Joan Crawford e suas visitas impactantes ao Brasil - Caixa de Sucessos

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02/03/2020

Joan Crawford e suas visitas impactantes ao Brasil

Uma das maiores lendas de Hollywood, Joan Crawford desfrutou de inĂºmeros altos e baixos em sua carreira e vida pessoal: nasceu pobre, alcançou a fama, casou-se quatro vezes, foi considerada 'veneno de bilheteria' e renasceu inĂºmeras vezes, tendo um de seus maiores sucessos nos cinemas aos 54 anos de idade com O Que Aconteceu Ă  Baby Jane (Whatever Happened to Baby Jane, 1962). 

Tamanha tenacidade foi o que permitiu que Joan continuasse trabalhando e tivesse seu lugar intacto como uma lenda da sĂ©tima arte. E foi como uma lenda que a atriz, parceira frequente de Clark Gable, foi recebida em suas diversas vindas ao Brasil. 

A primeira vez que Joan botou os pĂ©s em solo brasileiro foi em 11 de julho de 1960, ao lado de suas filhas adotivas Cathy e Cindy, viajando pelo transatlĂ¢ntico SS Brasil da Moore McCormack Lines. Ă€ bordo do mesmo cruzeiro, que havia partido de Nova York, estava a ex-atriz Leonora Amar, entĂ£o esposa do ex-presidente do MĂ©xico, de acordo com o jornal O Jornal. 

Joan Crawford conversando com fĂ£s em seu segundo dia no Rio de Janeiro                      A Manchete
A viagem de cruzeiro, com destino Ă  Buenos Aires, foi noticiado pelo Jornal do Brasil, como um prĂªmio dado Ă s filhas gĂªmeas pelas Ă³timas notas escolares - elas se formaram com louvor da oitava sĂ©rie - e um modo de "suavizar a dor" que a atriz ainda sentia pela morte do marido, Alfred Steele - que faleceu em 1959, de quem ela herdou um cargo na direĂ§Ă£o da fĂ¡brica Pepsi-Cola. 

Joan Crawford e suas duas filhas adotivas desembarcaram no pĂ­er de MauĂ¡, na baia de Guanabara, no Rio de Janeiro, Ă s 12h30 e logo estavam na companhia de Harry Stone, o embaixador do cinema americano no Brasil. Assim que ela desembarcou, antes de tomar um cafezinho na Touring Club, Joan fez o maior sucesso entre seus fĂ£s e como sempre fez questĂ£o de atender o mĂ¡ximo de pessoas que era possĂ­vel, ganhando a imprensa brasileira com seu carisma, charme e educaĂ§Ă£o. 

Em entrevista informal com os jornalistas, antes de desembarcar no Rio de Janeiro com as filhas no salĂ£o Machado de Assis do S.S Brasil, Joan deu um show de simpatia e respondeu todas as perguntas com muita calma e simpatia.

Indagada, por exemplo, sobre as maiores emoções de sua vida, Joan afirmou:
Quando adotei meus filhos, dos quais Cathy e Cindy sĂ£o gĂªmeas e quando me casei. E uma mulher que tem cinco lembranças dessa profundidade pode se considerar uma mulher rica de emoções. - em entrevista ao Correio da ManhĂ£.
Joan na coletiva de imprensa dentro do navio S.S Brasil
Ainda em conversa com a imprensa ela afirmou que seu hobby era "cuidar dos filhos" e que era ela mesma que desenhava os modelos de seus vestidos:
Eu mesma desenho os meus modelos. Compro o tecido e os mando costurar em Nova York. E nem sempre sigo a moda: muito mais minha prĂ³pria imaginaĂ§Ă£o. NĂ£o gosto de coisas berrantes, muito destacadas, sexies, enfim. NĂ£o que eu seja pudica ou algo assim. Apenas sou pelo clĂ¡ssico. - Correio da ManhĂ£
Durante a entrevista com os jornalistas, conta-se que Joan prestou bastante atenĂ§Ă£o Ă s perguntas feitas, inclusive as em portuguĂªs, e atestou que conseguia entender vĂ¡rias palavras, de forma muito animada: "Creio que vem de tantos anos de convivĂªncia internacional". Indagada sobre quem era o seu parceiro favorito nas telonas, Joan nĂ£o pestanejou: Clark Gable.
Sem dĂºvidas o Rei, Clark Gable, foi de quem eu gostei mais. Fiz com ele nove pelĂ­culas. Tem que se gostar de uma pessoa para chegar Ă  esse nĂºmero, nĂ£o acham? 
Sobre o cinema, deixou claro: "Ainda nĂ£o cansei do cinema. Trabalhei em inĂºmeros filmes e pretendo, atĂ© o prĂ³ximo Natal, fazer mais trĂªs." 

Joan Crawford ao lado das filhas durante a coletiva de imprensa                             Jornal do Brasil
O assunto tambĂ©m partiu para outra mĂ­dia do momento: a televisĂ£o. Joan deixou claro que a TV tinha que ser recebida como a "nova baby da famĂ­lia" e que "devora artistas e escritores com a intensidade de sua programaĂ§Ă£o, gastando produĂ§Ă£o de hora em hora". Crawford foi honesta, deixando claro que ela morria de medo, pelo menos naquela Ă©poca, de aparecer nesse tipo de programaĂ§Ă£o:
Eu de qualquer forma nĂ£o nasci para a TV, tentei uma vez em Londres, durante uma hora e nunca me senti tĂ£o apavorada durante toda a minha vida. Suei frio, quebrei as unhas, enfiei-as nas palmas da minha mĂ£e para poder me controlar. 
No mesmo bate-papo, transcrito com eloquĂªncia pelo Correio da ManhĂ£, a atriz avisou aos repĂ³rteres que suas filhas nĂ£o pretendiam seguir a mesma carreira que ela- claro que Joan nĂ£o estava falando de Christina - e deu dicas valiosas para que as outras mulheres mantivessem a forma fĂ­sica: "nunca comer batata, pĂ£o, sobremesa" e nĂ£o comer entre as refeições, prezando por "saladas, carne e ovos em quantidade". Atestou, tambĂ©m, que um de seus filmes favoritos que havia feito, alĂ©m de Almas em SuplĂ­cio (Mildred Pierce, 1946), era Sob o Signo do Sexo (The Best of Everything, 1959).

