6 filmes para assistir na virada do ano

Todo mundo sabe que a virada do ano foi feita para curtir, seja com os amigos, com a família e até sozinho. E quem disse que você não pode curtir em casa, assistindo um filmaço, sentindo-se bem consigo mesmo e com as pessoas, ou a falta delas, à sua volta? 

Existem filmes que usam o ano-novo como foco principal, como é o caso de longas como A Noite de Ano Novo (New Year's Eve, 2011) e Party, Party (idem, 1983), mas outros usam a ocasião especial como um catalismo para acontecimentos ainda mais importantes. Se o ano novo é um tempo de contemplação, diversão e esperança, os filmes a seguir vão te ajudar e muito nesta jornada. 

Confira! 

A COMÉDIA DOS ACUSADOS (AFTER THE THIN MAN, 1936)
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O segundo filme da saga A Ceia dos Acusados, que começou em 1934, o longa A Comédia dos Acusados (After The Thin Man, 1936) ainda é um dos primeiros filmes de estreia do James Stewart, e é uma das películas que catapultou o fenômeno dos filmes de mistério em Hollywood como O Rapto da Meia-Noite (The Midnight Star, 1935).

A Comédia dos Acusados segue a história de Nick e Norah Charles, interpretados por William Powell e Myrna Loy, assim que eles acabam de resolver o primeiro caso do filme anterior. De volta para casa, os dois querem descansar, mas a prima de Nora pede ajuda para encontrar seu marido desaparecido. A partir daí, uma lista de suspeitos surge e o espectador acompanha o casal e seu adorável cachorro, Asta, na busca do culpado. 

O filme todo ocorre entre o Natal e o Ano Novo com direito à uma grande festança, é claro. Baseado no livro The Thin Man de Dashiell Hammet, ele nunca ganhou uma continuação igual ao filme, mas suas 259 páginas deram partida para seis filmes estrelando Nora e Nick. 

Combinando romance, mistério e muita classe, a Comédia dos Acusados (After The Thin Man, 1936) é ideal para assistir no ano novo se você é um fã indiscutível de mistérios e como resolvê-los. 

BABY CAKES (IDEM, 1989)
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Já para os mais românticos, o filme ideal é o Baby Cakes (idem, 1989). Estrelado por Ricki Lake, que fez um sucesso estrondoso com sua estreia no musical Hairspray (idem, 1984) como a espevitada Tracy Turnblad, e o galã Craig Sheffer, o filme conta o dilema do jovem casal Grace, vivida por Tracy, e Rob, interpretado por Craig, que enfrentam o preconceito e o julgamento de amigos e familiares por ela ser fora dos padrões de beleza, ou seja, gorda. 

O filme Baby Cakes se passa entre o espaço de tempo do Natal e do Ano Novo e engloba desde o romance dos protagonistas até a auto-realização de Rob de que ele ama Grace exatamente como ela é. Uma comédia romântica bem 'água com açúcar', refilmagem do filme alemão Estação Doçura (Zuckerbaby, 1985), o filme lida muito bem com as diferenças dos protagonistas e como isso os une mais do que pode separá-los. 

Em sua autobiografia Never Say Never: Finding a Life That Fits, Ricki Lake confessou que estava aterrorizada ao filmar BabyCakes, por ainda ser inexperiente em relacionamentos e ter que seduzir Craig nas telas. Mas o filme a ajudou exatamente nesse aspecto: "O filme me ajudou a me ver como uma mulher adulta com um lado sensual ao invés de uma garotinha insegura." 

Um filme feito para a aceitação das diferenças, não tem melhor jeito do que esse para começar o ano!



200 CIGARROS (200 CIGARETTES, 1999) 
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Dirigido pela Risa Bramon Garcia, o filme 200 Cigarros (200 Cigarettes, 1999) é estrelado por inúmeros atores famosos, que dividem tempo na telona para contar suas histórias, que acontecem exatamente no ano novo. O espectador acompanha as narrativas que vão desde dois amigos que não conseguem admitir que se amam, até uma fã do cantor Elvis Costello que sempre parece perder a chance de conhecê-lo. 

Com atores como Paul Rudd, Cristina Ricci, um dos primeiros papeis de Kate Hudson, Courtney Love, e os irmãos Ben e Casey Affleck, o filme tem alguns personagens irrelevantes, é verdade, mas ver como cada história se desenvolve individualmente é muito divertido. O filme acontece no ano novo de 1981 e as roupas e o clima são fielmente representados em 200 Cigarros, tanto que até parece uma caricatura! 

Mas com cenários lindos de Nova York, um elenco afiado e um roteiro ainda mais engraçado, 200 Cigarros tem muita pouca fumaça, seus personagens nem fumam tanto assim, e muita ânsia de seus personagens. Isso é o que faz ser um filme de ano novo memorável. 


