A 3º Caixa Surpresa - um pouco de Pfeiffer e da Itália


A Michelle Pfeiffer é uma das atrizes mais famosas do mundo do entretenimento, começando sua carreira já na década de 70. Uma prova da sua versatilidade como atriz é que mesmo depois de estrelar na desastrosa continuação de Grease -Nos Tempos da Brilhantina (1978), o intitulado Grease 2 (1980), ela conseguiu o papel na refilmagem Scarface (1983), que a lançou ao estrelato certeiro. 
Atualmente, Pfeiffer está retomando sua carreira, depois de um hiato de mais de quatro anos, em filmes como Assassinato no Expresso Oriente e Mother! e aos 59 anos de idade, que ela completa no dia 29 de abril, ela está mais maravilhosa do que nunca.

                                                              MGM/Divulgação/Gif
Por isso a nossa Caixa Surpresa vamos homenagear a atriz em um de seus filmes sendo dirigida por Jonathan Demme, o diretor que faleceu nesta semana. Aproveite que a Caixa Surpresa dá uma dica de livro, filme e álbum, para você curtir seu final de semana como quiser! 

Sugestão de filme: De Caso com a Máfia (Married to the Mob) -1988

Divulgação/Pôster
Nesta comédia Michelle Pfeiffer interpreta Angela de Marco, uma jovem viúva de um mafioso que recentemente faleceu, o Cucumber Frank de Marco, vivido por Alec Baldwin, Atraente, ela logo começa a ser o centro das atenções do chefe mafioso de seu marido, o Tony 'The Tiger' Russo (Dean Stockwell). Tony, é claro, está sendo investigado pelo FBI e quando notam se interesse por Angela, um agente, especificamente, o agente Mike (Matthew Modine), se infiltra na máfia, mas acaba, é claro se apaixonando por Angela. A partir daí é só confusão. 

O interessante é o paralelo que o diretor, Jonathan Demme, faz com um de seus outros filmes mais bem sucedidos, o oscarizado O Silêncio dos Inocentes (1991). Em uma entrevista com a Rolling Stones, ele conta: "O que me deixou animado com De Caso na Máfia é que tinha o mesmo tema secreto de O Silêncio dos Inocentes. Uma mulher que quer andar na linha e os homens na sua vida não permitem. Os caras malvados não permitem e os bonzinhos também não. E ela é capaz de conseguir uma trajetória boa através das mulheres de sua vida." Outro paralelo com O Silêncio dos Inocentes é que ambos os filmes têm a música Goodbye Horses da banda Q Lazzarus, uma das bandas favoritas do diretor. 

Um filme super divertido que lida com a máfia e as escolhas de uma mulher forte, que não se intimida pelos homens de sua vida, De Caso com a Máfia é aquele típico filme 'Sessão da Tarde', muito bem filmado e com uma pegada cômica que a Michelle consegue repassar muito bem em sua atuação. 

Sugestão de livro: Éramos Seis de Maria José Dupré 

Divulgação/Coleção Vagalume
O livro Éramos Seis é um dos mais famosos já escritos por Maria José Dupré. A escritora, que antigamente assinava seus livros como Sra. Leandro Dupré, também criou uma série de livros para crianças chamada Cachorrinho Samba. Mas foi Éramos Seis, lançado em 1943, que fez um sucesso estrondoso tanto na crítica quanto no público. O livro, aliás, foi adaptado em 1945 em um filme homônimo, gravado na Argentina, protagonizado por atores como Perla Achával e Tito Alonso. A obra só ganhou uma adaptação aqui no Brasil em 1977, com a novela Éramos Seis que era exibida pela extinta TV Tupi e, posteriormente, pelo SBT.

A obra de Maria José Dupré conta a história de uma família, a Lemos, que tem como a matriarca da casa a Dona Lola e é pela perspectiva dela que acompanhamos o livro todo. Seus quatro filhos, uma menina a vaidosa Isabel, e Julinho, Carlos e Alfredo, todos com personalidades distintas convivem em um ambiente de classe média, com uma mãe amorosa e um pai, Júlio, extremamente rigoroso. 

Atenta aos mínimos detalhes, construindo uma narrativa densa, mas sem cansar o leitor, Maria José Dupré ganhou inúmeros prêmios por Éramos Seis, entre eles, o prêmio Raul Pompéia em 1944, em uma época que muitas poucas mulheres, no Brasil, tinham seus livros lançados. O interessante é que seu livro foi lançado em sua primeira edição com um prefácio de Monteiro Lobato, amigo próximo do casal Dupré. 

Sugestão de álbum: Profumo di Donna de Armando Trovaioli ‎

Divulgação
Al Pacino ganhou o Oscar em 1993 pela sua interpretação de um capitão cego, Frank Sleade, que faz uma amizade inesperada com um jovem estudante no filme Perfume de Uma Mulher (1992), mas o filme na verdade é uma refilmagem do italiano Profumo di Donna protagonizado pelo talentoso Vittorio Gassman, que também faz uma aparição em outro clássico italiano Cinema Paradiso (1988). Os dois filmes tem uma história completamente similar, embora o italiano seja mais libertinoso, mas as trilhas sonoras não poderiam ser mais diferentes. 

Se ao pensar em Perfume de Uma Mulher com Al Pacino já vem à mente a canção da cena do tango composta por Thomas Newman, a italiana, composta por Armando Trovaioli não tem nenhuma tão marcante, mas isso não torna sua trilha sonora para Profumo di Donna menos merecedora. Ela é, na verdade, completamente suave e a presença de trombetes e piano marcam a beleza do filme, que mostra os altos e baixos de duas pessoas que não poderiam ser mais diferentes. 

