A trilha sonora impactante de Prince em Purple Rain (1984)

Antes de Purple Rain (idem, 1984) ser lançado nos cinemas e ser consagrado com o Oscar, de melhor trilha sonora, Prince, já era um nome de peso no mundo da música.

Sua carreira começou cedo, recém-saído da adolescência, e no início dos anos 80, Prince já tinha uma aparência que o distinguia dos demais: roupas coloridas e espalhafatosas e lindos saltos-altos. Com hits como Little Red Corvette e 1999, o cantor estava prestes a se tornar uma lenda, com a gravação do álbum e do filme Purple Rain. 

Purple Rain conta a história de The Kid, vivido por Prince, um jovem músico muito talentoso que tem sérios problemas em casa. Seu pai e sua mãe brigam à todo o momento, com agressões físicas e verbais, e ele imita o mesmo comportamento com as pessoas à sua volta. Seu coração bate mais forte quando conhece Apollonia (Patricia Kotero), uma aspirante à cantora, mas sua atenção é disputada por Morris, cantor de um grupo concorrente. Será que no final The Kid escolheria o amor ou a tragédia? 

Prince em cena do filme Purple Rain (1984)                                       Divulgação/Gif
O ano era 1983 e Prince sabia que queria fazer parte de um filme, ou melhor, ser a estrela dele. Filho de um pai músico e uma mãe cantora(que ele dizia ser branca ou italiana para que ele não ficasse rotulado como 'apenas' um artista negro), a sua infância foi conturbada - seus pais se separaram aos 10 anos de idade e a partir daí ele ficava passando de uma casa para outra, sem saber exatamente onde se encaixava. Mas uma coisa eles o ajudaram a perceber: que seu caminho era a música. 

De acordo com o livro Let's Go Cazy: Prince and the Making of Purple Rain de Alan Light, foram os pais do músico que lhe deram um empurrãozinho. Ele contou: "Eu apenas via o meu pai e via que quando ele tocava, minha mãe ficava feliz." Assim, o filme Purple Rain é tornou uma autobiografia cinematográfica de Prince, mas as chances não estavam ao seu favor na época. Poucos músicos conseguiram fazer a transição da música para o cinema com maestria - a única exceção até então eram os The Beatles! 

Mas isso não impediu Prince de escrever incessantemente, como conta o empresário de turnê de Prince, Alan Leeds, no livro: 'Eu apenas sabia que ele tinha um caderno e escrevia sem parar e que ele queria fazer um filme, mas eu ficava tipo: 'Eu também quero.' Não levei aquilo à sério." Mas Prince levou! 

Prince na estreia do filme Purple Rain em 1984                                        Divulgação/Youtube
A gravadora de Prince, a Warner Bros, ficou surpresa com a ideia dele, mas todos que os conheciam achava que a ideia fazia um tremendo sentido, afinal ele era obstinado e não aceitava qualquer negativa como resposta. O que fez sua gravadora aceitar sua decisão, no entanto, foi o ultimato do músico: ou eles concordavam com o filme ou ele deixaria a gravadora, que perderia milhões e a chance de reassinar o contrato com ele. Prince tinha com ele o trunfo do álbum 1999, que foi um dos maiores hits de 1982. 

Assim, quando ele resolveu mudar a banda que o acompanhava, ninguém também tinha nada a dizer. O relacionamento do músico com seu antigo guitarrista Dez (que foi para a banda The Mordenaires, que aparece no filme) estava aos frangalhos e então Prince criou a banda The Revolution com Wendy Melvoin, Lisa Coleman - as duas eram namoradas- e Bobby Z, mantendo os outros antigos membros da equipe na banda. A banda The Revolution é uma parte integral do filme Purple Rain. A hora estava chegando para que o filme fosse feito. 

