O brilhantismo de Jane Seymour na minissérie East of Eden (1981)

* spoilers do livro A Leste do Éden (East of Eden) de John Steinbeck e da minissérie de 1981 
"Mas a palavra judaica, a palavra timshel -thou mayest (tu podes) -ela lhe dá uma escolha. Essa pode ser a palavra mais importante do mundo. Isso diz que o caminho está aberto. Isso joga a escolha de novo para homem. Porque se você pode fazer é também verdade que você pode não fazê-lo." - Lee, A Leste do Éden (East of Eden); livro de John Steinbeck. 
O livro À Leste do Éden, original East of Eden do renomado escritor John Steinbeck, é um dos clássicos da literatura mundial. Ao longo de suas 576 páginas, o leitor encontra uma alegoria bíblica de grande magnitude, no qual a inveja, o amor e o ódio estão todos interligados. Mas se tem uma personagem na obra que é representada por ser totalmente má é a Cathy, mãe dos gêmeos Caleb e Aron, descrita na obra como nada mais, nada menos do que "possuída pelo demônio." 

Cathy é uma personagem tão maldosa, sem escrúpulos e sem empatia que apenas uma grande atriz conseguiria interpretá-la. Jane Seymour, que ficou famosa pelo filme Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time, 1980) era um desses talentos. Tanto que por sua interpretação da personagem Cathy na minissérie de três episódios de East of Eden de 1981, ela ganhou um prêmio de Melhor Atriz do Globo de Ouro. 

Cathy, papel de Seymour, é a semente da discórdia entre os irmãos Adam e Charles        Divulgação/ABC
Talvez no filme Vidas Amargas (East of Eden, 1955) esteja a interpretação definitiva da personagem Caleb Trask por James Dean, mas é na minissérie East of Eden (1981) no qual temos um aprofundamento maior das personagens do livro e no qual sentimos fascinação o suficiente para odiar Cathy. 

A minissérie e o livro À Leste do Éden (East of Eden) contam a história dos irmãos Adam (Timothy Bottoms) e Charles Trask (Bruce Boxleitner), que se odeiam e competem pela atenção do pai Cyrus (Warren Oats), fazendo um paralelo com a história de Caim e Abel do Velho Testamento da bíblia. O pai deles morrem e os dois herdam a fazenda, mas a chegada da maléfica Cathy Ames, vivida por Jane Seymour, acaba arruinando a vida dos dois. Ames casa-se com Adam e dá à luz gêmeos, chamados Caleb (Sam Bottoms) e Aron (ou Aaron) (Hart Bochner) que, por obra do destino, acabam, assim como o pai, interessando-se pela mesma garota, a Abra (papel de Karen Allen). Será que o destino se repetirá com eles ou Caleb e Aron terão um futuro diferente? 

Mais uma vez Cathy é a fonte de discórdia entre os irmãos Caleb e Aron               Divulgação/ABC
A minissérie East of Eden (1981) foi desenvolvida pelo canal americano ABC e quem teve a ideia de adaptar o livro em uma minissérie foi o produtor Barney Rosenzweig, como ele conta em entrevista para o jornal Florida Today em 1981:
Eu vi o filme Vidas Amargas (East of Eden, 1955) quando foi lançado em '55 e eu odiei o que fizeram. É uma história clássica de rivalidade de irmãos, mas eles mudaram para um filme no estilo Rebelde Sem Causa. O que me deixou mais aterrorizado é que seria este filme o representante do livro À Leste do Éden. O que não me ocorreu aos 15 anos de idade é que existia a possibilidade de fazer uma minissérie ou uma adaptação. 
O produtor sempre quis fazer uma adaptação do livro e descobriu que nos anos 70 que os direitos da obra tinham voltado para patrimônio de Steinbeck, o escritor. Ele, assim, conseguiu os direitos e resolveu dar a ideia da minissérie para o canal NBC, mas eles não "queriam tocar um clássico."

Dois anos depois, Rosenzweig tentou de novo com a emissora, mas eles tinham acabado de fazer uma minissérie do livro e filme A Um Passo da Eternidade (From Here to Eternity, 1953) e não queriam fazer a mesma coisa novamente. Assim o produtor levou a sua ideia de uma adaptação do livro A Leste do Éden (East of Eden) para o canal ABC e eles aceitaram! 

