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Confira quatro fatos curiosos sobre o Brasil no Oscar

É como dizem: saber sobre nossa história é importante para que possamos evoluir. Em 2017, por exemplo, é a primeira vez que temos atores negros indicados ao Oscar em todas as quatro importantes categorias: de melhor atriz, de melhor ator, além de atriz e ator coadjuvante. Mesmo assim, se pararmos para pensar, a falta de diversidade da academia é de chorar: em 1940 quando Hattie McDaniel ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pelo E o Vento Levou..., ela nem ao menos pode sentar ao lado de seus colegas de elenco já que o prédio em que a cerimônia estava sendo realizada, a Cocoanute Groove NightClub, tinha uma política de segregação entre negros e brancos. 

E não são só os negros que sofreram com o racismo da academia: Merle Oberon, atriz com descendência indiana que tentava, à todo custo, esconder suas raízes foi a única indicada a um Oscar de Melhor Atriz em 1935. Ben Kingsley é também o único descendente de indianos que ganhou um Oscar de Melhor Ator por Gandhi até agora. O talentosíssimo Dev Patel é o terceiro indiano indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Como um país com uma população de mais de 1 bilhão de pessoas teve apenas três representantes no Oscar? A disparidade é espantosa! 

O Brasil, como país, também passou por várias injustiças. Este ano, por exemplo, Aquarius foi esnobado para uma indicação ao prêmio em favor do filme: O Pequeno Segredo, fato que alvoroçou os fãs da sétima arte. Desde 1963, com a indicação do filme O Pagador de Promessas, o Brasil tenta ganhar a tão cobiçada estátua de Melhor Filme Estrangeiro. Mas não se alarmem: o Brasil faz parte dos 90 países que nunca ganharam um Oscar para seus filmes, ou seja, há ainda esperança para todos. 

Portanto, nesta nossa edição da A Listinha, revisitaremos algumas curiosidades sobre o Brasil durante seus percalços nessa premiação importante do entretenimento.


O caso de Fernanda Montenegro
Divulgação/Montagem

Caso de indignação até hoje, Gwyneth Paltrow ganhou seu Oscar de Melhor Atriz em 1999 por sua atuação como Viola em Shakespeare Apaixonado (1988), As má-línguas dizem que ela roubou esse papel de sua então melhor amiga Winona Ryder quando teria visto o roteiro do filme na casa dela. Paltrow logo depois teria feito um teste para o longa-metragem pelas costas de Ryder e, assim, conseguido o papel.

Mas no caso de Fernanda Montenegro foi diferente. A primeira, e única, atriz brasileira a ser indicada para o Oscar, todos estavam torcendo para que ela trouxesse ao Brasil a tão desejada estátua de ouro pela sua interpretação como Isadora no filme Central do Brasil (1998). Suas outras concorrentes, além de Paltrow, eram Cate Blanchett, Meryl Streep (que em 2017 recebeu sua vigésima indicação ao prêmio, quebrando seu próprio recorde) e Emily Watson.  

Até hoje a vitória de Gwyneth pelo Oscar de Melhor Atriz é alvo de diversas discussões, porque, apesar de Shakespeare Apaixonado ser um filme divertido e de vários críticos da época, como no jornal New York Times, definirem a atuação da atriz como "de tirar o fôlego", a maioria do público cinéfilo discorda, principalmente os brasileiros, que não se conformam que Fernanda não tenha ganhado o Oscar. 

O caso do filme Orfeu Negro (1959), co-produção do Brasil e da França 
Divulgação
O Brasil não ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por Orfeu Negro, mesmo ele tendo sido gravado e filmado por atores brasileiros. Quem ganhou foi a França, durante o Oscar de 1960. Ainda não entendeu? A explicação é simples: a produção do filme, baseada no mito grego de Orfeu com sua amada Euridíce, foi toda feita por profissionais franceses. Do Brasil, haviam apenas as locações; o filme se passava no Rio de Janeiro; e alguns atores contratados, inclusive Breno Mello que interpretou o protagonista da história e era, antes de participar do filme, apenas um desconhecido.

