A longa estadia de Janet Leigh e Tony Curtis no Brasil

Janet Leigh e Tony Curtis eram um dos casais mais amados dos anos 50. Os dois se conheceram quando a carreira de Janet já estava estabilizada nos cinemas e a de Tony estava apenas começando, mas isso não impediu que nos cinco filmes que eles participaram juntos, ela ficasse em segundo lugar no anúncio dos créditos, coisa que ela dizia fazer com muito prazer para seu marido.

Mas nos anos 60, os boatos de infidelidade e da infelicidade do casamento dos dois se tornavam cada vez mais ruidosos, apesar deles saírem para todos os lugares juntos, levando suas filhas Jaime e Kelly. Foi exatamente isso que aconteceu em 1961, quando a família Curtis fez uma parada rápida em São Paulo, no Brasil.

O passeio do casal pelas ruas de São Paulo                                  Divulgação/Cinelândia
De acordo com o jornal Última Hora, o casal e suas filhas pousaram os pés no Brasil no dia 26 de setembro de 1961, ao desembarcarem em Santos, litoral de São Paulo, às 9 horas da manhã, pelo navio S.S Argentina, que chegou ao país de Nova York, com uma rápida conexão em Recife, no Pernambuco -onde a família assistiu a abertura dos Jogos de Primavera- e que posteriormente seguiu viagem à Buenos Aires, onde Curtis gravaria o filme Taras Bulba, lançado em 1962 e estrelado pelo ator e por Yul Brynner. 

Ainda de acordo com o jornal Última Hora, o casal e suas filhas desembarcaram em São Paulo com um total de 100 malas! Pois é isso mesmo! A família Leigh-Curtis ficou hospedada no hotel Jaraguá, um dos mais famosos da época dos anos 50/60 no Brasil, exatamente em dois quartos: os de número 2007 e 2008. E tem mais: Tony chegou ao país com um paletó axadrezado e Janet com um vestido vermelho, de matar!

As duas filhas do casal, Kelly de 5 anos de idade, e Jamie Curtis de apenas 2 anos de idade, estavam adoráveis com vestidinhos claros e frescos. O casal também trouxe a governanta junto em sua parada na terra da garoa.

Janet e Curtis assim que chegaram em São Paulo, ao lado com suas filhas Kelly e Jaime              Divulgação
Todos subiram de carro pela serra, sendo recebidos por Harry Stone, embaixador do cinema americano no Brasil, mas o táxi acabou com os dois pneus furados. E como a troca iria demorar, a família pegou carona no automóvel de reportagem de uma revista carioca. Imaginem só como foi essa viagem!

Já bem acomodados no hotel Jaraguá, a família se preparou para assistir à estreia do filme Os Bandeirantes, realizado pelo diretor Marcel Camus, com a participação de alguns atores nacionais do cinema. Isso no dia 28 de setembro de 1961.

A família unida: Janet foi considerada muito simpática, mas Tony ficou como 'o convencido'            Divulgação
No dia anterior, dia 27, no entanto, o casal armou uma coletiva de imprensa no hotel, prontos para responderem as perguntas dos ávidos jornalistas. Janet, considerada calma e doce, revelou que acompanhava Tony em viagem porque teve uma missão dada pelo Departamento do Estado Norte Americano para viajar pelo interior da Argentina em missão de boa-vontade junto às universidades.

Como já mencionado, Tony gravaria um filme por lá. Mas será que a missão foi o único motivo de Janet acompanhar seu marido para a Argentina? De qualquer maneira, de nada adiantou sua proximidade - Tony largou a atriz para se casar com a alemã de apenas 18 anos de idade, Christine Kaufmann, que atuou ao seu lado no filme.

Janet mostrou sua intenção de participar de um filme brasileiro, revelando ao jornal Correio da Manhã que era "necessário o script de um autor brasileiro conhecido pelos americanos." Já Curtis revelou que não tinha nenhuma intenção de se tornar produtor de cinema, dizendo que o trabalho dava "muita dor de cabeça" e que adorava trabalhar com a esposa.

Mas nem tudo foram flores na coletiva de imprensa. Segundo a revista Cinelândia, um problema começou já que além dos jornalistas, artistas foram convidados achando que participariam de um coquetel no jardim de inverno do hotel- um local que não cabia nem ao menos cem pessoas. Juntando esse número à imprensa, o local estava completamente empaçocado.

Tony Curtis e Janet Leigh durante a coletiva de imprensa                                         Divulgação
Durante a estadia de Janet Leigh e Tony Curtis em São Paulo, Tony foi perguntado sobre o que achava da mulher brasileira durante a coletiva e passou por uma pequena saia-justa: "A mulher brasileira? Que assunto mais rico e agradável. Há tanto para se dizer. Ela é bonita, graciosa e elegante. Há ritmo musical em seus gestos, é simpática e amável.. Ah, como eu gostaria de poder falar. O assunto me agrada muito. Quem é que não se entusiasma? Mas é melhor parar por aqui. Janet pode não gostar e para mim ela é a maior mulher!"

Por fim, perguntada se o cinema atual era menos feminino do que na época de Greta Garbo, Janet Leigh respondeu: "A feminilidade no cinema agora é diferente, colocada em ângulos mais consistentes com a nossa época."

A visita do casal demorou uns quatro dias em São Paulo e nesse meio tempo a família se manteve ocupada. As filhas de Tony até nadaram na piscina do milionário Emerlino Matarazzo, que deu uma festança de boas-vindas para o casal,  e escaparam de ter severas queimaduras no corpo, quando um empregado correu para avisar que haviam jogado soda cáustica para manter o ph da água neutro da piscina.

Janet e Tony em dia de passeio em São Paulo                              Divulgação
Outra nota interessante foi que Tony ficou fascinado pela estátua do Ibirapuera e decidiu comprar uma rede vendida por um ambulante local e acabou levando meia dúzia. Suas outras compras foram dois ternos brancos, depois de ver os homens em Recife vestidos assim, enquanto Janet, que sempre vestia-se de vermelho ou rosa, teve que escapar de cantadas insistentes de homens brasileiros.

Mas a viagem também teve seus triunfos, quando o governador de São Paulo, Carvalho Pinto fez questão de conhecer os astros, tendo-os recebido em audiência especial no Palácio do Governo no dia 28 de setembro. Dizia-se que Janet conhecia inúmeras palavras em português e encantou o governador, elogiando o desenvolvimento de São Paulo.

Janet Leigh está rodeada de atenção                                                          Divulgação
Mas se Janet Leigh partiu de São Paulo para Buenos Aires, na Argentina, no dia 30 de setembro de 1961, Tony Curtis continuou no país por mais dois dias, inclusive sendo persuadido a se apresentar durante um programa matutino na TV Record ao lado do comediante, Chocolate.

