A passagem turbulenta de Ava Gardner no Brasil (1954)

Foi com o filme A Condessa Descalça (The Barefoot Contessa, 1954) que Ava Lavínia Gardner cimentou seu lugar no mundo do cinema com a alcunha de 'o animal mais belo do mundo.' Com seus olhos expressivos e um rosto considerado incrivelmente belo, os fãs brasileiros não se cansavam de Gardner, enfrentando cinemas lotados apenas para ver a tão maravilhosa estrela. E quando Ava chegou ao Brasil, no dia 7 de setembro, para promover A Condessa Descalça (1954), a quantidade de fãs era tanta que Ava até ficou assustada! 

Ava chegando ao Rio de Janeiro e sua horda de fãs                     Divulgação/Última Hora e Scena Muda
De acordo com a revista Carioca do Rio de Janeiro, da data de 18 de setembro de 1954, a confusão aconteceu logo no aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, com a chegada da atriz, que ficou intimidade pela agrupamento: "Logo ao descer do avião fui cercada por uma multidão de fãs exaltados que não souberam conter o seu entusiasmo, dando largas ao seu instinto de curiosidade em relação ao meu corpo. Assim, mãos e braços forçavam-me e entrelaçavam-me por todos os lados. Fui forçada a fugir daquele turbilhão de gente, que estava no recinto. " Se Ava parece estar na defensiva com esta frase, isso é bem verdade: ela foi rotulada pela imprensa como mal educada e bardeneira em sua estadia no Brasil! 

Ava Gardner chegou ao Brasil, especificamente no Rio de Janeiro, no dia 7 de setembro de 1954, às 23h30. Mesmo com o horário tardio da chegada, milhares de fãs estavam esperando a grande estrela, que parava no Brasil depois de estadias em Montevidéu, no Uruguai e em Buenos Aires, na Argentina. A confusão, no entanto, só estava começando para a bela atriz - além dos gracejos indevidos dos fotógrafos quando ela desceu do avião; Ava viajava na cabine do piloto e foi a última a desembarcar do voo- no aeroporto do Galeão, ela ainda sofreu com o assédio da "mão-boba" de vários homens e fãs que queriam tocar no corpo dela. Ava, é claro, ficou indignada! 

Ava já no caminho ao hotel Glória, no qual ela ficou apenas por pouco tempo       Divulgação/ ScenaMuda
A alfândega brasileira também não deu sossego para a atriz e revistaram minuciosamente suas malas. Ava, ficou muito nervosa com a situação -ainda por não ter pedido um visto diplomático- e acabado seus deveres com no aeroporto, refugiou-se no Hotel Glória, no quarto 900, o mais chique, onde ficaria hospedada por toda sua visita à capital. Dizem que a estrela -que entrou descalça e com roupas desalinhadas- chegou fazendo bagunça no hotel, quebrando móveis, bebendo uísque e se mudando para o Hotel Copacabana, no luxuoso anexo 4, logo depois porque todos os seus colegas de Hollywood que foram ao Brasil falaram muito bem do hotel. Ficaria no Copacabana e estava decidido. 

Na coletiva de imprensa com os jornalistas brasileiros, Ava revelou que não era verdade que havia feito uma bagunça no hotel Glória, admitindo apenas, segundo noticia o jornal Última Hora, que ela havia "quebrado só um copinho", fato que foi confirmado por David Hanna, o empresário da atriz. Fotos do quarto destruído apareceram na imprensa, mas Gardner continuou com sua versão da história, afirmando que as fotos foram montadas. Diferente da estadia do superastro, Tyrone Power, Ava se apresentaria no clube carioca, Boite, mas isso logo foi negado pelo próprio publicitário da United Artists, Gilberto Souto, que conseguiu fazer com que Gardner viesse ao Brasil. 

Ava Gardner maravilhosa durante a coletiva de imprensa no Hotel Copacabana Palace       Divulgação/Carioca
A empregada de Gardner, Mearene Jordan, também causou uma baita de uma impressão nos jornalistas: apresentada pelos jornais como uma sofisticada negra, admiraram-se a qualidade e a nobreza de suas roupas. Ava, aliás, não entendeu por que tanto bafafá sobre essa situação. Mas o escândalo continuou: principalmente com a 'saia justa' do cocktail/entrevista que aconteceria no Hotel Glória, mas teve que ser mudado às pressas para o Copacabana. Lá, alias, Ava foi servida pelo maitrê José Caribé da Rocha, com o melhor da comida e da bebida, dividindo seu espumante com alguns dos músicos do hotel, já na madrugada do dia 8 de setembro, algumas horas depois de sua chegada.  

No dia seguinte, ou melhor, mais tarde no mesmo dia, Ava Gardner foi toda sorrisos à imprensa, usando um lindo vestido midi que ressaltava toda sua beleza natural.  A estrela tentou esclarecer o mal entendido de ter se referido aos brasileiros como 'selvagens' ao se queixar da multidão descontrolada: "Muita gente, nova luta para chegar ao elevador e finalmente aos aposentos. Creio que logo depois que cheguei ao hotel disse alguma coisa a um rapaz que depois descobri ser repórter. Não sabia que minhas palavras seriam registradas daquela maneira pela imprensa. Torceram a verdade." 

Ava ainda na coletiva de imprensa brasileira                            Divulgação/Carioca
A imprensa brasileira estava realmente desgostosa com David Hanna, o empresário da atriz, chamando sua influência sobre Ava de nefasta e enfatizando como ele ficava bêbado constantemente. Os jornais diziam que sem ele, Ava ficava bem mais simpática e essa empatia a deixava ainda mais bela. Ramalho Neto, jornalista da revista Scena Muda, deu uma declaração exclusiva sobre a diva: "Naquele momento interessava (e muito) a ele e seu agente, que é um americano não muito cordial, desfazer a má impressão causada e tão comentada pelos jornais." 