A minissérie foi gravada, em locação, com a cidade de Savannah se passando por Connecticut, nos Estados Unidos, e na cidade de Salinas, na Califórnia, EUA, no qual acontece boa parte da ação da minissérie. À Leste do Éden (East of Eden, 1981) é uma minissérie de mais de seis horas e custou um pouco mais de 11 milhões de dólares para ser feita, mas valeu a pena: foi um sucesso! Mas isso não quer dizer, necessariamente, que a minissérie de 1981 seja superior ao filme de 1955. 

A Cathy/Kate Ames de Jane Seymour é o verdadeiro triunfo da minissérie                  Divulgação/Gif
A minissérie East of Eden (1981) tem uma cinematografia belíssima, com paisagens que remetem muito bem à beleza da Califórnia do século XIX, com seus pastos verdes e sua abundância de cores e de pessoas. Outro triunfo da série é que ela dá uma ênfase especial à família Hamilton, da qual o patriarca Samuel Hamilton, vivido por Lloyd Bridges, se torna um grande amigo de Adam e lhe dá conselhos e ensinamentos que só um velho sábio conseguiria fazer. A interpretação de Lloyd, que torna Samuel uma personagem forte, decidida e tipicamente irlandesa, é um dos pontos a serem celebrados na minissérie - mas se ele aparece mais na versão de 1981, isso não quer dizer que seja suficiente. Ele poderia ser muito melhor utilizado, assim como seus filhos

O ator Soon-Tek Oh, interpretando o servente Lee, é uma das personagens mais reais do livro e, consequentemente da minissérie - ele finge ser menos inteligente do que é para ser considerado um bom servente, porém depois ele deixa isso de lado, e aconselha seu patrão Adam Trask e cuida de seus filhos como se fosse os dele. É Lee, aliás, que se foca em entender exatamente o que significa a palavra Timshel e não se cansa de estudar e conseguir maiores conhecimentos. A interpretação de Soon-Tek Oh de Lee é perfeita de todas as maneiras e é ele, junto com Jane Seymour, que são os verdadeiros destaques da minissérie. 

A participação de Anne Baxter como Faye, a dona da casa de prostitutas no qual Cathy se infiltra depois de deixar Adam, é curta, mas a atriz consegue interpretar muito bem as emoções de se afeiçoar por alguém como uma filha - tanto que ela corta os clientes de Cathy para protegê-la - e então ver que estava tão enganada, mas sem tempo para corrigir seu erro. No livro, a personagem é descrita como mais velha, mas Baxter faz um ótimo trabalho. O mesmo não pode ser dito de outros atores na minissérie. 

Anne Baxter; Lloyd Bridges e Soon-Tek Oh, três coadjuvantes de peso                 Divulgação/Montagem
Sam Bottoms como Caleb Trask na minissérie East of Eden (1981) não deixa nada a desejar para o papel que, anos antes, foi de James Dean. Sam soube muito bem captar o lado travesso da personagem, mesclando com os momentos mais dramáticos. Seu irmão na vida real, Timothy Bottoms, que interpreta seu pai, não teve o mesmo êxito na segunda e terceira parte da minissérie. Isso porque seu Adam Trask era muito afetado e exagerado e a tentativa de envelhecê-lo falhou miseravelmente. Ele, nem de longe, parecia 17 anos mais velho do que na primeira parte da minissérie. 

Outra falha de East of Eden (1981) é que na minissérie, a relação entre Caleb e Adam parece ser de fácil convivência e o ciúmes que Caleb sente de Aron é como se fosse fruto de uma criança mimada e não de um filho negligenciado - coisa que fica muito mais clara no livro de John Steinbeck. 

No livro, Adam claramente considera Aron seu filho favorito - em parte por sua natureza calma e por se parecer, fisicamente com sua Cathy - e não faz questão de esconder. Na minissérie, Adam trata os filhos igualmente e o ciúmes de Caleb parece infundado e egoísta, algo que não é e não deveria ter sido tratado dessa maneira em East of Eden (1981) porque faz com que a alegoria de Caim e Abel se perca nas entrelinhas. 