Anúncio da aparição de Tony na TV Brasileira
De acordo com o jornal Estadão, a apresentação de Tony Curtis na TV Record, no dia 30 de setembro de 1961, foi um sucesso tremendo! Infelizmente, não temos autorização para reproduzir o conteúdo, nem parte dele, mas de acordo com outros jornais como Correio da Manhã e Diário de Notícias, Tony cantou, dançou samba e rock ao lado de cinco moças sortudas e até fez par com o comediante Chocolate, arriscando algumas palavras em português como 'obrigado' e 'nada'.

Depois disso, Tony foi direto para a Argentina, para terminar de gravar algumas cenas do filme Taras Bulba, desencontrando-se com seu amigo e colega Yul Brynner, que não foi tão bem recebido no Brasil por ser considerado "antipático".

Mas os artistas adoraram o Brasil e não ficaram longe por muito tempo. No dia 4 de novembro, Janet chegou novamente ao país, dessa vez de avião, já que seu marido é que era supersticioso, mais especificamente no Rio de Janeiro, com suas duas filhas Jaime e Kelly a tiracolo, recepcionada por Jorge Guinle, Harry Stone, Odete Lara e Aguinaldo Raiol.

Janet sendo recebida pela atriz Odete Lara ao lado de suas filhas                                 Divulgação
A estrela ficou cinco dias por lá, de acordo com o jornal A Noite, comparecendo a várias estreias no Guanabara e até a premiére do Skindô, um show beneficente A atriz, aliás, foi convidada especialmente por Harry Stone para inaugurar esse jantar-dançante do Restaurante Panorâmica Mesbla, dançando ao lado de Guinle, que nunca despensa a companhia de belas atrizes estrangeiras que vem ao Brasil.

Janet ficou muito entusiasmada com o show!                      Divulgação/Diário Carioca
Logo depois, no dia 8 de novembro, Janet Leigh foi para Belo Horizonte, Minas Gerais e no dia seguinte já para Brasília ficando hospedada com as filhas no conhecido Hotel Nacional, onde fez um jantar para receber o prefeito Sette Câmara e João Goulart e dizendo que gostaria de ter um pedaço do Brasil, pretendendo comprar algum terreno, coisa que Tony fez comprando uma fazenda em Goiás. Participou até de uma sessão do Senado em Brasília, segundo o jornal Correio Braziliense.

No dia 10, Janet fez uma pequena passagem em Goiânia e na mesma tarde voltou à Brasília, ficando o restante de seu tempo no Brasil no Rio de Janeiro até o dia 15 de novembro de 1961 quando voltou para os Estados Unidos. Janet apenas voltaria ao Brasil em 1967 para gravar cenas de seu próximo filme, um suspense chamado Diamantes a Go Go (The Great Slam, 1967).

Janet na praia no Rio; a atriz chegando em Brasília e indo embora, dizendo "eu adorei!"                Divulgação
O casamento de Janet Leigh e Tony Curtis já deveria estar em maus lençóis, porque ambos deveriam se encontrar no Brasil e irem embora juntos para os Estados Unidos, mas Tony apareceu de novo no Brasil no dia 30 de novembro, semanas depois de suas meninas partirem. Pousou para umas fotos bem ousadas mostrando seu ótimo físico para a revista O Cruzeiro, que infelizmente não podem ser reproduzidas, e se divertiu para valer à bordo de um iate chamada 'A Atrevida'.
Fotos exclusivas da revista Cinelândia 
Depois de terminar as gravações de Taras Bulba, Tony chegou ao Rio de Janeiro, de trem, para fazer parte da premiére do seu filme O Sexto Homem (Outsider, 1961) no Cine São Luis e assim que chegou já foi fazer um passeio pela baia de Guanabara. Estreia do filme encerrada, Harry Stone levou Tony Curtis até o campo Fluminense, onde foi feito um show em sua homenagem e caiu no samba na boate Nazaré, no Rio de Janeiro dançando até o chá-chá-chá.

Sozinho, Tony pareceu aproveitar ainda mais a viagem, elogiando a farofa do nosso país, achando 'genial' e dando um almoço/feijoada em homenagem ao governador Carlos Lacerda, indo embora no dia 5 de dezembro no navio SS Argentina. Tony também passou por Salvador, na Bahia, conhecendo vários artistas locais, no dia 6 de dezembro, depois de, é claro, comprar uma tapeçaria para seu amigo Marlon Brando.

Tony se divertindo na boate Nazaré e com o governador Carlos Lacerda                   Divulgação
O tempo entre Tony e Janet de nada adiantou e os dois tiveram um divórcio amargo em 1962. Pelo menos, separadamente, eles sempre terão um pedacinho do tempo que ficaram no Brasil!

E que tempo!

Os filmes românticos de River Phoenix

River Phoenix é um tanto quanto James Dean - ambos tiveram uma carreira curta nos cinemas e morreram jovens demais. Mas enquanto Dean era um rebelde sem causa, mesmo, River sempre se preocupava com consumo consciente, com os direitos dos animais e com fazer o mundo ser um lugar melhor. 

Isso não impediu, no entanto, que os dois tivessem mortas trágicas, que juntamente com carreiras brilhantes, marcaram seus lugares como ícones do cinema. A comparação entre River Phoenix e James Dean já é batida, mas vale para lembrar que sem uma estrutura sólida fora do cinema, muitos astros caem em uma jornada de autodestruição inevitável. 

Meu primeiro encontro com River Phoenix aconteceu aos 13 anos de idade, quando assistia, durante o natal, seu filme Conta Comigo (Stand By Me, 1986) que o transformou em um astro da sétima arte. Eu fiquei simplesmente encantada! Com apenas 15 anos na época da filmagem, River impressionou à todos e logo dois anos depois do lançamento de Conta Comigo, recebia sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por Peso de Um Passado (Running On Empty, 1988).

River contracenou com sua namorada na época, Martha Plimpton                               Divulgação/Gif
Mas apesar dos olhos esverdeados, cabelos loiros e um porte altivo, River fez poucos filmes de romance. Isso porque ele detestava ser visto apenas com um galã e o único filme de comédia romântica que ele realmente fez foi Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon (Jimmy Reardon, 1988) que o ator mesmo declarou ser seu pior trabalho e que só o fez para conseguir uma melhor condição de vida para sua família (o pagamento era ótimo).

Sobre ser considerado um galã (heart throb), River desabafou para a revista Details de novembro de 1991: "Quando eu penso nessa palavra, penso em um coração com as artérias entupidas. Eles dizem isso de todo mundo. É uma projeção da mídia e me faz querer comer hambúrgueres, para que meu coração caia.", vale lembrar que a crítica é bem pesada, já que River era vegano. 

No entanto, seus filmes românticos são alguns dos mais doces, talvez pela interpretação intensa de River em todos eles. Confira, a seguir, os filmes românticos do ator!  