Apesar da trilha sonora completa de Profumo di Donna não estar disponível na internet, no Youtube é possível achar as composições Sara, In The Dark e Tu Amore Mio, uma das mais belíssimas do filme, diga-se de passagem. Composições que apenas podem ser descritas por terem uma sensibilidade que muitas vezes apenas filmes italianos conseguem transpassar. 





Debbie Harry e Blondie para o filme Union City (1980)


Debbie Harry demorou para chegar à fama. A primeira canção de sucesso dela, com sua banda Blondie, chegou ao topo das paradas em 1978, quando a cantora tinha 33 anos de idade. Com seu visual elegante e seus grandes olhos verdes, não demorou nada para que ela também tentasse sua sorte no cinema. Sua aparição nas telonas aconteceu em Deadly Heroes de 1975, aparecendo no plano de fundo como uma cantora na boate e apenas cinco anos depois, Debbie conseguiu sua estreia como atriz principal em Union City, baseado no conto de Cornell Woolrich, The Corpse Next Door, em tradução livre, 'O Cadáver da Porta Vizinha'. O escritor, aliás, é conhecido graças à adaptação de seu conto 'Through the Window' que nas mãos de Alfred Hitchcock se transformou no filme Janela Indiscreta (1954). 

O livro conta a história de Ed Harlan, um homem com temperamento forte, que acaba descobrindo que existe alguém de seu prédio roubando seu leite fresco. Ele arma uma armadilha e com toda sua força, acaba sem querer matando o intruso. A partir daí, ele começa a se sentir mais e mais culpado e comete deslizes em sua rotina, anteriormente, normal. Sua esposa, Lilian também comete adultério com o síndico do prédio mostrando que é mais do que uma dona de casa normal. Uma diferença importante do filme para o conto é que, no conto, a história se passa durante a Depressão de 29, e o filme já acontece nos anos 50, provavelmente para dar mais ênfase a personagem da esposa de Ed, que ganha mais camadas no filme, rebelando-se contra o seu papel de esposa dentro de casa.

Debbie com os cabelos castanhos -sua cor original                              Divulgação/Gif
Outra coisa interessante de Union City é a trilha sonora. Union City não tem nenhuma música com letras -do começo ao fim, ele é simplesmente instrumental. De acordo com o livro Blondie, do jornalista Lester Bangs, o diretor do filme Marcus Reichert, não queria que Debbie cantasse no filme para não explorar essa parte de sua vida. É por isso que a canção Union City Blue, do Blondie, não aparece no filme e sim uma versão instrumental parecida, composta por Chris Stein, guitarrista e na época namorado de Debbie.

Há controvérsias, no entanto, sobre como a canção foi composta. No livro de Bangs, conta-se que Debbie estava gravando Union City quando escreveu a letra da canção e a escreveu para "se desligar um pouco de tudo que estava acontecendo". Já na entrevista de Debbie e Chris para a revista SPIN de janeiro de 1986, eles contam:

"Debbie: Essa foi uma das canções inglesas de Nigel (Harrison, baixista da banda) para se embebedar. Eu estava fazendo Union City nessa época. Nós também gravamos o clipe em Union City. 
Chris: foi um dos primeiros videoclipes com cenas gravadas de cima de um helicóptero. Possivelmente."


Ao checar o álbum Eat to the Beat, na qual Union City Blue está inclusa, estão listados como compositores da letra Debbie e Nigel. Possivelmente, Nigel possa ter dado a ideia, já que ele é Chesire, na Inglaterra, e inspirada pelo filme, Debbie conseguiu criar um esboço da canção durante as gravações do filme.O que importa é que Chris Stein logo criou a composição da música enquanto Debbie e Nigel cuidavam da letra. Outra cantora, aliás, faz parte de Union City, a Pat Benatar, como uma vizinha excêntrica chamada Jeanette, famosa pela canção Love is a Battlefield. 

A canção Union City Blue foi lançada como single para o Blondie no Reino Unido e chegou a posição 13º das paradas, a canção, no entanto, nunca foi lançada nos Estados Unidos. O vídeo, aliás, que Stein gaba por ser o primeiro vídeoclipe filmado de helicóptero foi feito no bairro de New Jersey, pelo diretor David Mallet,que tem uma pequena cidade chamada Union City, conhecida por ser o lar de trabalhadores de indústrias.

Mas Stein também não ficou muito atrás de sua parceira e executou todas as músicas para o filme Union City, que foi editado por Jane McCuley e mixado por Jack Cooley. Outro ponto interessante do filme é que Union City teve seu roteiro feito por Kathryn Bigelow, a única mulher a ganhar um Oscar de Melhor Direção por Guerra ao Terror (2008). Confira um trecho da música de abertura de Union City, feita toda por Stein, a seguir:




As 5 melhores aparições de Lena Horne nos filmes

Lena Horne foi uma das artistas da antiga Hollywood mais talentosas: além de dançar e cantar, sua atuação era sempre no ponto. Mas por ser negra todas as suas cenas em filmes famosos do estúdio MGM eram filmados de maneira que, se necessário, pudessem ser cortadas sem alterar a narrativa do filme. Em entrevista para a revista Ebony em julho de 1968, Horne conta: "Os únicos filmes que eu tive um papel foi Uma Cabana no Céu (1943) e Tempestade de Ritmo (1943). Em todo o resto, 15 filmes, eu apenas cantei uma canção." Isso aconteceu, de acordo com ela, porque Lena não se encaixava perfeitamente em Hollywood: "Eu não me encaixava em nenhum dos estereótipos que Hollywood tinha para pessoas negras. Eu pensei em ser atriz, mas desisti porque não queria perder meu tempo esperando." 