Bob Cavallo, o empresário principal de Prince, estava responsável por fazer o projeto de Prince se tornar realidade. O músico e os outros empresários concordaram em disponibilizar 500 mil dólares para financiar a película. Ele encontrou um roteirista chamado William Blinn, que havia ganhado um Emmy pela minissérie Raízes e que também foi vítima do comportamento excêntrico de Prince. Um exemplo? Os dois foram ao cinema juntos e Prince saiu depois de 20 minutos, sem mais nem menos. 

De acordo com Blinn, em entrevista para a revista Rolling Stone em 1984, ele começou a criar um roteiro para as ideias de Prince, que eram centradas especialmente em seu pai, na qual a personagem Kid, vivido pelo cantor, tinha seus dois pais mortos, em um homicídio-suicídio e tinha que decidir se viveria ao lado de seu amor e da música ou se autodestruiria. O filme se chamaria Dreams. 

Os pais de Prince, John e Mattie                                                          Reprodução
Mas o roteiro de Blinn era 'cerebral' demais para a audiência que o veria e Cavallo estava tendo inúmeras dificuldades em conseguir algum diretor que quisesse dirigir o filme. Até que alguém recomendou que ele fosse assistir à exibição do filme Reckless, um filme no estilo rebelde sem causa de James Dean, estrelado por Aidan Quinn e Darryl Hannah. Quem estava lá era o editor do filme, Albert Magnoli. Os dois conversaram e Magnoli garantiu que o diretor de Reckless, James Foley estaria interessado no roteiro. Ele o achou uma porcaria e Magnoli teve sua grande chance: pegou os personagens criados por Blinn e criou uma cena inicial que ganhou à todos, inclusive Prince. 

A cena inicial era inspirada na cena de batismo do filme O Poderoso Chefão (The Godfather, 1972), na qual o filme corta e volta entre várias outras situações que, ao final, dão sentido à película. 
Prince estava cantando uma música, o elevador sobe, a garota está chegando do aeroporto caminhando. Todos os personagens são introduzidos e você continua cortando a cena para o palco. Prince está botando sua maquiagem, ele anda de bicicleta até o local do show, a cena do bar, a garota consegue entrar no bar e  aí você vê todo mundo. 
Magnoli pediu que Prince gravasse no total doze músicas para o filme e que em agosto de 1983, já teria muito do material pronto para que eles pudessem começar. O chefe da gravadora Warner Bros, adiantou 2 milhões de dólares de royalties da música de Prince para que o músico realizasse seu sonho. Purple Rain estava cada vez mais perto de se tornar realidade.



A cena inicial do filme Purple Rain que convenceu Prince

E não foi só a cena acima que Prince usou como inspiração para o seu filme Purple Rain. Ele também serviu de inspiração ao escalar a protagonista e sua "namorada" na película (namorada está entre parênteses porque Prince não tinha ninguém fixo). Apesar de Prince ter inúmeras namoradas, a mais constante era a Vanity, nome artístico de Denise Matthews, por quem Prince tinha grande afeto e desejava torná-la uma estrela. Prince tinha envisionado a participação de Vanity e da banda Vanity 6 (integrada por Susan Moonsie - a namorada principal de Prince antes de Denise, Vanity e Brenda Bennett) em Purple Rain e estava tudo praticamente certo, até que ela foi convidada para interpretar Maria Madalena no filme A Última Tentação de Cristo de Martin Scorsese. 

Ela preferiu o papel, que por problemas apenas foi lançado cinco anos depois sem ela, dizendo também que deveria ser paga bem mais do que seus colegas em Purple Rain pelas coisas absurdas que teria que fazer. Em entrevista de acordo com o livro Prince and the Purple Rain Era Studio Sessions: 1983 and 1984 de Duane Tudhal, ela contou: "Prince me descobriu, ele descobriu todos nós. Ele é uma pessoa brilhante, mas eu já estava planejando minha carreira solo." 