UM DIA NA VIDA DE JIMMY REARDON (JIMMY REARDON, 1988)

Divulgação
Uma Noite Na Vida de Jimmy Reardon ( Jimmy Reardon, 1988) foi baseado no livro autobiográfico intitulado Aren't You Even Gonna Kiss Me GoodBye? do diretor do filme, William Richert. Nele, conta-se a história de Jimmy, vivido por Phoenix, como um jovem rebelde que tem várias namoradas e acaba se envolvendo com uma mulher mais velha, percebendo que seu problema mesmo é a relação com seu pai.

Apesar de um elenco afiado, com Ione Syke ( a mesma atriz do filme Digam o Que Quiserem, 1989), Paul Koslo e Ann Magnuson, o filme sofre com a falta de uma história mais redonda e a indecisão do diretor - afinal, a personagem de River não tem personalidade nenhuma, apenas age de acordo com o que a história pede. É por isso que como comédia romântica o filme falha e é uma pena - River, tão novinho, era ideal para um papel bom de comédia romântica, como Alguém Muito Especial (1987), por exemplo.

A mãe de River, Heart, insistiu que ele participasse do filme, mas depois que percebeu o teor sexual forte do filme, fez de tudo em seu poder para que seu filho não participasse de entrevistas e nem das premieres de Uma Noite na Vida de Jimmy Reardon (1988). Mas, no começo, River via o filme como uma forma de expandir seus talentos artísticos, tanto que escreveu uma canção para o filme que não foi usada. Mais tarde ele formaria a banda Aleka's Attic. 

Ele disse, via a biografia He's Still Here: The Biography of Joaquin Phoenix de Martin Howden: "Ele (a personagem) se deixa levar pelos seus sonhos, que ele quer realizar em um dia e meio. Não é o seu típico filme adolescente, porque é todo visto pela visão poética de Jimmy e realmente não tem um final feliz e nem deveria. Jimmy termina sem nada e com ninguém. Ele tomou o caminho errado em algum lugar na linha e eu não ia querer ser que nem ele. Ainda assim, suas intenções são lindas. Ele quer ir para o Havaí e viver no Paraíso. Todo mundo quer isso. Eu criei o passado inteiro de Jimmy para que suas ações fossem entendidas. Jimmy é mais manipulador do que eu e mais ousado com as mulheres. Na verdade, esse é o primeiro filme que fiz qualquer cena de amor ou comédia. Eu até me sinto culpado de estar sendo pago." 

Infelizmente, o filme foi reeditado e regravado inúmeras vezes, transformando a citação de River acima, quase como se o ator falasse de outro filme totalmente diferente. Assim, Um Dia na Vida de Jimmy Reardon se transformou no mais odiado filme na carreira de River, que contou: "Eu não concordo com esse tipo de filme. Um dia Na Vida de Jimmy Reardon foi um grande erro. Eu era muito jovem e não sabia que estava desperdiçando meus talentos de um maneira enorme. Eu estava explorando algo especial. O filme não saiu do jeito que eu esperava. Eu nem sei se era a pessoa certa para o papel. Para que funcionasse, acho que deveria ter alguém um pouco mais masculino, como Tom Cruise. Ele se daria muito melhor do que eu." 


APOSTANDO NO AMOR (DOGFIGHT, 1991) 

Lili Taylor e River Phoenix juntos nesse romance                                          Divulgação 
O filme Apostando no Amor (Dogfight, 1991) conta a história de um grupo de fuzileiros que antes de servirem na grande Guerra da Coréia, tem alguns dias de licença e usam para participar da competição chamada Dogfight que consiste em achar a menina mais feia para levar à festa. Quem levar a mulher mais feia da festa ganha muito dinheiro. É assim que Eddie Birdlace, interpretado por River Phoenix, conhece a doce Rose, vivida por Lili Taylor, quem ele leva para o baile. O problema é que ela descobre a armação e é a único que enfrenta os fuzileiros. Assim Eddie corre atrás dela e uma noite inesquecível começa. 


Lili Taylor, em entrevista ao site AV Club, revelou que esse foi um papel difícil para o ator: "Ele era um baita hippie e ali estava ele interpretando um fuzileiro. Causava muito desconforto para ele. Eu não acho que ele gostava de entrar nesse estado." A entrevista de River para a revista Premiere de outubro de 1991 confirma o que Taylor conta, já que o ator diz: "Há coisas que Eddie faz que se eu fizesse ficaria muito envergonhado. Mas não sou eu. Isso pertence apenas à ele." 

Talvez o mais surpreendente do filme é que foi gravado pela diretora Nancy Savoca, a única diretora mulher que River trabalhou nos cinemas. "É uma dicotomia no fato de termos uma diretora mulher. A norma seria pensar: 'O que uma mulher faz dirigindo um filme sobre fuzileiros?'", conta River. No entanto, a gravação não foi sem suas dificuldades, os executivos do estúdio do filme Warner Bros ficavam sempre de olho no que estava acontecendo e nas primeiras semanas de gravações, Nancy não sabia se manteria seu emprego. 


Mas o filme, apesar de ter um modesto sucesso em seu lançamento em 13 de setembro de 1991, atualmente é considerado um clássico cult e um dos filmes favoritos da maioria dos fãs do ator, apesar da gritante diferença entre a personagem e River, o que fez com que ele crescesse em sua profissão: "Birdlace não tem qualquer noção de si mesmo de nenhum jeito interessante. Ele é um prisioneiro inconsciente da sua própria raiva e uma parte sua está em negação.", conta River que teve que mudar seu cabelo e seus hábitos para o papel, ao mesmo tempo que interpretava um gigolô gay ao lado de Keanu Reeves no filme Garotos de Programa (My Private Idaho, 1991). 


UM SONHO, DOIS AMORES (THE THING CALLED LOVE, 1993)

River Phoenix no último filme completo de sua carreira                                          Divulgação
River Phoenix já estava com um sério problema com drogas quando gravou este filme. Recém-separado de sua namorada de longa data, Suzanne Solgot, histórias circulavam na gravação de Um Sonho, Dois Amores (1993) de que ele aparecia no set enquanto estava drogado, murmurando e tropeçando por algumas de suas cenas. Visivelmente mais magro e com um atitude diferente de seus outros filmes, não é difícil de ver que ele precisava de ajuda. Peter Bogdanovich, no entanto, o diretor de Um Sonho, Dois Amores (1993) tentava minimizar os boatos, embora admitisse que o ator estava andando com as pessoas erradas: "Todos nós estávamos preocupados com o tipo de pessoas que ele estava andando. L.A o incomodava. Algo lá conseguia aflorar todas as coisas ruins na vida dele." 

O filme Um Sonho, Dois Amores (1993) conta a história de Miranda Presley, vivida por Samantha Mathis, uma novata no mundo da música que se muda para Nashville para ir atrás de seu sonho de se tornar uma cantora country de sucesso. No meio do caminho, ela encontra pessoas com sonhos tão grandes quanto os dela, sua amiga Linda Lue Linden, um dos primeiros papeis de Sandra Bullock,  e dois homens que vão mudar sua vida e dividir seu coração: o badboy James Wright, interpretado por River Phoenix, e bonzinho Kyle Davidson, de Dermot Mulroney. 