Lena Horne cantando Can't Help Loving Dat Man' parte do filme Quando as Nuvens Passam (1946)  Divulgação/Gif
A carreira musical de Lena florescia enquanto a sua carreira no cinema ia de mal a pior. Apesar de estrelar em Tempestade do Ritmo, um filme B com todo o elenco negro, e tornar a canção Stormy Weather um sucesso, os telespectadores e a indústria ainda não estavam preparados para terem uma grande estrela negra. Outra prova disso foi o filme O Barco das Ilusões, lançado em 1951, anos antes de Dorothy Dandrige ser a primeira atriz negra indicada ao Oscar de Melhor Atriz. O papel de Julie, uma cantora interracial tinha tudo para ser da Lena - ela, inclusive foi convidada para interpretar o papel na Broadway em 1946. O papel no filme, no entanto, foi para Ava Gardner. As duas, aliás, eram super amigas na vida real e a razão pela qual Lena nunca gostou de Frank Sinatra. 

Por isso, para mostrar a importância de Lena no cinema, mostramos na A Listinha suas cenas de dança mais memoráveis e que, nunca, deveriam ter sido cortadas dos filmes por conta de sua raça. 

1. Lourinha do Panamá (Panama Hattie) - 1942 

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Depois de quatro anos após dua estreia no mundo do cinema com o filme The Duke's On Top (1938), uma jovem Lena de 24 anos de idade estava de contrato assinado com o estúdio MGM e seu primeiro 'papel' foi no filme Lourinha do Panamá (Panamá Hattie) em 1942 como uma cantora no clube Phil's Place, gerenciado por Hattie (Ann Sothern) que conhece um jovem charmoso chamado Red (Red Skelton) e entre canções os dois tentam resolver suas diferenças para ficarem juntos. 

Lena Horne tem duas performances no filme: Just One of Those Things e The Sping, retratado no gif acima. O filme foi um fracasso de bilheteria, mas os críticos adoraram a performance de Lena. O jornal The New York Times anunciou: "Lena Horne, a novata em clubes da noite, anima em ritmo de rumba 'The Sping' com muito brilho." O filme A Lourinha de Panamá, hoje em dia, é memorável apenas por ser o primeiro filme dirigido por Vincente Minnelli, mesmo que não tenha sido creditado na época. 

Incrivelmente, Lena Horne nessa época já era mãe de seu primeiro filho, Terry Jones com seu ex-marido, Louis. 

2. Minha Vida é uma Canção (Words and Music) -1948

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O filme Minha Vida é uma Canção conta a história ficcionalizada, é claro, da parceria dos compositores de Richard Rodgers e Lorenz Hart. Mais uma vez, Lena Horne, participa de um filme com a maioria do elenco branco e é renegada ao papel de performance de duas músicas. Essas, no entanto, são o ponto alto de um filme bem medíocre. 

Em entrevista para o site NPR, a filha de Lena, Gail Lumet Buckley, revela que várias cenas de sua mãe eram cortadas para agradar ao povo no Sul dos Estados Unidos: "Em Minha Vida é Uma Canção, eles cortaram The Lady is a Tramp que ela cantou. Eles apenas tiravam. Tiravam as tesouras e cortavam quando o filme chegava na linha Mason-Dixon no Sul. Ela nunca poderia estar em algo que tivesse uma história mais profunda ou que fosse um momento crucial do filme." 

Curiosamente, entre as suas duas performances no filme Where or When e The Lady is a Tramp, a última é que ficou famosa, sendo gravada originalmente para o musical Babes in Arms em 1937. A versão mais conhecida mundialmente, no entanto, foi a de Frank Sinatra de quem Lena não gostava nada. Sobre isso, a biografia Stormy Weather: The Life of Lena Horne, conta que a cantora revelou: "Nós não gostamos um do outro. Isso começou com a Ava Gardner." Pelo jeito que o cantor não tratava Ava nada bem. 

3. Ziegfeld Follies (1946)

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Em Ziegfeld Follies,(1946), o grande empresário Florenz Ziegfeld, produtor teatral, interpretado por William Powell, decide tentar reviver, no céu, a sua série Ziegfeld Follies - que nada mais é do que produções elaboradas de musicais na Broadway - só que imaginando atores e atrizes famosos naquela época. O filme só tem astros: Lucille Ball, Fred Astaire, Judy Garland e, inclusive Lena Horne. 

A sua sequência no filme se chama Love, no qual ela canta sobre as felicidades e tristezas do amor. No set de filmagens, no entanto, ela estava odiando o seu cenário. Segundo a autobiografia de Fred Astaire, Steps in Time, ele conta que Horne não ficou nada feliz com o cenário 'favelístico' da cena do seu número e ela, inclusive, rejeitou lançar a canção comercialmente. 

Apesar de sua infelicidade com o cenário, Lena Horne, mais uma vez, arrasou em sua interpretação e os críticos adoraram. 

4. Duas Garotas e um Marujo (Two Girls and a Sailor) -1944

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Este é o primeiro de três filmes que Lena Horne participa que tem a June Allyson. Em Duas Garotas e um Marujo (1946), uma comédia bobinha dos anos 40, que tem duas irmãs competindo pelo amor do fofo marujo John, interpretado por Van Johnson. 

No filme, Lena Horne faz a performance da música Paper Doll, na qual John fica totalmente enamorado por ela, deixando Jean, interpretada por Gloria DeHaven, com bastante ciúmes. Com um longo vestido preto e seus cabelos presos, Lena Horne brilha até na tela preto e branco e com sua voz melódica arrebata a todos. 