O triângulo amoroso entre Abra X Aron X Caleb também não é tratado da forma mais orgânica possível: fica parecendo que Abra escolhe Caleb pelo simples fato de Aron não estar mais disponível depois de se alistar no exército. Isso não é verdade - Abra sempre gostou de Caleb, mas tinha medo de sua natureza volátil e a docilidade de Aron era muito mais fácil para se lidar, embora não tão excitante. É dela, aliás, um dos diálogos mais bonitos sobre o que é amar e que infelizmente não aparece na minissérie: 
"-Eu acho que amo você, Cal.
-Eu não sou bom. 
-Justamente por não ser bom." - A Leste do Éden, John Steinbeck, pág 552
Sam Bottoms, Karen Allen e Hart Bochner - o triângulo amoroso entre irmãos, de novo!         Divulgação/ABC
Infelizmente, além da má construção do relacionamento entre Abra e Caleb, a química entre Sam Bottoms e Karen Allen não é tão boa quanto a de Julie Harris e James Dean na versão de 1955. A minissérie de East of Eden (1981) é, pesando todos os prós e contras, todinha de Cathy Ames e, portanto, de Jane Seymour. 

Sobre a personagem, Jane revelou em entrevista para o talk show da Oprah em 2006 que, para ela, o papel de Cathy Ames foi o melhor de sua carreira:

Eu senti que não estava apenas atuando. Simplesmente veio para mim.
A minissérie East of Eden (1981) está disponível no Youtube e na internet e, apesar de suas falhas, algumas de escalação de atores e outras de construção de enredo, East of Eden (1981) tem em Jane Seymour a interpretação definitiva de Cathy Ames. É a atriz que eleva uma minissérie mediana para sua grandeza. 

Em 2013, revelou-se o desejo de adaptar o livro À Leste de Éden de John Steinbeck novamente, dessa vez para as telonas, com Jennifer Lawrence como Cathy Ames. O projeto está estagnado por causa de desavenças entre os herdeiros e o patrimônio de Steinbeck, que possui os direitos da obra. 

Por enquanto, temos a minissérie East of Eden (1981) para aproveitar toda a grandeza da personagem Cathy Ames - e consequentemente, da brilhante Jane Seymour. 



As Mulherzinhas (Little Women) de Louisa May Alcott e suas versões para o cinema

*spoilers dos filmes e suas tramas - estão avisados! 

O livro Mulherzinhas ou Adoráveis Mulheres (Little Women) de Louisa May Alcott foi lançado em 1868 (e completará 150 anos do lançamento em 30 de setembro de 2018)  e o sucesso foi estrondoso. A história das irmãs March, com a impetuosa Jo, da vaidosa Meg, da bondosa Beth e da egocêntrica Amy foi baseada, livremente na vida da autora e de suas três irmãs e os fãs do livro ficaram ansiosos para saberem o que aconteceria com suas personagens favoritas. 

Louisa May Alcott, que escreveu o livro a pedido de seu editor, e não acreditava que uma história sobre garotas faria tanto sucesso, ficou extremamente surpresa e teve que escrever não uma, mas três continuações para a história das irmãs: o Esposas Exemplares (The Good Wifes) - no qual elas finalmente encontram seus pares, Little Men, mostrando a vida de seus filhos quando crianças e, por fim, Jo's Boys, mostrando a vida dos filhos de Jo e de suas irmãs, já adultos. 

O livro Mulherzinhas (Little Women) que deu origem à uma quadrilogia não oficial e à inúmeras adaptações para o cinema e para a televisão. No entanto, são quatro versões para o cinema que são lembradas atualmente, que tem atuações de peso de atrizes como Katharine Hepburn, Elizabeth Taylor e Winona Ryder. 

Katharine Hepburn foi a primeira atriz a interpretar Jo March no cinema falado                 Divulgação/Gif
No ano de 2018, duas adaptações da obra de Louisa May Alcott serão realizadas: uma minissérie de três partes no canal britânico PBS, e um filme dirigido pela cineasta Claire Niederpruem, a segunda mulher a dirigir uma adaptação de Mulherzinhas (Little Women) desde 1994. 