River se envolveu com o filme quando o agente dele leu o roteiro e enviou para ele, que ficou muito interessado em fazê-lo. Assim o estúdio do filme ligou para o diretor, que aprovou a escolha de River para o papel. Samantha Mathis, que estava indecisa de aceitar a oferta do diretor, confirmou assim que soube que River participaria (os dois começaram a namorar logo no começo do filme e Samantha terminou com seu então namorado, John Leguizamo). Todos os integrantes do filme escreveram ou ajudaram a escrever suas próprias canções e todos usaram sua voz de canto real. River escreveu duas canções para o filme, mas apenas Lone Star State of Mind foi usada.  

Sobre o filme e como o toque maternal de Miranda Presley mudou seu personagem, River confessou em entrevista ao jornal Santa Fe em 27 de agosto de 1993: "Eu confio muito nas mulheres. Se eu achasse uma mulher como essa neste cômodo, eu daria minha vida para ela. Você manda e eu estarei lá." 



Aproveite e confira nosso vídeo com 5 curiosidades que você talvez ainda não saiba sobre River Phoenix, no primeiro vídeo idealizado para nosso site, a seguir! 




A morte misteriosa da atriz Thelma Todd

Era o dia 16 de dezembro de 1935, uma segunda-feira, em Los Angeles na Califórnia e uma empregada de uma rica atriz abre a porta da garagem para limpá-la. A garagem pertencia à Roland West, que além de ocasional amante de Thelma Todd, também era sócio, junto com sua esposa, do restaurante da atriz chamado Thelma Todd's Sidewalk Cafe, que começou em 1934. A casa ficava acima da colina, próximo ao restaurante da atriz.

Lá é encontrada Thelma Todd morta dentro do carro. Sua morte, na época, foi considerada acidental, uma morte por dióxido de carbono, provavelmente por manter o carro ligado para se aquecer enquanto dormia. Até hoje, no entanto, a explicação da morte de Thelma Todd continua cercada de mistérios. 

Thelma Alice Todd nasceu em 29 de julho de 1906, três anos depois de seu irmão mais velho, William. Infelizmente, de acordo com o livro The Life and Death of Thelma Todd de William Donnati, o irmão de Thelma morreu aos sete anos de idade, vítima de um acidente no qual um maquinário da fazenda de leite caiu em cima dele e o matou. A partir daí, Thelma se transformou no centro de atenção e amor de seus pais. 

Thelma Alice Todd tinha paixão pela sétima arte                                         Divulgação/Gif
Desde criança, de acordo com William Donnatti, Thelma Todd impressionava os outros com sua beleza, mas preferia muito mais correr, jogar beisebol, nadar e andar de bicicleta. A única outra coisa que ela amava tanto quanto os esportes era o mundo do cinema. Logo ela se juntou à um coral da Igreja, sempre mantendo sonhos de se tornar uma atriz profissional, participando de pequenos papeis nas peças da Igreja. Beleza para ela não faltava, de acordo com seu primo Bill Todd: "Em qualquer lugar que ela fosse, cabeças se viravam para admirá-la." 

Sua primeira grande chance aconteceu graças ao seu primeiro namorado, Jean Campopiano. Um dia ele lhe contou que seus amigos, Rosario e Peter Camparino, estavam fazendo um filme e ele a aconselhou a participar da audição. Quando ela chegou, Thelma impressionou, mas não conseguiu o papel de protagonista de The Life of Saint Genevive, que foi para Eva McKenna. Acabou renegada como uma extra. Os dois irmãos começaram a companhia Aurora Films em 1922. 

Logo deram um papel de maior destaque para Thelma no filme Tangled Hearts. Assim, ela terminou a escola e em 1923 entrou na faculdade para se tornar uma professora, esperando que de algum modo, quando os filmes que havia feito fossem lançados, que ela finalmente seria uma estrela. Infelizmente, a Aurora Films acabou dissolvida. 

Thelma à beira do estrelato                                           Scena Muda/Divulgação
Ela continuou modelando para roupas e ganhando concursos de beleza, tendo sua grande chance aos 18 anos de idade ao participar do concurso que escolheria a Miss Lawrence, que depois participaria da competição de Miss Massachusetts. Sua mãe, Alice, a encorajava a investir em sua beleza para conseguir sucesso e também incentivou seus sonhos de ser uma atriz. Um ano depois, em 1925, ela foi coroada Miss Massachusetts. 

Mas foi no meio de sua busca ao ser Miss que Thelma chamou a atenção do estúdio Paramount, já que Jesse Lasky buscava atores e atrizes para participarem da primeira escola de formação de atores do estúdio. Segundo o livro Ice Cream Blonde: The Whirlwind Life and Mysterious Death of Screwball of Thelma Todd de Michelle Morgan, foi Napoleon L. Demara, colega de trabalho de Thelma que enviou as fotos da futura atriz para a busca internacional de Lasky. Ela foi chamada e Jesse Lasky gostou do que viu - ela assinou um contrato com o estúdio, mesmo sem nenhum filme em vista. 

Logo, graças à sua coroa de Miss e seu contrato com a Paramount, Thelma Todd começou a participar de filmes como extra, tendo sua primeira grande chance no filme No Galarim da Glória (Rubber Hills, 1927). Estava claro, desde o começo, que ela tinha uma ótima veia cômica como atriz e isso transparece em todos os seus filmes, mas ela tentava lutar contra isso. Quem a guiou para não negar seu talento cômico foi o produtor Hal Roach, criador da dupla de sucesso Laurel e Hardy, que a combinou com a atriz Zazu Pitts em 1929. Thelma seria a loira sofisticada e esperta e Zazu seria a morena boba e ingênua. A dupla fez um tremendo sucesso. 

O sucesso da dupla foi tão grande que Pitts e Todd estrelaram juntas em 17 filmes                 Divulgação
Não se pode dizer o mesmo, infelizmente, sobre seu gosto para homens. Roland West, diretor por quem ela era apaixonadíssima, era casado e os dois tiveram que acabar com seu caso em 1931, alguns meses depois de se conhecerem ao trabalharem no filme Corsair (idem, 1931). Pat Di Cicco, um gângster, ou pelo menos, um homem bem "liso" - que tinha várias profissões, mas não parecia fazer nada - tinha um humor violento e brigava sempre com a atriz. 

Os dois se casaram rapidamente em 1932, mas o casamento durou menos do que dois anos, com um divórcio sendo pedido, com base de extrema crueldade que mostrou Pat, em 15 de fevereiro de 1934. Logo, ela começou a pensar em uma carreira fora do showbusiness, cansada de ver sua carreira estagnada, embora amasse fazer papeis de comédia. 

Logo, em 1934, ela se reuniu novamente com Roland West, ou seja o caso entre eles começou novamente e juntos decidiram abrir o café famoso da atriz, o Thelma Todd's Sideawalk Cafe. Jewel, esposa de West, saiu da casa, que ficava perto do café aberto por Thelma Todd na Califórnia, enquanto o então diretor contratava seu cunhado para ser o gerente do restaurante. 