Joan Crawford ainda declinou dar suas opiniões sobre polĂ­tica, utilizando o velho ditado: "fala de polĂ­tica e perderĂ¡s seus amigos. Fico de fora, pois." Por fim, prometeu trazer a Pepsi para o Brasil e deixou claro que voltaria ao Brasil em 22 de julho daquele mesmo ano, fazendo um pedido para que Harry Stone lhe desse alguns filmes brasileiros para assistir durante o cruzeiro, pois assim ela poderia opinar com propriedade sobre os filmes brasileiros.

Joan em seu embarque em Nova York e em sua chegada ao Brasil tomando um cafezinho



















Logo apĂ³s terminar a coletiva e tomar seu cafezinho, Joan começou seu passeio pela Cidade Maravilhosa, ao lado de suas gĂªmeas, fazendo compras de jĂ³ias e roupas. O DiĂ¡rio da Noite afirma que Joan, durante suas compras, "falou com meio mundo, posou centenas de vezes para os fotĂ³grafos e nĂ£o se preocupou com os preços".

Em Ă³tima companhia durante sua breve estadia de 24 horas no Brasil, Joan almoçou naquela mesma tarde na pĂ©rgula do hotel Copacabana em companhia das sras. Marise Graça Couto, Candinha Silveira , Marilu Moreira e LĂºcia Stone. Depois, continuou a fazer ainda mais compras ao lado de suas pequenas passando pela badalada Rua do Ouvidor e pela Avenida Presidente Vargas. Louca por tecidos, ela perambulou pela Av. Rio Branco e entrou na loja Santa Branca para comprar as chamadas "fazendas" de estampado Bangu. 
Joan Crawford e suas filhas durante as compras do Rio de Janeiro - avassalador!
Ă€ noite, Joan Crawford colocou um de seus vestidos da moda e partiu para um jantar em sua homenagem no badalado Au Bon Gourmet. Tudo foi organizado por Harry Stone, que como se sabe era muito prĂ³ximo das estrelas de Hollywood.

De acordo com o jornal DiĂ¡rio Carioca, Joan dançou bastante com Jorginho GuinlĂ© - que segundo matĂ©ria do jornal Washington Post a proibiu de se hospedar brevemente no Hotel Copacabana Palace, do qual era dono, pois ela queria acomodar lĂ¡ seus dois cachorros com ela - e arrasou na pista de dança. Harry Stone fez questĂ£o de que na mesa da atriz tivesse a tĂ£o famosa Pepsi-Cola e garantiu aos jornais que Joan ficou impressionada com o serviço de primeira qualidade do Au Bon Gourmet:
A Crawford ficou muito bem impressionada com sua gentileza, sua casa e a agradĂ¡vel convivĂªncia da reuniĂ£o.  
Joan Crawford no Au Bon Gourmet                                              DiĂ¡rio da Noite
Mais tarde naquela noite, ela e suas filhas se recolheram para seus aposentos no navio e no dia seguinte, dia 12 de julho, estavam Ă  todo o vapor pelo Rio de Janeiro.

No dia em questĂ£o, Joan saiu do navio Ă s 12h trajando um conjunto estampado desenhado por ela mesma e Ă  convite de Candida Silveira foi almoçar com ela e outras mulheres da alta sociedade no restaurante Bife de Ouro. A diva de Hollywood chegou Ă s 13h no restaurante em Copacabana, ao lado de suas queridas filhas, onde foi prontamente servida com um coquetel. Uma hora depois, finalmente, o almoço completo.

De Candida Silveira, neste mesmo almoço, Joan recebeu uma coleĂ§Ă£o completa de estampados da fĂ¡brica dos IrmĂ£os Guilherme de Silveira.

Joan Crawford no almoço, na rua e ao lado das senhoras da sociedade                                Manchete
Ă€s 15h, prontamente, Joan e seus filhas voltaram ao navio S.S Brasil onde partiriam Ă s 18h para Buenos Aires, nĂ£o antes sem dar uma atracada no porto de Santos, onde concederam, de forma polida, uma entrevista coletiva aos jornalistas paulistanos, no dia 13 de julho Ă s 12h30, apĂ³s uma espera de mais de cinco horas.

A Ăºnica novidade, em relaĂ§Ă£o as entrevistas no Rio de Janeiro, Ă© que Joan confessou, via DiĂ¡rio da Noite, que quase gravou um filme no Brasil interpretando Joan Lowell, ex-atriz de Hollywood que veio ao Brasil hĂ¡ 25 anos e em companhia de um comandante, morou nas selvas de SĂ£o PatrĂ­cio em GoiĂ¡s. O filme, no entanto, nunca foi feito - uma pena jĂ¡ que Joan contracenaria com Ruth de Souza e o filme seria intitulado Terra Prometida (Promised Land), para lançamento em 1953. A pelĂ­cula nunca se concretizou - para saber mais veja a matĂ©ria do La Dolce Vita.

Foi-se embora para Buenos Aires poucas horas depois.
Na entrevista em SĂ£o Paulo, no dia 13 de julho, afirmou que nĂ£o gostava de "teatro e nem da TV"
Crawford cumpriu sua promessa com os brasileiros e no dia 21 de julho de 1960 retornou ao Brasil, mais especificamente em SĂ£o Paulo, para se encontrar com o governador Carvalho Pinto no PalĂ¡cio dos Campos ElĂ­sios.