Mesmo assim, a estadia de Ava Gardner no Brasil foi bem curta no Rio de Janeiro e no dia 9 de setembro, ela já estava embarcando no avião rumo à Caracas, na Venezuela, onde ela ficaria apenas três dias, retornando aos Estados Unidos para começar a trabalhar no filme A Encruzilhada dos Destinos (Bhowani Junction, 1956). Ava foi levada para o aeroporto do hotel por Harry Stone, representante no Brasil da Embaixada Americana, no qual embarcou no avião da Pan-American, em um voo noturno. A estadia de Ava Gardner no Brasil estava planejada até o dia 11 de setembro, mas dizem que a repercussão da estrela no Brasil foi tanta nos Estados Unidos, que foi decidido que seria melhor ela sair do país de vez. 
Ava embarcando para Caracas, na Venezuela e posando com jornal do dia antes de partir                   Última Hora
A revista Carioca de 1954 também noticiou que Ava, que estava em processo se separação de Frank Sinatra, teria tido um breve romance com o cantor do Capacabana Palace, Carlos Augusto, dando-lhe uma caneta-tinteiro como presente - mesmo que a noite não tenha sido lá muito produtiva. José Lewgoy, aliás, foi o único ator a conversar com Ava em sua estadia, como noticiou a imprensa. 

A estadia, aliás, não foi bem aproveitada por Ava Gardner, que de volta aos Estados Unidos, disse que nunca mais voltaria para o Brasil, além de ter ficado chocada com o tratamento dos fãs e da imprensa. Ava cumpriu sua palavra e, infelizmente, nunca mais pôs os pés no país. 

Um close-up do rosto maravilhoso, mas turbulento de Ava                                    A Noite

Jayne Mansfield para o filme Sabes o que Quero (1956)

A vida de Jayne Mansfield é uma doce contradição de Hollywood: apesar de ter possuído, supostamente, um QI de 163, ter sido fluente em cinco línguas (inglês, francês, alemão, italiano e espanhol), além de grande conhecedora de filosofia e saber tocar o violino; em sua carreira no cinema ela ficou renegada à papeis que somente mostravam seu corpo e reforçavam o estereótipo de 'loira burra', assim como acontecia com Marilyn Monroe. Sobre isso, Jayne desabafou: "Na Universidade do Texas, descobriram que eu tinha um QI de 163. Todo mundo ria quando eu mencionava. Não falei mais. Em Hollywood, eu percebi que arruinaria minha imagem feminina e sexy. Quem quer uma loira com cérebro?" 

Ela se casou cedo, com 17 anos, com um militar, mas surpreendentemente, ele a apoiou em sua decisão de se tornar uma estrela e assim que foi dispensado do serviço, eles se mudaram para Los Angeles. Paul, no entanto, aguentou o estilo Hollywood apenas por alguns meses, divorciando-se, enfim, de Jayne. Foi em 1956, depois de uma temporada bem-sucedida na Broadway que Mansfield conseguiu sua grande chance com o filme Sabes o Que Quero (The Girl Can't Help It, 1956), que a fez ganhar seu tão merecido Globo de Ouro por ser a mais promissora novata de Hollywood. 

Jayne Mansfield em cena do filme Sabes o Que Quero (1956)                           Divulgação/Gif
Sabes o Que Quero (1956) conta a história do gangster Marty 'Fats' Murdock, vivido por Edmond O'Brien que está determinado em transformar sua maravilhosa, mas boba namorada Jerri Jordan, interpretada por Jayne Mansfield, em uma estrela do mundo da música. Para isso ele intima Tom Miller, vivido por Tom Ewell, para produzir a futura estrela. Mas Jerri, com seu nome verdadeiro sendo Georgiana, não se importa com nada disso e preferiria ser uma mãe e esposa devotada.

A primeira escolha para o papel de Jerri Jordan tinha sido a atriz Sheree North, mas com o contrato de Jayne firmado com o estúdio Twentieth Century Fox, ela foi escalada para o papel. O filme Sabes o Que Quero (1956) foi filmado, aliás, de tal maneira que, se Jayne e seu corpo não fossem um chamariz suficiente, a música rock n' roll, que estava em alta na época, seria mais do que suficiente. Canções como The Girl Can't Help It, a música tema do filme, cantada pelo rei do rock Little Richard - que inclusive participou do filme, Cry me A River por Julie London e Twenty Flight Rock por Eddie Cochran. 

Jayne, que na época era vista como uma resposta dos estúdios para a persona de Marilyn Monroe, copiou inúmeros maneirismos da estrela para seu primeiro papel de protagonista. Ao invés de seu sotaque texano forte ela duplicou o som e até a respiração diferenciada que Marilyn também usava. Outro ponto de semelhança entre as duas era que a caminhada sexy de Jayne no filme Sabes o Que Quero relembra e muito a caminhada icônica de Monroe em Torrente de Paixão (Niagara, 1853). Mas será que era isso que Jayne queria: imitar Marilyn Monroe? Ou era mais provável ser uma demanda do seu estúdio, já que também escalaram Tom Ewell que estrelou em O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955) para contracenar com Mansfield? A segunda opção parece ser muito mais plausível. 