A história de As Mulherzinhas (Little Women) começa em 1860, quando o pai das quatro garotas está fora, lutando na Guerra Civil Americana. O leitor segue então a vida das irmãs, ao lado de sua mãe caridosa, enquanto elas lutam para sobreviver no mundo, aprendendo sobre amizades, inclusive a do rico jovem Laurie, paixões e encontrando, enfim, seus lugares no mundo. 

Confira, a seguir, as três melhores versões para o cinema do livro As Mulherzinhas de Louisa May Alcott! 

AS QUATRO IRMÃS (LITTLE WOMEN, 1933)

Da esquerda para direita: Joan Bennet, Jean Parker, Katharine Hepburn e Frances Dee     Divulgação/Publicidade
Katharine Hepburn era exatamente como a personagem Jo March. George Cukor, o diretor da versão As Quatro Irmãs (Little Women, 1933) também o disse, como conta a biografia I Know Where I'm Going: Katharine Hepburn, A Personal Biography Por Charlotte Chandler: "Ela é Jo. De todas as personagens que ela já interpretou, essa é aquela mais próxima de Kate. Kate e Jo são realmente a mesma pessoa. Não há dúvida de que ela colocou muito dela mesma em Jo. Tudo."  

A quarta película na filmografia de Hepburn, depois de seu sucesso incrível em Vítimas do Divórcio (A Bill of Divorcement, 1932), As Quatro Irmãs (Little Women, 1933) foi feito pelo estúdio RKO e contou ainda com Joan Bennet como Amy, Jean Parker como Beth e Frances Dee como Meg. A mãe das meninas é interpretada pela doce Spring Byington. O jovem Laurie, maior amigo e possivelmente algo a mais de Jo, é interpretado por Douglass Montgomery. E o professor Bhaer que ajuda Jo em Nova York e a enfeitiça é vivido por Paul Lukas, em uma atuação muito puxada para a comédia e um tanto fora de tom. 

Apesar de ser fiel ao material de Louisa May Alcott, As Quatro Irmãs (Little Women, 1933) peca pelo exagero, algo que a própria Katharine mencionou, mas não de forma pejorativa, segundo o livro Kate: The Woman Who Was Hepburn Por William J. Mann:
"[O filme] combinou bem com o meu jeito exagerado das coisas. Eu poderia dizer: 'Cristovão Colombus! Que riqueza!' e acreditar totalmente que diria aquilo. Eu tenho muito dessa personalidade antiga em mim." 
A atuação de Hepburnm com 26 anos de idade na época, é tão grande que ela ofusca as outras atrizes e toma, para si - ou pelo menos parece - toda a duração do filme. Jo é a protagonista, mas as outras irmãs ocupam, no livro, tantas páginas quanto ela e com essa atuação, Hepburn estava um tanto quanto forçada e assim o espectador não consegue se conectar com a personagem, de fato. O fato da atriz e Douglass Montgomery não terem química alguma também dificulta vender o triângulo amoroso entre Jo X Laurie X Amy.  

As Quatro Irmãs (Little Women, 1933) foi um sucesso quando foi lançado e é uma adaptação fiel, repleta de boas atuações e com um roteiro muito conciso. Mas mesmo com todos os críticos afirmando que Hepburn conseguiu capturar a essência de Jo March, afinal a atriz era ela na vida real, o produto final não é tão bom quanto poderia ser. 

QUATRO DESTINOS (LITTLE WOMEN, 1949)

Da esquerda para direita: Margaret O'Brien, Janet Leigh, June Allyson e Elizabeth Taylor          Divulgação
De todas as adaptações para o cinema e também televisão, Quatro Destinos (Little Women, 1949) foi a que mais sofreu mudanças em relação ao livro de Louisa May Alcott, mas, surpreendentemente deu muito certo! 

Tudo começou quando o produtor e diretor Melvin LeRoy, que sempre quis fazer uma adaptação de Mulherzinhas para o cinema, conseguiu convencer o chefe do estúdio Louis B. Mayer a comprar os direitos do filme de David Selznick (produtor responsável pela versão de 1933). 