Em sua chegada no porto de Santos, ainda Ă  bordo do S.S Brasil, Joan estava acompanhada de MĂ¡rio Saladini, chefe de Turismo, e foi almoçar na casa do sr. Llerena, diretor da Moore McComarck. ApĂ³s o almoço, segundo o Tribuna da Imprensa, a atriz passou pelo centro da cidade comprando tangerinas, ameixas e laranjas - e o comerciante ficou tĂ£o feliz que dispensou pagamento. Passou tambĂ©m em uma confeitaria, comprando queijos e ganhando de presente um pĂ£o-bisnaga.

Logo ela estava no PalĂ¡cio dos Campos ElĂ­sios, no qual se encontrou com o governador em uma reuniĂ£o de portas fechadas e deu poucas falas aos jornalistas, afirmando ter amado o Brasil e que "nĂ£o falaria de sua vida pessoal". Ă€s 17h30 voltou para Santos e no dia seguinte, dia 22 de julho, atracava mais uma vez no Rio de Janeiro para uma visita breve de poucas horas.

Joan com o governador de SĂ£o Paulo em 21 de julho                                   Correio da ManhĂ£
Joan chegou ao Rio de Janeiro Ă s 10h do dia 22 de julho de 1960 e jĂ¡ tinha um destino certo: Ă s 12h se reuniria com o governador Sette CĂ¢mara no PalĂ¡cio Guanabara. Antes ela prestigiou Copacabana e reclamou do trĂ¢nsito da regiĂ£o: "muito complicado". Ficou por quase uma hora no PalĂ¡cio, onde atendeu tambĂ©m a imprensa, e Ibrahim Sued, famoso jornalista, relembrou em sua autobiografia um momento constrangedor dessa coletiva:
Durante a recente visita de Joan Crawford — estrela de filmes como Folhas Mortas e Johnny Guitar — ao Governador Sette CĂ¢mara, no PalĂ¡cio Guanabara, ocorreu um fato sem dĂºvida constrangedor. Interrompendo a entrevista, surgiu um senhor com um desenho de Joan nos seus Ă¡ureos tempos e pediu Ă  veterana atriz que o autografasse. Joan, curiosa, perguntou ao seu fĂ£ de cabelos grisalhos: 'Quando foi que vocĂª desenhou este meu retrato?' Seu ardoso fĂ£, sem pensar nos muitos anos que jĂ¡ tinham percorrido, respondeu: 'Quando eu era um guri, tinha 14 anos'. Fez-se um silĂªncio geral e incĂ´modo, misto de nostalgia e melancolia. - retirado do livro 20 anos de Caviar 
Passado esse momento pra lĂ¡ de constrangedor, Joan resolveu passear pelos jardins do palĂ¡cio por aproximadamente 15 minutos, segundo o DiĂ¡rio da Noite, e depois saltou para o carro de MĂ¡rio Saldini, partindo para a Floresta da Tijuca. Nesse Ă­nterim, parou duas vezes: para colher uma flor e depois para lavar a mĂ£o numa fonte.

Joan lendo sobre si na revista Brasileira e na praia de Copacabana: deu 500 dĂ³lares ao artista do palĂ¡cio de areia
Joan foi almoçar no restaurante Esquilo, local badalado no Rio de Janeiro, onde foi apresentada ao ex-deputado Paulo Nogueira, representantes do Estados e as senhoras da sociedade: Lucy Bloch, Rosaly Dines e Marilena Alves, batendo altos papos com Rosaly.
O Rio Ă© uma obra de Deus - Joan Crawford para o DiĂ¡rio da Noite. 
Enquanto suas filhas eram homenageadas pelo Country Club, ela se divertia no restaurante, afirmando atĂ© que nĂ£o veio ao Brasil no Carnaval porque "nĂ£o gostava de se despir em pĂºblico". Foi para seus aposentos no S.S Brasil Ă s 16h, oferecendo um coquetel para os presentes no restaurante - Joan consumia muito champagne e vodka russa - e Ă s 18h daquele mesmo dia disse adeus ao Rio de Janeiro, partindo rumo Ă  Nova York.

Prometeu que voltaria em 1961 ou 1962 e cumpriu a promessa: fez uma breve passagem em 1961, no dia 10 de dezembro, quando o seu aviĂ£o que partira de Buenos Aires, onde ela inaugurava a mais nova filial da fĂ¡brica Pepsi Cola, fez uma escala no Rio de Janeiro pelo Aeroporto do GaleĂ£o.

Joan em 1961
Joan ficou no Rio por poucas horas e garantiu que voltaria em breve, para uma estadia mais longa. Mais uma vez a atriz provou ser uma mulher de palavra: retornou em 1967.

1967

Joan Crawford em sua chegada no aeroporto do GaleĂ£o em 28 de novembro de 1967 
Temos que agradecer Ă  santa Pepsi por trazer a diva do cinema para o Brasil tantas vezes! Joan retornou ao Brasil abalando com um vestidinho preto e um colar deslumbrante. Ă€ bordo do aviĂ£o Pan American, a atriz desembarcou no aeroporto do GaleĂ£o, no Rio de Janeiro, no dia 27 de novembro de 1967. Ela veio ao paĂ­s para inaugurar a mais nova fĂ¡brica da Pepsi-Cola no Brasil, em InhaĂºma, acompanhada de outros seis gerentes da marca.