O filme, aliás, também tem o envolvimento indireto de grandes estrelas da música: Elvis Presley e os The Beatles. De acordo com a biografia Here They Are Jayne Mansfield de Raymond Strait, Buddy Adler, o produtor-chefe do estúdio de Jayne achou que seria uma combinação incrível ter Elvis com sua pelvis famosa sendo referenciado junto ao corpo lindo de Mansfield. A mistura, em sua opinião, seria explosiva! Jayne também ficou animada em conhecer Elvis e esperava que a proposta desse certo. Buddy falou com o empresário de Elvis, o Coronel Tom Parker, que cobrou 50 mil dólares para que o músico cantasse duas músicas no filme. Buddy ficou receoso, pois não sabia se o investimento valeria a pena. Parker, então, fez outra proposta, dessa vez com uma moeda - se desse cara o estúdio ganharia Elvis de graça e mais uma canção, se desse coroa, Parker cobraria o dobro pelas duas canções, ou seja, 100 mil dólares. Buddy desistiu do trato na hora.

Agora foi uma das canções que estavam realmente no filme que ajudaram Paul McCartney a entrar para os The Beatles, que naquela época ainda eram os The Quarrymen. O filme Sabes o Que Quero e sua trilha sonora fizeram um sucesso incrível em Liverpool, nos Estados Unidos, incluindo Twenty Flight Rock do Eddie Cochran, que Paul aprendeu a tocar e que impressionou John, que acabou o colocando na banda que mais tarde se tornaria o grupo musical mais influente de todos os tempos. Isso que é poder, Jayne Mansfield!





Sabes o Que Quero (The Girl Can't Help It, 1956), chamaria-se Do Re Mi, mas a ideia foi descartada e o seu lançamento aconteceu em dezembro de 1956. Naquela época, aliás, Jayne Mansfield já estava namorando o pugilista Mickey Hargitay e como seu guarda-roupa para o filme era luxuoso, no total, foi gasto 35 mil dólares nele, Jayne amou tanto seu vestido de noiva do filme que o usou em seu casamento com Mickey, em 14 de janeiro de 1958.

Jayne em Sabes o Que Quero (1956) e no casamento com Mickey dois anos depois         Divulgação/Montagem
Com Mickey, Jayne teve três de seus cinco filhos, incluindo a ganhadora do Emmy e estrela da série Law & Order: SVU, Mariska Hargitay. Jayne divorciou-se três vezes e sua vida teve um trágico fim quando ela morreu, aos 34 anos de idade, em um acidente de carro na alto estrada, ao lado de seu empresário e companheiro Sam Brody, seu motorista Ronnie Harrison e seus cinco filhos. Os adultos morreram instantaneamente, mas as crianças sobreviveram com apenas alguns arranhões. Apesar dos rumores, Jayne não foi decapitada no acidente, apenas sofreu um trauma pesado na cabeça, que provavelmente, ocasionou uma morte quase instantânea.

Apesar de sua triunfante estreia como protagonista no filme Sabes o Que Quero e se tornar ganhadora do Globo de Ouro daquele ano, ao lado de estrelas como Natalie Wood e Caroll Baker, a carreira de Jayne nunca atingiu todo seu potencial e antes de morrer estava enfrentando inúmeras dificuldades na carreira, participando de filmes estrangeiros de qualidade B e até tirando suas roupas e fazendo cenas extra sensuais em filmes para continuar no cinema: que era sua verdadeira paixão.


Sobre o seu filme Sabes o Que Quero (1956), provavelmente o maior sucesso de sua carreira, Jayne Mansfield foi clara, como conta o livro Jayne Mansfield: A Bio-bibliography de Jocelyn Faris: "Aquele 'it' no título se refere, com certeza, ao apelo sexual. O que mais poderia ser? Eu interpreto uma garota que tem o corpo mais lindo do mundo, mas que não faz ideia de seu apelo sexual. A única coisa que ela quer ser é uma esposa e uma mãe. Mas o sexo interfere o tempo todo. Você poderia dizer que essa personagem é muito como eu. Por isso é que esse papel é perfeito para mim - eu compreendo essa personagem."


O figurinista Gile Steele para o filme Scaramouche (1952)

O caso de Gile 'McLaury' Steele é misterioso e esse adjetivo nem começar a cobrir tudo: o figurinista, especializado em desenhar trajes para homens em filmes, nasceu em Ohio, nos Estados Unidos, em 24 de setembro de 1908 e em 1929, ele já estava em Los Angeles, na Califórnia, trabalhando sua grande paixão de ser pintor e, posteriormente, tornando-se figurinista do estúdio MGM em filmes como Mademoiselle Frou Frou (1938) e Maria Antonieta (1938). 

Gile Steele ao lado de Edith Head                                      Rex Features/Reprodução
Mesmo com uma carreira estelar na moda, pouco se sabe sobre Gile Steele, além do fato de ser um figurinista ganhador de dois Oscars de Melhor Figurino pelos filmes Sansão e Dalila (Samson and Delilah, 1949) e Tarde Demais (The Heiress, 1950); de ser um dos melhores amigos da figurinista legendária Edith Head e por ter morrido precocemente com 43 anos de idade, em 16 de janeiro de 1952, quando se afogou ao ficar preso em seu carro durante uma terrível tempestade que aconteceu em Los Angeles e que deixou milhares de pessoas desabrigadas e feridas. 

Apesar de nunca ter ganhado um Oscar sozinho - ele compartilhou os prêmios com outros figurinistas, inclusive Edith Head, já que todos colaboraram juntos nas películas - ele criou trajes lindíssimos para obras clássicas como A Ponte de Waterloo (Waterloo Bridge, 1940), Idílio em Do-Re-Mi (For me And My Gal, 1942), nos quais ficou responsável pelos figurinos masculinos, e um dos clássicos cinematográficos, com trajes de tirar o fôlego, o belo Scaramouche (idem, 1952) baseado livremente no livro homônimo de Rafael Sabatini. Neste filme, Gile desenhou o esboço de todos os trajes, tanto dos homens quanto das mulheres e o resultado são roupas incrivelmente belas. 


