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Irmãs e rivais: a rixa entre Olivia de Havilland e Joan Fontaine

Existem rixas épicas da antiga Hollywood: Joan Crawford X Bette Davis, Sophia Loren X Jayne Mansfield e Marlon Brando X Frank Sinatra. Apesar de todas terem um status lendário, nenhuma delas possui tanta complexidade quanto a rixa entre as irmãs Olivia de Havilland e Joan Fontaine, que teve início no berço e perdurou até a morte da caçula, Joan, em 2013. 

Olivia Mary de Havilland nasceu primeiro, em 1º de julho de 1916, em Tóquio no Japão, filha de Lillian Augusta Ruse e Walter Augustus de Havilland. O pai era professor e advogado enquanto a mãe, que já foi atriz, apenas sonhava com o sucesso que as filhas alcançariam no futuro. Não demorou para que Lillian ficasse grávida novamente e em 22 de outubro de 1917 nascia Joan de Beauvoir de Havilland.

De acordo com a autobiografia de Joan, a No Bed of Roses, lançada em 1978, a rivalidade entre as duas se iniciou assim que ela "roubou" um pouco dos holofotes da irmã, que 15 meses antes era filha única: 

Minha mãe me disse que ela nunca se aproximava de meu berço. O horóscopo sugere que Olivia seria melhor como filha única. (...) Ela sempre foi uma ferrenha defensora da regra de ser primogênita. Talvez o fato de eu ser uma criança fraca tinha muito a ver com o ressentimento da Olivia, já que eu era um bebê irritável e no berçário ela não era mais o centro da atenção entre os serventes e entre os nossos pais. 

Olivia x Joan: uma rixa muito mais intricada do que você imagina!

O ciúmes entre irmãos é uma coisa natural, mas no caso de Olivia e de Joan a rixa era incentivada pela mãe (ambas a veneravam e queriam agradá-la) e elevada à graus absurdos. De acordo com o livro Sisters : the story of Olivia de Havilland and Joan Fontaine de Charles Brigham, as duas eram crianças bastante doentes: Olivia tinha pneumonia e Joan tinha sarampo. Lillian, cansada das traições do marido, usou como desculpa o clima mais ameno da Califórnia, nos EUA, para melhorar a saúde das meninas e foi morar lá, onde logo depois conseguiu se divorciar de Walter e se casou com George Fontaine.

As duas tinham uma infância rigorosa e repleta de regras: George não era um homem fácil de se lidar e infligia diversos castigos horrendos nas meninas. Uma vez em que Joan começou a roer as unhas, ele cavou uma cova e afirmou que se ela não parasse seria enterrada viva ali. As irmãs, que não se suportavam, até tentaram se unir contra o padrasto, mas sem sucesso. Olivia era mais esperta e, desde pequena, tentava persuadir George e a mãe enquanto Joan sempre falava a verdade - mesmo enfrentando as terríveis consequências. 

Na infância, Joan queria imitar a irmã mais velha - como é de praxe com os caçulas - mas Olivia, de acordo com a pequena, não tinha instintos maternais. Fontaine afirma que a primogênita não queria cuidar dela e as duas saíam no tapa frequentemente. De Havilland, sendo maior, foi acusada de exagerar e proferir diversos golpes cada vez que a irmã fazia algo que ela não gostava. Olivia, no entanto, contou uma outra história para Vanity Fair em 2013- como amava ler para Joan e a deixava até subir na sua cama para dormirem juntas: 
Joan era tão doente e deprimida. A coisa que ela mais gostava era um gatinho de pelúcia, cujo som não funcionava mais. Quando a gente apertava, fazia 'miau', mas quebrou. Então eu comecei a fazer 'miau' quando a Joan apertava o gato, ela amava e se sentia melhor. Ela era tão adorável, com sardas no rosto e um cabelo loirinho - linda demais!