A DIVORCIADA (THE DIVORCEE, 1930) 
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Mas se você é do tipo de pessoa que não dispensa um drama nem durante o ano novo, A Divorciada (The Divorcee, 1930) foi feito para você! Norma Shearer teve que lutar para conseguir o papel, já que nem seu marido, o produtor Irving Thalberg, achava que ela tinha o necessário para interpretar uma sedutora nas telonas. A primeira escolha do estúdio MGM era Joan Crawford e o fato de Norma ganhar um Oscar por sua performance no filme A Divorciada, adicionou mais fogo à rixa entre as duas. 

O filme conta a história de Jerry, vivida por Norman, que descobre que seu marido foi infiel e decide traí-lo com um de seus amigos, Don, vivido por Robert Montgomery, no ano novo. O problema é que ela é apaixonada pelo melhor amigo de seu marido, o doce Paul, interpretado por Conrad Niegel, que é casado. 

Repleto de dramas e reviravoltas amorosas, A Divorciada mostrou uma diferente faceta da atriz Norma Shearer, que conseguiu provar que era muito mais do apenas comportada. Ela, como mulher, poderia ser várias coisas. 

O CLAMOR DO SEXO (SPLENDOR IN THE GRASS, 1961)

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Apesar da péssima tradução do título do filme, que em português é O Clamor do Sexo (Splendor in The Grass, 1961), a película, uma das melhores de Natalie Wood e Warren Beatty, conta a história de um casal incrivelmente apaixonado, que sofre com as repressões e etiquetas de seu tempo. 

Natalie interpreta Wilma Loomis, uma adolescente tímida que namora o maior partido do seu colégio, Bud, o papel de estreia de Beatty nos cinemas. O problema é que a família de Bud não acha que Wilma é suficiente para ele, enquanto que a família de Wilma tem medo que a reputação de sua filha fique manchada para sempre. O destaque também vai para a atriz Barbara Loden, que interpreta a irmã mais velha de Bud. 

Beatty e Wood se tornaram um casal logo após a estreia do filme e os dois eram um arraso de tão lindos! Um filme especial, dirigido pelo sempre talentoso Elia Kazan, O Clamor do Sexo é ideal para assistir ao lado daquela pessoa especial na sua vida! Com um roteiro impecável e atuações soberbas, esse longa-metragem é um dos meus favoritos, inclusive ganhando uma versão com Michelle Pfeiffer nos anos 80!  

UMA ESPERANÇA NASCEU EM MINHA VIDA (BUNDLE OF JOY, 1956)
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Debbie Reynolds e Carrie Fisher, uma das duplas de mãe e filha mais talentosas do entretenimento, continuam a fazer muita falta. Em filmes como A Inconquistável Molly Brown (The Unsinkable Molly Brown, 1964) e Cantando na Chuva (Singing in The Rain, 1952) , Debbie se firmou como uma das estrelas mais queridas de Hollywood. 

E depois disso, formou um dos casais mais queridos de Hollywood, ao lado do cantor e ator Eddie Fisher, isso antes de ele traí-la com Elizabeth Taylor, em uma das fofocas hollywoodianas mais controversas de todos os tempos. Antes disso, no entanto, Debbie estrelou ao lado de Eddie em Uma Esperança Nasceu em Minha Vida (Bundle of Joy, 1956).

O filme conta a história de Polly Parrish, vivida por Debbie Reynolds, que encontra um bebê recém-nascido que foi abandonado e resolve criá-lo como se fosse seu. O problema é que muitos assumem que o filho é dela, incluindo o filho de seu chefe, o atraente Dan, interpretado por Eddie Fisher, que acaba se apaixonando por Polly. 

Uma Esperança Nasceu em Minha Vida (Bundle of Joy, 1956) é um longa-metragem no qual consegue-se perceber como as pessoas à nossa volta são tão importantes para nós e sendo também um musical, nada melhor do que as vozes melódicas de Eddie e Debbie, que desta vez usa sua voz de canto real, para conduzir, com muita harmonia, o ano que vem! 


5 atrizes italianas em filmes de Hollywood

Hollywood não é conhecida por ser uma indústria que preza pela diversidade, a não ser que ela possa ser colocada em estereótipos concretos. Isso combinado com a busca pela imagem perfeita e entretenimento divertido ao invés de, muitas vezes, um bom roteiro faz com que muitos artistas estrangeiros não consigam um espaço nesse cinema. 

Existem, é claro, algumas exceções: Sophia Loren era uma atriz italiana que graças à seu talento e à ajuda de seu marido empresário, o sagaz Carlos Ponti se tornou uma lenda do cinema. Mas não foi só ela, como atriz italiana, que saboreou um pouco do sucesso e do glamour hollywoodiano. 