Stewart Granger e Janet Leigh em cena do filme Scaramouche (1952)                         Divulgação/Gif
Apesar de Scaramouche (1952) ter sido, originalmente, desenvolvido para ser estrelado por Elizabeth Taylor, Ava Gardner e Errol Flyn, os três recusaram os papeis, que ficaram à encargo de Janet Leigh, Eleanor Parker e Stewart Granger. A película conta a história de Andre Louis Moreau, vivido por Stewart Granger, um jovem bon vivant que acaba se apaixonando por Aline, interpretada por Leigh, que ele mal sabe que já está prometida ao Marques de Mayne (Mel Ferrer). Enquanto isso, ele também tem um relacionamento quente com Leonore, interpretada por Eleanor Parker, com os dois ficando entre tapas e beijos, literalmente.  

Os rascunhos de Gile Steele para o filme, que se passa no século XVII, não são os mais precisos em termos de trajes: a maioria dos figurinos feitos por ele são muito curtos e cavados para serem uma representação real da época, isso sem falar das perucas que são brancas e 'certinhas' demais, parecendo mais cabelo branco real do que uma cabeleira artificial. Naquele século, a moda em voga eram decotes quadrados, rendas e mangas muito bem ajustadas. 



                       O esboço de Gile e a confecção sendo feita              Divulgação/MGM Greatest Backlot
Apesar dessas inconsistências, Gile fez um trabalho incrível ao desenhar os figurinos, mesmo que não tenha sido ele mesmo que tenha os costurados. O trabalho ficou para os funcionários do Departamento de Figurino do estúdio MGM, que trouxeram a visão de Gile Steele à vida.  

A personagem Leonore, interpretada por Eleanor Parker, tem os figurinos mais espalhafatosos de Scaramouche (1952). Por ser uma atriz e se apresentar constantemente no palco, Leonore tem uma personalidade expansiva e decidida, o que se transfere claramente para suas roupas. Cores fortes como o rosa, o verde e o preto estão sempre presentes em seu guarda-roupa, combinando com seu cabelo ruivo, que diferente do estilo da época, nunca está acompanhado de uma peruca e é usado de forma solta. Esse é mais um toque da personagem, que não se encaixa nas convenções de seu tempo. 



Eleanor Parker é a única atriz do elenco ainda viva, ela tem 95 anos de idade       Divulgação/ Montagem
Já Aline, personagem vivida por Janet Leigh é exatamente o oposto da fogosa ruiva. Aline é puro refinamento, com roupas delicadas e de tecidos mais claros, mantendo-se sempre como um membro da realeza. A inocência de Aline se contrasta muito bem com a impetuosidade de Elenore e os seus trajes revelam essas características. Janet Leigh teve, inclusive, que aprender a andar de lado no cavalo para honrar o papel de uma das personagens mais inspiradas de Rafael Sabatini, como conta a biografia Janet Leigh: A Biography de Michelangelo Capua. 


Janet Leigh era outra grande beldade do sucesso Scaramouche                Divulgação/Montagem
Mas é nas vestimentas para os atores do filme que Gile Steele realmente acerta! E também, não é para menos: o estilista era especializado nisso e havia ganhado dois Oscars por seu trabalho. O número de detalhes nas vestimentas masculinas provam sua habilidade e interesse pelo assunto. Enquanto as roupas de Andre são mais simples fora do palco e espalhafatosas nela, o Marquês é requinte puro, com brilhos, calças apertadas e perucas dignas de um nobre com muita classe. 


Mel e Stewart  encenam a mais longa luta de espadas da história do cinema:6 minutos                            Divulgação/Montagem 
Inúmeras peças do filme sobrevivem até hoje e foram recentemente leiloadas por diversos sites renomados nos Estados Unidos. Neles, incluem em sua maioria as roupas de palco da personagem Eleonore e alguns dos coletes usados por Andre, personagem de Stewart Granger. 


Fotos atuais dos trajes, incluindo o salto de Eleanor no filme                                   Divulgação
Gile Steele pode até não ser lembrado mais hoje, mas seus figurinos e as belezas de seus desenhos terão para sempre um lugar no mundo do cinema. Pois "ele nasceu com o dom da risada e o senso de que o mundo era louco." Louco pela moda. 


5 cenas homossexuais pioneiras das telonas

O mês de junho foi o escolhido para comemorar o mês da Parada do Orgulho Gay - posteriormente LGBT, mas não por uma coincidência. Foi em junho, lá em 1969, nos Estados Unidos que aconteceram as chamadas "revoltas de Stonewall' - Stonewall Inn era um bar em Nova York, quase como um lar para as pessoas LGBTs, que sofreu uma blitz da polícia no dia 28 de junho de 1969. Isso sempre acontecia, mas daquela vez os frequentadores não ficaram calados e deram início à luta pelos seus direitos de amar quem queriam amar - vale lembrar que naquela época, namorar com uma pessoa do mesmo sexo levava à pena de prisão perpétua! 

No ano seguinte, aconteceram comemorações na data do evento, com pessoas marginalizadas pelo público geral se unindo e lutando pelos seus direitos, mas a mudança foi gradual: existem, até hoje, estados no EUA que ainda prendem homens por fazerem sexo com alguém do mesmo gênero!


Cena de Asas (Wings), 1927, retratando um casal homoafetivo no armário 
Aqui no Brasil, a Parada LGBT começou em 1997, na Avenida Paulista e continua firme e forte, como um dos eventos mais famosos do mundo - sejam atores, cantores e militantes -todos se reúnem para lutarem pelos direitos da comunidade LGBT. O cinema, aliás, também acompanha essa revolução e nós da Caixa de Sucessos listamos as cinco cenas homossexuais, e LGBTs, pioneiras do cinema. 