Joan Fontaine e Olivia de Havilland quando crianças: suas brigas eram intermináveis

Certa vez Joan fantasiou em matar a irmã, pegando a arma do padrasto para atacá-la, mas por instinto Olivia pegou 'leve' com ela naquele dia. Em retorno, a futura parceira de Errol Flynn supostamente gostava de torturar a irmã lendo a Bíblia, especificamente as passagens gráficas da Crucificação de Cristo enquanto Joan imitava tudo que Olivia dizia, tentando irritá-la ainda mais. Em um exercício da escola, no qual De Havilland precisava escrever um testamento de mentira, ela teria ditado: "Eu concedo a minha irmã toda a minha beleza, já que ela não tem nenhuma". 

Como a rixa das duas não recebia um basta dos pais, o desgosto entre Joan e Olivia atingiu novas alturas na adolescência. A futura estrela de '...E o Vento Levou (1939)' era a mais popular, participando do jornal da escola e outras atividades extras. Olivia já participava de peças no colégio, como 'Alice no País das Maravilhas' e 'Orgulho e Preconceito' enquanto Joan, ainda bastante tímida, apenas observava a irmã desabrochar nos palcos, querendo seguir o mesmo caminho. Seu primeiro grande papel veio apenas aos 14 anos e, a partir daí, a competição entre as duas se tornou mais acirrada. 

A vida com George Fontaine como mestre da casa era muito difícil, sendo que ele era conhecido, até pelos vizinhos, como o 'Duque de Ferro'. Um dia, quando Joan conversou com uma vizinha a caminho de casa, ele ficou sabendo e a estapeou tão forte que ela caiu em cima de um vidro. Fartas, Olivia e a caçula resolveram fugir de casa, voltando apenas sob novas condições: que não duraram muito já que a mãe, que naquela época estava doente, não conseguia cuidar e ajudar as filhas. 

Olivia de Havilland e Joan em Saratoga, Califórnia em 1934

Aos 17 anos de idade, De Havilland saiu de casa de vez após um desentendimento com o padrasto, que não queria que ela atuasse. Decidida a se tornar uma grande estrela, ela deixou a irmã para trás e Joan, farta do intolerável George, resolveu partir e trabalhar em casas da região como babá e empregada para não ter que lidar com terrível situação familiar. As duas, apesar de não se suportarem, ainda saiam juntas em diversas ocasiões e foi aí que Joan afirma que Olivia teria fraturado sua clavícula: 
Um dia em julho de 1933, irritada por algo que eu disse ou fiz, Olivia me jogou do lado da piscina, pulou em cima de mim e fraturou minha clavícula. -No Bed of Roses, pág 73.

Olivia sempre foi mais discreta ao mencionar a rixa entre as duas, mas em entrevista a revista Vanity Fair, negou todas as acusações de Joan. De acordo com a falecida atriz, a briga entre elas na piscina - que ocasionou a fratura na clavícula - ocorreu quando elas tinham, respectivamente, 7 e 6 anos de idade. Joan teria tentado puxá-la na piscina, mas ela se segurou e a caçula acabou se machucando. 

Seja como for, o desgosto entre as duas aumentou ainda mais de proporção na vida adulta: após sair da casa de Fontaine, Joan ligou para o pai Walter, que lhe ofereceu um teto em Saratoga, em Tóquio. Já para Olivia, ele deu uma mesada de 50 dólares por mês, para que ela continuasse a atuar. Quando Joan retornou em 1934 para São Francisco, Olivia já estava em turnê com a peça 'Sonho de uma Noite de Verão', que lhe garantiria um contrato com a Warner Bros e era a queridinha temporária da mãe Lillian. 