Confira, a seguir, cinco atrizes italianas em filmes de sucesso do cinema norte-americano!

SOPHIA LOREN - A LENDA DOS DESAPARECIDOS (LEGEND OF THE LOST, 1957)

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Sophia Loren já era uma atriz italiana muito famosa e bem estabilizada no seu cinema nacional e por conta de seu carisma, de sua beleza estonteante e talento, ela entrou para o cinema hollywoodiano com o pé direito. O filme A Lenda dos Esquecidos (Legend of The Lost, 1957), que hoje completa 60 anos de seu lançamento,  foi seu terceiro trabalho no cinema americano. Sophia tinha apenas 23 anos de idade. 

O filme conta a história de Joe January, vivido por John Wayne, que é contratado como guia de Paul Bonnard, interpretado por Rossano Brazzi, para que ele encontre um tesouro da perdida cidade de Ophir, de uma expedição que seu pai nunca voltou. No meio do caminho, ele se depara com a bela Dita, vivida por Sophia Loren, uma prostituta que ele trata com respeito e dignidade, diferente de outros homens. Isso faz com que ela se apaixone perdidamente por ele, mas Joe também tem sentimentos por ela. 

A Lenda dos Esquecidos (Legend of The Lost, 1957), acaba sendo mais um romance do que uma aventura, mas a combinação dos três atores no deserto belíssimo do Sahara, é imbatível. Segundo o livro Sophia Loren por Cindy de La Hoz, Sophia Loren se dava muito bem com John Wayne e deve sua vida à Rossano Brazzi! Isso porque o fogão instalado em seu quarto para prover calor estava com o gás vazando e logo ela estava intoxicada pelo monóxido de carbono. Conseguiu chegar até a porta do quarto antes de desmaiar e logo Brazzi foi ao seu resgate, antes que algo terrível acontecesse. 

Os fãs de Sophia, pelo visto, tem muito a agradecer ao Rossano Brazzi! 


GINA LOLLOBRIGIDA - QUANDO SETEMBRO VIER (COME SEPTEMBER, 1951)

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Gina Lollobrigida era outra atriz italiana de um sucesso tremendo em seu país. Conhecida como a alcunha: 'a mulher mais bela do mundo', a carreira de Gina começou quando ela ficou em terceiro lugar no concurso Miss Italia de 1947 (a ganhadora foi a também atriz Lucia Bosé e em segundo, Gianna Maria Canale). Depois disso, ela estrelou em inúmeros filmes de diretores como Duilio Coletti e Frederico Fellini e cimentou seu espaço como uma das divas supremas do cinema, a incomparável Lollo. 

Seu primeiro filme foi ao lado de Humphrey Bogart em O Diabo Riu Por Último (Beat The Devil, 1953), mas foi ao lado de Rock Hudson em Quando Setembro Vier (Come September, 1961) que Gina Lollobrigida brilhou! Em Quando Setembro Vier, a atriz interpreta Lisa, a namorada do playboy americano Robert, vivido por Hudson. Os dois sempre passam as férias em uma vila na Itália, mas logo o ricaço descobre que seus funcionários alugam o local como um luxuoso hotel, no qual os jovens Sandy, vivida por Sandra Dee, e Tony, interpretado por Bobby Darin, acabam se apaixonando. 

Uma comédia romântica de absoluto sucesso, Quando Vier Setembro (Come September, 1961) foi um sucesso entre os críticos e o público e foi a primeira película, segundo a matéria do TCM, a ser disponibilizado em um voo internacional. O filme é extra especial, aliás, para Dee e Darin que se apaixonaram durante as gravações dele e se casaram depois de algumas semanas. Da união de seis anos veio o filho Dodd Darin. 

Já Gina Lollobrigida continuava a ficar presa em apenas atuar em filmes de fala inglesa, mas que não fossem filmadas nos EUA. O motivo era um contrato que ela havia feito no início da carreira com Howard Hughes, de quem tinha exclusividade da imagem da atriz em filmes americanos. Esse foi um dos motivos pelos quais a carreira de Gina no cinema não se igualou a Sophia Loren. As duas, aliás, tem uma rixa que dura há anos, com Gina afirmando recentemente ao completar 90 anos de idade: "Eu não estava procurando rivalidade contra ninguém. Eu era a nº 1". 


 ELSA MARTINELLI - A UM PASSO DA MORTE (INDIAN FIGTHER, 1955)

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Elsa Martinelli chamou a atenção de Kirk Douglas graças à sua esposa, a também atriz Anne Douglas. Seu esposo, Kirk, estava à procura de uma atriz que pudesse interpretar uma índia em seu mais novo filme A Um Passo da Morte (Indian Fighter, 1955) e ela encontrou a pessoa perfeita na forma de Martinelli. 

