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As visitas arrebatadoras de Ramón Novarro ao Brasil

Ramón Novarro, conhecido como o 'Amante Latino' do estúdio MGM em resposta ao Rudolph Valentino, nasceu Jose Ramón Gil Samaniego no México, em 6 de fevereiro de 1899, e se tornou uma das maiores lendas de Hollywood. O ator atingiu seu ápice durante o cinema mudo atuando em clássicos como Ben-Hur (idem, 1926), O Pagão (The Pagan, 1929) e Scaramouche (idem, 1923). 

Com a chegada dos filmes falados, o ator perdeu espaço já que, apesar de saber falar inglês e cantar divinamente, ele tinha um sotaque mexicano bastante forte. O fato do ator ser homossexual e começar a ter um problema com bebida foi o bastante para que o contrato dele com o estúdio de Louis B. Mayer, em 1935, fosse devidamente encerrado. Fervorosamente católico, Novarro tentava esconder de todos que era parte da comunidade LGBTQIA+. 

Ramón, a partir dos anos 1950, no entanto, teve uma renascença em sua carreira, em especial participando de filmes e séries de televisão. Em 1934 quando ele veio ao Brasil, o ator ainda estava em um limbo: incerto de seu futuro nos cinemas e de sua própria vida. 

Ramón Novarro em passeio por Joá, Rio de Janeiro                  Revista Careta

Ramón Novarro chegou ao Rio de Janeiro pela primeira vez no dia 20 de abril de 1934, à bordo do 'Northern Prince', na companhia da irmã, Carmen, que era dançarina, do noivo dela George Novarro, do secretário e publicitário Carlos Borscoque, além de uma extensa comitiva de dançarinos e músicos. A vinda do amante latino ao Brasil fazia parte de um contrato de apresentação em Buenos Aires. 

O dono da Rádio Nacional argentina, Jaime Yankolevitch, inclusive, chegou ao nosso país um pouco antes, no dia 12 de abril, para definir os termos da apresentação de Ramón no Palácio Theatro na Cidade Maravilhosa e Odeon em São Paulo, após a estadia dele em outros cantos da América do Sul. Os jornalistas argentinos Andres Romeo (La Nácion), Ulysses Petit de Murat (Critica), Miguel Tato (El Mundo e Rádio Nacional), Chas Cruz ( El Suplemento/Novella Semanal) e Elyseo Montaine (Noticias Gráficas) chegaram ao Brasil um dia antes de Ramón, em 19 de abril, à bordo do 'Eastern Prince' para entrevistar e recepcionar o astro. 

De acordo com o Correio da Manhã, a Companhia Brasileira de Cinemas, proprietária do então Palácio Theatro, foi quem firmou contrato com o dono da Rádio Nacional de Buenos Aires para que o ator pudesse se apresentar e também o recepcionou quando ele atracou em terras brasileiras. 

Ramon concedendo autógrafos à bordo do 'Northern Prince'

No 'Northern Prince', Novarro foi a sensação do navio: o ator se recusou a cantar em muitas noites, mas antes de desembarcar no Brasil, no dia 18, concedeu aos fãs à bordo algumas músicas em inglês, enquanto a irmã Carmen, que era dançarina, representava diversos números tipicamente espanhóis com Heunion Robinson no piano. Em entrevista por rádio ao A Noite, enquanto estava à bordo perto de Paraíba, Novarro foi só elogios sobre a viagem:
Tem sido um cruzeiro encantador, uma viagem deliciosa. Cercado de amabilidades desde Nova York tenho vivido dias admiráveis nas vastidões oceânicas que tanto me empolgam. E agora tenho a curiosidade aguçada por percorrer novos itinerários e visitar grandes países que ainda não pude conhecer. 

O ator, que tinha compromissos em Buenos Aires, na Argentina, desembarcou na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, às 7h, mas apenas recebeu o público duas horas depois. O ator explicou que ficou a noite inteira acordado admirando as paisagens da Cidade Maravilhosa e, por isso, não conseguiu acordar à tempo. 