1º BEIJO HOMOSSEXUAL DO CINEMA
Cena do filme Manslaughter, de 1922                                                 Divulgação
Apesar de muitos acharem que o filme Asas, de 1927, foi o primeiro filme a mostrar um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo, a resposta está incorreta. Isso porque o beijo é claramente na bochecha e, além disso, esse feito aconteceu alguns anos antes no filme Manslaughter (idem, 1922), dirigido por Cecil B. Demile. A película conta a história de uma socialite Lydia, vivida por Leatrice Joy, que acaba sendo presa por matar, acidentalmente, um policial. Durante o julgamento, seu noivo Daniel, interpretado por Thomas Meigan, acaba descrevendo, em detalhes, a queda do Império Romano para assustar sua amada. E é, nessa sequência, que os telespectadores veem o primeiro beijo homossexual - entre duas mulheres - no cinema.  

Muitos podem argumentar que o primeiro beijo foi, na verdade, entre dois homens no filme Intolerância (1916), mas o fato é que a interação entre os dois era de respeito - uma despedida entre seu general e um soldado - e não uma relação íntima como é o beijo do filme Manslaughter (1922), que você vê acima, no canto direito. As duas mulheres estão totalmente abraçadas, no clima do beijo e de um modo completamente afetuoso. 

De acordo com o livro Girls Will Be Boys de Laura Horak, o filme Manslaughter não foi o único do diretor Cecil a mostrar um relacionamento homoafetivo. Em O Sinal da Cruz (The Sign of Cross, 1932), ele retratou a história do Imperador Nero, que tinha um relacionamento homossexual, assim como sua esposa, a Imperatriz, ambos retratados na película. 

2º O PRIMEIRO FILME A RETRATAR UM RELACIONAMENTO HOMOAFETIVO
Cena do filme Diferente dos Outros (1919)                                                Divulgação
A obra do cinema Diferente dos Outros (Anders als die Andern, 1919) foi um dos primeiros, se não, o primeiro a mostrar um relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo. O filme alemão conta a história de Paul Korner, vivido por Conrad Veidt, e Kurt Sivers (Fritz Schultz), dois músicos que se apaixonam e tem que superar o escândalo e a trapaça para ficarem juntos. 

Apesar do filme ter mais de 100 anos, o assunto do preconceito e da aceitação da orientação sexual é completamente atual, sendo que em uma parte do filme acompanhamos Paul tentando entender mais sobre si mesmo e até tentando mudar como é, apenas para depois descobrir que a homossexualidade não é doença para ser curada e tentando se aceitar como é, mesmo que a sociedade não pense o mesmo. Infelizmente, o filme acaba em tragédia para o casal, mas Diferente dos Outros tem em uma nota esperançosa, urgindo à todos os homossexuais a lutarem para que o futuro não seja tão nebuloso. Uma analogia perfeita com os dias atuais. 

Diferente dos Outros (1919), ainda retratou uma relação homossexual saudável em um tempo em que ser gay era considerado crime! Isso foi possível porque o co-escritor do roteiro era um sexólogo famoso na Alemanha, o doutor Magnus Hirschfeld, que havia criado o Instituto de Ciência Sexual e estava no centro da Associação de Emancipação Homossexual da Alemanha, que lançou o filme para alavancar a campanha a favor dos homossexuais e clamando pela tolerância; ele inclusive fez uma ponta no filme como o sexólogo que trata a personagem Paul. 

Apenas um fragmento da cópia física sobrevive, já que todas as outras foram destruídas pelo censor Alemão em 1920 - que foi restaurado justamente pelo lançamento de filmes com temáticas parecidas ao Diferente Dos Outros no país. Nessa época os filmes começaram a ser revisados novamente pela companhia Film Assessment Headquarters, que proibiam exibição de obras pornográficas e/ou indecentes - como a película Diferente dos Outros era considerada. 


Fragmentos do filme, que foram juntados e complementados com letreiros e fotos, viraram um filme que foi lançado para celebrar a importância da obra, que pode ser encontrado pela internet, mas infelizmente o preconceito e a intolerância fizeram que o mundo perdesse, na íntegra, uma de suas primeiras obras com personagens assumidamente se identificando como homossexuais. 


3º PRIMEIRA VEZ QUE UM CASAL HOMOSSEXUAL DISSE 'EU TE AMO' 

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Em 1960, a lei em voga no Reino Unido - especificamente na Inglaterra - existia uma lei contra o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo e quem o quebrasse seria sentenciado à prisão perpétua, como já acontecia nos Estados Unidos e inúmeros outros países, onde a pena, inclusive, poderia ser de morte. Embora, nessa época, a Inglaterra tratasse com leniência - ou seja, com perdão - casos de homossexualidade, aplicando uma pena mais leve, as pessoas ainda não eram livres para amarem quem queriam.

E isso incluía o ator britânico Dick Bogarde, astro do filme Meu Passado me Condena ( The Victim, 1961), que era gay na vida real. Mesmo com uma carreira no auge do sucesso, ele se sentiu compelido a interpretar essa história - a de um homem casado com uma mulher que mantinha um amor com um outro homem, erroneamente acreditando que o casamento poderia mudar sua natureza. Meu Passado me Condena, é claro, foi um escândalo para a época e Dick nunca mais conseguiu recuperar seu status de galã dos filmes, permanecendo em papeis coadjuvantes no resto da carreira. 