De acordo com Jornal do Brasil, em sua chegada, Joan enfrentou uma grande falta de cortesia e um calor abafado, tanto que estava suando quase toda sua maquiagem e se recusou a tirar o chapĂ©u pois seu "cabelo estava horrĂ­vel". No entanto, ela foi recebida com um buquĂª de flores pelo sr. Robert M. Geddes, diretor da Pepsi do Brasil, e pelos seus fĂ£s que a aplaudiram.

A atriz esperou 10 minutos atĂ© que levassem um guarda-chuva para que ela pudesse transitar pelo aeroporto - estava muito cansada. Dali foi levada para uma sala de descanso e reclamou que nĂ£o havia nenhum ar-condicionado. Conta-se que ficou super feliz ao ver um ventilador na sala, mas o mesmo estava desligado. Joan, entĂ£o, ordenou que fosse ligado e teve seu pedido atendido, tendo assim um pouco de alĂ­vio.

Foi ali mesmo que ela deu uma breve entrevista, esperando seu copo de Ă¡gua que nunca chegava, e afirmou:
VocĂªs me desculpem mas eu estou viajando hĂ¡ 26 horas. Se for possĂ­vel, gostaria que os amigos cinegrafistas tirassem essas cĂ¢meras de cima de mim. Com esse calor todo nĂ£o vou aguentar muito tempo. 
Joan irritada com a demora do aeroporto do GaleĂ£o
Ainda em bate-papo com a imprensa, Joan contou que marcou uma coletiva formal no dia 1 de dezembro no Copacabana Palace, onde ela ficaria hospedada, e que por enquanto ainda estava muito fatigada para conversar com todos. Afirmou, tambĂ©m, que fez inĂºmeras escalas e parou atĂ© em BrasĂ­lia.
Como mulher de negĂ³cios jĂ¡ viajei 130 milhas. Por isso minha saĂºde tem que ser de ferro. Oitenta filmes, um Oscar, quatro filhos adotivos, e uma filosofia de vida espartana  sĂ£o algumas de minhas caracterĂ­sticas. E ainda trabalho na TV. Sou personagem do Bob Hope Show e ainda encontro tempo para participar intensamente das reuniões do mundo industrial. 
O jornal noticiou que Joan trouxe com ela um total de 36 malas, com vestidos e chapĂ©us para todas as ocasiões. Logo apĂ³s a pequena coletiva, Joan partiu direto para o Copacabana Palace, onde ficou na suĂ­te A do 6º andar. Repousou o dia todo do dia 27, inclusive comendo suas refeições nos seus aposentos. Ademais, segundo O Jornal, muitas pessoas foram ao hotel para tentar ver a atriz, mas ela nĂ£o recebeu nenhuma visita. A mesma rotina aconteceu no dia seguinte, dia 28, devido ao tempo ruim e Joan apenas saiu Ă  noite, para jantar com amigos na Barra da Tijuca.

No dia 29, a mesma rotina, recebendo somente a visita de Danny Kaye, um velho amigo que fingiu ser jornalista para espezinhar a empresĂ¡ria. No dia 30 de novembro de 1967, Joan finalmente saiu da rotina do Copacabana Palace, e dos cardĂ¡pios de peixe e batatas, para almoçar Ă s 13h, com o chanceler MagalhĂ£es Pinto no Itamarati.

Joan no almoço no Itamarati ao lado de MagalhĂ£es e Mauri Valente, embaixador
O almoço de 36 talheres, no qual foi servido ovos Ă¡ moscovita e pavĂª Vogue, foi um verdadeiro deleite para a magnata dos refrigerantes. Joan, vestindo um conjunto rosa-choque, abusou da Ă¡gua com gelo e depois tomou um pouco de vinho, apenas.

Terminado o almoço, Joan se dirigiu a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, local onde recebeu o tĂ­tulo de 'CidadĂ£ Carioca', por ter "aberto novas frentes de trabalho no Estado com a instalaĂ§Ă£o em sua fĂ¡brica de refrigerante". Para recebĂª-la, segundo o Jornal do Brasil, os deputados Ivete Vargas, Gama Lima, Caio Mendonça, Rossini Lopes, Mac Dowell da Costa, Roberto Gonçalves e Raul Estrada.

Ao ser iniciada a solenidade da entrega do diploma, os garçons levaram Ă¡gua mineral, mas Crawford exigiu Pepsi-Cola para o momento e tomou o refrigerante pelo gargalo, ao som de palmas dos presentes. ApĂ³s esse espetĂ¡culo, foi a vez do deputado Caio Mendonça falar, jĂ¡ que foi ideia dele de transformar Joan em uma cidadĂ£ carioca, e foi sĂ³ elogios para a atriz que estava "contribuindo para o fortalecimento da nossa economia".

Emocionada com o carinho, beijando até Amaral Peixoto, Joan brincou:
Finalmente estou formada e jĂ¡ tenho diploma. 
Joan recebendo alegremente seu diploma de CidadĂ£ Carioca
O deputado do MDB, Frederico Trota falou em nome dos trabalhadores para que Joan "promovesse a compreensĂ£o de classes em sua indĂºstria". A atriz apaziguou o comentĂ¡rio, afirmando: "Pode ficar tranquilo, pois a Pepsi-Cola trabalha em todo o mundo com os sindicatos e o sr. verĂ¡ como Ă© fĂ¡cil se entender conosco." 
O meu interesse apaixonante pelo Rio Ă© crescente e constante. Desta vez venho a convite de Itamaca a entregar a este grande povo uma das mais modernas fĂ¡bricas de refrigerantes, como Ă© a Pepsi-Cola, associada ao poderoso grupo venezuelano de Diego Cisneros. Este empreendimento representa verdadeira dinamizaĂ§Ă£o do trabalho, da indĂºstria paralela, das capitais que se interligam para engrandecer a cidade, a populaĂ§Ă£o e o Estado de Guanabara. 
Encerrada a cerimĂ´nia, a magnata da Pepsi-Cola estava descendo a escadaria da Assembleia quando se deparou com a exposiĂ§Ă£o do pintor Ricardo Navarro Poves, recentemente falecido. Joan nĂ£o sabia do fato e quando lhe comunicaram sobre a morte do artista "ficou comovida" e teve a surpresa de se encontrar com a mĂ£e de Ricardo, uma senhora de 80 anos de idade, a quem ela abraçou e trocou algumas palavras de afeto. Joan havia sido pintada por Ricardo, alguns anos antes, na Riviera Francesa. 