Olha só o ciúmes da personagem de Gloria para o soldado Frank, vivido por Tom Drake:



5. Viva a Folia! (Broadway Rythm) - 1943

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 Em Viva a Folia! (1944) conhecemos a vida do produtor Johnny Demming (George Murphy) que procura uma grande estrela para o seu mais novo musical. Ele acaba escolhendo a estrela Helen Hoyt (Ginny Sims), que não acredita ser a pessoa certa para ele e que tenta convencer que é a família dele que merece estrelar a peça:  seu pai Sam (Charles Winninger) e sua irmã Patsy (Gloria deHaven). 

Lena Horne interpretaria no filme a personagem Fernway de la Fer. No começo, de acordo com a biografia Stormy Weather: The Life of Lena Horne, a atriz tinha um pequeno papel como uma dama de sociedade que faria par romântico com Eddie 'Rochester' Anderson, o outro único negro no elenco do filme. Apesar de 12 anos mais velho do que Lena, o casal improvável tinha até muita química nas telonas. O dueto seria o 'Tête a Tête in Tea Time', com os dois parando para tomar um chá e se apaixonando no processo. 

Infelizmente a cena foi cortada de Viva Folia! O motivo não foi divulgado, mas não é necessário ir até a fonte para saber o por quê: os estúdios provavelmente temiam um casal negro com uma história tão proeminente no filme. Lena, mais uma vez, apareceria como uma performance no filme em canções como Brazilian Boogie e Somebody Loves Me. 


A arte do filme The Rocky Horror Picture Show (1975)

*spoilers sobre o filme 

O filme The Rocky Horror Picture Show tem uma horda de fãs no exterior, principalmente nos Estados Unidos, onde teatros e cinemas sediam uma sessão especial onde todos os telespectadores vão com as roupas do filme e podem performar, ao vivo, todas as músicas dele. Já aqui no Brasil, por exemplo, o filme não é muito conhecido não e se você mostra um trecho de Rocky Horror já é capaz que o seu colega solte aquela frase: "Xii..que filme esquisito, ein?". 


The Rocky Horror Picture Show é um filme tão peculiar, mas tão peculiar, que nem sabe-se direito em que categoria encaixá-lo: seria comédia? terror? musical? drama? Os fãs do filme reconhecem que The Rocky Horror Picture Show não se encaixa em nada e é, exatamente por isso, que o filme tem tantos seguidores e amantes. Uma obra maravilhosa da sétima arte, que foi lançado em 1975 e já ganhou o merecido status cult

Divulgação/Gif
A começar pela história do filme, The Rocky Horror Picture Show não tem um roteiro delimitado. No começo conhecemos Janet (vivida por uma novinha Susan Sarandon) e Brad (Barry Bostwick), um casal que acabou de ficar noivo e por uma problema no carro acabam passando uma noite maluca na mansão assustadora do doutor Frank N Furter (Tim Curry), um cientista para lá de maluco com seus assistentes Magenta (Patricia Quinn), Columbia (Nell Campbell) e Riff Raff (Richard O'Brien). Dirigido por Jim Sharman e baseado na peça de Richard O'Brien, que interpreta Riff Raff no filme, a Rocky Horror Show que foi lançada em Londres, na Inglaterra, em 1973 com grande sucesso. A peça, tanto quanto o filme, homenageia os filmes de qualidade B de terror e de ficção científica de 1940 aos 1970. 

O diretor de arte do filme, Terry Ackland-Snow, afirma até hoje que se divertiu demais gravando The Rocky Horror Picture Show. Em uma entrevista para o canal Red Carpet News TV, ele revelou: "Era um ótimo filme, você podia fazer praticamente tudo e eles aceitavam. Era ótimo. No auditório nós tínhamos algumas cadeiras de praia e eles disseram para eu usar. Então eu as peguei, mas nós a fizemos todas em vermelho e branco. Só para ajudar o esquema de cores no set." 

O esquema de cores do filme é, no mínimo, essencial para contar essa louca história, Já na cena inicial dele, com os créditos, temos uma tela preta simples com uma boca carnuda pintada de vermelho dublando Science Fiction/Double Feature que é cantado pelo idealizador de Rocky Horror, Richard O'Brien. A cena é uma referência à pintura A l'Heure de l'observatoire: Les amoureux de Man Ray, que aliás, tem um website maravilhoso no Artsy com todas as suas obras, que são muitas e belas, vale super a pena conferir! 

Os lábios, no entanto, pertencem à atriz Patricia Quinn, a Magenta do filme                    Divulgação
Logo depois, a boca carnuda que com o vermelho representa muito bem o pecado e a transição, dá lugar à uma cruz de igreja, na qual está acontecendo um casamento. Mas não de nossos protagonistas e sim de seus melhores amigos da faculdade. É vendo essa união sagrada e Janet pegando o buquê que Brad finalmente lhe pede o casamento. Mas, como tudo na vida, existem dois lados de uma mesma moeda: ao lado da Igreja há um pequeno cemitério e, quando o casal entra de novo na sacristia, já há um caixão fechado ali, pronto para ser velado. O contraste dos símbolos mostra que o relacionamento dos dois não será nada usual. 

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Na próxima vez, no entanto, que vemos nossos protagonistas, eles parecem que estão em outro filme: um de terror quando, anteriormente, seria apenas um filme meio bizarro. Na chuva forte, dentro do carro, acontece um problema com o automóvel e eles não tem outra alternativa a não ser pediram ajuda em uma mansão assustadora que fica perto. Intencionalmente, ou não, ela se parece muito com a mansão do filme francês La plus longue nuit du diable (1971). 

Acima, a mansão do filme francês; abaixo de The Rocky Horror           Divulgação/Montagem
Assim que Janet e Brad entram na mansão no entanto, ela não é escura e assustadora como se imaginaria: suas cores são vibrantes, com vermelho, preto e azul e os convidados da festa são muito estilosos com seus óculos escuros e sua dança diferente: a de Time Wrap. O tapete vermelho, a escadaria com um pequeno trono, é quase como se todos esperassem seu grande mestre. E é exatamente isso que acontece. 