Foto do restaurante de Todd                                                            Divulgação

Mas estar envolvida novamente com West, não impediu que Thelma tivesse inúmeros casos. Um deles foi com o gangster Lucky Luciano, que havia pedido, inclusive que ela permitisse que ele fizesse do andar de cima do café um local de jogos ilegal. Apesar de algumas imoralidades, Thelma não queria fazer nada ilegal e recusou a oferta de Lucky, que ficou furioso. 

É aqui que a história da morte de Thelma Todd fica complicada. Em 14 de dezembro, logo depois de terminar de gravar se último filme com Hal Roach, Bohemian Girl, a atriz comparece à uma grande festança no Café Trocadero, dado por Ida Lupino, na qual encontra seu ex-marido, Pat. Os dois discutem como antigamente, o que faz com que Thelma comece a beber cada vez mais. Thelma então sai da festa acompanhada de seu choffeur. 

Todas as notícias sobre a morte de Thelma Todd 'batem' até então, mas é só. De acordo com a autopsia da polícia, Thelma morreu em 15 de dezembro de 1935, às 4 horas da tarde num domingo. Martha Ford, esposa do diretor Wallace Ford, revelou em entrevista ao jornal Daily Enterprise, no dia seguinte à morte, de ter conversado com a atriz: "Eu tenho certeza de que era a voz dela. Ela disse que iria me ver em meia-hora e que quando eu visse quem ela traria para minha festa, que eu ficaria abobada. E que iria com as mesmas roupas da festa." 

Mapa traduzido da morte de Thelma Todd                                    Divulgação/Montagem
Foi assim que ela foi encontrada, morta no carro na garagem de seu amante, por uma empregada chamada Mae Whitead, que afirmou que encontrou Thelma com o rosto sujo de sangue e com uma das portas da garagem abertas. 

As autopsias posteriores afirmaram que Thelma foi encontrada sem nenhum ferimento e que sua morte foi acidental, já que foi afirmado que Roland West e Todd tiveram uma grande briga quando ela voltou bêbada para casa e que foi dormir no carro, ligando-o para que não morresse de frio na garagem. Mas então, como Martha Todd recebeu uma ligação da atriz no domingo à tarde? Seria alguém tentando encobrir sua morte? 

Roland West, mãe de Thelma e a empregada Mae durante o julgamento                      Divulgação
Além de Lucky Luciano, sendo acusado de matá-la por impedir que ele abrisse sua operação de jogos ilegais no restaurante, e de Roland West, alguns até acusaram a mãe de Thelma, que praticamente forçou a atriz à entrar no mundo do cinema, de tê-la matado para receber sua fortuna. Sua mãe afirmou que quando ela foi fazer um seguro de vida, foi descoberto que Thelma Todd tinha um problema no coração. 

Os jornais da época também afirmaram que Todd vinha recebendo ameaças de extorsão para pagar 10 mil dólares ou se não, seria morta. A mãe da atriz, Alice, defendeu Roland West das acusações enquanto o advogado da estrela, A. Ronald Button, acreditava que Lucky Luciano era o culpado por tudo. Além desses dois homens na vida de Thelma, Ida Lupino afirmou que ela namorava com um homem chamado Harvey Priester, que se autodenominou seu noivo durante o julgamento. 

Rumores afirmam que Roland West teria contado ao ator Chester Morris que ele teria culpa no caso, mas isso nunca foi confirmado. Por isso, o mistério continua - teria Roland West matado Thelma por ciúmes e depois encoberto o crime? Teria sido seu namorado mafioso, Luciano? Ou até seu ex-marido ou a esposa de Roland, Carmen Jewel? 

Capitão da polícia Bert Williams checando a posição do corpo de Thelma                          Divulgação
Ou a morte, encoberta de teorias, seria tão simples quanto uma morte acidental? Mas e os amigos que afirmam que a atriz os encontraria no dia seguinte e Martha Todd que teria conversado com a amiga? 

Provavelmente a morte de Thelma Todd continuará um mistério eterno. Talvez ainda mais eterno do que seus filmes. 

O estilista Travilla para Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras (1953)

A lenda conta que as fotos de Marilyn Monroe vestindo um saco de batatas em 1952 foram tiradas porque os jornais da época a chamaram de "barata e vulgar" por causa do vestido que ela usava quando recebeu o prêmio de mais promissora iniciante na premiação Henrietta Awards em 1951. O vestido, o primeiro que Marilyn comprou que era bem caro, foi criado por Oleg Cassini - então marido de Gene Tierney - e era vermelho e super decotado! 

A imprensa da época declarou que o vestido era tão ofensivo que teria sido melhor que ela estivesse usando um saco de batatas. O estúdio de Marilyn Monroe, a 20th Century Fox, não deixou barato e um de seus publicitários pediu que o estilista William Travilla desenhasse um vestido de saco de batatas para que Marilyn usasse e tirasse fotos com ele, no qual o fotógrafo Earl Theisen fez também parte. Sobre a façanha publicitária, Earl confessou como noticia a revista American Photo de 1997: "Tudo que ela fez para as câmeras é estudado minuciosamente. Ela sabe exatamente o que está fazendo. Você pode vê-la 'clicar' enquanto você está focando a câmera nela ou preparando-se para ligar a câmera."

Marilyn Monroe provou que ficava bem em tudo!                                 Fotos publicitárias
William Travilla se tornou um grande amigo de Marilyn a partir dessa época e se tornou responsável por inúmeros trajes que a atriz usaria em mais de oito filmes - inclusive o do filme Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953). 

O estilista nasceu em 22 de março de 1920 em Los Angeles na Califórnia e desde criança mostrou uma predisposição para a arte. Seu talento era tanto que aos oito anos de idade, ao participar de aulas em uma escola de artes, ele foi para a turma adulta avançada. Acabou herdando um dinheiro de seu avô e viajou pelo sul do país, até que a Segunda Guerra Mundial começou. Com 18 anos de idade, pensou que seria recrutado, mas por ter o pé-chato foi declinada sua participação e conseguiu terminar sua faculdade de artes. 

Entrou no mundo do showbusiness graças à atriz Ann Sheridan, grande amiga sua, que o contratou como estilista pessoal durante alguns filmes que fez para o estúdio da Warner Bros em 1947 e fez com que ele se tornasse conhecido nesse meio. Antes disso, no entanto, ele trabalhava em uma boutique chique de roupas chamada Jack's enquanto fazia alguns freelas para vários estúdios. Foi em 1944 que ele conheceu Dona Drake, sua futura esposa e atriz birracial, quando ela foi até a loja para fazer alguns vestidos. A paixão foi tanta que os dois se casaram apenas 10 dias depois de se conhecerem, como conta o livro Creating the Illusion de Jay Jorgenson e Donald L. Scoggins. Famosa por personagens mexicanas, ela fingia ser dessa origem, escondendo a verdade sobre sua raça de todos, até de seu marido, já que seria ilegal uma negra casar com um branco na época. A lei da segregação foi apenas revogada nos Estados Unidos em 1948. Os dois se separaram mais de dez anos depois, mas continuaram legalmente casados e amigos, dividindo uma filha chamada Nia Novella. 