Assim, Vanity estava fora e a atriz Patricia Kotero foi contratada. Ainda no tema de O Poderoso Chefão, Prince a apelidou de Apollonia, nome da primeira esposa de Michael Corleone, e o grupo Vanity 6 do filme se tornou Apollonia 6. Mesmo assim, ainda conseguimos ver a influência de Vanity e do grupo que Prince criou para ela no filme.  O videoclipe Nasty Gal de Vanity é idêntico à sequência Sex Shooter de Purple Rain e não sem motivo: Patricia foi escolhida para substituir Vanity na banda Vanity 6 criada por Prince para Denise na vida real. Assim, Prince estava tirando Vanity da sua vida artística de vez! 





No total, o filme Purple Rain tem quinze músicas e apenas duas não foram compostas por Prince. Todas foram, no entanto, performadas por ele. Let's Go Crazy, por exemplo, tinha apenas 3 minutos de duração, mas o diretor do filme tinha montado a cena inicial de Purple Rain com sete minutos. Prince então alongou a música no meio, adicionando um outro som, e assim cumprindo o pedido pelo diretor.  O músico, aliás, queria que a introdução da canção soasse como um órgão antigo, como de uma banda de garagem. Tudo bem orgânico. 

Jungle Love foi uma das duas canções que não foram criadas por Prince, coisa que ele não gostava. Ele buscava controle da banda, e apesar de querer novidades, não queria abrir mão de suas ideias. A versão de estúdio da música, como conta o livro de Duane Tudahl, não foi usada no filme, mas sim sua versão ao vivo. Take me With U, na cena no qual Prince e Apollonia estão andando de moto juntos e se conhecendo melhor, era na verdade uma canção para o álbum que seria lançada pelo atual Apollonia 6. Prince, no entanto, achou que a música ficaria melhor no álbum Purple Rain e no filme. 

Uma parte interessante do filme Purple Rain, no entanto, é que ao se analisar as músicas, que saiam do estilo funky tradicional, com exceção de Darling Nikki, do primeiro álbum do músico, para um estilo mais mainstream e rock n' roll, é que podemos entender melhor sua relação com as mulheres de sua vida então. Se na época ele estava brigado com Vanity e queria que todos acreditassem que namorava Patricia Kotero, apesar de ela ser casada, ele teria escrito canções lindas para duas de suas namoradas. 

Prince e suas garotas: Vanity, Apollonia, Susannah e Susan Moonsie.                   Divulgação
The Beautiful Ones, por exemplo, acreditava-se, inicialmente que teria sido escrito para uma de suas amantes da época, Susannah Melvoin, irmã-gêmea de sua guitarrista, Wendy. Os dois passavam muito tempo juntos e Melvoin tinha certeza que a música foi escrita para ela: 'Ele estava gravando para o filme e se apaixonando por mim. Eu estava no estúdio com ele o tempo todo.' No entanto, em uma entrevista em 2015 para a Ebony Magazine, Prince revelou que a música era na verdade era para Vanity, pelo menos em uma parte: "Se você olhar para a canção, é óbvio. 'Você quer ele ou quer à mim?' foi escrita para aquela cena em Purple Rain especificamente. Quando Morris estava sentado com Apollonia e tinha essa troca. E aliás, a frase: 'Os lindos você sempre parece perder', Vanity tinha acabado de sair do filme." 

Já When Doves Cry, um dos maiores hits da carreira de Prince teria sido baseado em seu relacionamento conturbado com Susan Moonsie, uma das integrantes da banda Vanity 6 e Apollonia 6. Apesar de não haver confirmação por Prince, o livro de Tudahl, dá a entender especialmente pela fala da engenheira de som, Susan Rogers: 'Eu suspeitei por muito tempo e recebi dicas de outras pessoas de que When Doves Cry é sobre Susan Moonsie, porque isso foi no final de Purple Rain, quando ele ainda a queria por perto. Mas ela desesperadamente queria ir embora e fazer sua própria vida." 

