Robert Mitchum e seus 5 papeis definidores no cinema

Robert Mitchum ficou conhecido por interpretar homens malvados em filmes de gênero noir - com seus ombros largos, sua altura e seu visual abrasivo e belo, não é surpresa que ele fazia sucesso tanto com as mulheres - que queriam tê-lo apesar de ser casado - e com os homens, que invejavam a sua postura altiva e sua capacidade de assumir o controle. 

Talvez o papel que tenha mudado a percepção do novato ator da MGM tenha sido Também Somos Seres Humanos (The Story of G.I Joe, 1945), estrelado por Mitchum e que lhe rendeu sua única indicação ao Oscar como ator coadjuvante, ao interpretar o capitão Walker em um campo de batalha na 2º Guerra Mundial. Três anos depois ele foi preso por possessão de maconha ao lado da estrela Lila Leeds. Se você não lembra quem ela é, não se preocupe - sua carreira foi arruinada depois da prisão por posse de maconha (sua carreira terminou no mesmo ano). Já a de Mitchum, um notório badboy, foi cimentada pelo cinema noir, no qual seus papeis de homens durões condiziam, e muito, com a personalidade que a mídia dissecou fora das telonas. 

Robert Mitchum e Jane Greer em Fuga do Passado (Out of The Past, 1947)                           Divulgação
Por isso, no ano do centenário de Robert Mitchum, nós da Caixa de Sucessos comemoramos sua carreira ao analisar seus papeis mais importantes no cinema. Confira!

Trinta Segundos Sobre Tóquio (30 Seconds Over Tokyo, 1944)
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Embora tenha sido sua indicação ao Oscar em 1946 pelo filme também Também Somos Seres Humanos (1945) que ajudou a cimentar a carreira subestimada, mas brilhante de Mitchum, foi em Trinta Segundos Sobre Tóquio (1944) que ele conseguiu sair de vez dos filmes de qualidade B e passar a atuar ao lado de grandes atores como Spencer Tracy (o protagonista da película) e Van Johnson, mesmo que fosse em um papel coadjuvante. 

Nele, Robert interpreta o papel do tenente Bob Gray, um piloto que na vida real morreu aos 23 anos de idade durante a 2º Guerra Mundial. Ele foi um dos 16 pilotos presentes no ataque Dolittle em 1942, no qual o filme é baseado. O ataque foi um bombardeamento na costa japonesa para deixar uma mensagem aos nipônicos depois do ataque em Pearl Harbor em 1941. A manobra sofreu pela precipitação americana, mas serviu para subir a moral de todos contra Hitler durante a guerra. 

O filme recebeu uma grande recepção da crítica e Mitchum foi elogiado por sua boa atuação, que deve tê-lo ajudado a conseguir seu papel de destaque em Também Somos Seres Humanos (1945). Aliás, o filme pode ter juntado o ator em mais uma de suas conquistas, isso é de acordo com a biografia Robert Mitchum: Baby I Don't Care de Lee Server, que afirma que Mitchum e Lucille Ball tiveram um caso durante as gravações do filme: "Durante a gravação do filme ele se tornou muito íntimo de Lucille. Eles sempre davam risadas e se encontravam para tomar coquetéis depois do trabalho. A atriz estava chateada com a infidelidade de Desi e gostava de devolver na mesma moeda de vez em quando. Os dois tiveram um breve caso."

Sua Única Saída (Pursued, 1947)
Robert Mitchum e Teresa Wright no primeiro filme classe A do ator                            Divulgação
Foi um ano depois que a estrela noir de Robert Mitchum ficou cimentada com Fuga do Passado (Out of The Past, 1947), mas sua grande chance de deixar de participar em papeis pequenos ou protagonistas em filmes B foi com A Única Saída (Pursued, 1947). De acordo com a biografia de Lee Server, esse foi mais uma prova da versatilidade do ator - o papel de Jeb Rand era dramático e requeria muita concentração e foco. Sua primeira produção de classe A, com uma das atrizes mais sérias e excelentes da época, Teresa Wright, esse foi o primeiro papel desde Também Somos Seres Humanos (1945) que exigia uma atuação perfeita de Mitchum. 

Aliás, a personagem Jeb Rand foi a primeira vez que o ator interpretava um protagonista romântico - um homem que deixa todas as mulheres sem fôlego com sua dureza e quietude. Um papel que ele repetiria inúmeras vezes em sua carreira. Carey Loftin, dublê de cenas perigosas em inúmeros filmes de Mitchum, revelou, aliás, em entrevista à Lee Server, que Teresa se sentia enormemente intimidada pelo ator: "Bob a assustava. Ela o considerava fisicamente intimidador e com aquela aura de sensualidade de cara mau, ela ficava fora de si quando ele estava por perto. Era algo estranho de se ver. Ela estava casada com Niven Busch, o roteirista do filme,por 9 anos, mas ela era muito inocente em algumas coisas. E não era atuação, era algo real." 

A Única Saída (1946) era um faroeste-noir, no sentido de que não tinha como motivação os bang-bang da época e sim a lógica por trás da família, na qual Teresa era a irmã adotada de Robert, por quem ele era perdidamente apaixonado, e uma morte que ameaçou toda a nossa família. Um filme que influenciou inúmeros outros, inclusive a carreira de Martin Scorsese, abençoando-o como o primeiro faroeste-noir do cinema. 