Mayer concordou e LeRoy escalou as atrizes que mais queria para os papeis das irmãs: June Allyson, então com 32 anos de idade, para o papel de Jo March. Janet Leigh como Meg, Elizabeth Taylor e Margaret O'Brien como Amy e Beth, respectivamente. A mãe delas é vivida pela grande Mary Astor. O professor Bhaer é vivido por Rossano Brazi, outro acerto pelo charme de sua atuação. Laurie é interpretado pelo ator Peter Lawford, que como conta Margaret na biografia Margaret O’Brien: A Career Chronicle and Biography por Allan R. Ellenberger, mostrou porque era um ótimo Laurie:
Eu me senti de fora porque todas elas tinham uma queda por ele. Peter se divertiu muito fazendo o filme. 
A primeira mudança começou com a idade das irmãs: no livro Amy é a mais nova, mas na versão de 1949, isso foi mudado para que Elizabeth Taylor, cinco anos mais velha que Margaret O'Brien, pudesse interpretar a personagem. A outra é que, apesar de June Allyson não ter nada a ver com a Jo March descrita nos livros, ela funciona no filme exatamente por mesclar o espirito da personagem sem ser extremamente afetada. Todas as quatro atrizes (com destaque especial de Margaret O'Brien que brilha em cena), aliás, formaram uma verdadeira amizade no set de filmagens e as atuações são extremamente poderosas, sendo um esforço em grupo e não um show de uma mulher só como a versão de 1933.

Quatro Destinos (Little Women, 1949) funciona muito bem como uma adaptação fiel do livro de Louisa May Alcott, porque as quatro atrizes estão em sintonia, como se fossem realmente irmãs. Um filme, e uma adaptação, que merece ser muito mais apreciado. 


ADORÁVEIS MULHERES (LITTLE WOMEN, 1994) 

Da esquerda para a direita: Kirsten Dunst, Winona Ryder, Claire Danes e Trini Alvarado             Divulgação
Talvez Adoráveis Mulheres (Little Women, 1994) seja a versão mais conhecida do clássico livro de Louisa May Alcott e não é à toa: a quantidade de esmero que existe nesta versão deve ser apreciada. 

A ideia de fazer uma terceira versão de Mulherzinhas (Little Women) para o cinema, depois de mais de quatro décadas, veio da executiva do estúdio Columbia, Amy Pascal e sua amiga, a roteirista Robin Swicord. As duas adoravam a novela e queriam trazer uma nova versão para o cinema. Como produtora, elas convidaram Denise Di Novi, amiga de Winona Ryder. A atriz, em troca, concordou na hora em participar da nova versão porque sempre amou o livro de Louisa May Alcott. 

Winona também foi responsável, como conta a biografia Winona Ryder: The Biography por Nigel Goodall por fazer o filme acontecer e por escolher quem dirigiria a adaptação. Ela escolheu a cineasta Gillian Armstrong, a primeira a dirigir uma versão do livro no cinema e tudo estava encaminhado. Ryder interpretaria Jo March, Claire Danes (em seu primeiro papel no cinema graças à Winona que a viu na série My So Called Life) interpretaria a doce Beth, Trini Alvarado seria a Meg e Kirsten Dunst interpretaria Amy pequena. A versão mais velha de Amy seria interpretada por Samantha Mathis. A mãe das meninas foi interpretada por Susan Sarandon. 

O papel de Laurie ficou para o encantador Christian Bale, que até hoje fascina os recantos das mentes de quem assiste esta versão. O professor Bhaer, em uma atuação mais contida ficou para o ator Gabriel Byrne. Esta versão de Mulherzinhas (Little Women) é extremamente fiel ao livro e acertou ao escalar duas atrizes, uma mais nova e outra mais velha, para interpretar Amy. Isso porque, apesar de no cinema, parecer que tudo acontece de forma rápida, Louisa May Alcott acompanhou a vida das irmãs March por quase dez anos. 

Adoráveis Mulheres (Little Women, 1994) obteve grande sucesso na bilheteria e apresentou à uma nova geração o companheirismo e o amor das irmãs March. Uma adaptação tão visualmente bela quanto fiel ao seu material, Adoráveis Mulheres (Little Women, 1994) se eleva pela química entre Winona e Christian Bale e faz o espectador romântico odiar, ainda mais, o final dos dois - isso se for fã de Jo e Laurie. 