Mesmo com esse empecilho, Dick permaneceu orgulhoso de seu trabalho no filme, que pode ser encontrado na íntegra, em inglês, na internet, e revelou em entrevista, de acordo com o livro The Celluloid Closet de Vito Russo, que "este foi o primeiro filme em que um homem disse 'eu te amo' para outro homem. Eu inclui essa cena e eu disse : 'não podemos fazer isso pela metade, ou nós fazemos um filme sobre gays ou não fazemos.'" Meu Passado Me Condena, foi, aliás, o primeiro filme a usar a palavra homossexual, já que antes disso tratavam da homossexualidade por eufemismos. 

4º PRIMEIRO BEIJO HOMOSSEXUAL INTERRACIAL NO CINEMA BRASILEIRO

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A década de 70 no cinema brasileiro foi tomado pelas chamadas pornochanchadas, ou seja, um gênero de filmes em que a nudez e as questões sexuais eram o ponto central e, às vezes, o único ponto da trama. Um dos filmes daquela época que saiam, ligeiramente, desse lugar comum foi o filme República de Assassinos (idem, 1979) do diretor Miguel Faria Jr e baseado no livro de Aguinaldo Silva. 7

Considerado o primeiro filme brasileiro a apresentar aos seus espectadores um beijo gay interracial, a película conta a história de Mateus Romeiro, vivido por Tarcísio Meira, que faz parte de um Esquadrão da Morte, um grupo de policiais que eliminam bandidos. Um dos outros policiais no esquadrão é Carlinhos, vivido por Tonico Pereira. Ele e a travesti Eloísa, interpretado por Anselmo Vasconcelos, são super apaixonados e dividem, pela primeira vez, um beijo entre duas pessoas do mesmo sexo no cinema brasileiro. 

Sobre essa cena icônica do cinema brasileiro, Anselmo contou, em entrevista ao Programa do Jô, da TV Globo, que os telespectadores não reagiram nada bem à isso: "O cinema gritava. Não era algo pouco, não. Era 'O que é isso?!' Era uma coisa que...o Tonico saiu batido do cinema e eu também. Era 1979." 

Além dessa interação ser extremamente importante para o cinema e para a população LGBT, já que o beijo entre os dois foi tratado de forma natural, sem o tabu que geralmente envolve tais produções, a cena também é fonte de reflexão para os brasileiros, já que o país é o local onde mais se matam travestis e transsexuais no mundo todo! Apenas em 2016, aconteceram 347 mortes registradas. O estado de São Paulo lidera o número de mortes. 

Por essas razões é que a real estrela do filme República de Assassinos (1979) é a travesti Eloísa, que mesmo com a morte do seu amor, sobrevive na comunidade e, principalmente, sobrevive mesmo fazendo parte de uma população que é, mais de 30 anos depois, uma das mais marginalizadas do Brasil e do mundo. 

5º PRIMEIRA CENA DE AMOR HOMOSSEXUAL NO CINEMA INDIANO


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Já no cinema bollywoodiano, na Índia, na qual existe a maior indústria cinematográfica do mundo, a primeira cena de amor entre dois homens aconteceu apenas recentemente, em 2011, no filme I Am, em sua sequência intitulada Omar, com a cena de sexo sendo interpretada pelos atores Rahul Bose e Arjun Mathur. Nele, conhecemos a história de Omar, é claro, vivido por Rahul, um homem homossexual que tem um encontro com um importante executivo em Mombai, na Índia. 

A fatalidade acontece quando a polícia flagra Omar e Jay no carro tendo relações sexuais, já que no país a homossexualidade ainda é condenada diante da lei, por conta da seção 377 do Código Penal da Índia, que lê-se: "Quem quer que tenha relações sexuais contra a natureza com homens, animais ou mulheres será punido com prisão perpétua ou com aprisionamento que pode durar 10 anos e também poderá receber uma multa." Ou seja, no país, a relação homossexual entre homens e entre as mulheres é considerado, ainda, contra a natureza. O filme, I Am, lida, portanto, com as consequências da decisão de Omar e Jay, já que se fosse uma relação heterossexual, ambos não sofreriam com essas extremas penalidades. 

I Am, além de ser o primeiro filme de Bollywood a mostrar uma cena de amor homossexual, também deve ao pioneirismo da película Dunno Y- Na Jaane Kyun, lançado em 2010, no qual os atores Yuvraaj Parashar e Kapil Sharma, interpretam o primeiro beijo homossexual da história da Índia. O filme, aliás, seria o primeiro a mostrar uma cena de amor entre dois homens, porém os censores barraram a cena. O filme I Am, como foi apresentado em festivais antes de sua estreia na Índia, não passou pelo mesmo escrutínio. 

Apesar dos muitos filmes apresentados na nossa lista serem essenciais para a cinematografia que representa a população LGBT, a maioria das pessoas nem faz ideia que eles existam. E para você, que filme LGBT você considera essencial que seja visto? 


Dirty Dancing - Ritmo Quente (1987): os bastidores de um clássico


Ninguém coloca a Baby em um canto, mesmo quando no lançamento de Dirty Dancing - Ritmo Quente (1987), a previsão era que o filme fosse uma bomba de tão ruim. Pois Baby e Johnny Castle dançaram e a película se tornou a mais bem sucedida daquele ano, ganhando um Oscar de Melhor Canção Original por I've Had The Time of My Life, interpretado por Bill Medley e Jennifer Warnes.

Dirty Dancing conta a história de Baby (Jennifer Grey), que vai passar as férias em uma pousada com sua irmã Lisa (Jane Brucker) e seus pais, Jake e Marjorie. Lá ela conhece e se apaixona por Johnny Castle (Patrick Swayze), um grande dançarino que vai mudar sua vida. 