No dia seguinte, 1 de dezembro Ă s 11h, Joan cumpriu o combinado e fez presença na coletiva de imprensa no Copacabana Palace. 

Como uma Ă³tima marketeira - tomando Pepsi na coletiva de imprensa 
Com um vestido rosa de poĂ¡s, Joan sabia fazer propaganda como ninguĂ©m e estava sempre com uma Pepsi na mĂ£o. A maioria dos assuntos que ela respondia eram sobre o refrigerante, afinal como a maior acionista da empresa, ela tinha mesmo que cuidar de seu produto. Entre falas mais particulares, contou que "amava ficar sozinha" e que se sentia "chateada" quando encontrava alguĂ©m que nĂ£o sentia o mesmo. Deu aos jornalistas os seguintes nĂºmeros: 84 filmes e 4 maridos e avisou:
Cuidado para nĂ£o confundirem esses nĂºmeros, rapazes, senĂ£o os cariocas vĂ£o fazer mau juĂ­zo de mim. - Joan para O DiĂ¡rio de NotĂ­cias
Tratou logo de falar sobre o cinema, afirmando que preferia o mistĂ©rio do cinema antigo do que os novos: 
Antigamente, antes da guerra, as artistas eram tratadas como deusas porque os prĂ³prios donos da indĂºstria se encarregavam de fazer os mitos. Naquele tempo, a vida dos artistas era particularĂ­ssima e havia um certo cerco sob os aspectos da vida de uma atriz. Agora, todo mundo sabe de tudo e hĂ¡ os que vencem e criam grande fama porque trazem Ă  pĂºblico os escĂ¢ndalos. 
 Indagada, no final da entrevista, sobre os hippies, Joan deu uma resposta tĂ­pica dela:
O mundo pode perfeitamente passar sem eles. 
Joan na coletiva ao lado de Fernando Miebili de Carvalho, dos refrigerantes Itamaca
Ă€ noite, Joan ofereceu um coquetel para vĂ¡rios convidados no Iate Clube, no Rio de Janeiro, com um show exclusivo dado pela grande Elis Regina - ela estava prestes Ă  se casar com Ronaldo BoscĂ³li no dia 7 de dezembro. 

Conta-se pelo DiĂ¡rio de NotĂ­cias que Joan ficou maravilhada com a performance de Elis e foi atĂ© o palco abraçar e beijar a cantora. Fez o mesmo com o futuro marido da estrela. Elis ficou encantada com a simpatia de Joan e afirmou:
Esta mulher Ă© formidĂ¡vel, uma simpatia, fabulosa mesmo... e vocĂªs notaram como seu rosto lembra o da MaĂ­sa? 
Foi nesta viagem, aliĂ¡s, que Joan Crawford conheceu Zuzu Angel, uma das estilistas mais requisitadas do Brasil. As duas formaram uma grande amizade segundo o Jornal do Brasil, quando Joan requisitou os modelitos da estilista para sua viagem ao Rio de Janeiro. Em entrevista para o jornal O Globo, a filha de Zuzu conta, na verdade, que a iniciativa veio da sua prĂ³pria mĂ£e: "EntĂ£o, ela munida dessas credenciais, procurou-a, foi muito bem recebida. Joan Crawford foi ver a roupa da mamĂ£e, gostou muito e encomendou um vestido lindo que a mamĂ£e fez para ela em tempo recordĂ­ssimo."

Conta-se que o modelito que Joan usou no Iate Club foi desenhado por Zuzu Angel, que estava na suĂ­te do Copacabana fazendo os ajustes no corpo da estrela. E mais: a atriz se atrasou mais de uma hora para chegar na festança, pois fez questĂ£o de esperar pela filha de Zuzu, Ana Cristina, jĂ¡ que ambas eram suas convidadas de honra no coquetel.

Joan no Iate Club                                             Correio da ManhĂ£
A atriz e empresĂ¡ria se retirou da festa cedo, brincando que com a inauguraĂ§Ă£o da nova filial da Pepsi Cola no dia seguinte, ela tinha: "que engarrafar muita Pepsi e depois pintar toda a fĂ¡brica". Finalmente, todo o trabalho da atriz, que era a Ăºnica diretora mulher entre os 19 dirigentes, estava dando inĂºmeros frutos e a mais nova filial do refrigerante tornaria-se realidade. 

Joan Crawford inaugurando a fĂ¡brica da Pepsi Cola ao lado do governador NegrĂ£o de Lima
Segundo o jornal DiĂ¡rio de NotĂ­cias, que noticiou de forma extensa sobre a vinda de Crawford ao paĂ­s, o governador NegrĂ£o de Lima chegou para a cerimĂ´nia, no dia 2 de dezembro, em seu helicĂ³ptero, Ă s 11h, em InhaĂºma - local da fĂ¡brica. JĂ¡ a atriz e agora mulher de negĂ³cios, chegou Ă s 11h30, vestindo um "vestido amarelo queimado e um chapĂ©u de cowboy".