Nesse ínterim, Joan atuava como choffer de Olivia, já que a mesma não sabia dirigir. A jovem a levava para cima e para baixo, além de entregar sua comida e fazer outras tarefas. Na autobiografia No Bed of Roses, Fontaine conta que foi notada pelo diretor Mervyn Le Roy na Warner Bros., que apontou que ela seria uma ótima atriz. Tanto Olivia quanto a mãe, que agora havia deixado Fontaine, afirmaram que ela não poderia ficar no mesmo estúdio que a irmã mais velha. Assim, ela adotou o Joan Fontaine - já que uma vidente afirmou que ela faria sucesso com um nome que tivesse 'e' no final - e assinou um contrato de dois anos com a RKO. 

Olivia e Joan nos estúdios da Warner Bros em 1939

A eterna parceira de Errol Flynn tem outra visão da carreira de Joan: além de negar ter batido na irmã, acusando Joan de agredi-la e ela sempre dando "a outra face", Olivia ainda se refere ao livro de Fontaine como 'No Shed of Truth", ou seja "Nem um Pingo de Verdade". Ela garante que "amava muito a Joan quando eram crianças" e que as duas tinham brigas comuns de irmãs, sendo que as agressões físicas eram sempre iniciadas por Fontaine. 

Quando não suportava mais, Olivia admite que chegava a estapear o rosto da irmã e puxar seu cabelo. Para ela, Joan não suportava receber as roupas usadas dela e também dividir o mesmo quarto. Desde pequena, De Havilland afirma que a irmã tentava copiá-la de todas as maneiras e isso só piorou quando ela se tornou uma estrela de Hollywood, quando ambas se reencontraram após estadia de Joan em Tóquio: 

Joan veio até a mamãe na noite de estreia de 'Sonho de Uma Noite de Verão' no Teatro de São Francisco. Eu nem a reconhecia mais. Ela tinha pintado o cabelo. Ela estava fumando. Ela não era mais a minha irmã mais nova. Eu a aconselhei a voltar a escola e se formar, mas ela disse: 'Eu quero fazer o que você está fazendo'. -revela Olivia para a Vanity Fair.

Joan e Olivia no Oscar de 1942 - quando Fontaine ganhou o prêmio de Melhor Atriz

Olivia revela que se ofereceu para pagar uma escola preparatória da alta sociedade para Joan, mas ela não queria. A jovem estava decidida em se tornar uma estrela também. As duas, curiosamente, se creditam por dar a primeira grande chance, uma para outra, nos cinemas.

No caso de De Havilland, ela afirma que sugeriu a irmã para o produtor David O'Selznick, enquanto gravava ...E o Vento Levou (1939), quando ele procurava uma atriz para estrelar Rebecca (1940), o primeiro filme de Alfred Hitchcock nos Estados Unidos. Já Joan afirma que Olivia apenas conseguiu o papel como Melanie no longa sobre Scarlett O'Hara após ela sugerir seu nome - sendo considerada muito "estilosa" para interpretar a personagem sem graça, dando uma cutucada na irmã mais velha. 

Olivia foi a primeira das duas a receber uma indicação ao Oscar, desta vez por Melhor Atriz Coadjuvante em ...E o Vento Levou (1939). A atriz perdeu para Hattie McDaniel, que teve uma vitória histórica por ser a primeira negra a ganhar o prêmio. Em contrapartida, Joan se casou primeiro e com um ex-affair da irmã: o ator Brian Aherne. Antes disso, ela teria sido cantada pelo magnata dos filmes Howard Hughes, que estava vendo Olivia regularmente. Naquela época, a irmã mais nova se casar primeiro era visto como fora do padrão e a situação com Brian e Howard teria sido um golpe duplo em De Havilland.

Casamento de Joan em 20 de agosto de 1939; casório de Olivia com Marcus em 26 de agosto de 1946

No auge de suas carreiras, elas pareciam ter tudo: até que ambas foram indicadas ao Oscar de Melhor Atriz em 1942. Olivia recebeu a nomeação por A Porta de Ouro (Hold Back The Dawn, 1941) e Joan por Suspeita (Suspicion, 1941) - essa foi a primeira vez que duas irmãs concorriam pelo mesmo prêmio na Academia. Na cerimônia, elas estavam sentadas juntas quando o nome de Joan foi anunciado como a grande vencedora, sendo a única estrela de Alfred Hitchcock a ganhar um Oscar. 