Como o casal conta no livro Kirk and Anne: Letters of Love, Laughter and a Life Time em Hollywood, Anne estava folheando uma revista Vogue quando viu a foto de Elsa e disse para Kirk: "Essa garota faria uma fantástica índia."Como naquela época, o politicamente correto nas telonas era raro, Kirk a achou perfeita para interpretar uma índia e a encontrou através do namorado dela, o estilista Oleg Cassini, anteriormente casado com Gene Tierney. Com um péssimo sotaque e pouco conhecimento de inglês, Elsa não acreditou que Kirk a estava oferecendo um emprego e o fez cantar, por telefone, a canção Whale of a Tale, que ele performou no filme 20.000 Léguas Submarinas (20,00 Leagues Under The Sea, 1954). Funcionou e Elsa se comprometeu ao filme! 

O filme A Um Passo da Morte (Indian Figther, 1955) conta a história de Johnny Hawks, vivido por Kirk Douglas no primeiro filme de sua produtora Bryna, um escoteiro do Exército enquanto ele guia um vagão em Oregon, nos Estados Unidos. No meio do caminho ele é detido por índios e acaba se apaixonando Ohnati, interpretada por Elsa Martinelli. Mas problemas acontecem quando dois foragidos matam um membro da tribo de índios. 

Apesar do sotaque carregado, Elsa causou uma bela de uma impressão em Kirk e ele deixou claro em seu livro I Am Spartacus que daria o papel de Varínia no filme Spartacus (idem, 1960) se ela ainda estivesse sob contrato com sua produtora Bryna.

Com uma carreira breve no cinema hollywoodiano, Elsa voltou à Itália para fazer filmes e faleceu aos 82 anos de idade em julho de 2017. 

PIER ANGELI - MARCADO PELA SARJETA (SOMEBODY UP THERE LIKES ME, 1956)

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Pier Angeli é mais conhecida, atualmente, por ser a 'mulher da vida de James Dean', mas nos anos 50 ela era a parte mais conhecida do casal. Nascida em Cagliari, na Itália, ela era irmã gêmea da também atriz Marisa Pavan. Trabalhando regularmente em seu país, ela chamou a atenção de empresários de Hollywood depois de atuar no filme Melle, Não me Toques (Mam'zelle Nitouche, 1954) e já foi escalada ao lado de Lana Turner para atuar no suspense Paixão e Carne (Flame and Flesh, 1954). 

Mas ao gravar o filme Marcado Pela Sarjeta (Somebody Up There Likes Me, 1956) ao lado do novato Paul Newman, Pier já estava em outro estado mental. Era casada com Vic Damone, com quem casou ao invés de James Dean, e tinha um filho chamado Perry Damone. Uma veterana nas telonas, conhecida por sua beleza calma e doce, ela foi perfeitamente escalada para viver Norma, esposa de Rocky Graziano, vivido no filme por Newman, quem ela ajudava a se tornar o campeão de peso médio do boxe. O filme foi baseado na vida real do boxeador Rocky e originalmente, James Dean interpretaria o personagem. 

As duas co-estrelas não poderiam falar melhor um do outro, com Paul Newman afirmando que "era muito triste que os papeis que a ofereciam para interpretar raramente estavam à altura de seu talento." Pier Angeli também não escorregou no vacilo e comentou: "Ele é mais sensível e caloroso do que as pessoas percebem." 

Marcado Pela Sarjeta (Somebody Up There Likes Me, 1956) é um dos grandes filmes daquele ano por misturar uma história real com muito sentimento para as telonas. Incrível pensar que o papel que mais rendeu à Pier críticas positivas quase não foi seu por acharem que uma italiana não conseguiria representar uma verdadeira nova-iorquina! 

ALIDA VALLI - O 3º HOMEM (THE THIRD MAN, 1949) 

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Alida Valli tinha tudo para ser a próxima grande estrela dos filmes. Com sua beleza clássica, compostura e talento, é interessante descobrir que ela nunca realmente deu certo nos filmes hollywoodianos, apesar de ser uma das maiores estrelas italianas de todos os tempos. Ela foi "descoberta" pelo produtor David O. Selznick, que a assinou na sua produtora, a David O. Selznick Productions, depois de sua atuação estelar no filme Eugenia Grandet (idem, 1946) e logo ele a levou para participar do filme Agonia de Amor (The Paradine Case, 1947). 

Depois, ela estrelaria em um dos filmes noir de maior sucesso do cinema, o 3º Homem (The Third Man, 1949) ao lado de Joseph Cotten e Orson Welles. A baronesa, sendo que seu avó era o barão Luigi Altenburger, foi uma demanda de David, mas o diretor Carol Reed ficou mais do que feliz com a escolha.