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Depois do número de dança, conhecemos o cientista Frank N Furter, que como a música Rebel Rebel do David Bowie descreve: "ninguém sabe se é uma menina ou um menino". Com seu longo robe preto com o colarinho alto, ele sai do elevador remetendo ao filme Drácula (1931). O cenário todo é construído como se fosse um grande palco: ao lado do trono há um organizador de fila com corda vermelha e um cartaz com os dizeres: 'Convenção Transilvânica'. Isso já deixa claro: Frank quer ser venerado com ares de grandeza iguais ao do vampiro mais famoso da literatura e do cinema, além de é claro, fazer um trocadilho com a palavra transexual, que significa uma pessoa que se identifica com um gênero diferente do qual nasceu. Aliás, para se tornar vampiro, a pessoa passa por uma transformação: muda seus hábitos e seu objetivo. Transformar-se, portanto, é a palavra principal de The Rocky Horror Picture Show. 

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O que nos leva a obra-prima do doutor Frank N Furter, o Rocky, que ganha uma montagem digna do filme Frankenstein (1931). O cientista maluco dá vida à sua grande obra: um ser humano feito não por Deus, mas pelo o Homem, Diferente do monstro de Frankenstein, no entanto, Rocky é um belo espécime da raça humana, tão belo e forte que há apenas rosa ao seu redor: uma cor feliz e pacífica. Outra sacada ótima do filme é o compartimento que Rocky está antes de nascer: o líquido é de um azul quase anil, mas quando o "monstro" finalmente sai do 'compartimento', as cores da caixa se tornam do arco-íris, remetendo à bandeira dos direitos LGBT. Quando isso acontece, Frank diz a sua criação: 'Você está fora!' ou seja, 'You're out (coming out)'. que é uma frase comumente usada nos Estados Unidos quando um homossexual revela-se. É uma celebração da sexualidade. 

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Quem também tem uma relação sexual pela primeira vez é a querida Janet, vivida por Susan Sarandon. E se você não assistiu o filme antes, o fato de sua virgindade dá para saber apenas ao prestar atenção ao cenário. Em sua cama, cedida gentilmente por Frank, a cor predominante é a vermelha. Se você andou prestando atenção na matéria saberá que essa cor é aquela liberta as personagens de suas inibições. Para o 'monstro' Rocky foi sua vinda ao mundo, para Janet foi sua primeira experiência íntima com outra alguém. Ela era virgem, já Brad, seu noivo, em sua cama acinzentada, também sabe-se que aquele não é, de longe, sua primeira vez. 

Janet acima; Brad abaixo                                         Divulgação/Montagem
E se no cenário, The Rocky Horror Picture Show é belíssimo, nas referências então esse filme arrasa completamente. Mais para o fim do filme, na cena com o banquete, há uma referência direta ao filme Festim Diabólico de Alfred Hitchcock, que tem a ver com um morto. Pois é não vou revelar mais nada sobre isso, é claro. Mas ainda tem muito mais: referências sobre Tarzan, o filme Cabaret e, uma ótima cena com Rocky e seu mestre, que remete ao filme King Kong (1933) e sua aversão ao fogo, assim como o monstro de Frankenstein. 

Rocky carrega seu mestre até o topo como King Kong fez com Ann no filme          Divulgação
Com um cenário belíssimo, carregado de simbolismo, é engraçado imaginar que, durante a gravação de The Rocky Horor Picture Show, a casa na qual o elenco gravava não tinha banheiro e nem sequer aquecimento durante o inverno. Mesmo assim, as artes das cenas se tornaram tão impactantes quanto a própria música e o figurino do filme. Por exemplo, a RKO Radio Picture é um estúdio americano famoso O close no cientista Frank na piscina, com o decalque da pintura de Michelangelo, A Criação de Adão, mostra que no filme, todas as personagens eram de Frank e que ele também, apesar de não parecer, tinha um criador pelo qual ele deveria voltar. Todos, no fim, pertencem à alguma coisa. O elo não está perdido. 

Magenta e Riff Raff, referência doO Dia que a Terra Parou com seu cabelo de noiva do Frankenstein      Divulgação
Essa é, enfim, a verdadeira arte de The Rocky Horror Picture Show. 



As Vozes na Casa do Fantasma Apaixonado de R.A Dick

Se você não conhece o autor R.A Dick você não está só: o nome é o pseudônimo da escritora Josephine Aimee Campbell Leslie, que publicou seu primeiro livro aos 47 anos de idade, logo depois do final da Segunda Guerra Mundial. 

Segundo o livro de estudo The Ghost and Mrs. Muir de Frieda Grafe, as iniciais R.A foram tiradas de seu pai, não coincidentemente um capitão do mar, que chamava-se Robert Abercromby. R.A Dick, ou melhor, Josephine supostamente nasceu no dia 8 de junho de 1898, em Wexford, na Irlanda, isso porque, não temos como saber ao certo dados pessoais da escritora. Em buscas de sites de genealogia e de documentos arquivados disponibilizados online, é impossível encontrar algo sobre Josephine. Será que ela se casou? Teria ela filhos? Ou seria uma mulher independente, à frente de seu tempo? 

Infelizmente, essas são questões que não podem, ainda, serem respondidas. Inclusive sua data de falecimento, do dia 10 de abril de 1979: o jornal The New York Times anunciou a morte de Josephine Leslie, mas seria a Leslie autora de The Ghost and Mrs. Muir (traduzido no Brasil como Vozes na Casa)? Impossível de saber. Não há sequer uma foto dela disponível. Quase como se ela fosse o fantasma da história! 