"Toda a animosidade que sentíamos uma pela outra quando éramos crianças, os puxões de cabelo, as brigas selvagens e a vez que Olivia fraturou minha clavícula vieram em minha mente como uma imagem em caleidoscópio. Minha paralisia era total. Eu achava que Olivia se ergueria da mesa e me pegaria pelo cabelo. Me senti aos quatro anos de idade, sendo confrontada pela minha irmã mais velha. Droga, ela estava brava de novo. Mas na verdade, Olivia foi bastante graciosa", concede Joan em sua autobiografia 'No Bed of Roses'

Para adicionar ainda mais uma camada na guerra entre as irmãs, a revista LIFE escreveu uma matéria intitulada 'Sister Act', lançada em 4 de maio de 1942, logo após Joan ganhar o Oscar. Nela, ambas jogavam algumas indiretas uma para outra, com Olivia afirmando que Joan apenas ganhou o Oscar porque o filme da irmã foi lançado depois do dela, ficando mais "fresco" na cabeça dos votantes da Academia. Ouch!

Olivia, no entanto, foi quem teria escolhido o vestido de Joan para o Oscar, além de mandar direto para o estúdio da RKO, onde ela gravava o filme De Amor Também se Morre (Constant Nymph, 1943). De acordo com o colunista Robbin Coons para o jornal San Pedro News, se não fosse por De Havilland, Joan nem teria um vestido para o Oscar. Nessa época, a rixa era mais velada, mas logo seria exposta para todos. 


As duas irmãs continuaram focadas em suas vidas privadas, com Joan se divorciando de Aherne em 1945 e logo depois se envolvendo com o produtor William Dozier. Nesse ínterim, Olivia já havia lutado contra o estúdio Warner Bros. para ser liberada de seu contrato e estava determinada em conseguir papéis mais desafiadores. Ela também teve sorte no amor: em 26 de agosto de 1946 ela se casava pela primeira vez com o escritor Marcus Goodrich

Joan, que não havia sido convidada para o pequeno casamento, ficou sabendo sobre a união da irmã pelos jornalistas. Indagada por um dos repórteres sobre o noivo de Olivia, ela disse acidamente: "Tudo que eu sei é que ele teve quatro esposas e apenas um livro. Pena que não é ao contrário". O clima entre as irmãs, que outrora era de trégua controlada, com algumas indiretas aqui e acolá, agora era de guerra total. 

No dia 13 de março de 1947, Olivia compareceu ao Oscar no Shrine Auditorium, Los Angeles, Califórnia, EUA pois concorria como Melhor Atriz pelo filme Só Resta Uma Lágrima (To Each of His Own, 1946). Quando o nome da atriz foi anunciado, ela estava radiante, assim como a caçula estivera alguns anos antes. 

Olivia de Havilland esnobando a irmã no Oscar de 1947.

Certa de que ela poderia encontrar a irmã, que estava lá para apresentar o Oscar de Melhor Ator, Olivia pediu ao seu agente para mantê-las separadas, mas isso não aconteceu. Assim foi tirada a icônica foto pela revista Photoplay, no qual Olivia se afasta de Joan nos bastidores da premiação, enquanto ela tenta parabenizá-la. Na época, De Havilland chegou a afirmar: "Nós estávamos rompidas há um bom tempo. Eu não teria mudado a minha atitude". 