Ramón fugindo da multidão que o esperava; na última foto à direita com a irmã, Carmen

Antes disso, no entanto, os jornalistas fizeram a festa: entraram no navio e à bordo descobriram a cabine do ator, que era a B-33, no deck superior. Primeiro falaram com a irmã de Ramón, Carmen, e depois o astro apareceu -sendo importunado em seu quarto- fazendo mil elogios para o Rio de Janeiro. Em entrevista breve ao Diário de Notícias, ele despistou sobre o fim de seu contrato com a MGM: "Ainda tenho que fazer dois filmes e não sei quais são". 

Às 10h, Novarro partiu do barco em uma lancha, com o apoio da Polícia Marítima, e a horda e de fãs no cais foi para Mauá, onde acharam que ele desembarcaria. Ramón, no entanto, foi mais esperto e desceu na Guarda Moriá. Em terra firme, ele fez um passeio à céu aberto pelos pontos turísticos mais belos da cidade. 

Ramón em passeio por Joá                                        O Cruzeiro

Em um carro sem cobertura, ele ficou de pé enquanto acenava para fãs e até segurou um bebê recém-nascido, que seria neta de Luiz Caruso, afirmando ao Diário Carioca: "Senti bem perto do meu coração, um coração brasileiro". O ator apenas se comunicava em espanhol, mas de acordo com os jornalistas, teria exclamado "maravilha" ao ver a linda paisagem da Barra da Tijuca.

Ramón passou pela Gávea, Quinta da Boa Vista, Flamengo -onde posou na frente da estátua Cuauhtemoc-, Botafogo, Avenida Atlântica, Avenida Vieira Souto, Niemeyer, parando apenas em Joá para um cocktail. Logo depois, no mesmo carro, o astro de 36 anos passeou pela Barra da Tijuca novamente, o Excelsior, A Vista Chinesa, a Mesa do Imperador, a Cascatinha. Ele a irmã viram o Cristo Redentor ao longe, quando atracaram no Rio de Janeiro. 

Às 12h30, o astro e sua comitiva voltaram ao restaurante colonial de Joá para almoçarem e Ramón logo continuou a viagem de carro, despistando os fãs. Dali, às 14h00, todos retornaram ao navio 'Northern Prince' para a coletiva de imprensa, que ocorreu às 15h. Fazendo jus ao seu status de estrela de Hollywood, Ramón se atrasou quase uma hora para recepcionar a imprensa. 

Ramón almoçando em Joá e com fãs; em frente à estatua de Cuauhtemoc (Imperador asteca)

Durante a coletiva foi mencionado a suposta irmã que Ramón tinha em Belo Horizonte, em Minas Gerais, que se chamava Maria Tejera Novarro e era madre em um colégio de freiras, mas foi tudo comprovado ser uma grande farsa. 

Ramón foi descrito como mais "discreto" pelos jornalistas, mas com uma fala suave e bastante sóbria, condizente com sua personalidade. Ao lado do embaixador Alfonso Reys do México, e William Meniker, embaixador da MGM na América do Sul, ele foi só elogios para O Jornal sobre o Rio de Janeiro:

Estou muito encantado, mas também cansado. A gentileza do povo carioca é arrasadora, cativa, mas amarrota. Imagine que ontem [antes de desembarcar], mordido pela curiosidade de ver a "cidade mais bem iluminada do mundo", fui dormir muito tarde. Não perdi meu tempo porque o Rio, visto à noite, é um conto de fadas. Não imagina a impressão que me causou Copacabana.

Ramón em coletiva de imprensa no navio com celebridades brasileiras

O astro mexicano ainda pontuou que ficou comovido com o Cristo Redentor e a recepção sempre calorosa dos brasileiros para o jornal O Paiz: "Foi a maior recepção que recebi até hoje. Maior que Londres. Maior do que Paris, que foi enorme. Estou gratíssimo a gentileza desse incrível povo, tão generoso e entusiasmado e aqui estarei dentro de dois meses para revê-lo e para conhecê-lo de perto". Ramón comparou as paisagens do Rio com as feitas somente pela imaginação de Walter Disney e afirmou ter se encantado pelas mulheres cariocas e que as "conheceria melhor" em seu retorno.  