Rancor (Crossfire, 1947)

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Se o filme anterior de Robert Mitchum foi um faroeste-noir, foi em Rancor (Crossfire, 1947) que Robert fez sua estreia no mundo do drama-noir. Lançado em julho de 1947, alguns meses antes do grande Fuga do Passado (Out of The Past, 1947) cimentar sua reputação como o badboy mais desejado do pedaço, foi ali que Mitchum provou que tinha um nome grande entre o público que queriam vê-la mais e mais no cinema. Contracenando ao lado de Gloria Grahame e Robert Ryan,  Mitchum interpretava uma personagem esperta e astuciosa, que combinava muito com suas feições mais retraídas. 

De acordo com o livro Gloria Grahame, Bad Girl of Film Noir: The Complete Career de Robert J Lentz, o filme Rancor (Crossfire, 1947) foi um sucesso de crítica e de bilheteria, que ajudou a solidificar a carreira de Grahame e Mitchum como atrações de bilheteria. É o personagem de Robert Mitchum, Keeley, que movimenta toda a história do roteiro, sendo mais esperto do que a própria polícia, como o sargento mal encarado que acompanha a personagem de Robert Ryan para desvendar um caso de assassinato. 

Este foi o primeiro dos três filmes em que Mitchum e Grahame protagonizaram juntos, seguidos por Macao (idem, 1952) e em 1955 no filme Não Serás um Estranho (Not as a Stranger). Aliás, quando Gloria gravava Macao, ela estava se separando do produtor do filme, Nick Ray e pediu que fosse cortada do filme e que assim não pediria pensão. Ela, é claro, não foi cortada inteiramente do papel. Foi a partir de Rancor e com a chegada, no fim do ano, de A Fuga do Passado que Mitchum se tornou uma grande estrela de Hollywood.  

O Homem Que Eu Amo (Rachel and The Stranger, 1949)

Robert Mitchum e Loretta Young em Homem Que Eu Amo                                         Divulgação
Um dos maiores escândalos da carreira de Mitchum não foi o caso amoroso com Shirley MacLaine, que durou vários anos e nem por trair sua esposa Dorothy desde que se casaram em 1940. Foi o fato de ele ser preso com posse de maconha que abalou sua carreira, transformando-o em um "degenerado" que em 1º de setembro de 1948 ficou 60 dias preso em Los Angeles, na Califórnia. 

Mas esse grande fato, que foi altamente explorado pelas revistas da época, com fotos combinadas de Mitchum na prisão, ajudou e muito a divulgação do filme O Homem Que Eu Amo (Rachel and The Stranger, 1954) que tinha como estrelas William Holden e Loretta Young. O primeiro filme lançado depois da prisão de Robert Mitchum foi um sucesso de público e bilheteria. Isso pode muito bem ter sido a salvação da carreira do ator que continuou a atuar até sua morte em 1997, diferente de Lila Leeds, que nunca mais conseguiu reerguer sua carreira. 

De acordo com a biografia William Holden: A Biography de Michelangelo Capua, o estúdio RKO que produziu o filme lucrou muito porque milhares de pessoas foram ao cinema para olhar o ator preso em seu filme, no qual sua personagem Jim Farways se apaixona pela escrava e esposa de seu amigo, vivido por William Holden, de quem ele trata muito mal. Com uma persona subvertida e mostrando seus dotes de voz - Robert Mitchum que já lançou álbuns de música estilo calypso em 1955 - continuou como um dos maiores astros da época, conseguindo papeis substanciosos nas décadas seguintes. 

O Céu É Testemunha (Heaven Knows, Mr. Allison, 1957)
Mitchum e Deborah Kerr no primeiro de seus quatro filmes juntos                                Divulgação
Após gravar o filme Lábios de Fogo (Fire Down Under, 1957) ao lado de Jack Lemmon e Rita Hayworth - com quem se tornou um grande amigo, ajudando-a a conseguir o papel no filme A Divina Ira (The Wrath of God, 1972) quando a carreira de Rita não estava lá essas coisas- em  Tobago, no Caribe, ele continuou exatamente no mesmo lugar para gravar ao lado de Deborah Kerr, com o diretor John Huston, o drama militar O Céu É Testemunha (Heaven Knows Mr. Allison, 1957) baseado no livro homônimo de Charles Shaw. 

Um dos filmes mais conhecidos do ator, ele estava receoso, no entanto, de contracenar com Deborah Kerr, achando que ela fosse tão certinha e quadrada como as personagens que interpretava no cinema. Ele ficou muito surpreso quando a situação foi diferente e descobriu em Kerr uma amiga de longos anos e muito espirituosa. 

No filme, Robert Mitchum interpreta um capitão da Marinha chamado Allison, que se encontra naufragado em uma ilha deserta a não ser pela presença de uma única pessoa, uma freira, vivida por Kerr, chamada Irmã Angela. Logo, a presença pacífica deles é ameaçada quando a ilha se torna ponto de encontro de soldados japoneses em plena 2º Guerra Mundial.