Gene e Rex em still do filme O Fantasma Apaixonado (1947)             Divulgação/Montagem
O livro The Ghost and Mrs, Muir foi lançado no Brasil em 1979 sob o título Vozes Na Casa pela editora espírita O Clarim. Agora você se pergunta: por que um romance de Hollywood ganhou o rótulo de espírita? O livro, lançado originalmente em 1945, conta a história de Lucy Muir(que significa mar em scots, uma língua da Irlanda do Norte), uma madame de alta sociedade que sempre teve uma vida confortável. Isso muda quando seu marido morre e ela descobre que mal tem o suficiente para se sustentar, ainda mais incluindo sua filha Anna e seu filho Cyril na equação. Decidida, no entanto, de se tornar independente e não depender da irmã entrona de seu falecido marido, ela se muda para uma pequena casa de campo em Whitecliff, na Inglaterra. 

O que ela não esperava era que a casa fosse assombrada pelo fantasma do antigo dono, um marinheiro chamado Gregg. Ela apenas consegue escutar sua voz, mas é o suficiente para que os dois mudem as vidas uns dos outros.

Em 1947 o livro de Josephine Leslie ganhou um tratamento para as telonas com Gene Tierney no papel da senhora Muir e Rex Harrison como o galante capitão Gregg. Natalie Wood, ainda bem novinha, faz um pequeno papel como a filha de Muir. O filme O Fantasma Apaixonado foi um sucesso de bilheteria e até foi indicado ao Oscar de Melhor Direção de Arte em Preto e Branco, mesmo perdendo para Grandes Esperanças (1946). O público pedia por mais dessa história impossível e em 1968 The Ghost and Mrs,Muir se transformou na série Nós e o Fantasma que ficou no ar por duas temporadas, apenas. Hope Lange, que interpretava a senhora Muir na série, no entanto, ganhou um Emmy por cada ano de sua performance no show. E se O Fantasma Apaixonado é mais sério, Nós e o Fantasma aposta no humor. E muito!





Já o livro escrito por Josephine e intitulado Vozes na Casa puxa para um lado bem mais espiritual. A senhora Muir pode ser vista como um protótipo de uma mulher feminista bem resolvida: ela não tem medo de enfrentar as situações de frente, se vira muito bem sozinha sem a presença de um homem e cria uma filha e um filho, que se tornam diferentes do que ela esperava. Ela, também se torna diferente do que os outros esperariam dela, basta-se analisar o primeiro parágrafo do livro: 
"A Senhora Muir era uma pequena mulher. Todo mundo concordava nisso. Enquanto outras era referidas como Senhora Brown ou senhora Smith, ela era, invariavelmente, chamada de 'senhorinha Muir' ou 'querida senhorinha Muir' e recentemente 'pobre e pequenina senhora Muir'." 
O fantasma do capitão Gregg e a senhor Muir coexistem no mesmo espaço e se tornam amigos e cuidam um do outro de um modo que não se espera em uma situação tão fora do comum. Jornais da época o noticiaram como um best-seller, o que aconteceu com a personagem do livro também. Sem dinheiro, Lucy Muir é persuadida pelo capitão a escrever um livro sobre suas aventuras no mar, em pseudônimo, para conseguir continuar vivendo na casa de campo e ao lado do fantasma. Um paralelo com a vida real de Josephine, que também escutou, assim como Muir, que livros escritos por mulheres não vendem. 

A tradução de Vozes na Casa da edição de 1979 deixa um pouco a desejar. Algumas frases não foram traduzidas corretamente e o leitor se sente perdido no livro. O Clarim relançou o livro em 2006, com uma capa que remete ao filme O Fantasma Apaixonado, e com uma tradução mais bem acabada. O livro, aliás, está disponível no original, em inglês, pela Amazon, também. 


The Ghost and Mrs. Muir (Vozes na Casa) tem história tocante, com duas personagens protagonistas que se complementam como feijão e arroz, ou melhor, como um capitão e seu mar, Vozes na Casa é um desses livros que mostram a realidade da vida de solteira, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, na qual milhares de esposas perderam seus maridos e tiveram que aprender a se virarem, mas também mostra o lado doce de um amor quase impossível e que quebrou a barreira do tempo e até da carne, muito além do que ' até que a morte os separem.' 






Livro: Vozes na Casa
Autor: RA Dick (Josephine Leslie)

Onde comprar? 
O Clarim: (clique aqui)  Amazon: (clique aqui)
Estante Virtual: (clique aqui)
Mercado Livre: (clique aqui)




*editado em 18 de abril de 2017 para informar que a edição de 2006 do livro Vozes na Casa está com a tradução revisada e link mais visível para o site da Editora. 

Dean Martin e Elizabeth Montgomery em Quem Anda Dormindo na Minha Cama? de 1963

Elizabeth Montgomery ficará para sempre conhecida como a feiticeira Samantha Stevens da série A Feiticeira (Bewitched) que ficou no ar na televisão americana por oito temporadas, apesar do falecimento de personagens importantes no meio do caminho, como o ator original de Darrin Stephens, Dick York, e Alice Pearce que interpretava a icônica Gladys. Já Dean Martin, por mais que ele quisesse se esquecer da parceria, ele também divide a mesma situação de Elizabeth: sua dupla com o comediante Jerry Lewis foi tão bem-sucedida que quando eles se separaram, muitos ficaram em pânico apenas com a perspectiva da separação, que aconteceu de fato em 1956. 