Logo depois, o local foi invadido por fãs que queriam o autógrafo de Novarro. Ele conseguiu escapar e enquanto a imprensa aproveitava o cocktail, Ramón voltou para seu quarto privativo. A estrela de 'O Pagão' apenas reapareceu no cais para se despedir dos fãs, ao lado da irmã e dos jornalistas argentinos, às 19h. Na ocasião, o astro afirmou: "hasta la vuelta brasileiros", ou seja, "até a volta, brasileiros". 

Ramón em passeio pelo Rio de Janeiro

No dia 21 de abril, o 'Northern Prince' atracou no Porto de Santos, no litoral de São Paulo, e o ator voltou a elogiar o povo carioca. Em 23 de abril, ao deixar as terras brasileiras, ele deixou a seguinte mensagem aos fãs via O Correio da Manhã:
No momento que deixo a terra brasileira, apresento à digna imprensa deste país os meus agradecimentos, pedindo-lhe para transmitir ao povo carioca o meu sentimento pela escassez de tempo para retribuir devidamente todas as homenagens recebidas. Cordial abraço e até breve. 
No dia 24 de abril ele chegou a Buenos Aires, na Argentina, e a multidão foi à loucura. A polícia teve que intervir com violência para assegurar o bem-estar de Ramón. O jornalista Pedro Lima, correspondente de O Cruzeiro, acompanhou a estadia do astro na Argentina e já deu a entender que Ramón não era nada "fã" do então sexo frágil, embora fosse perseguido por elas à todo o instante.

As apresentações de Ramón na Argentina foram um sucesso. E esse era apenas um termômetro do que estava para acontecer no Brasil, novamente. 

Ramón no navio rumo à Buenos Aires, Argentina

A VOLTA DE RAMÓN AO RIO - JUNHO DE 1934

Quase dois meses depois, no dia 19 de junho de 1934, Ramón desembarcou no porto de Santos, no litoral de São Paulo, e com a irmã passou um dia prazeroso na praia do Guarujá. Ele foi recebido por Adolpho Judall, gerente da MGM no Brasil. Antes das 17h30, ele retornou ao 'Pan American' e desembarcou no Rio de Janeiro no dia 21 de junho, celebrando em telegrama: "Tenho grande contentamento em rever o Rio e conhecer a plateia carioca, a quem dedico profunda admiração. Saudações". 

A vinda de Ramón foi tão aguardada que o jornal A Noite lançou um concurso: a fã que escrevesse a mais linda carta de saudação para o astro ganharia um luxuoso álbum de fotos com uma dedicatória, escrita à próprio punho, por Ramón. A grande vencedora foi Margarita Salaverry, residente da capital fluminense. Em segundo, Haydeé Marcondes e por fim Laura Rodrigues. Provando que os fãs brasileiros sempre foram exaltados, Pollyana Brasiliense, que estava inscrita no concurso, escreveu uma carta para se indignar com a vitória da menina, afirmando ser 'injusta". 

O ator recebeu os jornalistas dentro do navio logo depois das 7h, oferecendo um drink para todos, bastante calmo e feliz. As fãs, desta vez, não fizeram tanto estardalhaço com sua chegada, mas o esperavam no hotel para recepcioná-lo e tirar fotos. Em entrevista breve, Ramón relembra que fez mais de 50 espetáculos em Buenos Aires, 4 em Córdoba, La Plata, Rosário e mais seis em Montevidéu, ficando 28 dias na capital. Para ele, estar novamente no Rio era uma felicidade. 

Ramon em São Paulo; à direita recebendo jornalistas no navio atracado no Rio

No desembarque, Ramón foi direto para o Hotel Glória, onde ficou hospedado durante toda sua estadia na cidade. Às 16h naquele mesmo dia, ele recebeu a imprensa para mais um cocktail, no qual falou sobre sua estadia em Buenos Aires e o que esperava do Brasil. O assunto mulheres, mais uma vez veio à tona, já que o astro não demonstrava nenhuma atenção ao sexo feminino. Ele foi descrito como 'frio', 'grosso' e 'indiferente' às damas e por um bom motivo, que não poderia ser revelado. 

O Correio da Manhã, por acaso, flagrou uma das inúmeras mulheres que tentou flertar com o astro. A jovem, ao indagá-lo sobre o amor, escutou a seguinte resposta: "Nem eu mesmo sei se já tive amores". Durante a coletiva, Ramón contou com o apoio do radialista Herbert Moses, além de representantes da MGM e empresários que financiaram sua apresentação no Brasil. 