Joan cortou a fita simbĂ³lica da fĂ¡brica ao lado de NegrĂ£o ao som de Cidade Maravilhosa e logo a cerimĂ´nia de inauguraĂ§Ă£o começou com a missa de do vigĂ¡rio-geral e bispo auxiliar, dom JosĂ© de Castro Pinto. Na missa solene estavam presentes os 18 acionistas venezuelanos da empresa e outros cem convidados, incluindo os membros da diretoria da Pepsi-Cola, alĂ©m de fĂ£s. ApĂ³s a missa, NegrĂ£o fez um discurso enaltecendo a inauguraĂ§Ă£o da mais moderna fĂ¡brica de refrigerantes do Brasil e sobre Joan, atestou:
Ă€s honras da grande estrela do mundo do cinema e grande estrela do mundo econĂ´mico. 
O sr. Robert Geddes, presidente da Pepsi-Cola no Brasil tambĂ©m informou na ocasiĂ£o que agora o Brasil tinha 20 fĂ¡bricas do refrigerante, de Manaus a Porto Alegre, e que esperavam uma demanda de mais de 27 mil garrafas por hora. O que tornava essa fĂ¡brica inaugurada por Joan tĂ£o especial? Os refrigerantes jĂ¡ seriam preparados com uma prĂ©-mistura (de xarope e Ă¡gua superfiltrada) e um processo de imunizaĂ§Ă£o das garrafas que reduziriam o risco de contaminaĂ§Ă£o para zero. 

Joan na cerimĂ´nia da Pepsi (as fotos Ă  direita sĂ£o do site Joan Crawford The Best)
Ă€ noite, naquele mesmo dia, Joan ofereceu um jantar no Country Club Ă  todos os seus amigos empresĂ¡rios e o evento foi exclusivo. NĂ£o encontrei fotos do fatĂ­dico jantar, mas conta-se em uma coluna social que teve a presença do cantor Jair Rodrigues - cantor do hit Deixa isso pra lĂ¡. O badalado evento aconteceu Ă s 20h com a presença do presidente da Pepsi no Brasil. 

Recarregando as energias em seu quarto no Hotel Copacabana, Joan estava firme e forte no dia 3 de dezembro, um domingo, no qual ela viu, Ă  tarde, o desfile da escola de samba do Portela, O Rancho Tomara que Chova e o Bloco do Frevo dos Lenhadores que acontecia na Avenida AtlĂ¢ntica atĂ© a Rua Santa Clara. A atriz viu tudo da sacada do hotel, animada com a amostra do Carnaval Carioca. 

No dia 4, seu Ăºltimo dia no Rio de Janeiro, Joan patrocinou a festa Noite Alucinante no Carnaby Street, no Golden Room do Copacabana Palace, com direito Ă  show da dupla Miele-BĂ´scoli (este Ăºltimo iria se casar com Elis Regina e organizou os trĂªs shows de Joan no paĂ­s), desfile da Biba de Londres e mĂºsica psicodĂ©lica de Luiz Carlos Vinhas, em benefĂ­cio da AĂ§Ă£o ComunitĂ¡ria do Brasil. 

Joan no Golden Room em sua Ăºltima noite no Rio de Janeiro, entre o embaixador dos EUA, John Tuthill e sr. Cecil Poland
No Golden Room, Joan viu de perto um desfile com as novas modas psicodĂ©licas e se reuniu com inĂºmeras estrelas brasileiras, cumprimentando atĂ© Elis Regina que havia cantado para ela alguns dias atrĂ¡s.

Joan cumprimentando Elis e Ronaldo - foto retirada do facebook Elis Regina Pimentinha
Joan partiu para os Estados Unidos no dia 5 de dezembro de 1967 - levando vĂ¡rios modelitos de Zuzu Angel para usar no seu paĂ­s. A atriz partiu pelo aeroporto do GaleĂ£o Ă  1h40 da madrugada e afirmou que levava apenas coisas boas do Rio de Janeiro:
Quando ouço a palavra Brasil penso imediatamente em mĂºsica, beleza, sol e flores, pois recordo todos os instantes de meu programa no Rio vendo mulheres saudĂ¡veis, lindas, modernas e elegantes. - Via Jornal do Brasil
Mas se a Joan Crawford ficou longe do Brasil por um tempo, o paĂ­s logo se encarregou de se aproximar dela mais uma vez: foi a atriz quem fez uma grande propaganda dos designs de Zuzu Angel nos EUA e logo a estilista foi convidada para mostrar seus modelitos em Nova York. E onde Angel ficou? No apartamento de Joan, com motoristas, chefes e atĂ© telefone Ă  disposiĂ§Ă£o. Zuzu foi sĂ³ elogios para a lenda do cinema: 
Aceitei o convite e fiquei hospedada em sua casa. AliĂ¡s, ela foi muito gentil. Ofereceu-me um coquetel e me apresentou Ă  uma sĂ©rie de pessoas interessantes. - julho de 1968, Zuzu para O Jornal
Joan Crawford e Zuzu Angel em Nova York, 1968                                            Manchete
1970

VocĂª achava que Joan jĂ¡ teve o bastante do Brasil? Pois a atriz e empresĂ¡ria queria mais! Portanto ela fez questĂ£o de voltar ao nosso paĂ­s em 1970! Ainda como diretora da Pepsi-Cola, ela retornou ao nosso paĂ­s para fins recreativos - curtir uma amostra do Carnaval - e para inaugurar outra fĂ¡brica no paĂ­s, desta vez em Santo Amaro, SĂ£o Paulo.

Joan chegou em SĂ£o Paulo no dia 19 de janeiro de 1970 pelo aeroporto de Viracopos, Ă s 8h50, no mesmo voo de Alberto Sodi, com um vestido de seda preta e chapĂ©u texano vermelho. Segundo Jornal do Brasil, ela tentava esconder os esparadrapos que tinha no rosto - assim nĂ£o sendo fotografado seu desembarque - e vinha acompanhada da sua governanta, a Mamacita. Logo ela embarcou no carro de marca GalaxiĂ©, com ar-condicionado (finalmente!), que a conduziu para o chique Othon Palace Hotel, cuja suĂ­te tinha sido totalmente remodelada para recebĂª-la. 