A atriz interpretava Anna Schmidth, a amante de Harry Lime, vivido por Orson Welles, personagem que é assassinado em no que era aparentemente um acidente de trânsito. Convencido de que o que aconteceu foi mais do que isso, Holly Martins, interpretado por Joseph Cotten, vai atrás das respostas, ao mesmo tempo que acaba se apaixonando por Anna. 

Considerado um dos maiores clássicos do cinema, o filme mostra a cidade de Viena devastada pela guerra, capturada pelas câmeras que em seus movimentos de maestria, buscando as sombras da cidade e como a revista LIFE afirma: "as verdadeiras estrelas do filme são as câmeras." O 3º Homem (The Third Man, 1949) ganhou o Oscar de Melhor Cinematografia em Preto e Branco e merecidamente. Alida Valli voltou ao cinema italiano, atuando em clássicos como Sedução da Carne (Senso, 1954) e O Grito (Il Grido, 1957). 


Iolanda Braga, a primeira protagonista negra da TV

Iolanda Braga, conhecida também como Yolanda Braga -cuja grafia Iolanda afirmou ser errônea- foi a primeira protagonista negra da televisão brasileira. Muitos podem dizer que foi a atriz Isaura Bruno, interpretando a Mamãe Dolores na novela da TV Tupi em O Direito de Nascer em 1964, mas ela não foi por um simples detalhe: seu papel, embora de destaque, não era de protagonista e sim de coadjuvante. 

(I)Yolanda Braga, a primeira protagonista negra da televisão brasileira                   Divulgação/Intervalo

A novela O Direito de Nascer, que foi baseada no folhetim de rádio homônimo, conta a história de Albertino, que por ser um filho bastardo é separado de sua mãe e criado por Dolores, papel de Bruno. Os protagonistas principais da telenovela, como foi divulgado em almanaques da época, foram os atores Nathália Thimberg e Amilton Fernandes. Pode-se dizer então que Isaura Bruno (que resolveu virar atriz aos 31 anos de idade) teve o primeiro papel de destaque como negra na televisão e isso abriu as portas para que Iolanda Braga fosse a primeira protagonista negra de uma telenovela, também na TV Tupi com a novela A Cor da Tua Pele

Essa alcunha, em nada, tira a importância de Taís Araújo, que foi a primeira protagonista negra da novela como conhecemos hoje ou de Ruth de Souza em A Cabana do Pai Thomás (1969). Naquela época, as telenovelas nada mais eram do que uma transcrição quase exata, somente mais diminutiva, das radionovelas (folhetins feitos especialmente para o rádio). Atualmente, as novelas funcionam quase que como uma minissérie, pensadas de forma exata para o formato televisivo. Todas as quatro, tanto Isaura quanto Iolanda, Ruth e Taís têm sua importância, merecida, na televisão brasileira. 

Na ordem: Isaura Bruno, Yolanda Braga e Taís Araújo                          Divulgação/Montagem

Iolanda Braga nasceu em 11 de outubro de 1941. A atriz do Rio de Janeiro teria, portanto, 23 anos quando protagonizou A Cor da Tua Pele, em 1965.  Sua carreira começou antes, no início dos anos 60. De acordo com a revista Intervalo de 1965, Iolanda havia participado de todos os musicais da antiga TV Excelsior no Rio de Janeiro e dos programas de Carlos Machado e Abraão Medina. 

Iolanda foi emancipada aos 16 anos de idade para poder dançar, como ela mesma afirmou em nossa entrevista que ocorreu no dia 29 de março de 2018. Conhecida por sua beleza estonteante e seus lindos olhos esmeraldas, ela negou ter recebido o convite para ser candidata do Clube Renascença para o concurso de Miss Guanabara. Segundo ela, sua chegada ao mundo do showbusiness foi por acaso, ao ser vista na praia. Quem foi a Miss Guanabara foi Vera Lúcia Couto, que se tornou a primeira vice-miss negra do Brasil de 1964. 

Sobre seu começo no mundo do entretenimento, a atriz contou para o jornal Luta Democrática em 1964: 
Foi no teatro musical que comecei artisticamente na vida. Estreando na peça Um Milhão de Dólares de Baby de Carlos Machado e continuo trabalhando com o conhecido empresário até hoje. Já fiz papéis destacados nas peças Zelão Boca RicaElas Atacam Pelo Telefone e Chica da Silva. Atualmente trabalho em todos os programas humorísticos da TV Excelsior, trabalhando ainda como bailarina em Colê é o Show, a Cidade Se Diverte e Elas Trazem o Melhor.
Antes de fazer parte de maiores papeis no cinema e na televisão, a atriz também investiu no teatro atuando em peças como Rio 1.800 e Capital Federal, todas de 1965, e uma comédia dirigida por Ítalo Rossi que ficou impressionado ao ver a foto de Iolanda nos jornais. 