Ramón Novarro no Hotel Glória ao lado da irmã e dos jornalistas

Ramón, durante a coletiva, chegou a afirmar que tinha renovado contrato com a MGM - o que não aconteceu - e celebrou o noivado da irmã com George Novarro. O ponto alto da confraternização foi quando a estrela recebeu a ganhadora do concurso do jornal A Noite. Na frente do Hotel, Ramón a parabenizou pela prosa e se declarou: "Para que marque todos os momentos lindos de sua existência. E que toda ela seja tão feliz como os momentos que eu vivo agora, na terra maravilhosa do Brasil".

Extasiada por conhecer seu ídolo, Margarita foi só sorrisos para a câmera e, com toda a certeza, deve ter guardado com muito carinho a dedicatória de Ramón, que lia-se:
Distinta e encantadora senhorita Margarita Salaverry. Recebi com mais intensa emoção a sua linda carta, que levarei para Hollywood como o mais precioso testemunho da simpatia do público feminino do Brasil. Ela é a expressão de uma delicada sensibilidade e de um espírito requintadamente gentil. Peço que receba, com o meu comovido agradecimento, o tributo das minhas homenagens as minhas fãs no Brasil. - via A Noite. 
Ramón e Margarita; à direita a carta vencedora da jovem

No dia seguinte, 22 de junho, Ramón se inscreveu em um concurso de bridge e compareceu no local às 20h30, pronto para jogar. O ator, é claro, logo esteve no Palácio Theatro para preparar seu espetáculo, que estreou no dia 25 de junho às 21h e segundo o Diário de Notícias passou boa parte da tarde do dia cuidando de seu preparo e o das bailarinas. A orquestra, com direção de Eduardo Armani, buscava a excelência total. 

Ramón, para surpreender o público carioca em sua grande estreia, decidiu colocar em seu programa uma música brasileira. Assim chamou o cantor Sylvio Caldas para os ensaios e aprendeu a cantar, em português, a canção 'Se a Lua Contasse...' de Custodio Mesquita. Empenhado, o astro até fez uma visita aos principais jornais do Rio de Janeiro para garantir máxima publicidade em sua estreia. 

Entre a chegada dele e a estreia do espetáculo, Ramón tinha a seguinte rotina: do hotel para o Palácio Theatro e vice-versa. Bastante regrado, no dia 23, em um sábado, ele tentou curtir um dia de praia em Copacabana, mas foi logo reconhecido por fãs. Assim, decidiu se focar em seu trabalho, apenas. No dia 24, Procópio Ferreira esteve presente em um dos ensaios de Ramón e os dois conversaram como "velhos amigos". Todos estavam ansiosos pela estreia triunfal do astro. 

Ramón posando de pedreiro na entrada secreta do Teatro e ao lado de Procópio

Ramón Novarro estreou no Palácio Theatro no dia 25 de junho, em uma segunda-feira, às 21h, com números da irmã Carmen e da dançarina Maryla Gremo. Com uma overture pela orquestra, Ramón apareceu com um 'arregio' de O Gato e Violino e, logo depois, Carmencita com o bailado de Alegrias de Valverde. Na sequência, Ramón apareceu de novo com as músicas 'Charming' e 'Serenata do Amor' do filme O Bem-Amado. Para esses números, ele recebeu o acompanhamento do bailado 'Visão' de Maryla. 

No intervalo, para que Ramón pudesse recuperar o fôlego, Carmen se apresentou com a orquestra no bailado 'Farruca' de Baebadillo. O astro logo reapareceu e, como prometido, fez um número especial em português com a 'Se a Lua Contasse...', que botou a casa abaixo! Maryla retornou com o bailado 'Escrava' de Rackamanioff e, como encerramento, Ramón, Carmen e o corpo de baile se juntaram em 'Cielito Lindo', com os acompanhamentos da Hennion Robinson. O espetáculo ocorreu todos os dias, nesse mesmo horário, no Palácio Theatro. 

