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A arte do filme The Rocky Horror Picture Show (1975)

*spoilers sobre o filme 

O filme The Rocky Horror Picture Show tem uma horda de fãs no exterior, principalmente nos Estados Unidos, onde teatros e cinemas sediam uma sessão especial onde todos os telespectadores vão com as roupas do filme e podem performar, ao vivo, todas as músicas dele. Já aqui no Brasil, por exemplo, o filme não é muito conhecido não e se você mostra um trecho de Rocky Horror já é capaz que o seu colega solte aquela frase: "Xii..que filme esquisito, ein?". 


The Rocky Horror Picture Show é um filme tão peculiar, mas tão peculiar, que nem sabe-se direito em que categoria encaixá-lo: seria comédia? terror? musical? drama? Os fãs do filme reconhecem que The Rocky Horror Picture Show não se encaixa em nada e é, exatamente por isso, que o filme tem tantos seguidores e amantes. Uma obra maravilhosa da sétima arte, que foi lançado em 1975 e já ganhou o merecido status cult

Divulgação/Gif
A começar pela história do filme, The Rocky Horror Picture Show não tem um roteiro delimitado. No começo conhecemos Janet (vivida por uma novinha Susan Sarandon) e Brad (Barry Bostwick), um casal que acabou de ficar noivo e por uma problema no carro acabam passando uma noite maluca na mansão assustadora do doutor Frank N Furter (Tim Curry), um cientista para lá de maluco com seus assistentes Magenta (Patricia Quinn), Columbia (Nell Campbell) e Riff Raff (Richard O'Brien). Dirigido por Jim Sharman e baseado na peça de Richard O'Brien, que interpreta Riff Raff no filme, a Rocky Horror Show que foi lançada em Londres, na Inglaterra, em 1973 com grande sucesso. A peça, tanto quanto o filme, homenageia os filmes de qualidade B de terror e de ficção científica de 1940 aos 1970. 

O diretor de arte do filme, Terry Ackland-Snow, afirma até hoje que se divertiu demais gravando The Rocky Horror Picture Show. Em uma entrevista para o canal Red Carpet News TV, ele revelou: "Era um ótimo filme, você podia fazer praticamente tudo e eles aceitavam. Era ótimo. No auditório nós tínhamos algumas cadeiras de praia e eles disseram para eu usar. Então eu as peguei, mas nós a fizemos todas em vermelho e branco. Só para ajudar o esquema de cores no set." 

O esquema de cores do filme é, no mínimo, essencial para contar essa louca história, Já na cena inicial dele, com os créditos, temos uma tela preta simples com uma boca carnuda pintada de vermelho dublando Science Fiction/Double Feature que é cantado pelo idealizador de Rocky Horror, Richard O'Brien. A cena é uma referência à pintura A l'Heure de l'observatoire: Les amoureux de Man Ray, que aliás, tem um website maravilhoso no Artsy com todas as suas obras, que são muitas e belas, vale super a pena conferir! 

Os lábios, no entanto, pertencem à atriz Patricia Quinn, a Magenta do filme                    Divulgação
Logo depois, a boca carnuda que com o vermelho representa muito bem o pecado e a transição, dá lugar à uma cruz de igreja, na qual está acontecendo um casamento. Mas não de nossos protagonistas e sim de seus melhores amigos da faculdade. É vendo essa união sagrada e Janet pegando o buquê que Brad finalmente lhe pede o casamento. Mas, como tudo na vida, existem dois lados de uma mesma moeda: ao lado da Igreja há um pequeno cemitério e, quando o casal entra de novo na sacristia, já há um caixão fechado ali, pronto para ser velado. O contraste dos símbolos mostra que o relacionamento dos dois não será nada usual. 

Divulgação/Montagem
Na próxima vez, no entanto, que vemos nossos protagonistas, eles parecem que estão em outro filme: um de terror quando, anteriormente, seria apenas um filme meio bizarro. Na chuva forte, dentro do carro, acontece um problema com o automóvel e eles não tem outra alternativa a não ser pediram ajuda em uma mansão assustadora que fica perto. Intencionalmente, ou não, ela se parece muito com a mansão do filme francês La plus longue nuit du diable (1971). 

Acima, a mansão do filme francês; abaixo de The Rocky Horror           Divulgação/Montagem
Assim que Janet e Brad entram na mansão no entanto, ela não é escura e assustadora como se imaginaria: suas cores são vibrantes, com vermelho, preto e azul e os convidados da festa são muito estilosos com seus óculos escuros e sua dança diferente: a de Time Wrap. O tapete vermelho, a escadaria com um pequeno trono, é quase como se todos esperassem seu grande mestre. E é exatamente isso que acontece. 