When Doves Cry foi a última canção a ser gravada para o álbum e o filme Purple Rain. A sua inovação? A canção não tinha o acompanhamento de nenhum baixo, algo inédito, e fez a faixa ficar ainda mais radical colocando três faixas de tambor baixo um em cima do outro. Um dos maiores hits da sua carreira estava pronto e foi posto no último minuto para suprir espaço de material! 



Já as faixas Baby I'm a Star e I Would Die 4 U foram combinadas no filme, com Prince fazendo uma mixagem mestre. Ele, aliás, era especialista nisso, tanto que foi o músico que mixou a canção Stand Back de Stevie Nicks, que ela escreveu com Little Reed Corvette na cabeça. Ele a convidou, posteriormente, para escrever a letra da canção Purple Rain, mas ela disse que era tão grandioso que ela ficou assustada. Prince ficou, então, com essa tarefa! 

Purple Rain é a música-tema do filme homônimo e um dos maiores trabalhos de Prince. Considerado por Magnoli a canção-chave que faltava no filme, foi assim que Prince fez com que Purple Rain fosse a canção e o nome da película. 




Lisa Coleman, em entrevista ao jornal The Guardian em 2017, revelou que a canção, no início, tinha uma vibe bem country. Isso mudou quando Wendy, a guitarrista do grupo, acrescentou notas mais longas na canção, fazendo com que o modo com que Prince cantava fosse menos performático e mais meloso. Essa, aliás, é uma das canções de karaokê mais cantadas no mundo todo! 

Purple Rain estreou em 27 de julho de 1984 e os críticos foram brutalmente honestos: apenas a música de Purple Rain importa, o roteiro e as personagens são esquecíveis. Sendo assim, no ano seguinte, em 1985, Prince ganhou o Oscar de Melhor Trilha Sonora ao lado de suas colaboradoras da banda The Revolution, Wendy e Lisa. Muito merecido! 


Perguntado, em 2014, sobre o filme Purple Rain e a chegada dos 30 anos de seu lançamento, Prince contou: "Eu não tinha percebido. Tudo parece diferente para mim, porque eu estava lá. Eu escrevi as canções, não preciso saber o que aconteceu." Ele, afinal, as viveu. 


Contudo, uma continuação aconteceu em 1990 com o filme Grafitti Bridge que foi roterizado, dirigido e produzido por Prince, mas sem o mesmo sucesso. Afinal canções como Purple Rain e When Doves Cry são difíceis de serem superadas, até mesmo pelo seu próprio criador. 


A poesia de Vivien Leigh no Brasil

Vivien Leigh foi uma das grandes atrizes do cinema. Apesar de uma carreira cinematográfica curta, ela ganhou dois Oscars de Melhor Atriz por suas atuações em ...E o Vento Levou (Gone With The Wind, 1939) e Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire, 1951), a atriz amava mesmo era o teatro. 

Tanto que, ao lado de seu marido por mais de vinte anos, o renomado Laurence Olivier, Vivien estrelou com ele num total de dezesseis peças, incluindo Hamlet, na qual Leigh interpretava Ophelia em 1937 e acabou conhecendo Olivier, que se apaixonou perdidamente por ela. 

Infelizmente, Vivien Leigh sofria com a depressão e o transtorno bipolar e na época, com a falta de informação e tratamento, a promissora atriz sofreu muito. Mas antes de sua morte, em 1967, a atriz agraciou os brasileiros com sua presença no país, sendo considerada uma dama de graça maior. 

Vivien com a elegância de sempre no Brasil                                        Divulgação/Cinelândia
O ano era 1962 e Vivien chegava em São Paulo com a companhia de teatro Old Vic Theatre Company. A trupe teatral estava fazendo apresentações em todos os locais do mundo e depois de uma passagem em Montevidéu, Buenos Aires, eles aterrizaram em São Paulo no dia 7 de maio de 1962 para cumprir o mesmo programa de peça que fariam no Rio de Janeiro. 