O Jornal do Brasil, assim como outras publicações da época, confirmaram que o espetáculo foi um grande sucesso. Ramón, inclusive, recebeu incentivo de Custódio Mesquita, o compositor da canção 'Se a Lua Contasse...'. que o apresentou a Sylvio Caldas, quem o ensinou a cantar o ritmo. Segundo os rumores, os dois teriam até ficado juntos no quarto de hotel e eram bem "íntimos". A verdade? Nunca saberemos. 

Ramón e Custódio no Hotel Glória                                  O Malho

No dia 27 de junho, Ramón e a irmã Carmen compareceram à rádio Sociedade Mayrink Veiga para o programa 'Sweepstake'. O astro esteve no estúdio PRA9, no Jockey Club, com o locutor César Ladeira e falou com todo o povo brasileiro, bastante feliz. Infelizmente não há transcrição dessa entrevista que teria contado, inclusive, com uma apresentação de Ramón.

Em 28 de junho, o astro compareceu ao Retiro dos Jornalistas (para quem forneceu o cachê do show do dia 29, na sexta-feira) e aumentou a carga de trabalho: ele passou a se apresentar em matinée às 16h e à noite às 20h. O preço, por conta da falta de numeração das cadeiras, passou para dez mil réis. No domingo, ocorreu três espetáculos: às 16h, às 20h e, por fim, às 22h. 

Ramón na rádio com a irmão; à direita a estreia dele no Theatro Palácio

Antes de pegar pesado nas performances, o astro encontrou tempo para visitar o Diretório Central de Estudantes na Universidade do Rio de Janeiro. Segundo o Correio da Manhã, o ator se adiantou e chegou ao local uma hora antes do combinado, às 15h, e passeou pelo local, logo depois dando uma palestra para os estudantes. 

Ramón em visita aos estudantes                                                   Careta

Apesar de pouco tempo livre com seus espetáculos, Novarro conseguiu aproveitar um pouco do Rio, como conta o jornal Radical. Ele passeou pela Barra da Tijuca, pelas Furnas, Alto da Boa Vista, Cascatinha, almoçou em Paineiras, jantou em Joá e, à pedido de Antônio Carlos, compareceu ao Palácio Tiradentes para visitar a Constituinte, às 17h no dia 30 de junho. Ele conversou com todos, em espanhol, e aproveitou para visitar o gabinete e o salão de honra, encantado com tudo à sua volta. 

No dia seguinte, dia 1 de julho, ele aproveitou para almoçar no Jockey Club, ver algumas corridas de cavalo e recebeu uma recepção incrível. Ramón, inclusive, pode conhecer a esposa do então presidente, Getúlio Vargas, a Darcy Vargas durante chá-beneficiente de A Pequena Cruzada e, à noite recepcionou um ceia no Cassino para os artistas do Procopio, inclusive os operários, onde fez imitações e dançou samba. 

Ramon na Constituinte; no Jockey Club; em jantar e com a sra. Getúlio Vargas

Segundo o Diário da Noite, Ramón fez graça nessa última apresentação não-oficial ao usar um vestido e fingir ser a rainha Victoria, imitando também Lilian Gish, John Barrymore, Marlene Dietrich e Greta Garbo. Na sequência, toda a trupe que trabalhou com ele fez uma performance de agradecimento improvisada. Ramón ainda cantou em espanhol e afirmou que aquele foi um dos momentos mais felizes de sua estadia no Brasil. 

O astro partiu do Rio pelo trem 'Cruzeiro do Sul', que ligava Rio a São Paulo, depois de um almoço de despedida, no dia 4 de julho. Lá ele se apresentaria no Odeon. 

Ramón em São Paulo - julho de 1934

Ramón em sua chegada em São Paulo

O astro mexicano chegou em São Paulo, à bordo do trem Cruzeiro do Sul, e foi recepcionado por diversos fãs na Estação do Norte. De lá, ele seguiu para o Hotel Esplanada, onde ficou por toda a estadia na cidade, oferecendo um cocktail às 16h30 para a imprensa. No mesmo dia, ele se apresentaria no Odeon, ao lado de Carmencita e toda sua comitiva. Depois do espetáculo, recebeu homenagem no Líder Clube. 