Tanto Elizabeth quanto Dean sabem como é ficar na sombra de um papel que é muito maior do que eles, por isso quando eles se encontraram para gravar a comédia Quem Anda Dormindo na Minha Cama? (Who's Been Sleeping in My Bed?) , Dean estava tentando novas propostas para sua carreira enquanto Montgomery, apesar de ser filha do famoso ator Robert Montgomery, ainda patinava em filmes e séries feitos para a televisão. Em Quem Anda Dormindo na Minha Cama? é a única vez que vemos Elizabeth, em um filme de alto orçamento, sendo a protagonista da trama. Para se ter uma ideia, a figurinista do filme é a Edith Head! 

Elizabeth Montgomery faz uma de suas cenas mais sensuais no filme                              Divulgação/Gif
No filme Quem Anda Dormindo na Minha Cama? Dean Martin interpreta Jason Steele, um ator famoso que interpreta um médico carinhoso e leal na televisão. Ele está noivo da professora de arte Melissa Morris, vivida por Elizabeth, e morre de medo que a sua vida de casado se transforme na mesma que seus amigos: sem amor. Para piorar, todas as esposas de seus amigos, que incluem atrizes como Jill St. John - atualmente a segunda mulher de Robert Wagner, anteriormente casado com Natalie Wood - Macha Méril e Yôko Tani. 

Lançado pelo estúdio Paramount Pictures em 1963, a película conta com a direção de Daniel Mann, famoso por filmes mais sérios como A Rosa Tatuada (1955), com a magnífica Anna Magnani que apareceu em uma cena de Cinema Paradiso, e Disque Buterfield 8 (1960) que ganhou um Oscar de Melhor Atriz para Elizabeth Taylor. Infelizmente, a partir da metade dos anos 60, a produção do diretor declinou e vemos isso nesta comédia bem água com açúcar, mas que vale a pena pelo humor e a parceria acertada dos protagonistas, além da presença de Carol Burnett - a primeira mulher a ter seu programa de variedades-, como a melhor amiga de Melissa, Stella Irving, em seu primeiro filme. 

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Vale lembrar que durante as filmagens de Quem Anda Dormindo na Minha Cama, Elizabeth Montgomery e Carol Burnett se tornaram grandes amigas e permaneceram assim até a morte de Elizabeth em 18 de maio de 1995. Na biografia The Essential Elizabeth Montgomery: A Guide to her Magical Performances de Herbie J Pilato, conta-se que as duas se deram bem logo de cara e pregavam pequenas peças umas nas outras, para o divertimento no set. 

Outra curiosidade do filme que muitas pessoas talvez não saibam é que Quem Anda Dormindo na Minha Cama? tinha uma música tema intitulada Who's been sleeping in my bed? interpretado pela cantora Linda Scott e nunca foi usada no filme. Isso porque, na época, a cantora não era mais tão requisitada assim e a Paramount resolveu lançar tanto a canção quanto o filme como motivo compensatório: se o filme não fosse tão bem ainda teriam a música para ganhar um pouco mais de dinheiro. Infelizmente o hit de Linda Scott ficou apenas uma semana nas paradas de sucesso. 



O filme como conta Carol Burnett em sua autobiografia This Time Together - Laughter and Reflection, era como algodão doce: "Uma daquelas comédias que tem tanta substância quanto um algodão doce. Eu não estou querendo derrubar o filme: às vezes algodão doce pode ser satisfatório quando você está no clima para isso. Só não tinha muito no filme, é isso." Com certeza o filme transmite aquela sensação de sessão da tarde, mais sofisticado e com altas gargalhadas, mas não é inspirada. Uma comédia esquecível, que às vezes, é a melhor pedida para uma tarde entediante de final de semana. 

E se você não acredita Quem Anda Dormindo da Minha Cama ainda tem a aprovação da própria feiticeira. Duvida? Pois dizem que no minuto 37 do filme, quando a personagem de Elizabeth, Melissa, vai visitar o noivo, toca-se uma músico muito similar com o tema de A Feiticeira. Confira a coincidência abaixo: 



E lembre-se: algodão doce é docinho e reconfortante e muitas vezes é isso que precisamos ao assistir um filme, por mais que inúmeras mulheres perseguindo Dean Martin, mesmo sendo super charmoso, seja um pouco tolo. 


O relacionamento de Angel e Buffy pelos filmes

*spoilers sobre a série Buffy: A Caça-Vampiros

Sarah Michelle Gellar, famosa pelo seu papel como Buffy Summers na série Buffy The Vampire Slayer (1997-2003), é assumidamente uma fã do casal Buffy e Angel, vivido na série e no spin-off homônimo por David Boreanaz. Inclusive, ela acredita tanto no ship que revelou, em entrevista para a edição de 20 anos da série para a revista Entertainment Weekly, que até já recebeu ameaças de morte por isso: "As pessoas me perguntam quem eu achava que era o cara para a Buffy e eu recebia muito ódio e ameaças de morte, sério. Tinha algo muito lindo para mim sobre a história de Buffy e Angel. Eu acho que Spike entendia uma parte diferente de quem ela era, e precisava descobrir e explorar isso. Mas, para mim como Buffy, é o Angel." 
Angel e Buffy ficaram juntos por três temporadas                                              Divulgação/Gif
O romance conturbado entre a matadora de vampiros e o reformado Angel, anteriormente conhecido como Angelus, um dos vampiros mais sanguinários da história, pode relembrar, de relance, o romance de Edward e Bella de Crepúsculo, mas as semelhanças acabam assim que o telespectador conhece à fundo as personagens. E como toda a série que se preza, Buffy: A Caça-Vampiros soube como unir perfeitamente as referências cinematográficas com a história de amor entre nossa protagonista e o vampirão da vez. 

1º referência: Reptile Boy - Episódio 5 da 2º temporada
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Se na primeira temporada, o relacionamento de Buffy com Angel é algo mais morno, é na segunda que os dois começam, pouco a pouco, a se unirem cada vez mais. E o episódio intitulado Reptile Boy é a primeira vez em que o vampiro a convida para sair, num encontro formal. O curioso é que a cena de abertura do episódio é com Willow (Alyson Hannigan), Xander (Nicholas Brendon) e Buffy sentados na cama, assistindo um dos filme bollywoodianos favoritos de Willow: Kshatriya (Guerreiro) de 1993. 

