposentadoria.

A máscara de cílios em tubo apenas foi introduzida, como conhecemos, no mercado em 1954 pela companhia de Factor, contudo já em 1930 ele usava técnicas para alongar os cílios de suas estrelas. Max usava seu dedo indicador para gentilmente puxar o cílio para cima, com um creme preto, para atingir um efeito dramático.

Naquela época, outras companhias como a Maybelline e Revlon também lutavam pelo seu lugar na bolsa das consumidoras, mas nenhum tinha tanto sucesso e intimidade com as estrelas do que o grandioso Max Factor.


Outra grande invenção de Factor foi o "beauty calibrator", ou seja, o calibrador de beleza, um instrumento no qual ele media, milimetricamente, o rosto da pessoa para encontrar a harmonia e assim, a beleza perfeita, o qual ele nunca achou! A máquina, no entanto, o ajudava a entender melhor o rosto de uma cliente e ressaltar suas melhores características.  Aliás, já naquela época, Max usava o chamado "contorno" para dar mais profundidade ao rosto e ao nariz das estrelas.

Max Factor usando seu calibrador e com Rita Hayworth - ele lhe deu o visual sem 'pico de viúva' nos cabelos
Também temos que agradecer ao Max Factor e seu filho, Max Factor Jr. (Francis) pela criação do pancake (a base em pó), o rímel como conhecemos de tubo e não de aplicação com uma escova, além de uma maquiagem exclusiva para as estrelas que funcionasse em technicolor, ou seja, em filmes em cores.

Por suas contribuições inestimáveis ao cinema, Max ganhou um Oscar Honorário em 1929 e tem uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood. Ele faleceu em 1938, ganhou um museu em sua homenagem chamado Max Factor Hollywood Make-up Studio, em 1984 que já foi fechado, mas suas criações e seus produtos continuam a serem vendidos pelo mundo todo

Você não nasce glamouroso. O glamour é criado. - Max Factor

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