Esse foi o papel, aliás, que Mitchum mais gostou de interpretar nos cinemas e um novo ponto de partida para o ator, que começou a ter papeis mais desafiadores, deixando o badboy de lado e colocando a sua virilidade dramática à mostra. 

O Círculo do Medo (Cape Fear, 1962)
Robert Mitchum brilha neste noir dramático                                          Divulgação

Todos os cinéfilos prezam pela versão de 1991 de O Círculo do Medo, no qual estrelam Robert De Niro e Nick Nolte, mas foi neste filme que eu comecei a me fascinar pela persona de Robert Mitchum e considero a versão original bem mais intrigante e satisfatória.

Nele, Robert interpreta o prisioneira Max Cady, que ao cumprir sua sentença vai atrás do advogado Sam Bowden (Gregory Peck) para conseguir sua vingança. Ele faz jogos psicológicos com sua filha, com sua esposa e tudo termina numa cena clímax de tirar o fôlego. Este filme, junto com O Mensageiro do Diabo (The Night of The Hunter, 1955) provou a carga pesada que Mitchum conseguia carregar como ator. Aos 45 anos de idade e em plena forma física, ele provava cada vez mais suas nuances como ator dramático, que não ficou preso no papel de badboy misterioso e evoluiu, mostrando facetas diferentes desse personagem, sem nunca perder sua pose tão cool. 

O filme, no entanto, foi um fracasso tão grande que acabou com a produtora de Gregory Peck, Melville Company, que estava bancando O Círculo do Medo (1962) faliu depois dessa empreitada. Isso porque os censores não deixaram passar várias das cenas mais subversivas do filme, como a menção da palavra estupro e cenas mais brutas. O censor britânico cortou seis minutos do filme, já editado pelas normas, por considerá-lo forte demais. Com um assunto delicado e poderoso, as críticas foram variadas e nem sempre satisfatórias.

>Baseado em um livro chamado Os Executadores de John D. MacDonald, Gregory mudou o nome para Cape Fear e foi sua ideia contratar Mitchum para interpretar o assassino aterrorizante. O ator, é claro, ganhou as melhores críticas e inclusive afirmou que atuou mais do que Gregory Peck, enquanto Greg recebeu uma avalanche de críticas que não entendiam como ele pode produzir um filme tão perturbador. Sobre isso, ele conta em Gregory Peck: A Biography de Michael Freedland: "Eu não pensei muito bem sobre ele por causa disso. Eu o vi desde então e somos amigáveis um com o outro. Mas eu dei o papel para ele e lhe paguei uma grande quantia em dinheiro. Era perfeitamente claro que seu papel era o melhor. Eu o fiz  idealisticamente para que minha companhia sobrevivesse. Eu pensava que ele entenderia isso, mas ele apenas achou que atuou melhor do que eu nas telas." 

Robert Mitchum na pré-estreia de Cleópatra (1963)                                       Divulgação
Com estes cinco papeis, Mitchum provou que, apesar de não levar sua atuação ao extremo como alguns colegas, que se preocupavam com o pormenores por trás das motivações de seus personagens, ele era natural em frente as câmeras e seu porte largo e sua aparente feição sisuda o transformaram em um dos astros mais subestimados, porém amados de Hollywood. Em seu centenário, ao reler suas declarações irônicas e seu modo despreocupado em encarar sua vida e até suas prisões - ao todo ele foi preso duas vezes, uma quando tinha 14 anos de idade por estar vagando pelas ruas - revelam porque o ator tem tantos fãs devotados.

Ele não se importava muito com nada, baby - esse era seu maior segredo! 

Cléo de Verberena - a primeira cineasta mulher do Brasil

Apagada da memória coletiva brasileira, Jacira Martins da Silveira foi uma das mulheres mais importantes do cinema do nosso país: foi graças à ela que tivemos o primeiro filme escrito, produzido, dirigido e atuado por uma mulher no Brasil. 


Nascida na cidadezinha de Amparo, em São Paulo, no dia 27 de junho de 1904, como comprova-se em sua certidão de casamento*, ela é a última de sete filhos de um casal interiorano. Segundo a edição de 1931 do CineArte, no entanto, ela é dita como órfã, que foi à São Paulo Capital para realizar seu sonho de se tornar uma diretora de cinema e de dividir sua vida com alguém, neste caso o rico fazendeiro César Melani, que veio a falecer em 10 de maio de 1935.


Cleo de Verberena, a primeira diretora mulher do cinema brasileiro                             Divulgação
O pai de César Melani, Angelo Beniamino Serafino Melani era um imigrante nascido na Itália, em 9 de abril de 1869 (alguns dizem 1853), que se mudou para a cidade de Franca, no interior de São Paulo. Ele chegou ao país em 7 de agosto de 1897, aos 24 anos de idade com sua mãe e outra irmã. Todos se reuniram e foram para Franca, cidade no interior na qual Angelo conseguiu obter uma vasta propriedade, formando inclusive a Organização da Confederação das Associações de Proprietários de Imóveis de São Paulo, com outros colegas. Casou-se com Amabile Facci, uma italiana também imigrante, e os dois juntos tiveram 10 filhos, entre eles César, o primogênito, em 28 de maio de 1903. Ele partiu para São Paulo, mais velho, para cursar medicina e ter o tão cobiçado diploma! Depois, passou a trabalhar em um banco. 