Iolanda no começo da fama                                       Divulgação/Montagem

Assim, depois desse começo badalado na televisão, como dançarina e assistente de palco, Iolanda derrotou, em julho de 1965, a vice-miss Brasil 1964, Vera Lúcia Couto e ganhou o papel de Clotilde na telenovela A Cor da Tua Pele, da extinta TV Tupi, contracenando ao lado do mega astro Leonardo Villar, que havia ganhado um Palma de Ouro em Cannes por sua atuação no filme O Pagador de Promessas (idem, 1964)  um ano antes

Cassiano Gabus Mendes a escolheu dentre dezenas de outras atrizes e candidatas, isso quando ela já estava em seu contrato oficial na TV Tupi. Lá, como Iolanda mesmo contou, ela apresentava programas e foi convidada para participar da primeira versão da novela O Direito de Nascer de 1964 como a neta de Isaura Bruno. Logo depois, ela ganhou destaque e conseguiu chamar atenção suficiente para ser chamada a interpretar o papel de Clotilde.  

Leonardo Villar e Yolanda Braga em cenas da novela A Cor da Tua Pele (1965)             Divulgação/Montagem

A telenovela A Cor da Tua Pele, que estreou em 25 de julho de 1965, contava a história de Dudu, vivido por Leonardo Villar em sua primeira novela, um rapaz de família rica que se apaixona por uma garota negra chamada Clotilde, papel de Iolanda Braga. Os dois tem que enfrentar o preconceito de suas famílias e da sociedade para viverem esse grande amor. A novela também contava com atores como Sebastião Campos, Patrícia Mayo e Carmen Jóia.  

Foi em A Cor da Tua Pele que aconteceu o primeiro beijo interracial da televisão brasileira, protagonizado por Iolanda e Leonardo e os dois acabaram juntos, em uma cenal final de casamento, que foi "linda", como Iolanda relembrou. Em entrevista a revista Intervalo em 1965, quando a novela estreava, Yolanda revelou a importância que sua personagem tinha para ela e outras mulheres negras no Brasil: 
É esta a primeira vez que uma atriz negra tem um papel tão importante na televisão. Por isso é grande a minha responsabilidade. A novela Cor da Tua Pele pode abrir inúmeras oportunidades para pessoas negras na televisão. Não há necessidade de atrizes brancas pintarem seu rosto para interpretarem pessoas negras (aqui ela se refere a prática de blackface). Nós mesmos podemos interpretar esses personagens e melhor do que ninguém.

Propaganda usada na época da novela A Cor da Tua Pele 

Não obstante, a mídia ainda usou suas fotos como modelo e a popularidade da atriz, para que ela se tornasse a garota propaganda dos produtos de beleza Belinda. Em sua foto, ela passa um produto no rosto, e logo à sua direita, existe uma lista dos produtos, incluindo um creme clareador que promete: "clarear e realçar a pele e a beleza da pele em sua cor natural." Enquanto temos a fala empoderada de Yolanda acima, a mídia ainda tentava vender produtos de clareamento de pele, algo extremamente racista e muito perigoso. Para se ter uma ideia, na Índia, esses tipos de produtos são comercializados até hoje e viraram uma indústria que vale mais do que 500 milhões de dólares. 

Esse paralelo mostra muito bem como o racismo funciona de forma velada no Brasil: ao mesmo tempo que uma mulher negra virava protagonista de televisão pela primeira vez na história do país, campanhas usavam sua figura para campanhas de clareamento de pele. 

Incapaz, também, de escapar das perguntas sobre sua vida amorosa, a atriz revelou em 1965 que não queria saber de romance e sim de sua carreira: 
Não quero parecer ambiciosa demais sobre minha carreira, mas sou capaz de sacrificar tudo, até o casamento. Além disso já tive uma decepção amorosa, da qual a única coisa feliz que me restou foi minha filhinha Cláudia.
Mãe e filha em foto adorável 

Iolanda se tornou mãe cedo, aos "18 para os 19 anos de idade" como ela mesma informou, e deixou claro que queria ter sua filha. Claudia é sua única herdeira e a atriz garantiu, em nossa entrevista, que mesmo com a vida atarefada, ela sempre tentava estar presente na vida de sua filhota. 

Apesar do que é divulgado na mídia, de que a carreira de Yolanda Braga depois da novela A Cor da Tua Pele acabou de vez, isso não é verdade. A atriz continuou a trabalhar, atuando no filme Arrastão (idem, 1967), que é a versão de Vinícius de Moraes de Tristão e Isolda, ao lado do ator Othelo, com quem de acordo com o livro Grande Othelo: Uma Biografia de Sérgio Cabral, ela teve um caso fulminante - e Iolanda confirmou o envolvimento. Ela também teve um caso, por exemplo, com Wilson Simonal. 

