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A verdadeira história da inafundável Molly Brown, do Titanic

Debbie Reynolds recebeu sua única indicação ao Oscar de Melhor Atriz pelo seu papel como Margaret Brown no filme The Unsinkable Molly Brown (A Inconquistável Molly Brown), de 1964. A atriz já revelou inúmeras vezes que este foi seu filme favorito de trabalhar e que se sente muito orgulhosa dele. Na época, em entrevista ao jornal Detroit Free Press, ela declarou: "Eu acreditava que poderia interpretar Molly Brown desde que eu assisti a peça há quatro anos atrás. Eu senti que, de certa maneira, eu era bem parecida com ela, mas muitas pessoas não me conhecem bem o suficiente para perceber isso. Eu nunca trabalhei tão duro quanto neste filme. Nós tínhamos um roteiro lindo de Helen Deustch, uma história de amor com música, não apenas outro musical. É o tipo de filme que se sustentará por anos, como Cantando na Chuva (1952). "

E embora o filme, atualmente, seja apenas mais conhecido por fãs da atriz, que faleceu ano passado, ele ainda mantém uma áurea de fascinação por tratar de uma mulher tão poderosa quanto Margaret Brown, que inclusive foi retratada por Kathy Bates no filme Titanic (1997). 

Debbie Reynolds (à esquerda) e Tammy Grimes (à direita) recontam a vida de Brown         Divulgação/Montagem
A Inconquistável Molly Brown não foi baseada na vida da sobrevivente do Titanic e sim na peça homônima altamente ficcionalizada lançada em 1960, com Tammy Grimers no papel principal. Os críticos não conseguiam parar de elogiar Tammy, que ganhou um Tony por sua interpretação da personagem icônica. Personagem porque, Molly Brown da peça e do filme, apenas tem algumas similaridades em comum com a verdadeira Brown. Na película e na peça da Broadway, Molly é retratada como uma selvagem sem modos que, sem saber ler ou escrever, procura um lugar para triunfar. Em seu novo emprego, como uma dançarina de bar, ela conhece seu futuro marido John, interpretado no filme por Harve Presnell, que lhe promete o mundo e isso realmente acontece quando ele, um mineiro, acha uma mina de ouro e fica rico. O problema é que a sociedade americana não aceita os novos ricos muito bem e para piorar Molly não é muito apaixonada por seu marido. Ela acaba chamando a atenção de um príncipe europeu, mas percebendo que seu lugar é com Johnny, embarca no Titanic para voltar para casa. Ela, no entanto, sobreviveu! 

Margaret foi uma das poucas resgatadas que insistiram em salvar os outros passageiros do Titanic           MGM/Gif
A história real de Margaret Brown, no entanto, é bem diferente dessa, a começar pelo seu nome. A mulher, enquanto viva, nunca foi chamada por Molly. O nome foi inventado por Richard Morris, escritor do livro no qual o filme e o musical foram baseados. Nascida em 18 de julho de 1867, a família de Margaret Tobin, seu nome de solteira, era humilde, mas não como demonstrado no filme. Ela tinha seis irmãos no total, dois apenas por parte de sua mãe, e todos viviam em uma casa de dois cômodos em Missouri, nos Estados Unidos. 

Diferentemente do filme, em que Molly, ou melhor, Margaret se muda sozinha para a cidade de Leadville, Colorado, a realidade foi bem diferente. Sua meia-irmã mais velha Mary se apaixonou por um homem chamado Jack Landrigan e buscando melhores oportunidades se mudaram para o Colorado ao lado de Daniel, irmão de Margaret e Mary. Assim que ele se estabeleceu em uma moradia só sua, Daniel enviou dinheiro à suas irmãs Margaret e Helen, com apenas a primeira decidindo ficar. Sobre essa decisão, segundo o livro Molly Brown: Unraveling The Myth de Kristen Iversen, Margaret afirmou: "Eu esperava ficar rica o suficiente para dar ao meu pai uma casa para que ele não precisasse trabalhar. " Essa declaração se tornaria verdade, mas não imediatamente. 

Margaret, seu marido e seus dois filhos: Catherine 'Helen' e Lawrence Brown                           Divulgação
Se no filme e na peça de Molly Brown, a personagem se casa com John Brown pela sua insistência determinada, na vida real, Margaret Tobin se apaixonou quase que imediatamente por ele. Na época, ele era quase tão pobre quanto ela, e apesar de querer uma vida melhor para sua família e, principalmente, seu pai, ela casou com seu 'Jim' em 1886 e teve dois filhos. Sua escolha, aliás, se provaria correta; em uma das minas de sua administração, a Little Jonny, se descobriria ouro em 1893. A partir daí a família Tobin-Brown estava com seu pé de meia feito e em 1894 compraram uma mansão em Denver, no Colorado. 

Após 23 anos casados, Margaret e John se separam em 1909, embora nunca tenham entrado com a papelada do desquite. A vida familiar, entretanto, era bem pacífica: a sra. Brown era bem-vinda em todos os círculos da sociedade da época, especialmente em arrecadação de fundos, e era uma grande defensora dos direitos das mulheres, dos animais e dos mineiros. O boato de que ela era uma parasita na sociedade veio à tona porque ela não foi incluída na lista de Crawford Hill, a rainha da sociedade de Denver, para o seu famoso jogo de cartas. Margaret Brown, no entanto, nem precisava dessa honra! Ela já era muito querida. Molly, afinal, tinha aspirações na sociedade e John preferia a companhia de seus amigos mineiros - com o tempo foi por isso que eles se distanciaram. 

Margaret ao lado do capitão Arthur Roston, que auxiliou no resgate dos sobreviventes do Titanic          Divulgação
Outro exagero na sua história foi sua estadia à bordo do Titanic. Em 1912, já separada de John Brown, ela estava viajando ao lado de sua filha, Helen pela França com seu amigo empresário John Jacob Astor e sua nova esposa, Madeleine. De acordo com a biografia Heroine of The Titanic: The Real Unsinkable Molly Brown, durante a viagem ela recebeu a notícia de que seu neto, filho de Lawrence, estava doente. Preocupada com a criança, que ela nunca conheceu pessoalmente, Mollt agendou a primeira viagem de volta aos Estados Unidos no primeiro navio disponível: que era o Titanic. Sua filha Helen, viajaria com ela, mas como amigos em Paris insistiram que ela ficasse, a garota deixou que sua mãe fosse sozinha. 

Em nenhum momento, Margaret Brown afirmou que era inafundável durante o desastre, embora como demonstrado no filme estrelado por Debbie Reynolds, ela cedeu alguma de suas roupas, incluindo um par extra de meia-calças e seu casaco de pele, para manter os passageiros no barco de resgate aquecidos, além de ter insistido para resgatarem mais pessoas. Depois desse ato heroico, Margaret se tornou uma lenda e mito e realidade começaram a englobar sua vida com pessoas ávidas para saber mais sobre a vida de uma entre os 492 sobreviventes. 

Ela faleceu em 26 de outubro 1932 devido à um tumor cerebral, mas fez seu marco na história assim como Debbie Reynolds, que a interpretou lindamente, embora, é claro, com algumas liberdades artísticas. No total, a película ganhou 6 indicações ao Oscar, merecidamente. 

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