Ao lado de astros do teatro como John Merivale, seu amante,  Sally Home e Basil Henson, com a direção de Robert Helpmann, ela interpretou ao total cinco peças, A Noite dos Reis do dramaturgo William Shakespeare, a Dama das Camélias de Alexandre Dumas e Grandes Cenas de Shakespeare. A apresentação da trupe, no entanto, não agradou: um crítico a intitulou de "tempero sem gosto." 

Quando Vivien Leigh ainda estava em São Paulo, se apresentando no Teatro Municipal, uma coincidência aconteceu: a atriz Maria Fernanda estava interpretando a personagem Blanche DuBois, por qual Leigh recebeu seu segundo Oscar de Melhor Atriz do filme Uma Rua Chamado Pecado em 1952. Assim o teatro Oficina resolveu combinar o encontro de Vivien, Maria Fernanda e de Henrietta Morineau, a primeira intérprete da Blanche no Brasil. 

Na ordem: Maria Fernanda, Vivien Leigh e Henrietta                     Divulgação/Cinelândia
Vivien estava muito chique com um casaco de peles e um lenço na cabeça, além de uma linda maquiagem, mas de acordo com a revista Cinelândia, recusou-se a ser filmada pela TV por afirmar não estar com a "maquiagem apropriada." Mas ao ser perguntada se preferia a Blanche que fez no teatro, sendo dirigida por Laurence Olivier, ou a do cinema por Elia Kazan, ela nem pestanejou: "Meu marido compreendia e amava Blanche. Elia Kazan, não!" 

Uma anedota fofa foi a do filho de Maria Fernanda, então com apenas 5 anos, que ofereceu um ramo de flores para Vivien, que classificou sua estadia em São Paulo como uma bela temporada, comprando inúmeras lembrancinhas para seus amigos, além de pinturas de Aldemir Martins para levar para casa. Vivien também escolheu todo um guarda-roupa novo, de acordo o jornal Última Hora, com seis vestidos da Maison Deiner, saindo até de braços dados com o costureiro! Que chique. 

No dia 12 de maio, no entanto, ela tinha mais uma temporada do teatro para cumprir, dessa vez no Rio de Janeiro. Chegando ao lado de seus funcionários, de seus colegas e de seu amante, John Merivale, no voo das 12h30 do aeroporto do Galeão, Vivien ficou hospedada no hotel Glória e, diferentemente de Ava Gardner, não teve problemas.

Foto borrada de Vivien Leigh no Aeroporto do Galeão                            Divulgação/Tribuna
No dia seguinte da sua chegada, em 13 de maio de 1962, Vivien Leigh sentou-se para conversar com os jornalistas ávidos, além de fãs e estudantes de teatro. Segundo o jornal Correio da Manhã, a atriz deixou claro sua preferência pelo teatro: "Tenho preferência pelo teatro e só de cinco em cinco anos faço um filme. Fiz recentemente a Em Roma na Primavera (The Roman Spring of Mrs. Stone, 1961), de José Quintero, que considero um dos melhores diretores do cinema, assim como Elia Kazan." 

Apesar de sua preferência pelo teatro, no entanto, Leigh não pareceu muito animada com os teatros de São Paulo e do Rio de Janeiro: "Nesse particular o país é um dos mais atrasados da América do Sul, abaixo mesmo do México, Chile e Uruguai e o Teatro Municipal, onde vou me apresentar, não passa de um teatro lírico para cantores de ópera, pois a distância entre o palco e a plateia é muito grande e os artistas de teatro não podem ser ouvidos pelo público. Aliás, antes de vir para cá Jean-Louis Barrault, tinha me informado disso e acabei de confirmar." Vivien também afirmou que ama o teatro inglês, por estar mais familiarizada com a linguagem, mas considera o teatro francês muito bom também. 

Logo depois da reunião com os repórteres, que foram informados que deveriam evitar de fazer qualquer pergunta de cunho pessoal, afinal a atriz havia acabado de se separar de Olivier, Vivien e seu diretor da peça, além de uma parte do elenco, iriam para uma festa feita especialmente para eles na Embaixada Britânica no Brasil. 