Iolanda no filme Arrastão

As gravações começaram em 1965, e Iolanda Braga negou que teve que passar por uma cirurgia ao gravar uma cena, na qual seu colega de cena Jardel Filho lhe deu uma empurrão forte demais, fazendo com que ela caísse e se machucasse, como afirmou o jornal Brasil. 

O filme foi gravado em 1965, nas praias do Rio de Janeiro, quase que simultaneamente à telenovela A Cor da Tua Pele. Ainda nesse ínterim, Iolanda participou do documentário Integração Racial de César Paulo Seracini. A atriz afirmou que não compareceu ao festival de Cannes, em 1966, na qual a película Arrastão foi exibida - apenas o diretor do filme. 

Iolanda mostrando suas curvas na gravação de Arrastão (1967)

Depois disso, no entanto, as ofertas de atuação continuaram entrando na vida de Iolanda Braga. Uma em especial veio do português Raul Solnado, um comediante, empresário e ator de mão cheia, que procurava uma bela mulher para interpretar o papel principal na peça Minha Querida Mulatinha, a ser apresentado no teatro em Lisboa. 

As versões sobre como Raul ficou sabendo sobre Iolanda diferem: a revista Intervalo afirma que foi durante a visita do ator Geraldo d'El-Rei em Portugal, ao mostrar uma das revistas Intervalo com Iolanda na capa. Já o jornal Diário de Notícias, conta que foi durante uma das visitas de Raul no Brasil, avistando-na em um programa de televisão e dá a entender que os dois tiveram um caso, mesmo que passageiro. 

Já Iolanda afirmou, em nossa entrevista, que foi quando ela estava dançando e cantando nos shows do Beco, organizados pelo famoso empresário Abelardo Figueiredo, que Raul a viu e os dois começaram a trocar cartas e telegramas, organizando seu contrato e sua estadia em Portugal. Ela frisa que Abelardo não cancelou seu contrato com ela e quando sua temporada de dois anos acabou no país, ela pode continuar nos shows de Abelardo. 

Iolanda gravou discos baseado na peça de 'Minha Querida Mulatinha'

Raul ficou encantado com a beleza de Iolanda e a ofereceu um contrato para ser estrela na peça Minha Querida Mulatinha, na qual ela faria um contrato que a permitia fazer televisão e cinema, sem ficar presa apenas com a companhia de Solnado - o que Iolanda afirmou que não foi exatamente verdade. A peça, aliás, conta a história de um escritor de sucesso que vive em paz com sua esposa, até que recebe a visita de uma mulher, interpretada por Iolanda Braga, que procura um emprego. O escritor, interpretado por Solnado, se apaixona pela bela moça sem fazer ideia de que ela é na verdade rainha de uma Ilha no Pacífico.  

Apesar das problemáticas na narrativa, na qual Iolanda interpreta os estereótipos de mulher negra empregada e sensualizada tudo de uma vez só, e no título, afinal a palavra mulata é pejorativa e racista, o papel foi importante porque abriu outras oportunidades para a a atriz e, naquela época, quando a discussão sobre o racismo estava ganhando mais força, ela era uma atriz negra brasileira trabalhando em uma peça internacional de sucesso absoluto, mostrando seu talento e a capacidade que ela e outras tantas atrizes negras deveriam ter. 

Iolanda em cenas da peça Minha Querida Mulatinha em Portugal                                Divulgação

Iolanda ficou em Portugal durante o ano todo de 1966, ingressando também na televisão e gravando um disco que fez muito sucesso no país, um apenas com temas da peça e outros dois diferenciados. Uma grande vitória para a atriz, que antes de embarcar para essa aventura, afirmou em entrevista: "É a primeira vez que saio do Brasil. Estou morrendo de medo, mas vou enfrentar tudo com coragem. Essa era a oportunidade que eu precisava, minha carreira estava caindo na rotina." 

De volta no final de 1967, depois de uma briga com Raul - os dois eram namorados também- e com o sotaque bem carregado, Iolanda não ficou parada por muito tempo. Ela continuou fazendo parte dos shows de Abelardo Figueiredo, entrando inclusive para a modelagem. Além disso, ela interpretava papeis nas peças musicais de Abelardo Figueiredo, feitas no Beco em São Paulo, que posteriormente foram exportadas para o mundo todo. 


O nome de um dos shows era Holiday In Brazil e era composto por inúmeros minishows nos quais Yolanda, que havia investido em aulas de balé e canto e adorava fazer ambas as coisas, se deu muito bem. Em 1969, consta que ela fez parte do filme 2.000 Anos de Confusão (idem, 1969) ao lado dos Trapalhões, mas em nossa entrevista, ela afirmou que não se recorda de ter trabalhado com eles. 