No começo da concepção do filme, como já foi contado, ninguém imaginava seu sucesso, a não ser a roteirista Eleanor Bergstein, que baseou o filme em suas próprias experiências quando garota. Até seu apelido era o mesma da protagonista: Baby. Tudo se iniciou em 1980, quando Eleanor desenvolveu seu primeiro roteiro para o filme Esta É Minha Chance (It's My Turn), estrelando Kirk Douglas e Jill Clayburgh. Uma das cenas que ela tinha visionado foi de uma dança sensual entre os protagonistas, mas os produtores tiraram do corte final, afirmando que ela não tinha espaço em uma comédia romântica. Eleanor ficou com a cena na cabeça e a usou como base para Dirty Dancing. 

Divulgação/Gif
Desenvolver um roteiro a partir dessa cena e de suas próprias experiências não foi nada difícil para Eleanor. Em entrevista ao jornal The Anniston Star em 1987, a roteirista revelou que queria que Dirty Dancing fosse "uma celebração de um tempo de sua vida quando você achava que uma ação bonita e honesta poderia transformar o mundo à sua imagem." Claro que o fato de ter sido chamada de Baby até os 22 anos de idade, de participar de torneios de dirty dancing desde os 10 anos e sempre ir em pousadas com seus pais, ajudou a deixar o roteiro e seus personagens ainda mais realistas.   

O desafio mesmo foi encontrar alguma produtora que estivesse interessada em levar sua ideia adiante. Assim ela saiu para jantar com Linda Glottieb, uma produtora que havia acabado de ser demitida. Papo vai, papo vem, Eleanor acabou contando sobre seu projeto - o de duas irmãs que vão passar o verão em uma pousada, unindo o projeto com a dança que ela mesma fazia - a dirty dancing - quando era jovem. Mais de 20 estúdios recusaram a ideia até que a Vestron Pictures, um estúdio pequeno criado em 1986, decidiu entrar na parada.  

Emile Ardolino foi escolhido como o diretor de Dirty Dancing em seu primeiro longa-metragem, após ter ganhado o Oscar de Melhor Documentário por He Makes Me Feel Like Dancing sobre Jacques D'Amboise, um grande dançarino. Foi Emile que atraiu Patrick Swayze ao filme, já que ao ler o roteiro ele e sua esposa Lisa Niemi não acharam tão bom assim e acreditavam que precisava ser melhorado. Como Patrick, aliás, ainda conta em seu livro Time of My Life, ele decidiu dar uma chance ao filme de qualquer maneira e foi fazer a audição, primeiro apenas contando sua experiência com a dança, que era muito próxima ao da personagem, e depois dançando ao lado de Jennifer Grey.  



A química entre eles era inegável e Eleanor soube naquela hora, ao lado do coreógrafo Kenny Ortega - que conseguiu o trabalho dançando a tarde toda com Eleanor- e o diretor Emile que ela havia encontrado seu Johnny Castle e não faria o filme sem Patrick Swayze. Já com Jennifer foi diferente: ela se encaixava na imagem que a roteirista tinha sobre a personagem - uma garota magrinha com um cabelo vem cacheado, como ela mesma era quando criança. O fato de Grey dançar bem também ajudou a conseguir o papel. 

Jennifer e Patrick, aliás, não se davam bem desde que gravaram o filme Amanhecer Violento (Red Dawn), de 1984 juntos. Ele havia se focado demais no papel e vivia dando ordens no set para tentar simular os sentimentos de sua personagem. Jennifer o havia achado metido, bufando quando ele falava durante a filmagem de Amanhecer Violento e até revirando seus olhos para ele. Tudo isso desapareceu durante o teste de palco - havia química ali com certeza -mas gravar Dirty Dancing não seria sem seus desafios. 

Cynthia Rhodes, a Penny de Dirty Dancing e a melhor amiga de Johnny Castle, foi escalada por ter sido descoberta por Kenny Ortega e estar nos megasucessos Flashdance e Os Embalos de Sábado à Noite Continuam, ambos de 1983. A esposa de Patrick, a dançarina e atriz Lisa, tentou ganhar o papel, mas foi decidido que Cynthia ficaria com ele. Patrick revelou em sua autobiografia que Eleanor pensava que ele demandaria que sua esposa fosse escalada para que ele ficasse como Johnny e como não o fez, Cynthia ficou com o papel. Uma escalação mais do que acertada, já que Cynthia e sua atuação é um dos pontos altos de Dirty Dancing, já que trata sobre o direitos das mulheres sobre seu corpo e sobre o aborto, um assunto que Eleanor Bergstein achou de extrema importância incluir em Dirty Dancing. 


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O filme começou a ser gravado em 5 de setembro de 1986 em Virginia, nos Estados Unidos e uma das primeiras cenas a serem gravadas foi a dança sensual de Johnny Castle com sua amiga Penny. Os produtores e diretores ficaram preocupados com a química entre os dois excelentes dançarinos, temendo que o romance com a Baby depois disso ficasse um tanto sem graça. Patrick não quis saber e lutou para que a dança permanecesse, afirmando que: "eu sabia que o que eu tinha planejado para as cenas com a Jennifer iria fazer com que todos esquecessem da relação com a Penny." 

E como ele estava certo! Até o cachorro do astro ficava com ciúmes de suas cenas íntimas com a atriz Jennifer Grey e a roteirista Eleanor, como ela mesma contou para a edição especial da revista People, tinha que cobrir os olhos de Derek, o cachorro: "A única coisa que o mantinha calmo era eu abraçá-lo e sussurrar em sua orelha:'Derek, ele está fazendo isso porque é pago. Ele te ama demais.'" Pelo visto, sempre funcionava! 

