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Real ou Fictício? Analisando a saga Sis(s)i: A Imperatriz da Áustria

Conta-se a lenda que o Imperador Franz Joseph, da Áustria, se apaixonou por Elisabeth Amalie Eugene, assim que colocou os olhos nela. O encontro fatídico aconteceu na cidade de Bad Ischl, na Aústria, em um famoso resort no verão de 1853, antes do aniversário de 23 anos do imperador. A prometida para o Franz era sua irmã mais velha, Helene, mas o vigente do trono se encantou por Sisi, mesmo com aquele nada favorável vestido preto de luto que a família usava por causa da morte de sua tia. 

Mas, diferente do que a trilogia de filmes alemães da imperatriz, mostra, Elisabeth odiava a vida na realeza e nas mãos de sua dominante sogra, Sophie. Ela amava Franz, mas não desejava ser uma imperatriz. Ela era tímida demais e sem conhecimento dos protocolos adequados. 
Porém na trilogia, dirigida por Ernst Marischka, o diretor optou por romantizar várias partes da vida dela, como é de praxe em filmes biográficos. O título do filme já nos deixa intrigados, afinal porque Sissi com dois 'S' se o apelido da imperatriz era com um só? De acordo com o livro Sissi: The Tragic Empress por Ludwig Merkle, esse erro é comum porque as pessoas que a admiravam ou queriam honrá-la, chamavam-na de Sissi e até de Sissy. 

Sisi era conhecida por sua beleza deslumbrante, mas foi mais do que isso         Divulgação/Montagem/Erma Film
Deixando de lado o seu apelido, é notável afirmar que a saga de filmes apenas se focou nos momentos mais felizes da imperatriz, mostrando as tragédias como passageiras. 

Por isso, na nossa série Real ou Fictício?, a Caixa de Sucessos irá analisar os três filmes de Sissi e mostrar suas semelhanças e diferenças da vida real da imperatriz da Áustria, que depois se tornou Rainha da Hungria. 
  • Real ou Fictício: a infância de Elizabeth não ocorreu de acordo com as normas da realeza: Real
Sisi teve uma infância em contato com a natureza                         Erma Film/Divulgação/Gif
"Se não fossemos da realeza, nós teríamos sido corredores de cavalo." Foi com esta frase do pai de Elisabeth, o duque Max, definiu perfeitamente a infância de Sisi. Nascida no dia 24 de dezembro de 1837, ela foi a quarta filha do duque Maximilliam e da duquesa Ludovika da Baviera. 

Com uma infância longe da Corte, Sisi muitas vezes deixava de fazer suas lições e até deixava de estudar apenas para andar de cavalo e brincar na sua grande propriedade, um castelo, construída na cidade de Possenhonfen, na Baviera, Alemanha. 

Segundo o livro The Imperial Style: Fashions of the Hapsburg Era de Polly Cone, ela e seus seis irmãos se divertiam com seus vários animais, escalavam as montanhas da Baviera com facilidade, além de pescar, dançar e tocar um pouco de música. Porém, quando se tratava de erudição, nem Max e nem seus filhos se preocupavam com isso. 

Para Elisabeth, terrivelmente tímida e envergonhada, aquela liberdade sempre foi muito querida e perdê-la quando se tornou rainha a deixou extremamente deprimida. 
  • Real ou Fictício: Sisi e o Imperador se apaixonaram à primeira vista: Real 
Sisi e Franz se entenderam imediatamente                              Divulgação/Domínio Público
A controladora princesa Sophie da Baviera, mãe do pretendente mais cobiçado do século XVIII, o imperador Franz Joseph, estava obstinada em casar seu filho com sua sobrinha mais velha Helene, conhecida como Nené, filha de Ludovika, meia-irmã de seu falecido marido. Para Sophie, Helene era sofisticada e poderia se tornar uma linda mulher, além de já ser da família. 

Assim, ninguém prestava atenção em Elisabeth, que aos quinze anos de idade, era um tanto simplória e não teria um grande dote a oferecer para seu futuro marido. Secretamente, Ludovika planejava um possível casamento de Sisi com o irmão mais novo de Franz, Maximiliam. Mas não era isso que o destino tinha reservado para ela. 

Desde o primeiro encontro de Franz com suas primas o jovem não conseguia tirar os olhos de Sisi e estava obstinado em tê-la como esposa. Helene nunca teve chance. 