ADORÁVEIS MULHERES (LITTLE WOMEN, 2019) 
Da esquerda para direita: Emma Watson, Florence Pugh, Saiorse Ronan e Eliza Scanlen           Divulgação
Greta Gerwig, diretora de filmes como Lady Bird - A Hora de Voar (Lady Bird, 2018) afirmou que sempre foi fã dos livros de Louisa May Alcott e por isso decidiu fazer uma adaptação de As Mulherzinhas para o cinema. 

Nesta nova versão, que ocorre inteiramente em flashbacks do passado e presente dos personagens, conhecemos Jo March (Saoirse Ronan) que sempre sonhou em ser escritora e após alguns contratempos acaba encontrando a inspiração que tanto precisava. Saoirse, aliás, sentia que era tão certa para fazer a Jo que mandou um e-mail para Greta pedindo o papel. Florence Pugh que interpreta Amy é uma das revelações da temporada e Emma Watson e Eliza Scanlen, como Meg e Beth, respectivamente, fazem um ótimo trabalho. 

O papel de Laurie ficou para Timothée Chalamet, que já é persona garantida com Greta e Saoirse e o bonitão francês Louis Garrell (um pecado!) interpreta o professor Bhaer. Meryl Streep e Laura Dern também fazem parte do longa-metragem.  

O filme acerta em exibir a união constante das irmãs March que outras versões, como a de 1933 não mostram, e as quatro atrizes principais estão muito bem em seus respectivos papeis. No entanto, Adoráveis Mulheres (Little Women, 2019) enquanto tenta ao máximo humanizar Amy (que é odiada por muitos leitores) deixa de lado os sentimentos de Laurie por Jo (e vice-versa), tanto que quando ele a pede em casamento acabamos não conseguindo torcer por eles como um casal - diferente do livro. O fato do professor Baher ser interpretado por um galã também tira a noção de "par peculiar" que a autora quis criar para Jo March e deixa tudo extremamente convencional. 

Outro fato que Greta Gerwig pesa um pouco a mão é mais para o final do filme, quando Jo coloca uma carta para Laurie afirmando que, apesar de tudo, quer casar com ele. No livro, isso nunca ocorre e Jo, triste com a morte de Beth, se sente muito solitária, mas não corre atrás de Laurie porque realmente nunca pensou em se casar. Quando Baher aparece, ela abre seu coração para ele - mas isso porque estava preparada. Nos subsequentes livros, Jo e Laurie dividem uma cumplicidade maior entre si do que com seus respectivos cônjuges. 

Apesar de algumas modificações, algumas boas outras nem tanto - o que é comum em todas as adaptações - Adoráveis Mulheres (Little Women, 2019) é um filme que emociona e que mostra, com maestria, a união das irmãs March, que é o verdadeiro cerne da história.   

Adoráveis Mulheres (Little Women, 2019) não é o mais fiel ao livro - se é fã do livro e deseja isso, veja as outras versões - mas vai com certeza te emocionar do começo ao fim. 


O livro Mulherzinhas de Louisa May Alcott já recebeu inúmeras adaptações para as telonas e as telinhas. Qual é a sua favorita?  

*Atualização: (26/01/2020): Atualizamos a matéria com a mais nova adaptação de As Mulherzinhas para os cinemas: Adoráveis Mulheres (Little Women, 2019). 

O amor e a razão no livro Longe Deste Insensato Mundo de Thomas Hardy

*spoilers sobre o livro Longe Deste Insensato Mundo de Thomas Hardy (e subsequentes filmes) 

Bathsheba Everdene é uma personagem considerada à frente de seu tempo: recusa propostas de casamento para reafirmar sua independência, é dona de sua própria fazenda e vai ela mesma vender seu produto em feiras no vilarejo, sem medo de negociar o melhor preço que possa conseguir, falando de igual a igual com seus colegas homens. A personagem do livro Longe Deste Insensato Mundo (Far from the Madding Crowd, 1874), obra do literário Thomas Hardy é uma feminista, ou melhor, o máximo que ela poderia ser naquela naquele trecho restrito da época. 