Dona Drake e seu marido Travilla em 1948                 Divulgação/Jornal das Moças
Assim, William Travilla entrou de vez no mundo do cinema ao ser estilista e figurinista para inúmeras estrelas, ficando bem próximo de Marilyn Monroe, tão próximo que os dois até tiveram um caso! Os dois trabalharam pela primeira vez no filme O Inventor da Mocidade (Monkey Business, 1952) e Travilla já era um grande nome - tinha ganhado um Oscar de Melhor Figurino pelo seu trabalho no filme As Aventuras de Don Juan (The Adventures of Don Juan, 1948) estrelado por Errol Flynn. 

Marilyn Monroe e William Travilla se conheceram nos estúdios bem antes de qualquer envolvimento artístico, em 1950. De acordo com o livro Goddess: The Secret Lives Of Marilyn Monroe de Anthony Summers, o encontro foi épico: "Minha introdução foi vê-la em um maiô preto. Ela abriu as portas de correr do meu camarim e uma das alças caiu, deixando seu seio exposto. Ela fez isso de propósito. Ela tinha uma qualidade maravilhosa, de ser tão linda, de querer se mostrar. Ela era como uma criança que queria fazer tudo e você perdoaria como perdoaria uma criança. Ela era tanto uma criança quanto um bebê e tanto homens e mulheres a amavam." 

Travilla confessou que os dois tiveram um caso durante a gravação de Homens Preferem as Loiras(1953) quando "Joe Dimaggio estava fora e minha esposa estava na Flórida" e o caso durou apenas algumas semanas. Marilyn tinha inúmeros outros pretendentes. Mesmo assim, é bem possível que essa paixão tenha inspirado Travilla a criar inúmeros trajes maravilhosos para Marilyn, que também o encorajou dando de presente um calendário com fotos nuas dela que dizia: "Por favor, me vista para sempre; com amor Marilyn". 

Marilyn Monroe sendo vestida por Travilla durante Os Homens Preferem as Loiras (1953)          Divulgação
O filme Os Homens Preferem as Loiras (Gentlemen Prefer Blondes, 1953) começou a ser gravado em novembro de 1952, baseado no livro escrito por Anitta Loos e posteriormente adaptado em forma de peça musical por Joseph Field. O filme conta a história de Lorelei Lee, vivida por Marilyn Monroe, e Dorothy Shaw, interpretada por Jane Russell, duas grandes amigas e performers do entretenimento. Lorelei se mete em inúmeras confusões ao buscar seu tão cobiçado diamante enquanto Dorothy tenta livrar sua amiga de problemas ao mesmo tempo que foge da paixão que sente pelo detetive Ernie Malone (Elliot Reid).

De acordo com o livro Dressing Marilyn: How a Hollywood Icon Was Styled by William Travilla de Andrew Hansford e Karen Homer, a cena de entrada de Lorelei e Dorothy no filme, com os vestidos vermelhos com paetê foram feitos com muito cuidado por Travilla, com uma confecção feita de "um tecido de crepe pesado, com milhares de lantejoulas costuradas pelo vestido em toda a direção. O decote profundo do vestido enganou os censores da época ao adicionar um tecido cor de pele por baixo até a cintura, que também deu a sensação de nudez, sem ser muito revelador. O broche de diamantes também cobre a abertura das pernas até as coxas das atrizes."

Jane e Marilyn nos figurinos idealizados por William Travilla                      Divulgação/Montagem
Aliás, sabe aquelas fotos que aparecem por aí de Marilyn Monroe em um vestido dourado com decote profundo parecendo uma deusa? Pois é, o figurino foi criado por William Travilla e seria usado por Marilyn em algumas cenas do filme Os Homens Preferem as Loiras (1953), mas as cenas foram cortadas. A atriz, no entanto, gostava tanto do vestido que sempre o usava em eventos públicos e em premiações importantes.

Marilyn e seu icônico vestido dourado                                        Divulgação/Montagem
Outra grande mudança do filme em relação aos vestidos foi com o lindo vestido rosa que Marilyn usou durante a cena de Diamonds Are a Girl's Best Friends. Originalmente, de acordo com o livro de Andrew Hansford e Karen Homer, o traje seria outro: "o vestido teria um body cor de pele, com diamantes em volta de seu pescoço e seios. Quatro grandes sequências de pedras estavam entre o pescoço até os quadris, que depois tinham ainda mais joias. Atrás, o vestido arrastava com mais veludo cobertos em diamantes para representar uma cauda rebaixada. A tiara tinha mais diamantes e com uma imitação da ave do paraíso em cima. Para completar, luvas pretas."

O vestido, segundo a pesquisa Marilyn Monroe - The Blonde Bombshell de Michelle Krause, custou mais de quatro mil dólares, ou seja, 12 mil reais. Infelizmente, foi bem nessa época que foram descobertas as fotos nuas de Marilyn Monroe para os quais ela pousou para Tom Kelley em 1949, que depois foram publicadas na primeira edição da Playboy. Para conter o escândalo, o estúdio resolveu não abusar tanto com a roupa e William criou o vestido rosa, hoje em dia icônico, bem em cima da hora.

Sobre isso, o estilista confidenciou de acordo com o livro Dressing Marilyn: "Além das duas costuras laterais, o vestido estava dobrado numa forma similar à papelão. Qualquer outra garota pareceria estar usando papelão, mas na tela, eu juro que você acharia que Marilyn estava usando uma pálida e fina peça de seda. Seu corpo era tão fabuloso que funcionou perfeitamente."

Realmente, o "vestido" original era sensual até demais!                         Fotos publicitárias/Montagem
Apesar de alguns contratempos com os vestidos da Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras (1953), o resto dos trajes da película aconteceram como planejados e mostraram a figura da atriz perfeitamente, já que Travilla era contra o costume de Monroe de usar roupas apertadas demais para si. Como um bom estilista ele sabia que caimento era tudo! 

Os figurinos de Marilyn são incríveis                                      Divulgação/Montagem
Sobre ela, Travilla confidenciou: "Ela era a pessoa mais complexa, incrível e magnífica. Ela foi o amor da minha vida, aquela garota."

E aparentemente esse amor pode não ter durado a vida toda na forma de um relacionamento mais íntimo, mas na forma de criações de peças icônicas para Marilyn, como o vestido branco de O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955) e a peça de maiô de Como Casar com um Milionário (How to Marry a Milionare, 1953), o amor de Travilla por Marilyn durou para sempre.