Com um total de 20 malas, Joan era esperada por mais de 60 pessoas, entre elas, o secretĂ¡rio de Turismo de SĂ£o Paulo, Amadeu Pappa, e os diretores e gerentes da Pepsi-Cola no Brasil. A comitiva da atriz era composta por mais de 20 pessoas, que ocuparam o Othon Palace e o Hotel JaguarĂ¡, dando uma despesa Ă  Pepsi de 10 mil cruzeiros por dia. Para se ter uma ideia, apenas a diĂ¡ria da suĂ­te de Joan era de 700 mil cruzeiros. Naquele dia ficou no hotel o dia inteiro em reuniões, com a companhia apenas de Mamacita.

No dia 21 de janeiro, Ă s 10h, Joan atendeu a imprensa brasileira em uma coletiva de imprensa no Othon Palace Hotel. 

Joan Crawford em entrevista coletiva para a imprensa - sempre com uma Pepsi na mĂ£o
De acordo com o jornal DiĂ¡rio da Noite, Joan começou a coletiva jĂ¡ pedindo por uma Pepsi-Cola e sĂ³ sossegou quando a recebeu. No meio da entrevista fez questĂ£o de saudar seus parentes brasileiros que estavam ali presentes, sete entre primos e sobrinhos alojados em JundiaĂ­, afirmando: "sĂ£o tantos que poderiam encher esta sala aqui". Deles, ela recebeu um buquĂª de flores. Naquele mesmo dia, jantou com sua prima-irmĂ£ Yvonne Le Sueur de Moraes, o marido JosĂ© Carlos Le Sueur de Moraes e uma comitiva composta tambĂ©m pelo amigo dos Moraes, Renato Nalini.

Contudo estamos nos adiantando: ainda na coletiva pediu desculpas pelo desencontro com os jornalistas no aeroporto de Viracopos e afirmou que havia mandado um telegrama, avisando que estava cansada e queria um descanso. Falando sobre a nova onda de sexo e violĂªncias nas telonas, Crawford era veemente contra e deu sua opiniĂ£o sobre o assunto: 
NĂ£o sou esnobe ou moralista, mas o sexo na relaĂ§Ă£o de um homem e uma mulher Ă© a coisa mais linda que existe. Agora na frente das cĂ¢meras Ă© algo que me choca - Jornal do Brasil.
A atriz tambĂ©m deu a seguinte dicas para os homens em um relacionamento: "conversar sempre Ă  luz de velas" e deixou claro que apesar de querer se casar de novo, estava trabalhando muito duro, sem tempo para o amor por enquanto. Joan exibiu seu lado solidĂ¡rio, oferecendo-se para abrir no Brasil uma campanha para crianças com deficiĂªncias mentais, destacando que era presidente do Serviço das Forças Armadas dos Estados Unidos e participava do projeto Hope, alĂ©m de ajudar em causas de distrofia muscular e mental. 
Adotei cinco filhos, mas perdi um menino [o primeiro Christopher foi devolvido Ă  pedido da mĂ£e biolĂ³gica]. Restam-me trĂªs garotas e um rapaz, duas das meninas sĂ£o gĂªmeas. Minha filha mais velha, Christina, Ă© uma excelente atriz de teatro e faz tambĂ©m novelas de televisĂ£o. Uma vez, eu fui substitui-la, perguntei ao diretor o que deveria fazer. 'Faça o papel de sua filha', ele disse. Christopher, o rapaz, acaba de cumprir seu serviço militar no VietnĂ£. -DiĂ¡rio da Noite, SP. 
Joan na coletiva de imprensa
ApĂ³s ficar mais de 90 minutos conversando com os jornalistas, Joan foi para o Ibirapuera, Ă s 16h, se encontrar com o prefeito Paulo Maluf para receber a chave da cidade de SĂ£o Paulo em uma cerimĂ´nia solene. Ganhou, tambĂ©m, de presente, um livro com fotos dos pontos turĂ­sticos e feitos do Brasil, no qual constava uma foto de PelĂ©. Perguntaram-lhe se ela sabia quem ele era e como Joan nĂ£o sabia, lhe explicaram. Apenas afirmou: "FantĂ¡stico!". 

No dia seguinte, 22, foi homenageada com um banquete dado pelo governador Abreu SodrĂ© no PalĂ¡cio dos Bandeirantes. Durante a visita, afirmou que via o Brasil como um dos paĂ­ses mais adiantados do mundo dali 20 anos e deixou claro: "o que nĂ£o impede ao seu povo de ser bastante acolhedor".

Joan Crawford ao lado do governador Abreu SodrĂ©                                  DiĂ¡rio da Noite
JĂ¡ na sexta-feira, dia 23, inaugurou, finalmente sua fĂ¡brica da Pepsi-Cola em Santo Amaro, SĂ£o Paulo. Localizada na Avenida Interlagos, a cerimĂ´nia ocorreu ao meio-dia, com a presença do governador Abreu SodrĂ©, o prefeito Paulo Salim Maluf e o Cardeal Arcebispo D. Agnelo Rossi, que presidiou uma missa antes da abertura da mais nova filial. Desta vez, Joan nĂ£o fez nenhum pronunciamento. 

Nesse Ă­nterim de compromissos, Joan ainda foi entrevistada pela grande Hebe Camargo, que conduzia um programa de entrevistas na Rede Record. Posteriormente, Crawford afirmou que Hebe era uma "loira charmosa" e que havia achado a entrevista maravilhosa. JĂ¡ a loira disparou: "Joan Ă© a minha Ă­dola". Infelizmente nĂ£o hĂ¡ nenhuma foto disponĂ­vel desse encontro. 