Em confidência para sua mãe, segundo o livro Notorious Royal Marriages de Leslie Caroll, Sisi disse: "É claro que o amo, mamãe. Como não poderia? Se apenas ele não fosse imperador." Ludovika, então, aceitou o casamento em nome da filha, diferentemente da proposta de casamento no baile do primeiro filme, que nunca aconteceu. Em 19 de agosto de 1853 o noivado dos dois foi anunciado e oito meses depois, em 24 de abril de 1854, eles se casaram. 
  • Real ou Fictício? Sisi teve dificuldades ao agir como uma Imperatriz: Real
Sisi passava muito pouco tempo com seu marido, ocupado com seu país       Erma Film/Divulgação/Gif 
No filme, Sisi parece atender à todos os requisitos de uma futura imperatriz: bela, receptiva e feliz. Apesar de sua paixão pela natureza e a saudades de sua família, ela não parece demorar para receber com os braços abertos os seus mais novos súditos.  

Infelizmente, na vida real, a história não foi bem assim. A falta de entendimento dos protocolos era um dos motivos pelos quais a mãe de Franz, Sophie, não gostava de Elisabeth. A princesa considerava Sisi incapaz de cumprir suas obrigações e não estava errada. Em uma situação específica, logo depois de ser anunciado seu noivado, o povo foi em massa para as ruas, tentar ver de perto sua nova imperatriz. Dentro da carruagem, de acordo com o livro de Leslie Carroll, Sisi chorava descontroladamente, sem saber como lidar com a pressão. O fato de ela não falar outras línguas e não saber como manter uma conversa com os outros nobres, também não ajudou sua causa.

Para o público, Sisi representava seu papel perfeitamente bem, mas se sentia cada vez mais infeliz ao ter que viver sob o protocolo real.  Tanto que, em sua festa de casamento, antes de partir para Viena, a imperatriz ficou maravilhada com toda a população lhe desejando um feliz casamento e chorou e acenou como nunca. Críticos, na época, disseram que não havia nada na situação para uma resposta tão "exasperada". 

Elisabeth, aliás, agia muitas vezes contra os protocolos de propósito para, principalmente, afrontar sua sogra. 
  • Real ou Fictício? Sisi lutou para ganhar controle de sua primogênita, Sophia, para puro amor: Quase real 
Sisi com suas filhas Gisela e Sophie                                                  Domínio Público
Ao dar à luz sua primeira filha, Sophie, na tenra idade de 17 anos, a imperatriz foi considerada muito jovem para cuidar de um bebê sozinha. Assim, sua sogra fez com que o quarto do bebê fosse colocado perto de seus aposentos, permitindo pouco contato entre mãe e filha. 

Enquanto o filme retrata a busca de controle de Sisi sobre sua filha de modo correto, os motivos nem sempre foram por amor. Muito jovem, a imperatriz não era do tipo maternal e buscou apenas tirar sua filha fora do controle de sua sogra, que observava cada passo dela. 

Aliás, essa mudança não aconteceu pela intervenção da mãe de Elisabeth, Ludovika, como o segundo filme da trilogia Sissi mostra. Sisi apenas criou fortes laços com sua quarta filha, Marie Valerie, que nasceu em 1868, que era sua pessoa favorita no mundo. 
  • Real ou Fictício? A imperatriz interviu para que seu marido de tornasse Rei da Hungria: Real 
Sisi adorava o povo da Hungria                                  Erma Film/Divulgação/Gif

No filme, Sissi: A Imperatriz (1956), o segundo da trilogia, Elisabeth é retratada de forma modesta ao ajudar seu marido a chegar em um acordo de paz com o povo da Hungria, através do conde Gulya Andrassy, fazendo com que os dois acabassem coroados rei e rainha da Hungria. Porém, os fatos não aconteceram dessa maneira. 

Sisi, depois de quase dez anos como imperatriz, já era mãe de dois filhos, Gisela e o sucessor do trono Rudolph. Sua primogênita, Sophie havia morrido em 1857, depois de uma luta contra o sarampo. Vale ressaltar que a imperatriz nunca perdoou sua filha Gisela, já que a culpava por ter passado a doença para sua filha mais velha, quando ambas estavam em Budapeste, na Hungria.
Com 29 anos de idade, Elisabeth, mais linda do que nunca, usou seus atributos para garantir que seu marido fosse rei: apoiando, assim, a igualdade política dos húngaros, já que a Áustria queria um imperador, mas a Hungria um rei. Promovendo a autonomia dos dois países, ao lado de Andrassy, por quem ela estava completamente apaixonada, Sisi conseguiu convencer o seu marido a aceitar a honra. Tornar-se rainha da Hungria se tornou ainda mais fascinante quando descobriu que sua sogra não gostava do país.  