Já a história de nossa primeira cineasta, Jacira Martins da Silveira é um pouco mais complicada - além da data de nascimento ter uma divergência (com seu documento de 1962 afirmando ser a data de 27 de junho de 1909), no qual já foi comprovado por sua certidão de casamento que foi em 1904*- sua afirmação de ser órfã é um tanto curiosa. De acordo com registros, ela é a mais nova entre nove irmãos. Seu pai, José Martins Ribeiro Junior, nasceu em 1848 em Coimbra, em Portugal e faleceu em 1923 enquanto sua mãe Júlia Pereira da Silveira era de Amparo, no interior de São Paulo, mesmo, e os dois se casaram em 1885. Se a data de 1909 fosse a correta (o que não é), sua mãe teria 42 anos de idade quando dera à luz Jacira! 

Depois dessa contradição, os relatos parecem bater - com 15 anos de idade ela foi para a capital de São Paulo para complementar sua educação e, é claro, conseguir a chance de se casar bem. Aprendeu a bordar, a costurar, a tocar piano, enfim, o que todas as mulheres da época precisavam fazer para casarem com um partidão. Jacira conheceu César em uma festa e de acordo com a entrevista do filho deles, César Augusto, foi o amor pelo cinema que os uniu, com Melani trabalhando nos bastidores do cinema desde 1919.  O assunto em comum deve ter ajudado muito!
Jacira (Cléo) e seu amado Cesar (Laes)
Os dois logo se casaram e uma câmera que foi dada de presente para o casal na cerimônia, que ficou mais parecendo como destino. Infelizmente, os dois não tinham dinheiro para entrar nessa aventura, isso é, até que César ganhou um baita de um dinheiro. As fontes divergem, mais uma vez. De acordo com a entrevista do filho deles, Jacira e César conseguiram o dinheiro necessário quando ele ganhou a herança polpuda de seu pai. Já, através de pesquisa, descobri que em 1925, no mesmo ano em que o jovem garoto nasceu, César Pai ganhou mais de 22 milhões de réis, na época, era um baita de um dinheiro, com César privilegiado pela falência de Eugenio Barbato, possivelmente seu patrão na época.

De qualquer forma, o que interessa é que César conseguiu o dinheiro e ambos combinaram de criar um pseudônimo para o mundo do cinema. Foi assim que Jacira Martins da Silveira se transformou em Cléo de Verberena (antes de passar por nomes como Jara Mar e Cléo de Lucena) e César Melani em Laes Mac Reni (um anagrama de seu nome verdadeiro). Importaram equipamentos de última linha de Paris, na França e compraram um imóvel na Praça da Sé, nº 46, conforme conta o livro 
Feminino e plural: Mulheres no cinema brasileiro por Karla Holanda de Araújo, Marina Cavalcanti Tedesco e depois se mudaram para Perdizes, na Rua Tupi, no final dos anos 20, transformando-o na famosa Épica Films, a produtora para realizar o sonho de ambos no cinema.

Em entrevista com a revista Cinearte em 1930, ela revelou que Greta Garbo era sua atriz americana favorita, mas que tinha esperanças de ver o cinema brasileiro ser "tão imenso quanto nos Estados Unidos". Seus diretores de cinema favoritos eram Von Stroheim, que dirigiu A Viúva Alegre (The Merry Widow, 1925), e Fred Niblo, diretor de filmes como Ben-Hur (1925), A Marca do Zorro (Zorro's Mask, 1920) e Sangue e Areia (Blood and Sand, 1922). Sua atriz brasileira favorita, afinal, era Carmen Santos, que depois faria jus à essa predileção, tornando-se também atriz e diretora nos anos 40. 

Na matéria de filmes gostava particularmente de Sangue Mineiro (1929), dirigido por Humberto Mauro e Barro Humano (1929) do cineasta Adhemar Gonzaga, considerando-os os diretores mais notáveis do cinema brasileiro. O seu crush cinematográfico era o galã Paulo Morano - que parecia com seu marido, César. 