Entre essa rĂ¡pida visita Joan ainda encontrou tempo de ver  a amiga Zuzu Angel, com quem ela havia encomendado 12 vestidos para levar aos EUA. Um ano depois, a estilista sofreria uma das maiores perdas de sua vida: o desaparecimento de seu filho Stuart - posteriormente foi descoberto que ele havia sido torturado e morto pela ditadura militar. Joan se compadeceu pela amiga e elas sempre mantiveram contato  por cartas ao longo dos anos. 

Crawford jogando confete do camarote do Baile de Carnaval                                       Manchete
Ă€ noite, no dia 23, Ă s 23h Crawford apareceu com uma entourage de 12 pessoas no Baile do Teatro Municipal de SĂ£o Paulo. Tanto a atriz quanto Alberto Sodi estavam no local, mas Crawford ficou menos de meia hora no local. Deu o que falar com um vestido rosa choque e verde - muitos jornais da Ă©poca a chamavam de cafona.

A atriz havia exigido ar-condicionado em seu camarote, porĂ©m nĂ£o foi possĂ­vel atender seu pedido. Joan tambĂ©m se chocou com uma "loira exibicionista" na festa de Carnaval e ela apenas se divertiu jogando confete e dançando um pouco, sem se misturar com a multidĂ£o. 

Joan iria embora de SĂ£o Paulo no dia 24, em um voo no horĂ¡rio da tarde, mas adiou sua partida ao saber que ganharia o trofĂ©u Cecil B. Demille, que lhe seria entregue no prĂ³ximo dia 2 de fevereiro. A honra era grande jĂ¡ que a atriz seria a primeira mulher a receber o prĂªmio.

Joan Crawford em 1967 com Bibi Ferreira e em 1970 no Carnaval de SP.        Joan Crawford The Best
Na verdade, como conta o jornal O Pasquim - se Ă© que podemos levar Ă  sĂ©rio -, Joan teria passado mal na vĂ©spera do embarque ao comer algumas fortes comidas tĂ­picas brasileiras. Assim, se tornou impossĂ­vel que ela embarcasse, afinal nĂ£o queria passar mal na frente de todos, e apenas foi para os Estados Unidos quando se recuperou da forte disenteria intestinal. 

Afirma-se que Joan gastou mais de 700 dĂ³lares por dia em sua Ăºltima estadia no Brasil, dando gorjetas generosas, e as camareiras do hotel juravam de pĂ© junto que Joan nĂ£o usou nem um quarto das roupas em suas vinte malas! 

Joan recebendo seu tĂ£o sonhado prĂªmio 
No final de sua estadia no Brasil, jornais noticiaram que Joan havia confidenciado Ă  um amigo que planejava voltar para o paĂ­s novamente, desta vez para realmente curtir o clima de SĂ£o Paulo e do Rio de Janeiro. Infelizmente isso nunca aconteceu. 

Mas em sua autobiografia My Way of Life, Joan fez questĂ£o de falar sobre o nosso paĂ­s, especificamente sua Ăºltima visita em SĂ£o Paulo, daquele jeito Crawford de ser, atestando: 
Eu aprendo a dizer algo carinhoso em cada paĂ­s. No Brasil, aprendi uma palavra que significa 'eu te abraço' [provavelmente 'carinho']. Aprender pelo menos uma frase na lĂ­ngua do paĂ­s que te recebe Ă© o jeito mais fĂ¡cil de fazer amigos. Geralmente me oferecem algum presente como lembrança, mas tive que recusar a proposta de meus amigos no Brasil: queriam me dar um gato-selvagem para levar para casa. As boas-vindas em SĂ£o Paulo foram um pouco demais: Tinham milhares de pessoas nas ruas pressionando o carro Impala (um dos mais largos do paĂ­s) atĂ© que começou a balançar. Foi assustador -embora tivesse sido muito lisonjeador e excitante. 
As vindas de Joan Crawford ao Brasil, no entanto, foram um espetĂ¡culo - assim como a prĂ³pria atriz. E nĂ³s, seus fĂ£s, temos apenas que agradecer.


*Obs: gostaria de apontar, tambĂ©m, como fonte os sites Cinema ClĂ¡ssico, Lady Hollywood e a pĂ¡gina de Joan Crawford BR no Facebook que me ajudaram muito a complementar a narrativa da vinda dessa estrela ao Brasil. Muito obrigada! 


5 comentĂ¡rios:

  1. Estou impressionada com os detalhes do texto e a riqueza de conteĂºdo que foi posta, resta apenas dizer muito obrigada por este material, pois venho procurando informações como essas faz tempo.

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    1. Muito obrigada!
      A vinda de Joan ao Brasil Ă© repleta de detalhes e eu amo fazer essa sĂ©rie "No Brasil" para descobrir cada vez mais detalhes! Fico muito feliz que vocĂª tenha gostado!
      Volte sempre :)

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  2. Uau!Conheci pessoalmente o Sr. Harry Stone, que era uma espĂ©cie de embaixador no Rio de Janeiro. Era ele que trazia todas as grandes estrelas de Hollywood para cĂ¡. E o dono da fĂ¡brica de tecidos Bangu Sr. Guilherme da Silveira, mas conhecido por Silverinha foi padrinho de casamento de meus pais.

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    1. OlĂ¡, MĂ¡rio, que demais!
      Ele deveria ter inĂºmeras histĂ³rias sobre as celebridades, que demais!
      VocĂª Ă© muito bem relacionado, deve ter Ă³timas histĂ³rias, se quiser compartilhar, fique Ă  vontade.

      Volte sempre :)

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