Enquanto continuava com seus shows, em 1971, ela conquistou o papel principal de Ofélia na adaptação para o cinema da peça Hamlet, chamada Jogo de Vida e Morte (idem, 1972) ao lado de astros como Odete Lara e Juca de Oliveira. Além desse filme, ela também fez parte de uma produção da chamada Boca do Lixo, produções de baixo orçamento na época, as pornochanchadas, que eram extremamente sensuais. O filme era Audácia (idem, 1970), no qual ela atuou com atores como Julia Miranda, Gilberto Salvio e Cleo Ventura. Audácia era sobre a arte de fazer cinema e como é difícil sem o patrocínio adequado. 

Iolanda teve uma carreira inconstante na televisão                                                 Divulgação

Iolanda continuou na companhia de Abelardo Figueiredo por de 1966 até 1972, e logo foi chamada no final deste ano para fazer parte do grupo renomado de dança Brasiliana, no qual ela viajou o mundo todo, para França, Alemanha, Paris e até Polônia. Iolanda ficou com o grupo por quase seis anos, fazendo shows de danças afro-brasileiras no mundo todo. A atriz revelou que voltou para o Brasil pois já estava cansada da rotina caótica dos shows e pela sua filha, Cláudia. A atriz até participou do famoso grupo Trio Mocotó, em 1975, quando eles gravavam seu disco na França. 

Mas ao voltar para a TV Tupi para ver seus antigos amigos acabou ficando com saudades da telinha e concordou em interpretar a personagem Conchita na refilmagem da novela O Direito de Nascer, em 1978. Uma feliz coincidência, já que foi na versão original de 1964, Isaura Bruno, a primeira atriz negra do Brasil a ter um papel de destaque em uma telenovela e foi nesta novela que ela teve seu primeiro papel. Vale lembrar que Iolanda também fez uma ponta na novela Beto Rockfeller, da TV Tupi, em 1968. 

Iolanda em foto com Raul Solnado

Iolanda esperava que o papel, embora pequeno, reavivasse sua carreira nas novelas, mas nada de muito excitante em sua carreira artística aconteceu depois disso. Em conversa com o jornal, ela admitiu: 
Olha, a Conchita tem essas ideias todas de ser famosa, mas é uma pessoa dócil. Está na dela, por enquanto, mas espera para se revelar. E quando isto acontecer, eu Yolanda, vou ter realmente a oportunidade de voltar em grande estilo para a televisão e mostrar a artista que eu sou. Cantando, dançando, representando, realizando o grande sonho de Conchita e por que não confessar: o meu também.

Em 1980, ela continuou participando da companhia de Abelardo Figueiredo, no Beco e no Palladium, além do show da cantora Rosemary, performando enquanto ela cantava suas canções. Já em 1982, ela participou do carnaval paulista com o grupo Iolanda Braga e as Mulatas, dançando e cantando no clube Sociedade Thalia em Curitiba, no Paraná. Ela 
continuou ainda participando dos shows de Abelardo Figueiredo, no final dos anos 80, e também no espetáculo Sampa Samba ao lado, novamente, de Rosemary e Katia Alves. Por fim, ela atuou com Tony Ramos na peça musical Meu Refrão Olé Olá em 1989 e afirmou que até recebeu uma cantada do ator. 

Iolanda como Ofélia em Jogo da Vida e da Morte (1972)

Ao entrar nos anos 90, Iolanda resolveu diminuir o ritmo, especialmente por que os shows ao vivo e os espetáculos noturnos estavam mudando. Depois, Iolanda trabalhou como babá, como cozinheira e resolveu fazer faculdade de Hotelaria, até estagiando, mas e não sendo contratada, como ela disse "por ser mais velha." Em 2018, morando ao lado de seus queridos pitbulls, Iolanda revelou em que adoraria cursar psicologia para finalmente "tentar entender a mente humana." 

Com dois projetos importantes em vista, inclusive uma autobiografia, Iolanda mostrou que, prestes a completar 77 anos de idade, na ocasião, ela continua mais ativa do que nunca, sem sinais de diminuir o ritmo. Infelizmente, 
Iolanda Braga faleceu aos 79 anos de idade, no dia 12 de maio de 2021, na casa da neta e da filha no Parque das Laranjeiras, em São Paulo, já debilitada por complicações da Covid-19 e demência.  

Confira nossa entrevista exclusiva com Iolanda Braga, que ocorreu no dia 29 de março de 2018, abaixo! É impossível não se cativar com a vida e a pessoa que é Iolanda!



Correção: o texto foi alterado desde o dia 27 de março de 2017, pois foram atualizados com informações disponibilizadas pela própria atriz e com pesquisas. 
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