Segundo a revista Cinearte, em 1931, Cleo tinha duas manias bem características: era muito vaidosa, adorava andar sempre chique e tinha mania de levar, consigo, uma camélia perfumada e colorida no vestido. Ademais, amava colecionar retratos de artistas do cinema. 
Carmen e Cleo juntinhas 
Mas, voltando a falar de Cleo de Verberena, ela escolheu como seu primeiro projeto o filme O Mistério do Dominó Preto, lançado em 9 de fevereiro de 1931. De acordo com o jornal Gazeta, ele foi baseado no romance do escritor mineiro Martinho Correa (publicado como uma série jornalística no jornal A Noite em 1912 e que foi base de tese de Marcella Grecco sobre o filme da Cleo) e a atenção aos detalhes por trás da câmera de Cleo, foi incrível. Pelo menos é assim que narra Ary Rosa, jornalista do Cinearte: 
Dirigindo Cleo é de uma exigência raríssima. E a vi em ação. É muito dedicada no seu trabalho. Dirige com segurança e firmeza. Muda a câmera constantemente de posição, procura, sempre o ângulo mais propício e fotogênico. Escolhe as maneiras bonitas de fotografar. E com ela os operadores tem muito a se cansar...Não lhe dá tréguas. Tem medo, sempre, que as cenas não saiam perfeitas. As refaz mais de uma vez. É caprichosa e dedicada e quer que o público se admire com o seu trabalho, porque trabalha para o público e o quer sempre satisfeito. 
Graças às revistas da época, temos a história toda do filme mudo O Mistério do Dominó Preto (1931), um ótimo filme de mistério, à nossa disposição. A sinopse do filme é a seguinte: a nossa cineasta Cléo de Verberena, interpreta uma moça chamada Cleo, de alta sociedade casada com o Comendador Fernando, vivido por Emilio Dumas, que sempre vive um caso de amor com homens diferentes para seu bel-prazer. Um de seus ex-amantes, Virgilio, vivido por Laes Mac Reni, seu marido na vida real, a encontra na rua quando foi envenenada, dizendo-lhe que morreu por causa de um bilhete e de um dominó preto. Assustado, Virgilio pede ajuda de seu amigo Marcos e os dois vão atrás do mistério, que parece se relacionar ao amante atual de Cleo, o tenente Renato (Rodolpho Mayer) que está noivo. No fim, descobre-se que foi o irmão mais velho da noiva de Renato que matou Cleo envenenada, porque a via como empecilho para a felicidade de sua tão querida irmã.

Aquiles Tartari participou do filme como diretor de fotografia, além de Antonio Medeiros na câmera e Carmo Nacaratto orientando sobre cada cena. 


Fotos de stills do filme O Mistério do Dominó Preto com Cléo e Laes                              Divulgação         

Conta-se, aqui, o enredo completo do filme O Mistério do Dominó Preto (1931), com letreiros feito pelo incrível cartunista Belmonte, porque ele não está mais disponível em nenhum lugar. Nosso leitor Alexandre Myiazato, que trabalha na Cinemateca, nos garante que o filme nunca foi depositado na Cinemateca e permanece perdido.* O que se sabe de fato é que ninguém, nem na Cinemateca nem os parentes de Cleo sabem onde o filme foi parar. 


O único problema era achar investidores dispostos a exibir o filme no circuito de cinema brasileiro. Embora o nicho do cinema seja fechado, inúmeros atores, inclusive famosos, se dispuseram a trabalhar com Cléo e Laís, porque a abertura de um estúdio era sinônimo de comemoração e de muita curiosidade. Infelizmente, nem Cléo e nem Laes sabiam como administrar um estúdio. As despesas estavam se acumulando e apesar de o filme O Mistério do Dominó Preto (1931), ter tido sua estreia no famoso cinema ParaTodos, o dinheiro não estava entrando e o casal teve que vender joias e algumas propriedades para tentar compensar o rombo. Cleo participou de sua primeira peça teatral, com o grupo de teatro Via Láctea, chamado Sorrisos de Mulher, em setembro de 1931, e muitos elogiaram a performance da atriz, que continuou a atuar com o grupo na peça Setas de Um Cupido.


Cinema e música são as minhas adorações! - Cleo, entrevista para a Cinearte em 1931.

Mesmo assim, eles começaram a lucrar um pouco com a alcunha de primeira cineasta mulher da Cléo de Verberena, criando revistas com ela atuando, as famosas fotonovelas. Com as despesas aumentando e o investimento não cobrindo as despesas, Laes começou a ficar cada vez mais desgostoso com a empresa, que agora dependia de Cléo para sobreviver. Ela logo conseguiu um papel no filme do diretor Plinio Ferraz chamado A Canção da Felicidade, em 1931. O filme mudou de nome e passou-se a chamar Canção do Destino - erroneamente, muitos diziam que ela produziria ou dirigiria o filme, mas na verdade, ela seria a estrela. 


Cléo também tinha planejado fazer seu primeiro filme falado, o intitulado Melodia da Saudade, com Laes como protagonista, mas acabou não se concretizando. 


Cleo de Verberena discutindo o roteiro do filme ao lado de Laes e seu filho César e com sua co-estrela
O filme Canção do Destino (1931), que começou a ser gravado no mês de maio de 1931, no entanto, nunca foi concluído. No ano seguinte, em março de 1932, ela resolveu se mudar para o Rio de Janeiro, animada com a possibilidade de conseguir divulgar o filme O Mistério do Dominó Preto na cidade, mudando-se para lá com o filho. Seu marido, Laes, pelo que se sabe, ficou para trás para participar da Revolução Constitucionalista de 1932. Aqui os relatos se divergem: em entrevista, César filho revela que seu pai morreu logo depois da volta da batalha, Rodolfo Melani, seu neto, com quem eu falei, me confirmou a história. No entanto, existe outra versão, a de que possivelmente Laes tenha morrido no Hospício de Juqueri, completamente louco, em 1935 aos 31 anos de idade. 