Vivien Leigh na coletiva de imprensa do Hotel Glória                     Divulgação/Correio da Manhã
Em uma das inúmeras festas feitas para a companhia de teatro Old Vic, Vivien Leigh se reencontrou com Maria Fernanda, que além de atriz, também é filha da poetisa Cecilia Meireles. Cecilia sofria com um câncer no estômago, algo que Maria comentou com Vivien durante sua estadia no Rio de Janeiro. Maria Fernanda e Vivien se deram muito bem e se tornaram boas amigas. 

A atriz, então, resolveu visitar a poetisa e levar-lhe um ramo de lindas rosas. Não apenas uma vez, como já conta o jornal Correio da Manhã - ela a visitava regularmente. Em entrevista à Roda Vida da TV Cultura, o ator Renato Borghi, um dos fundadores do teatro Oficina, na qual Maria Fernanda atuou, corrobora a história: "E depois, ela ficou muito amiga da mãe da Maria Fernanda, da Cecília Meireles, que estava doente, estava mal, no hospital. E a Vivien Leigh passou a ir lá, todo dia, ficar sendo companheira mesmo, nesse hospital, com a Cecília Meireles." 

Supostamente, Cecilia teria escrito um poema para Vivien Leigh por todo o carinho que ela demonstrou à ela, falando sobre as rosas que a atriz a levou. Dizem que o poema seria Desventura, mas não encontrei fontes que corroborassem essa informação. Mesmo assim, deixo com vocês o poema que seria para Vivien, na íntegra:
"Tu és como o rosto das rosas: diferente em cada pétala. Onde estava o teu perfume? Ninguém soube. Teu lábio sorriu para todos os ventos e o mundo inteiro ficou feliz. Eu, só eu, encontrei a gota de orvalho que te alimentava, como um segredo que cai do sonho. Depois, abri as mãos, — e perdeu-se. Agora, creio que vou morrer."
Vivien se apresentando no teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1962                            Divulgação
Durante a sua estadia no Brasil, Vivien Leigh também foi agraciada com um desfile de moda do estilista Robert Helpmann no Teatro Municipal com o Old Vic e tirou uma linda foto com sua roupa para apresentar A Dama das Camélias, que replico aqui pois é uma foto majestosa tirada pela revista Manchete:

Vivien mais bela do que nunca 
Mas como já percebemos, nenhuma estadia de um astro no Brasil passa sem alguma turbulência e com Vivien, não foi diferente. Segundo o jornal Última Hora, Vivien teve uma crise de nervos antes da apresentação no teatro do Rio de Janeiro - algo que sabe-se hoje em dia ser por causa de seu transtorno bipolar - e a ordem da apresentação das peças foi trocada, já que o colega e ator Richard Helmut recusou-se a contracenar com a atriz. 

Assim, já no final da temporada, ele foi até Vivien e lhe disse poucas e boas na cara dela. Ofendida, Vivien logo embarcou em uma avião de volta para Londres ao lado de Marvile e encerrou suas atividades com a companhia Old Vic. Vivien partiu do Brasil no dia 18 de maio de 1962 e foi embora com uma confusão final: seu secretário, Dannuel, partiu para cima dos fotógrafos que queriam tirar uma foto de Vivien e foi escoltado de volta ao avião. 

Vivien Leigh parte do Brasil no dia 18 de maio de 1962                           Divulgação/Montagem

Apesar de uma única vinda ao Brasil, Vivien Leigh foi considerada por todos uma grande dama, com muita classe e beleza. Apesar das críticas duras sobre a peça que trouxe ao Brasil, sua performance e sua gentileza foram incrivelmente acolhidas.

Vivien faleceu em 8 de julho de 1967, mas para os amantes de cinema e teatro, ela continua tão viva quanto antes!


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