Em entrevista para a AP News em 1957, Olivia explicou a situação: "Joan é muito esperta e espirituosa e tem uma língua que pode ser cortante. Ela disse algumas coisas sobre o Marcus que me machucaram muito. Ela sabia que tinha um mal estar entre nós". Joan, em sua autobiografia, garante, no entanto, que não sabia por que a irmã fez aquilo com ela: "A reação de Olivia foi inexplicável para mim". Posteriormente, Fontaine tentou apaziguar a briga, afirmando que a irmã "não a teria visto"

Os maridos de ambas, no entanto, deram versões diferentes do evento. Bill Dozier, em entrevista a agência UP, quando ainda era casado com Joan, afirmou: "Fotógrafos pediram que Joan esperasse nos bastidores para ser fotografada com a irmã. Ela achou que como era um evento público e uma grande ocasião, Olivia não se importaria. Não é nada além de um probleminha de família. Não tem nada de profundo nisso". 

Olivia de Havilland com Ray Milland no Oscar de 1947.

Marcus Goodrich, que havia se sentido ofendido pelas falas de Joan, discordou do produtor: "Isso sempre acontece quando há fotógrafos por perto. Joan sempre vem para tirarem fotos dela com Olivia e a minha esposa não gosta. [O problema entre elas] vem de anos e anos. Elas não tem nada em comum". 

As De Havilland, nesse período, pararam de conversar completamente. Joan saiu na frente mais uma vez: em 5 de novembro de 1948 deu à luz sua primeira filha, Deborah Dozier. Olivia ainda estava focada em sua carreira, após conseguir criar a Lei de Havilland contra os estúdios, e ganhou mais um Oscar de Melhor Atriz em 1950 por Tarde Demais (The Heiress, 1949). Um ano depois de Fontaine, ela deu à luz seu primeiro filho: Benjamin Goodrich, no dia 1º de dezembro de 1949. 

Joan, no entanto, não se sentiu nem um pouco acanhada de comentar o segundo Oscar da irmã para a imprensa, em 1950: "Achei que ela ficaria mais feliz [com a vitória]. Mas eu não teria ido a premiação, mesmo se ela não tivesse sido indicada". A caçula afirmou para o The Mercury News que havia mandado um telegrama para parabenizar a irmã, mas o agente de Olivia negou a informação. Indagada sobre a rixa, Fontaine declarou: "Rixa implica em palavras fortes e animosidade. Vamos chamar isso de 'Cortina de Ferro'. Olivia realmente mereceu o Oscar, é maravilhoso". 

Olivia com os filhos Benjamin e Gisele; Joan com as filhas Deborah e Martita

Joan continuou a carreira após se separar de Dozier em 1951, fazendo filmes em outros locais do mundo e recebendo ajuda de Howard Hughes. Nessa época, ela adotou uma garotinha peruana chamada Martita Pareja e se casou novamente com o marido nº 3: Collier Young. Já Olivia se mudou para Paris em 1953, após terminar com Marcus e conhecer o escritor Pierre Galante, com quem se casou em 1955 e teve a filha Gisele Galante

De Havilland e Fontaine permaneciam separadas, sem qualquer chance de reconciliação, já que Olivia esperava um pedido de desculpas da caçula. Em entrevista ao AP News em 1957, a ex-parceira de Errol Flynn confessa que depois achou toda a situação um tanto boba e elas fizeram as pazes: "Eu jurei que nunca falaria com Joan até que ela se desculpasse, mas quando eu retornei para Hollywood após término com Marcus pareceu bastante bobo exigir uma desculpa". Olivia voltou para Hollywood em agosto daquele ano para estrelar no filme O Rebelde Orgulhoso (The Proud Rebel, 1958) com Alan Ladd. 

Após o novo casamento de Olivia, as irmãs retomaram contato e foram vistas juntas, no final dos anos 50 e no começo dos anos 60. No final daquela década, De Havilland chegou a pedir ajuda de Joan, já que ela estava em uma péssima situação financeira. Em No Bed of Roses, ela relata que deu um cheque polpudo a irmã - que logo foi pago -e contatos para retomar a carreira. 