Novas informações que achei em jornais, no entanto, confirmam que César Melani morreu no dia 10 de maio de 1935 em Franca, São Paulo, participando da Revolução Constitucionalista. * 


Nesse ínterim Cléo de Verberena, que começou a assinar apenas como Cléo Verberena, apareceria no filme Onde a Terra Acaba, do estúdio Cinédia, formado por Ademar Gonzaga, no Rio de Janeiro. Carmen Santos, em foto acima, colaboraria com Cléo no filme, do qual era estrela e produtora, mas de acordo com o jornal Radical do Rio de Janeiro de 1932, ela participou do filme como produtora e não se sabe se ela teve um papel na trama.

Cleo em tour pelo estúdio do Cinedia                                               Divulgação

Cléo Verberena também assinou o roteiro do filme Casa de Cabloco (1931), mas depois disso não participou de mais nada no cinema. Seu marido morreu em 1935, ela vendeu a empresa e nunca mais se envolveu no mundo do cinema, tornando o Rio de Janeiro sua moradia definitiva. Foi lá, aliás, que ela conheceu o cônsul chileno Francisco Landestoy Saint-Jean, nascido em 31 de dezembro de 1898, mas isso apenas vários anos depois, casando-se com ele em 28 de agosto de 1946 (embora em 1944 ele já conste como casado em documentos oficiais)*. F morar em inúmeros países, tanto no Chile quanto na Inglaterra. 

Cléo Verberena adotou o nome Jacira Silveira Landestoy, depois de casada, mas o casamento veio à um fim prematuro em 23 de maio de 1953 com o falecimento de Francisco, quando ele teve um ataque (provavelmente ataque cardíaco) na frente da embaixada do Chile no Brasil. O socorro foi chamado, mas ele morreu antes de ser atendido.


Francisco Landestoy Saint-Jean, segundo marido de Cleo e Laes Reni, seu primeiro
Cléo Verberena, ou melhor, Jacira Martins da Silveira nunca mais se casou, estabeleceu residência definitiva em São Paulo na Rua Arabé, 81 com seu filho César, que se casou, tornou-se advogado e teve dois filhos. Infelizmente César Augusto Melani faleceu em 2012, antes que eu tivesse a chance de conversar com ele. Ele sim poderia cobrir alguns dos buracos que se encontraram na minha pesquisa sobre essa grande mulher. 

Jacira Martins da Silveira morreu aos 68 anos de idade, em São Paulo, em 6 de outubro de 1972. Seus feitos, no entanto, ficaram esquecidos por muito tempo, mas até existe um site chamado Verberenas, em sua homenagem, e inúmeras pessoas que me contataram, por causa do meu primeiro blog A Lentretista, no qual fiz uma matéria sobre Cléo, que queriam saber mais sobre essa maravilhosa cineasta.

Divulgação/Montagem
As poucas entrevistas que fez, incluindo para a revista Cinearte, mostravam à toda hora seus atributos femininos, focando em sua maquiagem, em seu corpo esbelto e em seu sorriso fácil, apesar de um pouco de tristeza nos olhos. Graças à renascença feminista, principalmente no cinema, podemos focar em figuras sensacionais de pioneirismo, como Cléo de Verberena, que foi amontoada pelo tempo, mas nunca esquecida pela sua contribuição incrível ao cinema feminista e ao brasileiro. 

*Correção (21/11/2017) Uma versão anterior do artigo lia-se que a "Cinemateca mantém uma cópia do filme O Mistério do Dominó Preto em seu acervo, mas já entrei em contato com eles e não disponibilizam para acesso ao público." 

* Correção (30/05/2018) A versão posterior a de cima lia-se: "desapareceu durante um incêndio e nunca mais foi encontrado." 

O Iluminado (1980) de Stanley Kubrick e Stephen King

*spoilers sobre o livro e o filme O Iluminado (1980)

O livro O Iluminado do escritor de terror Stephen King começa com uma frase perfeita para entender o personagem Jack Torrance, que no filme cult foi interpretado por Jack Nicholson:
Jack Torrance pensou: babaquinha pomposo
Isso acontece logo no começo do livro e do filme, no qual Jack com sua família - sua esposa Wendy, vivida por Shelley Duvall, e Danny, interpretado no filme por Danny Lloyd, comparece em uma entrevista de emprego para cuidar de um antigo hotel durante o inverno, já que lá terá paz suficiente para poder escrever seu livro. É nesta frase, no entanto, que já conseguimos perceber, logo de cara, a raiva inerente que a personagem possuiu e como isso se desenvolve no roteiro e na história dessa família. 

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Apesar do filme ser considerado um clássico cult depois de tantos anos, o próprio escritor da história, Stephen King, considera o filme uma afronta! Em entrevista para o site Deadline em 2016, o escritor não poupou as duras palavras: "Eu ainda não acho que o filme é bom porque a personagem de Jack não tem arco algum de história. Quando vemos Jack Nicholson, ele está no escritório com o senhor Ulmann e você já percebe que ele é doido ali e ele só fica pior. No livro, ele é um cara lutando por sua sanidade e dai ele perde. É uma tragédia. Mas no final não tem mudança alguma, só piora."  Para King, O Iluminado (The Shining, 1980) é muito visual e pouco conteúdo. 