A origem de Labirinto - A Magia do Tempo (1986)

*alguns spoilers do filme Labirinto - A Magia do Tempo (1986)

É impossível não associar o filme Labirinto - A Magia do Tempo (Labyrinth, 1986) à persona de David Bowie, grande astro da música e do cinema, que interpretou o inesquecível Jareth, o rei dos goblins do filme. Bowie ficou tão perfeito no papel que o estranho é descobrir que ele não foi a primeira escolha de Jim Henson, diretor do filme, para interpretar o rei - queriam Michael Jackson, Sting ou até Mick Jagger, grande colega de Bowie. 

Foto publicitária do filme Labirinto - A Magia do Tempo (1986) 
A história de Labirinto - A Magia do Tempo começa em 1982 quando Jim Henson teve a ideia de criar um filme melhor do que O Cristal Encantado (Dark Crystal, 1982) ao conversar com seu amigo e colega de trabalho, o ilustrador Brian Froud. De acordo com o livro Jim Henson: The Biography de Brian Jay Jones, tudo começou depois de que os dois saíram da exibição do filme Cristal Encantado e Jim teria dito que o próximo filme seria bem melhor. Jim sugeriu um folclore mítico, mas Brian disse que não era o que ele esperava -sugeriu uma história com goblins. Henson, no entanto, queria pessoas na história, já que o filme seria então apenas com marionetes (o que ele achava que foi a falta que fez com que Cristal Encantado fosse um fracasso). Froud então disse que goblins sequestravam crianças no folclore e sugeriu que tivesse um labirinto no meio dessa história. 

Jim pensou muito na ideia de Froud e resolveu desenvolver um roteiro, escrevendo páginas e páginas de uma história que poderia se chamar Labyrinth, The Maze ou até The Labyrinth Twist, enquanto estava no Japão para a estreia do filme O Cristal Encantando (1982). Mas a ideia original não era de uma garota e um rei não. Seria, na sua concepção, uma personagem bem brincalhona e um rei que juntos teriam que enfrentar um labirinto repleto de perigos. As ideias de calabouços, portas que tornavam-se vivas e de não saber onde era para cima e nem para baixo já existiam na versão original e continuaram depois, mas o primeiro rascunho do filme era bem mais sombrio - teria um local repleto de joias no labirinto que sangrariam se fossem tocadas. Um tanto perturbador, não é mesmo? 

Jim Henson, também criador dos Muppets!                                                   Divulgação
Em março de 1983, Jim resolveu levar suas notas da história, que agora amadurecidas contavam a história de uma menina que descobre mais sobre o mundo através do rei dos goblins, para seu amigo Froud e Denis Lee, um escritor canadense. Froud resolve ilustrar a ideia de Henson e criou um quadro intitulado Toby e os Goblins, no qual um bebê aparecia cercado de criaturas estranhas. Jim gostou tanto que inspirou o trabalho do filme Labirinto - A Magia do Tempo e pendurou o quadro em sua casa. Já Dennis começou a desenvolver um livro com base nas ideias de Henson. 

De acordo com o documentário Inside The Labyrinth de 1986, Jim Henson estava interessado em David Bowie desde o começo, mas outras fontes diferem. Terry Jones, roteirista que fez um roteiro do filme O Labirinto - A Magia do Tempo a partir do livro de Dennis Lee afirmou em entrevista para Joe Randazzo que Jim queria Michael Jackson no filme:" Eu escrevi o primeiro rascunho do filme, mas ele não estava feliz com isso. Ele queria que o labirinto aparecesse mais cedo enquanto eu achava que seria mais parecido com o Mágico de Oz. Jim também estava falando sobre Michael Jackson na época, ele queria que ele interpretasse Jareth." 

Dennis terminou sua tarefa de escrever um livro sobre as ideias de Jim no final de 1983 e Terry Jones recebeu o material para escrever um roteiro em 1984, ou seja, seguindo essa linha do tempo seria impossível que Bowie soubesse sobre o material tão antes assim. Ou talvez haja outra explicação: Jim Henson queria uma estrela do rock para seu filme e deve ter enviado os desenhos de Brian Froud para vários artistas, no que David Bowie, um artista por si só, provavelmente ficou intrigado e resolveu participar do filme antes mesmo do roteiro ser finalizado. É isso, pelo menos, que ele afirma no documentário do filme, de que ficou interessado pelos desenhos antes de ler o roteiro e também pela possibilidade de atuar, cantar e escrever suas próprias músicas para o filme. 

David Bowie ficou super animado para participar do filme
O roteiro passou por inúmeras revisões até que encontrou seu caminho de volta para Terry Jones, um dos roteiristas de comédia mais renomados. Sobre isso, ele contou: "A história saiu de minhas mãos por um ano e depois voltou e Jim disse 'Você pode colocar as piadas de volta?' e eu recoloquei as ideias originais no roteiro, mas os coloquei no labirinto um pouco mais cedo. Jim insistiu nisso." 

Assim Labirinto - A Magia do Tempo (1986) tornou-se a história que tanto assistimos. Nele conhecemos Sarah (vivida por Jennifer Connelly), uma garota solitária que vive com seu pai e sua madrasta e detesta ter que sempre cuidar de seu meio-irmão, Toby (vivido pelo filho recém-nascido de Brian Froud!). Uma noite, cansada, ela pede que os goblins levem seu irmão embora e é exatamente isso que acontece. Arrependida, ela precisa ultrapassar um labirinto muito difícil e escolher entre seus desejos e seu dever sendo ajudada por amigos e atrapalhada pelo rei dos goblins, Jareth (interpretado por David Bowie). 

Agora se o envolvimento de David Bowie já estava quase garantido, a atriz que interpretaria Sarah ainda não estava escolhida. Jim Henson começou a fazer audições para o papel em abril de 1984, enquanto o roteiro ainda estava sendo escrito, e acabou se decidindo por uma jovem britânica chamada Helena Boham Carter. No entanto, outras atrizes como Laura Dern, Sarah Jessica Parker e Mary Stuart Masterson também foram consideradas, o que fez com que Henson decidisse escalar uma atriz americana. Helena, então, foi descartada - mas teve uma brilhante carreira posteriormente. 

No final de 1984, haviam duas atrizes americanas no páreo: Ally Sheedy, a Allison de O Clube dos Cinco (1985), e Jane Krakowski, que fez muito sucesso na série 30 Rock. Infelizmente, nenhuma das duas ficou com o papel. De acordo com a biografia de Brian Jones, em 29 de janeiro de 1985, uma jovem nova iorquina de 14 anos de idade, Jennifer Connelly fez um teste maravilhoso que fez com que ela ficasse com o papel de Sarah na hora. Duas semanas depois ela já estava com o contrato assinado, mudando-se para Londres com sua mãe para gravar o filme e em fevereiro de 1985 o diretor criou um baile de tema Labirinto, inspirando-se nas artes de Brian Froud, para comemorar a iminente gravação de Labrinto - A Magia do Tempo (1986).