Joan e Olivia em um restaurante em Los Angeles, 1962

Joan se casou mais uma vez, com Alfred Wright Jr,. com quem ficou até 1969 e logo se envolveu com um médico, identificado em sua autobiografia como Dr. Noh. Os dois ficaram juntos por oito anos e quando terminaram, a atriz ficou tão abalada que adoeceu. Olivia, que estava nos EUA na época e passando por problemas com Pierre, pegou Joan nos braços e a ninou, como ela tinha feito, diversas vezes, quando eram crianças. 

As irmãs estavam novamente em trégua, isso é, até a morte da mãe em 1975. De acordo com o livro Olivia de Havilland: Lady Triumphant de Victoria Amador, a amiga de Bette Davis sempre considerou que Lillian tinha Joan como sua favorita: "Quando éramos crianças, ela era tratada bem e mimada pela nossa mãe. Quando Joan ficava doente, era um drama imenso e para uma criança imaginativa e histérica, isso era ruim. Se ela tinha catapora, era um drama de estado. Se eu pegava, apenas me diziam para ir para cama, não coçar e ir dormir". 

Lillian de Havilland, no entanto, faleceu no dia 20 de fevereiro de 1975 e foi Olivia quem cuidou dela nos últimos momentos, fazendo manicures, vestindo e até lendo para a matriarca. Joan, naquela ocasião, estava na estrada com a peça Cactus Flower e não poderia desfazer o contrato, ficando longe da mãe em seus últimos momentos de vida. 

Lillian Fontaine com as filhas Joan e Olivia em 1973 - nessa sessão de fotos, as duas brigaram de novo!

Com a partida de Lillian, as duas se afastaram ainda mais. Joan acusou Olivia de fazer o memorial da mãe em uma data que ela não poderia participar. A estrela de Hitchcock garante que apenas participou da cerimônia, com a filha e o ex-marido, Bill Dozier, após ameaçar contar todo o plano da irmã para a imprensa. No epílogo de sua autobiografia, Joan afirma que apenas Gisele tinha "capturado" o coração de Lillian e que a mãe apenas se lembrou dela e de Benjamin - filhos de Olivia - em seu testamento. Deborah, a única filha biológica de Fontaine, nem teria sido lembrada. A estrela de Hitchcock ainda lamenta nunca ter ganhado a aprovação da matriarca - assim como a própria irmã mais velha também se queixava. 

Em sua autobiografia, Fontaine revela que espalhou as cinzas da mãe com Olivia, despedindo-se dela enquanto "não tinha palavra alguma para a irmã". Deborah tinha uma boa relação com a tia, mas o mesmo não poderia ser dito de Joan. Em 1978, em entrevista para a revista People divulgando No Bed of Roses, ela pontuou: "Eu lamento não lembrar nenhum ato de bondade de Olivia para comigo em toda a minha infância". 
Você pode se divorciar de sua irmã, assim como de seus maridos. Eu não a vejo e nem planejo fazer isso. - Joan para a revista People, 1978.
Quando as duas se reencontraram em 1979, para o aniversário de 50 anos do Oscar, elas se sentaram em extremidades opostas do palco e não se falaram.  Dez anos depois, quando elas comemoraram os 60 anos da premiação, de novo não estavam se falando. A situação era tão severa que Joan teria mudado de andar no hotel ao descobrir que estava em um quarto adjacente à irmã. Olivia e a caçula entraram em bons-termos temporários, em 1991, quando o filho de Havilland lutava contra a doença de Hodgkins e, pouco tempo depois, faleceu. 

Joan e Olivia em 1942 

Enquanto Olivia se tornou uma mãe postiça para Deborah - que chegou a afirmar que Joan sofria algum tipo de bipolaridade - ela também recebia Martita de braços abertos. Joan, tomando o caminho contrário, se tornou cada vez mais reclusa e sem qualquer tipo de contato com amigos e familiares. 