Muitos críticos concordaram com ele e em entrevista com Jack Nicholson para a Revista Empire, o ator revela que não entende essa relação de amor/ódio dos críticos com Kubrick: "Ele nunca conseguiu boas críticas, a não ser por seus filmes antiguerra. Eu sempre me interessei por sua relação com os críticos, que sempre falavam mal de seus filmes originalmente e depois percebiam que foi o melhor que já viram. Eu sempre me perguntei o porquê disso, porque nós nunca tivemos problemas em perceber que os filmes de Stanley são ótimos." 

O Iluminado (1980) começou a ser gravado em 1978 e Jack se envolveu no projeto de forma peculiar: o ator chamou a atenção de Kubrick ao participar do filme Sem Destino (Easy Rider, 1969), que queria que Jack interpretasse o Napoelão Bonaparte em uma cinebiografia. O projeto nunca saiu do papel, mas os dois mantiveram contato. Assim quando o cineasta ligou para Nicholson, revelando que seu próximo projeto seria um thriller psicológico, ele agarrou a chance de participar de um filme com o diretor, que ele considerava ser brilhante!  

Jack Nicholson e Kubrick no set de O Iluminado (1980)                                           Divulgação
Jan Harlan, produtor executivo do filme, afirmou que Stanley agarrou a chance de fazer o projeto, apesar de nunca ter feito um filme de terror antes, porque recebeu liberdade criativa de Stephen para escrever um roteiro mais ambíguo e mudar o que quisesse na história. Jack Nicholson sempre foi a primeira escolha para o papel, assim como Shelley Duvall. O ator, porém, queria que sua co-estrela em O Destino Bate à Sua Porta (The Postman Always Rings Twice, 1976), Jessica Lange, fosse sua esposa no filme, porque achava que ela se aproximava melhor da descrição do filme de Stanley e ficou surpreso com a escolha de Shelley Duvall. 

No entanto, Jack já revelou que ficou surpreso com a grande atuação de Shelley: "Eu chamo isso do trabalho mais duro que um ator já fez porque em 40% do filme ela está histérica. E quando as filmagens são tão longas; imagine meses e meses como um ator tendo que trabalhar nessa histeria. (...) Eu não sei se conseguiria fazer isso. Você tem que fazer, mas por quatro meses? Mas ela fez. Ela está brilhante no filme!" Aliás, ele ainda revelou que a famosa frase 'Here's Johnny' foi baseado no monólogo de abertura do programa televisivo de Johnny Carson, tanto que Kubrick ficou chocado de Jack não ter percebido essa referência. 

Shelley Duvall concorda que foi a performance mais complicada de sua vida. Ao conversar com a jornalista Lee Gambim em 2011, ela contou que "Stanley tem uma reputação ruim, mas ele é um perfeccionista. Nós tínhamos nossos momentos de descontração no set, mas geralmente explodíamos um com o outro. Eu sou uma pessoa muito teimosa e não gosto que mandem em mim e Stanley me puxava e puxava até que eu chegasse onde ele queria. O roteiro não era específico o suficiente para eu entender a minha personagem." Apesar disso, ela mantém que teve uma ótima relação com Jack e os dois se ajudavam muito durantes as cenas. Infelizmente, a atriz, atualmente, está em um estado mental frágil, sofrendo com alucinações e muito diferente de como estava em seus dias de glória nas telonas. 
Shelley Duvall e Kubrick discutindo sobre a cena                                               Divulgação
O processo de atuar o filme também foi difícil para Jack Nicholson. Sua namorada na época, Anjelica Huston, filha do grande diretor John Huston, revelou que ele chegava tão cansado que mal conseguia fazer nada a não ser dormir bem cedo para se recuperar para o próximo dia de gravação. Mas se Kubrick, com seu jeito introspectivo e sua determinação em tudo sair perfeito era duro com seus atores adultos, especialmente com Shelley, com Danny Lloyd, que interpretava o filho do casal, ele era todo dedos de formosura! 

Foi seu colaborador, o ator Leon Vitali, que descobriu Danny Lloyd e indicou que ele seria perfeito para trabalhar no filme. Com apenas 7 anos de idade quando o filme foi lançado, Lloyd não fazia nem ideia que estava em um filme de terror, conquistando o papel ao externar a voz de seu pai - já que o garoto lia mentes - através de transformar seu dedo indicador como se fosse um fantoche. 

Danny, contudo, achava que O Iluminado era um drama sobre uma família e só. Tanto que, na cena quando a personagem de Jack Nicholson enlouquece e Shelley Duvall começa a fugir com Danny nos braços, é na verdade um boneco que ela segura. Em entrevista ao Daily News, a primeira depois de muitos anos, Danny revelou que tentou conseguir mais papeis no cinema, mas aos 14 anos de idade desistiu para viver uma vida normal, enfatizando que ficou muito feliz em participar do O Iluminado, que foi seu primeiro papel no cinema: "Eu fiquei feliz de participar do filme. Não foi uma má experiência para mim. Apenas não deu muito certo para mim e eu resolvi voltar a ser um cara normal." 