Por isso, quando o longa ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o prêmio foi para a França, que foi o país que submeteu o filme à Academia. Mas o Brasil há de se orgulhar: Orfeu Negro é o único filme a ter ganhado a estatueta que é todo falado em português. Além do mais, o diretor do filme, Marcel Camus, conseguiu ajuda do então presidente do Brasil, Juscelino Kubitschek para utilizar os equipamentos de filmagem do país, já que ele tinha gastado quase tudo de seu limitado orçamento.  

Quem não gostou do filme foi o poeta Vinícius de Moraes, cuja sua obra Orfeu da Conceição foi a inspiração para o longa. Segundo o livro A vida louca da MPB de Ismael Canepelle, ao assistir a primeira sessão de Orfeu Negro, ao lado do diretor Marcel e o presidente Juscelino Kubitschek, ele saiu furioso da sala, irritado com o exotismo exagerado da produção. Este foi um entre vários filmes que ajudaram a perpetuar a noção errônea de que a vida no Brasil é uma festa constante.  


Ary Barroso, o primeiro indicado ao Oscar do Brasil
Domínio Público
Antes mesmo do Brasil conseguir sua chance nos holofotes com a indicação do Pagador de Promessas como Melhor Filme Estrangeiro em 1964, o músico Ary Barroso já havia sido indicado, 20 anos antes pela composição de sua belíssima música intitulada Rio de Janeiro para o filme Brasil (1944). A única pegadinha é que o longa-metragem foi todo produzido nos Estados Unidos e quem acabou cantando a canção foi o ator mexicano Tito Guizar, que interpretava, ironicamente, um brasileiro. 

O ganhador do Oscar de Melhor Canção Original em 1945 foi a Swinging on a Star do filme O Bom Pastor (Going My Way) de 1944. Vale ressaltar que Ary foi responsável por fazer o arranjo da música Rio de Janeiro enquanto que a letra da canção foi composta por Ned Washington, que, posteriormente, ficou responsável por escrever em trilhas sonoras de filmes como Meu Maior Amor (1949), Matar ou Morrer (1952) e até da animação Pinóquio (1941).  

Mas Ary Barroso não estava muito atrás não: o músico compôs o arranjo da querida Aquarela do Brasil, escreveu inúmeras músicas para a estrela Carmen Miranda em filmes como Entre a Loira e a Morena (1943) e Alegria, Rapazes! (1944). Na época de sua indicação os Oscar, ele tinha contrato com a Republic Pictures, mas estava em fase de negociação com a Twentieth Century Fox, tanto que foi a Fox que deu um ingresso ao músico para participar do Oscar de 1945, pelo qual ele estava concorrendo. Outra curiosidade, segundo a biografia No Tempo de Ary Barroso de Sérgio Cabral, foi que o músico ficou desconcertado ao descobrir, durante a cerimônia, sentando ao lado do astro Humphrey Bogart, que o mesmo perderia o Oscar de Melhor Ator para Paul Lukas. Gilberto Souto, o repórter que acompanhava o músico, contou que Ary ficou mais emocionado do que o próprio ator pela derrota. 

Sonia Braga foi, até agora, a única brasileira a atuar como apresentadora no Oscar
Divulgação/Youtube
Sonia Braga é uma daquelas atrizes super talentosas: começou a atuar com 14 anos de idade e nunca mais parou. Indicada a diversos prêmios durante sua carreira, incluindo recentemente como melhor atriz no Cesar's, considerado o Oscar francês, por Aquarius (2016), a atriz fez uma baita de uma aparição durante a cerimônia do Oscar em 1987. 

Seu filme, O Beijo da Mulher Aranha (1986), uma co-produção do Brasil com os Estados Unidos, ganhou quatro indicações à estatueta: de melhor ator para o americano William Hurt, o de melhor diretor para Hector Babenco, além de melhor filme e roteiro adaptado. O único ganhador foi Hurt, convenientemente o único americano do filme. 

Mesmo assim, a cerimônia nos concedeu a ótima participação de Sonia apresentando o prêmio de Melhor Curta de Animação ao lado de Michael Douglas. Ela permanece, até hoje, a única brasileira a apresentar um prêmio no Oscar. Caetano Veloso, aliás, foi o único músico brasileiro a fazer uma performance no prêmio, ao lado da cantora Lila Downs com a música Burn it Blue, o tema do filme Frida, que concorreu ao Oscar de Melhor Canção Original. Isso que é poder do Brasil! 





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