De acordo com o policial Bill Cassara, que se tornou amigo de Joan em Los Angeles em 1997, a ex-grande estrela de Hollywood era "reclusa por escolha". Apesar dela garantir em entrevista para o The Hollywood Reporter que a rixa entre ela e a irmã era uma "fabricação da imprensa", para o amigo próximo, ela confessou a verdade:
Ela a odiava. Na verdade, ela estava tão perturbada pela ideia de que morreria antes de Olivia e que ela viria em sua casa e pegaria suas coisas, que antes pertenciam a mãe delas. Olivia morava em Paris, mas ela chegou a me dizer: 'Quero que esteja na casa quando eu morrer'. - para a Fox News em 2021.
Joan faleceu primeiro, em 15 de dezembro de 2013, aos 96 anos de idade, como ela havia premeditado em 1978: "Olivia sempre disse que eu sou a primeira em tudo - eu me casei primeiro, ganhei um Oscar primeiro, tive um filho primeiro. Se eu morrer, ela ficará furiosa, porque, de novo, eu terei chegado lá primeiro". 

Joan aos 90 anos fotografada pela Vanity Fair

Em nota oficial, Olivia afirmou ter ficado "chocada e triste" com a morte da caçula, recebendo uma ligação de Deborah para que ambas compartilhassem o luto. Quando Olivia faleceu, em 26 de julho de 2020, Potter escreveu uma carta aberta, no qual admitiu que as duas irmãs não se falavam, embora a tia fizesse questão de manter uma relação com ela: "As duas eram diferentes - Joan era insensível e Olivia graciosa". 

Entrevistada pela AP News em 2016, Olivia voltou a afirmar que não tinha uma rixa com a irmã: "Uma rixa implica em um comportamento hostil entre as duas. Não consigo pensar em nenhuma ocasião em que iniciei tal comportamento. Mas eu posso pensar em diversas ocasiões em que minha reação foi defensiva". 
A Dama Dragão, como eu decidi chamar Joan, era uma pessoa brilhante e multifacetada, mas com um astigmatismo em sua percepção de pessoas e eventos, o que permitia que ela reagisse a pessoas de uma maneira injusta e caluniosa. (...) Da minha parte [nossa relação] sempre foi amorosa, mas algumas vezes distante, e nos últimos anos, rompida. - revelou Olivia. 
Olivia de Havilland em 2018 para o New York Times

Em 2018, Olivia entrou com um processo contra a FOX pela sua representação na série Feud: Bette and Joan (2017). Interpretada por Catherine Zeta-Jones, a grande estrela definiu que a atração a fez parecer como uma "fofoqueira vulgar e hipócrita". Outro ponto de discórdia foi quando Catherine usou a palavra "vadia" para se referir a Joan Fontaine na série - Ryan Murphy, criador de 'Feud' atestou na Suprema Corte da Califórnia, nos EUA,  que "dama dragão" e "vadia" são sinônimos, mas isso não é verdade: "Dama Dragão" define alguém exótico, intimidador e calculado. 

Olivia de Havilland perdeu o processo em 2019, apesar de argumentar que Ryan Murphy poderia tê-la contatado para não criar uma série tão repleta de "imprecisões". Em 1972, a atriz começou a escrever uma autobiografia, mas nunca lançou. O único livro publicado dela foi uma obra de memórias, em 1961, intitulado 'Every Frenchman Has One'

Enquanto Olivia permaneceu discreta sobre a rixa com a irmã, Joan foi cada vez mais vocal sobre tudo, sem se importar com as pontes queimadas entre elas. Joan foi a primeira em tudo, mas foi Olivia quem teve a última palavra. 
Nada pode fazer com que nossa relação seja bem-sucedida. E é uma pena que algo especial tenha sido feito disso porque rixas são algo comum em famílias. Olhe, eu conheço um entregador de jornal que não suporta o irmão. - Olivia em 1952 para o colunista Erskine Johnson. 


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