As gêmeas com quem ele brincava durante os intervalos no set, Lisa e Louise Burns, dividem o mesmo carinho sobre o filme, revelando pelo Daily Mail, que Jack era como uma figura paterna para elas no set de filmagens e que diferente de Danny, elas não se importaram com o aspecto macabro do filme - elas sabiam sobre o que era e levaram na maior naturalidade. As gêmeas completaram 11 anos de idade fazendo o filme e Kubrick fez questão de fazer uma enorme festa para as garotas Grady. No livro, aliás, as personagens não são gêmeas, mas Luisa revelou que elas fizeram o teste para o papel mesmo assim e agradecem que o cineasta considerou que gêmeas seriam muito mais assustadoras nas telas. 

Divulgação
Os relatos são verdadeiros, no entanto - trabalhar no set com Kubrick era um grande desafio. Ele fazia os atores interpretarem a mesma tomada mais de 15 vezes até conseguir deles o que queria. A cena em que Johnny, com um machado, ataca sua esposa, demorou mais de 3 dias para ser feito, mas a porta, na verdade, era feita de amendoins - o desafia era arrebentar a porta de forma mais natural! Outra cena no filme em que Jack briga com Wendy por tirar sua concentração no trabalho foi inspirado no próprio divórcio de Nicholson e Sandra Knight, que foi finalizado no dia dessa gravação. 

Os atores mais velhos ficavam no set por mais de 15 a 17 horas e Kubrick, como já contamos, os faziam repetir a cena até a exaustão física e mental. A sina do cineasta era com Shelley, de quem ele nunca ficava satisfeito com sua performance, mandando que ela ficasse mais assustada e inclusive, tratando-na bem diferente do resto dos atores, com muita mais frieza. Emilio D'Alessandro, que trabalhou de perto com Kubrick, conta em sua biografia Stanley Kubrick and Me: Thirty Years at His Side, uma parte dessa triste história:
Quando Jack fazia um erro ele continuava. Ele improvisava ou juntava para tentar terminar a cena. Assim ele dava a chance para que Stanley pensasse na cena toda. 'Não se preocupe. Se não está certo, nós fazemos de novo.' disse o Stanley para acalmar Shelley, mas ela ficava mais e mais insegura. Ele dizia: 'Shelley, apenas faça a cena como eu te falei e vemos isso depois.' e ela dizia: 'Você sempre diz ok para o Jack e nunca para mim. Tem algo de errado?' e ele pedia que ela apenas fizesse a cena. " 
Emilio, que trabalhou com o elenco e como parte dele como produtor assistente, ainda revelou que Shelley voltava para o hotel chorando toda à noite, triste por não conseguir fazer o que Jack fazia e não arrancar nenhum okay do diretor. A filmagem de O Iluminado também sobreviveu à um incêndio elétrico, que atrasou ainda mais a produção já lenta do longa, por dois meses. 

Stanley, conhecido por manter seu set de filmagens bem familiar, apesar das demandas, convidou sua filha Vivian, ansiosa por participar do filme, para trabalhar com o departamento de arte em busca de roupas dos anos 20, para uma cena em particular. Foi aí, de ficar no set por tantos dias, que ela teve a ideia de criar um documentário sobre as filmagens de O Iluminado, que está disponível, na íntegra, no youtube, em inglês! Katharina, sua enteada, também participou das filmagens, buscando o local perfeito para o filme, no qual as cenas externas foram gravadas, em Colorado, nos Estados Unidos. 


Foi apenas no meio de 1979 que a edição de O Iluminado começou e o estúdio EMI levou meses apenas para catalogar, em ordem, as filmagens de Kubrick. O filme ganhou sua estreia em 23 de maio de 1980 e recebeu críticas mistas, com muitos criticando a falta de alinhamento com a história de Jack Torrance no livro. Anos depois, o escritor Stephen King lançou um livro chamado Doctor Sleep, revelando aos leitores o que aconteceu, anos depois, com a personagem de Danny.

O final foi realmente muito criticado, já que no livro Jack consegue lutar com sua insanidade tempo o suficiente para sua família fugir e ele morrer no hotel em chamas. Kubrick, de acordo com a matéria do EW, resolveu mudar isso, acreditando que um filme de terror deveria ter alguém para ser morto e assim o personagem de Jack mata Halloran; foi considerado que Danny morresse, mas Kubrick não teve a coragem. Questionado sobre os erros de continuação do filme, como janelas que não caberiam no hotel e outros detalhes, o cineasta dizia que era uma história de fantasma que não deveria ser levada à sério.  

Harlan, um dos produtores executivos do filme, ainda revelou que existiram inúmeras cenas cortadas pela Warner Bros por causa do tempo de duração de O Iluminado, incluindo um no qual Jack encontra o livro de histórias do hotel e até uma leve mudança no final, para deixá-lo ainda mais macabro. A inserção de Jack na fotografia, no entanto, já estava planejada desde o início e foi a úncia coisa não alterada. No entanto, não fiquem animados para uma possível reedição do filme não, já que Harlan diz: "Todas as cenas extras e não usadas foram destruídas, incluindo os negativos. Ele sabia que nunca consideraria uma reedição. Ele vivia no presente. Não olharia para trás."

Um dos filmes mais famosos de Stanley Kubrick, apesar das críticas negativas, O Iluminado (The Shining, 1980) é um clássico cult do gênero horror quer Stephen King e os críticos gostem ou não.


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