Portanto, em junho de 1867, ambos foram coroados rei e rainha da Hungria e um ano depois sua filha, Marie, nasceu. Apesar dos boatos na época, Andrassy não era o pai de Marie, já que seu romance com a imperatriz/rainha foi puramente platônico. 
  • Real ou Fictício: Sisi deixa o país por causa de uma doença no pulmão: Quase Real
Mas Sissi não estava realmente doente por causa disso                                   Erma-FilmDivulgação/Gif 

No último filme da trilogia, Sissi e Seu Destino (1957), os médicos descobrem que Sisi tem uma doença no pulmão e precisa se retirar do país para um clima mais ameno, para tentar se recuperar. 

Segundo a biografia Sissi: The Tragic Empress por Ludwig Merkle, o comunicado oficial do palácio foi que a imperatriz estava com tuberculose, mas a verdade era outra. Os historiadores usam duas alternativas para explicar a doença de Sisi:  a primeira era que seu marido Franz, envolvido com suas amantes, provavelmente havia lhe passado uma doença venérea.
A segunda explicação vinha da má alimentação de Sisi, que passava dias sem comer para manter seu corpo esbelto (uma anorexia nervosa) e a rejeição que sentia por seu marido, com quem ela não conseguia mais ficar perto. 

Mas isso aconteceu em 1860, antes de sua coroação como Rainha da Hungria e não depois como mostrado no filme. Além do mais, Sisi viajou sozinha, sem a companhia de seus filhos ou de seu marido, e foi desde Madeira até Corfu, mantendo-se longe das cortes reais. Sua mãe não foi lhe visitar durante sua recuperação, bem diferente do ambiente otimista do filme.
  • Real ou Fictício? Franz leva sua esposa para ganhar a confiança do reino Lombardo-Vêneto: Real 
Sophie, a filha mais velha de Sisi, não estava presente na viagem              Erma Film/Divulgação
Franz Joseph estava obstinado a prestar uma visita à Itália, já que não queria ceder nenhum de seus territórios do reino Lombardo-Vêneto, a atual Itália, para os nacionalistas. O encontro aconteceu em novembro de 1856, quase dez anos antes de Sisi e Franz terem sido coroados rei e rainha da Hungria, como o filme Sissi e Seu Destino (1957) mostra erroneamente. Ele achava que se levasse sua nova e linda esposa, conseguiria conquistar a simpatia de muitos. 

Apesar disso, o longa retratou fielmente o silêncio da multidão, que apenas ficou ao lado do imperador quando depois da insistência de Elisabeth, o seu marido declarou anistia a inúmeros presos políticos italianos. Foi assim que o casal conquistou uma maior influência fora da Áustria. 

Infelizmente, ao voltar da viagem, sua pequena filha Sophie já havia morrido de sarampo. Apesar de não ser maternal, a imperatriz ficou mais de onze horas ao lado do leito de sua filha e apenas saiu de lá ao desmaiar de fome. A maior perda de sua vida. 

O diretor e roteirista dos longas, Ernst, queria continuar a contar a vida de Sisi porém Romy Schneider se recusou em interpretar a personagem novamente. Estava cansada. Talvez se ela tivesse continuado no papel, tivéssemos visto uma versão mais amadurecida de Sisi, que odiava sua posição na sociedade e que nunca se sentiu confortável com sua nova vida. 

Extremamente vaidosa, Elisabeth temia envelhecer e fazia tudo que estava ao seu alcance para aparentar ser mais nova. Tanto que a partir dos 33 anos de idade, ela não permitia mais que fotos ou pinturas fossem feitas sobre ela. 

Sisi foi assassinada em 10 de setembro de 1898, aos 60 anos de idade, quando estava viajando para Genebra, na Suíça. Ela foi esfaqueada por anarquista italiano chamado Luigi Lucheni, que ao não conseguir assassinar o príncipe Philippe, matou o primeiro membro da realeza que viu, que foi a imperatriz. O corpete de Elisabeth estava tão apertado que ninguém percebeu que ela havia sido esfaqueada até que ela perdeu a consciência. 

Amada pelo seu povo, sua morte foi um choque profundo e até hoje a bela Sisi é venerada. Não pelo que ela foi e sim pelo que ela aparentava ser: uma rainha bondosa e bela. 


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