Aliás, o roteiro de Labirinto - A Magia do Tempo era tão bagunçado que além de Terry Jones, as roteiristas Elaine May e Laura Phillips começaram a mexer nele para que as personagens de Sarah e Jareth fossem melhor definidas. Tudo isso em fevereiro de 1985, um mês antes do filme, que tinha um orçamento de 25 milhões de dólares fosse começado a ser gravado nos estúdios Elsetrees.

No entanto, mas uma polêmica ameaçou o filme - Maurice Sendak, escritor de livros infantis e amigo da esposa de Henson, Jane, escreveu um livro em 1981 intitulado Outside Over Here, na qual conta-se a história de uma garota chamada Ida que cuida de sua irmã pequena e que, um dia, é raptada por goblins. Embora o resto da narrativa do livro não tenha nada a ver com o filme O Labrinto, é impossível negar que pela proximidade do autor e diretor que Henson não tenha se inspirado no livro. Sendak estava disposto a processar o diretor, mas Jim Henson resolveu mencionar sua influência nos créditos finais de O Labirinto e assim Maurice retirou as queixas contra o diretor, mas não sem se arrepender depois.

A arte do livro de Sendak e o filme O Labirinto - A Magia do Tempo                  Divulgação/Montagem
Outro grande nome envolvido na gravação de Labirinto - A Magia do Tempo foi George Lucas, o produtor executivo da obra, que também ajudou a polir o roteiro e depois editar o filme. Já na época de Star Wars, Lucas contratou um ator para vestir a roupa de Darth Vader para passear pelos sets do filme O Labirinto, que começou a ser gravado, finalmente, em 15 de abril de 1985. Os dois diretores, aliás, se conheciam desde o primeiro filme da saga Star Wars, em 1977 quando Henson criou ao lado do maquiador Stuart Freeborn, o icônico Yoda.

Mas Bowie apenas apareceu no set de filmagens em junho, quando ele estava livre e já tinha gravado as canções que ele havia imaginado para o Labirinto (de acordo com as pinturas e a sinopse que lhe foram fornecidas) que seriam lançadas em 26 de junho pela gravadora EMI América (escute!). Isso deu tempo para que Jim Henson ajudasse Jennifer Connelly, que ainda se sentia confusa ao contracenar com os fantoches motorizados do filme. Sobre isso ela conta: "Você tinha um fantoche fazendo vários movimentos e umas seis pessoas trabalhando na mesma coisa, contorcendo e tentando fazer com que a ideia tivesse vida. Era algo lindo."

Jennifer e Jim Henson no set de filmagens                                                Divulgação
Sobre trabalhar com Bowie, em uma entrevista rara disponibilizada pela internet, Jennifer parecia muito contente pela oportunidade: "Eu sabia quem ele era por sua música, mas não sabia muito sobre ele. E eu gosto muito da música dele, porque ele muda muito, ele é ótimo. Muitos astros atuais tem apenas um estilo ou ideia, mas David muda muito. Ele é muito criativo e isso transparece e aparece em sua música e por isso ele está no mundo da música há tanto tempo. Quando eu o conheci pela primeira vez, fiquei bem tímida. É bem estranho conhecer alguém que você escuta pelo CD. Ele é bem amigável, bem pé no chão, uma pessoa super simpática e ele é o tipo de pessoa que faz com que você se sinta muito confortável ao lado dele."

David Bowie também não poupou elogios para a jovem atriz ao dar uma entrevista para a revista Bravo em 1987, dizendo que: "primeiro ela foi um pouco tímida, mas no terceiro dia revelou que era uma grande fã minha. Nós demos muito bem."

A química natural (de amizade) entre os dois, apesar da diferença de idade, veio a calhar durante a tão falada cena de baile do filme, na qual a fantasia de Sarah, que é ser uma rainha ao lado de Jareth finalmente é revelada. O filme mostra o desejo que muitas meninas da idade da personagem tem: de terem um romance com um ídolo amado, a fantasia inatingível, e descobrirem que isso nem sempre pode tornar-se realidade e de que, afinal, fantasia e realidade andam sempre lado a lado. O diretor Jim Henson ficou preocupado com essas conotações no filme, como seu filho Brian Henson, que também dublou a voz de Hoggle, conta no livro David Bowie: A Life de Dylan Jones, mas não tinha como escapar disso. Era a história de amadurecimento de Sarah, que tornava-se uma mulher.

O filme está repleto de referências                                                   Divulgação/Gif
Mas se a história entre as personagens humanas do filme não te impressiona tanto, talvez as marionetes o façam: o time de efeitos especiais liderados por George Gibbs construiu a figura de Humongous, um robô de armadura que deve impedir Sarah e seus amigos de buscarem Toby e chegarem à cidade dos goblins - com um esqueleto mecânico com uma estrutura hidráulica para levantar e abaixar seus braços. A figura podia ser controlada por uma pessoa usando uma manga eletrônica que era conectada ao "robô", usando marchas para mexê-lo da cintura para cima.

Em entrevista na época, John Henson um dos cinco filhos de Jim, revelou que as cenas com as marionetes eram uma das mais difíceis: "Eu comecei a trabalhar no filme construindo goblins por seis meses. Então eu trabalhei com os Fireys (as doidas aves) e como fazê-los se mover por três meses. Também trabalhei com as tralhas do filme e as máscaras da cena do baile de Sarah. A maioria das criaturas são esculpidas, primeiro, com plastilina, então moldadas em um gesso-silicone e depois em uma espuma suave. Com Hoggle, o guia de Sarah, por exemplo, os motores do rádio que o controla estão dentro do crânio de fibra de vidro para operar as expressões do rosto. O rosto de Hoggle é como uma máscara com vários botões que acessam músculos individuais do rosto. Isso leva quatro pessoas e tem que haver muito ensaio."


Os melhores amigos de Sarah, Ludo, Hoggle e Sir Didymus                                         Divulgação
Depois de mais de um ano de produção, com Jim e sua companhia tendo o privilégio de incluírem, pela primeira vez na história do cinema, um animal criado por CGI, ou seja efeitos especiais, nos créditos iniciais de um filme, a obra Labirinto - A Magia do Tempo (1986) foi lançada em 26 de junho de 1986.

As críticas, é claro, não foram muito favoráveis, chamando a personagem Sarah de mimada e sem motivação. Apesar de uma estreia sólida, o filme acabou perdendo o fôlego nas semanas seguintes e tirado de cartaz. Dos 25 milhões de dólares gastos, apenas 12 milhões foram arrecadados. O interessante é que, se na época, o filme foi vaiado nos cinemas, apesar de uma estreia em grande estilo em Londres com a família real, incluindo a princesa Diana, hoje em dia ele é considerado um clássico cult sem defeitos graças à criatividade e esforço de Jim Henson e equipe e as atuações de David Bowie e Jennifer Connelly, que posteriormente seria uma ganhadora do Oscar.


Um dos últimos filmes a fazerem os efeitos manualmente, Labirinto - A Magia do Tempo (1986) prova que a magia sobrevive durante anos, desde que acreditemos. E desde que seja tão belo quanto o David Bowie dos anos 80!


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