Segundo O Correio de São Paulo, Ramón foi direto da estação para o quarto do Hotel, onde ficou até às 14h. Depois, ele começou a se preparar para receber a imprensa às 17h - como sempre um pouco atrasado. "Dificilmente durmo no trem. Necessito de descanso, pois à noite, deverei me apresentar a plateia de São Paulo e sinto que é grande a minha responsabilidade", explicou o astro.

Para o Correio Paulistano, ele deu suas impressões sobre SP: "Muitas, seriam difíceis enumerá-las. A maior, não fiquem com ciúmes, foi a baia de Guanabara. Que assombro! Como beleza não há coisa que se pareça em todo esse mundo". Mais uma vez o ator recebeu perguntas sobre mulheres e tentou desconversar: "A mulher foi, é e continua a ser o inexplicável". 

Ramón na coletiva de imprensa do Hotel Esplanada

Às 21h daquela mesma noite, Ramón se apresentou no Odeon com Carmencita e sua comitiva, replicando o show de sucesso no Rio de Janeiro. Jullio Lorent, gerente da empresa Serrador, foi o responsável por levar o astro para a cidade paulista. 

A estreia do artista em São Paulo foi um sucesso e a voz dele descrita pelos jornais como "agradável e muito afinada". Ainda sob a direção de Eduardo Armani, o espetáculo apenas não contou com Maryla Gremo. Segundo o Correio Paulistano, ele e a irmã encerram o show com 'Mira-la Bien' e o ator improvisava novos números à pedido do público.  

O sucesso foi tanto que Ramón, assim como no Rio, teve que adicionar mais horários e a partir do dia 7 começou a se apresentar às 16h30 e às 22h30. Nesse ínterim, o ator curtiu bastante os pontos turísticos de São Paulo e até ganhou um show privativo do mágico Cantarelli, já que sempre quis ver seus truques de perto. Ele, inclusive, chegou a renovar o guarda roupa em visita ao ateliê 'Alfaiate Torre'. 

Ramón Novarro renovando o guarda roupa

Segundo o Correio de São Paulo, Novarro tinha uma outra face bastante brincalhona e feliz quando não estava em frente ao público. No camarim, o jornalista convidado percebeu que Novarro sempre fazia o sinal da cruz antes de entrar no palco e tomava dois dedos de 'caña'. Novamente, ele afirmou que apenas se casaria quando se aposentasse dos cinemas e "se tornasse escritor". 

Um ato altruísta do ator foi notado, após a apresentação no dia 7 de julho, quando ele compareceu na casa de uma fã que era paralítica. A menina chamada Daisy Sucupira Kenworthy, de uma família rica, era grande fã dele e até assistia todas as suas obras. Como um gesto de carinho, Ramón foi até a casa da jovem, na rua Pires da Morra 602, na Aclimação, e cantou duas músicas para ela, com a companhia da irmã dele, Carmen. 

Carmen, Ramón e Daisy                         A Noite

Ramón foi embora de São Paulo no dia 11 de julho, dois dias após sua última apresentação no teatro Odeon às 15h e às 21h. Embora toda a comitiva já estivesse no navio 'Nothern Prince', o astro ficou ainda mais tempo no hotel Esplanada para resolver algumas questão não-reveladas com a MGM. Ele saiu do local às 17h, sem falar com fãs e a imprensa, e foi direto para o porto de Santos.

No dia 12 de julho, ele estava de volta ao Rio de Janeiro, onde compareceu à uma despedida de grande estilo: primeiro ele assistiu o seu último lançamento, depois recebeu um almoço luxuoso na sede do Botafogo F.C. À tarde, ele ainda compareceu ao Ministério da Fazenda, ao lado de Oswaldo Cruz, com o embaixador do México, Alfonso Reys. 

Ramón em despedida do Rio de Janeiro

Durante o almoço, Ramón anunciou que seu próximo filme seria 'His Excellency Tobacco Shop', que nunca foi gravado. O astro prometeu voltar dali um a dois anos, mas nunca aconteceu. Ele chegou perto de um retorno nos anos 40, mas por conta da II Guerra Mundial não foi possível. 

O astro mexicano continuou a professar seu amor pelo Brasil no entanto e, apesar de sua terrível morte décadas depois, suas visitas ao Brasil permaneceram os mais lindos momentos de diversos fãs, inclusive aqueles que puderam vê-lo de perto. 

E que vindas maravilhosas! 





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