O filme conta a história de duas famílias rivais, a Mirtagarth e a Surjangarh, que anualmente se reúnem para duelar, com o vencedor tendo a honra de sacrificar um búfalo em nome de sua família. O único problema é que os dois descendentes mais novos das famílias são amigos e não querem mais dar continuação a tradição. Isso é, até voltaram à sua cidade natal, quando eles percebem que que hábitos antigos são ainda mais difíceis de quebrar do que amor e amizade. 


 O filme está disponível, na íntegra, pelo Youtube                                                Divulgação


Essa noção é, apesar de breve, uma conexão interessante com o romance de Angel e Buffy, apelidados carinhosamente de Bangel. Buffy é uma humana caça-vampiros cuja a tradição é matar vampiros. Angel, apesar de reformado com uma alma, tem como seu instinto principal matar pessoas. O amor entre eles é grande, mas será o suficiente para conseguir quebrar tradições? É este o questionamento do episódio que termina em uma nota positiva para os pombinhos, mas não por muito tempo.

Mais uma vez a tradição os atrapalha. 


2º referência: Innocence - Episódio 14 da 2º temporada
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Angel e Buffy finalmente ficam juntos no sentido bíblico, se é que vocês entendem, e numa reviravolta clichê, Angel se transforma novamente em seu alter ego maligno Angelus, já que ao viver uma noite de felicidade plena com a caça-vampiros, ele perdeu o direito de ter uma alma. Assim, Buffy tem que lidar com muitas coisas de uma só vez: o fato de comemorar 17 anos de idade, de perder a virgindade e de ter seu coração partido pela primeira vez. 

Assim, no final do episódio sabiamente intitulado como Innocence, traduzido como Inocência, vemos nossa heroína arrasada, sentada no sofá ao lado de sua mãe, assistindo à um antigo filme meloso, que como Buffy mesmo conta: "Tem muito canto e dança." O nome do filme é Pequena Clandestina (Stowaway), de 1936, com a atriz mirim Shirley Temple, além de Alice Faye e Robert Young. 

 Goodnight, my love é o trecho do filme que aparece em Buffy                                                 


A película é uma típica comédia musical com aquele gostinho doce de final feliz. Shirley interpreta uma órfã chamada Ching Ching, que depois de se perder em Xangai, na China, acaba entrando clandestinamente no navio do playboy milionário Tommy Randall (Robert Young). Com seu jeitinho cativo, Ching Ching logo consegue se safar do seu problema, já que tanto Tommy quanto uma passageira chamada Susan Parker (Alice Faye) se encantam pela pequena, se apaixonam e decidem adotá-la. 

Esse é um ideal romântico, de felizes para sempre com filhos e amor descomplicado, que Buffy logo começa a entender que nunca poderá ter. É a perda de sua inocência de achar que apenas o sentimento do amor é o bastante, já que seu sonho de tudo ser resolvido ao lado de seu amado foi logo destruído. É algo que ela não consegue recuperar jamais: sua inocência do primeiro amor. 


3º referência: Enemies - Episódio 17 da 3º temporada 
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O último filme que Buffy e Angel assistem juntos é, apropriadamente chamado Le Banquet DAmelia, ou seja, o Banquete de Amelia. A cena inicial do episódio mostra o casal saindo acanhado do cinema, já que depois que Angel finalmente retornou à Sunnydale com sua alma, dando adeus à Angelus, os dois tiveram que lidar com um problema importante: eles não podem fazer sexo já que é assim que o vampiro corre risco de perder sua alma de novo. Portanto, apenas uns beijos aqui e acolá, mas nada de uma intimidade maior. 

Curiosamente Le Banquet D Amelia não é um filme real, ele foi inventado para o roteiro da série como um paralelo entre os desejos sexuais de Buffy e Angel e como eles se relacionam com abstinência. O casal não fala muito sobre o filme, mas tira-se a conclusão de que é uma obra artística-erótica estrangeira, que envolve sexo e comida. Isso se entrelaça com o episódio Graduation Day da 3º temporada, na qual para Angel sobreviver deve tomar o sangue de nossa caça-vampiros, numa cena orgásmica que relaciona mais uma vez a necessidade da relação sexual entre o casal e a relação de alimento que Angel tem com o sangue, mesmo que sua alma esteja restaurada. 

Há uma cena no filme ficcional com quimonos que Buffy menciona ao tentar apaziguar as sensações eróticas entre os dois, dizendo que ela não possui tal figurino e, então, nunca poderia realizar tal ato sexual. Já Darla, a primeira namorada de Angel e a vampira que o transformou em um ser da noite, aparece com um uniforme de colégio religioso para ele na primeira temporada de Buffy e a primeira coisa que o vampiro diz é: "O que é este visual de estudante católica? Da outra vez que te vi eram quimonos." Ou seja, é uma referência, também, ao passado de Angel no qual ele aproveitava os prazeres da carne sem qualquer arrependimento. 

Os três filmes, aliás, provém ao telespectador uma visão abrangente do relacionamento de Buffy e Angel: o primeiro mostra as dificuldades de se superar anos de tradição, mesmo amando alguém; o segundo mostra o ideal romântico de Buffy se partindo para introduzir uma visão mais realista, que mesmo sem sexo, é baseada na confiança e no autocontrole de ambos, por se amarem tanto. É evolução natural da vida e do amor. Por mais normal que seja uma relação entre uma caça-vampiros e um vampiro, afinal. 


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