Devido ao baixo orçamento, todo o elenco de Dirty Dancing, incluindo o diretor e os produtores, ficaram juntos na pousada Mountain Lake e se tornou como uma grande férias. Duas cenas importantes do filme foram a do tronco de árvore, na qual Jennifer optou por usar um dublê e Patrick não - ele caiu tantas vezes de joelho que teve que ser levado ao hospital para que o seu joelho fosse drenado. A outra foi a cena do lago, gravada em outra linda locação a Lake Lure Inn em outubro, foi uma das mais complicadas: os dois astros tinham que fazer o salto na água, com uma temperatura abaixo de zero. A roteirista Eleanor até entrou na água para provar que se ela conseguiria, todos conseguiriam também. Jennifer e Patrick quase pegaram uma pneumonia. 


As folhas das árvores foram pintadas já que estavam amareladas porque era outono                     Divulgação/Gif

Outra cena que merece destaque e crédito ao Emile Ardolino é aquela em que Baby e Johnny estão dançando juntos e improvisam ao som de Love is Strange. A interação que ficou super natural nas telas aconteceu quando os dois esperavam para gravar a cena. Emile gostou tanto que pediu que eles recriassem para ser gravado e assim os fãs ganharam uma das cenas mais icônicas do filme. 

Uma coisa que ninguém concorda é que se Patrick e Jennifer se odiavam na vida real. Enquanto alguns dizem que Patrick era mais sério e levava seu trabalho à risca, ficando irritado com a Jennifer por ser emocional demais, outros como George Batez, responsável pela trilha sonora do filme afirmaram que: "ele tinha muita consideração pela Jennifer, o que é difícil de se ver no trabalho, e era muito legal com ela fora das câmeras." Os dois poderiam não ser melhores amigos, mas Patrick sempre deu grande valor ao trabalho de Jennifer, que era tão insegura quanto à sua capacidade que levou seu pai, o dançarino e ator Joel Grey, para a audição de Dirty Dancing com ela. 

As filmagens se encerraram em 27 de outubro de 1987 e a festa de encerramento aconteceu no lago congelante mesmo. Emile Ardolino e os produtores juntaram a primeira versão de Dirty Dancing para fazer um teste de público - no qual as pessoas assistem e dizem o que acham da película. O filme não foi nada bem, tanto que até a própria agente de Jennifer disse que esse filme terminaria sua carreira antes mesmo de começar. 


Kelly Bishop, a ruiva, interpretaria a amante de Johnny, mas mudou de papel para participar do início ao fim                     Divulgação/Montagem
Emile Ardolino não se deu por vencido e voltou para acrescentar e melhorar o filme, inclusive incluindo mais cenas de dança entre Jennifer e Patrick - nas cenas em que há um fundo vermelho atrás dos atores são cenas do ensaio que o diretor deixava gravando e que usou para o filme. 

Assim, Dirty Dancing estreou em 17 de agosto de 1987 e se tornou um fenômeno mundial. A única pessoa que não ficou impressionada com a dança de Patrick, que se tornou um galã na hora, foi sua mãe, a dançarina Patsy Swayze, dizendo que ele poderia ter dançado melhor do que aquilo. Os fãs não se importavam nem um pouco. 


     Jennifer e Patrick na estreia de Dirty Dancing nos Estados Unidos, 1987                    Montagem

Quando chegou a hora de falar sobre a continuação de Dirty Dancing, Patrick em entrevista ao Wausau Daily Herald de 1989, contou que: "Eu odeio sequências, elas nunca são boas. Eu não tenho nenhum desejo de interpretar Johnny Castle no mesmo período de novo. Eu já fiz isso. No entanto, eu gostaria de interpretá-lo quatro ou cinco anos depois, para saber se os dois conseguiram levar o romance adiante e como eles cresceram como seres humanos. Esse é o único jeito que eu faria." Uma ideia bem interessante, não é mesmo? 

Até a Jennifer Grey contou em uma entrevista em 1990 que achava complicado uma sequência apenas porque os fãs queriam e que três anos depois não havia um roteiro escrito: "Dirty Dancing é sobre a perda da inocência e daí vamos para onde? Para o 9 semanas e meia de amor? O fato de todo mundo querer uma sequência não é motivo suficiente para fazer. Tem que ser tão bom ou melhor que o primeiro. Se tiver que ser será."  Parte dessa demora na continuação, que em 1988, a atriz afirmou que estava" em milhares de etapas agora e não sabemos o que vai acontecer", foi porque a produtora do filme, Vestron Pictures, estava entrando com um pedido de falência. 

De acordo com outra entrevista com Patrick, duas outras companhias se interessaram em fazer a sequência e até Shirley MacLaine afirmou que ele devia ao público uma continuação à essa grande fantasia. Patrick, no entanto, se recusava a fazer uma sequência sem Jennifer Grey, Eleanor Bergstein, Emile Ardolino e Kenny Ortega, considerando todos como uma grande equipe. 


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Dirty Dancing II nunca se materializou: tivemos uma reimaginação do filme com Dirty Dancing: Havana Nights em 2004, estrelado por Diego Luna e Romalai Garai (com uma pequena participação de Patrick) e em 2017 uma versão para a televisão com mais de 3 horas, com Abigail Breslin e Colin Prattes como protagonistas, do qual Grey se recusou em participar. 

Mas Eleanor Bergstein, a roteirista do filme original afirmou recentemente em entrevista a BBC que, depois de 30 anos, finalmente está pronta para escrever uma sequência para o filme, dizendo que o nascer político, algo que Baby estaria muito envolvido, lhe deu inspiração para começar a escrever sobre essas personagens de novo. 

Será que já está na hora de fazer o salto icônico entre Baby e Johnny chegar nas telonas?  



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