Divulgação/Montagem
Depois do número de dança, conhecemos o cientista Frank N Furter, que como a música Rebel Rebel do David Bowie descreve: "ninguém sabe se é uma menina ou um menino". Com seu longo robe preto com o colarinho alto, ele sai do elevador remetendo ao filme Drácula (1931). O cenário todo é construído como se fosse um grande palco: ao lado do trono há um organizador de fila com corda vermelha e um cartaz com os dizeres: 'Convenção Transilvânica'. Isso já deixa claro: Frank quer ser venerado com ares de grandeza iguais ao do vampiro mais famoso da literatura e do cinema, além de é claro, fazer um trocadilho com a palavra transexual, que significa uma pessoa que se identifica com um gênero diferente do qual nasceu. Aliás, para se tornar vampiro, a pessoa passa por uma transformação: muda seus hábitos e seu objetivo. Transformar-se, portanto, é a palavra principal de The Rocky Horror Picture Show. 

Divulgação/Montagem
O que nos leva a obra-prima do doutor Frank N Furter, o Rocky, que ganha uma montagem digna do filme Frankenstein (1931). O cientista maluco dá vida à sua grande obra: um ser humano feito não por Deus, mas pelo o Homem, Diferente do monstro de Frankenstein, no entanto, Rocky é um belo espécime da raça humana, tão belo e forte que há apenas rosa ao seu redor: uma cor feliz e pacífica. Outra sacada ótima do filme é o compartimento que Rocky está antes de nascer: o líquido é de um azul quase anil, mas quando o "monstro" finalmente sai do 'compartimento', as cores da caixa se tornam do arco-íris, remetendo à bandeira dos direitos LGBT. Quando isso acontece, Frank diz a sua criação: 'Você está fora!' ou seja, 'You're out (coming out)'. que é uma frase comumente usada nos Estados Unidos quando um homossexual revela-se. É uma celebração da sexualidade. 

Divulgação/Montagem
Quem também tem uma relação sexual pela primeira vez é a querida Janet, vivida por Susan Sarandon. E se você não assistiu o filme antes, o fato de sua virgindade dá para saber apenas ao prestar atenção ao cenário. Em sua cama, cedida gentilmente por Frank, a cor predominante é a vermelha. Se você andou prestando atenção na matéria saberá que essa cor é aquela liberta as personagens de suas inibições. Para o 'monstro' Rocky foi sua vinda ao mundo, para Janet foi sua primeira experiência íntima com outra alguém. Ela era virgem, já Brad, seu noivo, em sua cama acinzentada, também sabe-se que aquele não é, de longe, sua primeira vez. 

Janet acima; Brad abaixo                                         Divulgação/Montagem
E se no cenário, The Rocky Horror Picture Show é belíssimo, nas referências então esse filme arrasa completamente. Mais para o fim do filme, na cena com o banquete, há uma referência direta ao filme Festim Diabólico de Alfred Hitchcock, que tem a ver com um morto. Pois é não vou revelar mais nada sobre isso, é claro. Mas ainda tem muito mais: referências sobre Tarzan, o filme Cabaret e, uma ótima cena com Rocky e seu mestre, que remete ao filme King Kong (1933) e sua aversão ao fogo, assim como o monstro de Frankenstein. 

Rocky carrega seu mestre até o topo como King Kong fez com Ann no filme          Divulgação
Com um cenário belíssimo, carregado de simbolismo, é engraçado imaginar que, durante a gravação de The Rocky Horor Picture Show, a casa na qual o elenco gravava não tinha banheiro e nem sequer aquecimento durante o inverno. Mesmo assim, as artes das cenas se tornaram tão impactantes quanto a própria música e o figurino do filme. Por exemplo, a RKO Radio Picture é um estúdio americano famoso O close no cientista Frank na piscina, com o decalque da pintura de Michelangelo, A Criação de Adão, mostra que no filme, todas as personagens eram de Frank e que ele também, apesar de não parecer, tinha um criador pelo qual ele deveria voltar. Todos, no fim, pertencem à alguma coisa. O elo não está perdido. 

Magenta e Riff Raff, referência doO Dia que a Terra Parou com seu cabelo de noiva do Frankenstein      Divulgação
Essa é, enfim, a verdadeira arte de The Rocky Horror Picture Show. 



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