Isso porque Bathsheba, como é escrita por Thomas Hardy, ainda é levada pelos seus sentimentos, amor e vaidades, algo que em 1874, quando o livro foi escrito e ainda hoje até, é algo que definia o que era ser mulher. Ela confunde o amor e a razão por todo o livro, apaixonando-se perdidamente por um certo soldado enquanto mantém seu feitiço no pastor Gabriel Oak e o senhor de terras, o sr. Boldwood, além de seu melhor julgamento, e assim quase leva à ruína tudo que havia trabalhado tanto para conseguir em sua fazenda e em sua vida. 

Ela acaba se submetendo aos desejos do seu então marido, o sargento Frank Troy, e perde o controle de sua fazenda, de seus funcionários, tudo para manter a atenção e a paixão de seu esposo - ela, apesar de aparentar ser uma mulher independente do século XIX, ainda se submete aos desejos do seu marido, como um casamento convencional entre homem e mulher, no qual é a esposa que sempre faz sacrifícios para manter a felicidade do casal.

Bathseba cuidando de sua fazenda ao lado de Gabriel Oak - ilustrações de Helen Alligham(1874)             Divulgação
Assim, Bathseba Everdene é uma personagem que pode ser considerada relativamente feminista, mas apenas o máximo que era tolerado para uma mulher naquela época. Ela começa forte, mas se perde no meio da história e não consegue voltar à sua gloriosa independência depois. A vida não lhe permite e os homens de sua vida também não. 

Longe Deste Insensato Mundo foi o primeiro sucesso literário do autor inglês, Thomas Hardy. Publicado, primeiramente, de forma anônima, na revista Cornhill Magazine com ilustrações da artista Helen Allighan, como pode se ver acima. Tudo começou em 1872, como conta a biografia The Life and Work of Thomas Hardy, quando Leslie Stephen, editor da revista Cornhill Magazine, escreveu pedindo que Thomas, já com relativa fama por escrever livros como Under The Greenwood Tree, escrevesse uma história para publicação. Thomas não conseguiu escrever imediatamente, pois ele estava terminando seu livro A Pair of Blue Eyes, mas escreveu revelando que a próxima história seria de Stephen. 

O autor já tinha em mente o título: Far From The Madding Crowd (Longe Deste Insensato Mundo) e sabia que escreveria sobre uma jovem mulher, um pastor e um sargento da cavalaria. E assim ele criou Bathsheba Everdene, uma jovem mulher forte que ganha de herança a propriedade de seu falecido tio e se muda para Weatherbury em Wessex, local fictício criado pelo escritor e usado em todos os seus livros, para governar a fazenda. Lá, ela reencontra o pastor bondoso Gabriel Oak, que havia lhe pedido em casamento, mas ela o recusou. 

Por obra do destino, ele se torna gerente da propriedade de Bathsheba, porém ele não é o único que busca o amor dela. O velho William Boldwood, dono da propriedade vizinha, acaba se apaixonando por ela depois de uma brincadeira de mau gosto (ela envia para ele uma carta de dia de namorados para provocá-lo; ele acredita que suas intenções são verdadeiras). Há também o duvidoso sargento Troy, que busca uma vida fácil, mas causa uma paixão arrebatadora em Bathsheba com grandes repercussões. 

Thomas Hardy também era poeta                                                        Divulgação
Vale lembrar, no entanto, que esse assunto de independência da mulher em suas terras, não era relativamente novo, como conta este artigo do site The Conversation de 2015. Antes das chamadas A Lei das Propriedades de Mulheres Casadas (Married Women's Property Act) de 1870, as mulheres do Reino Unido eram apenas vistas, depois de casadas, como uma extensão de seus maridos, sem direito à nada - tudo que tinham eram deles, inclusive terras herdadas antes do casamento. 

A lei Married Women's Property Act de 1870 mudou isso: assim as esposas tinham direito de serem proprietárias legais de seus dinheiros e de suas propriedades, inclusive aquelas herdadas e conquistadas antes do casório. As mulheres solteiras e as viúvas já tinham o direito de possuir a terra em seu próprio nome, antes do Ato, como era o caso da personagem Bathsheba Everdene. 

O problema é que o Married Women's Property Act causou um furor na sociedade machista, que acreditava que as mulheres terem controle de suas propriedades e de si mesmas, não era benéfico para elas. O Married Women's Property Act também ganhou um adendo em 1882, dizendo que mulheres casadas poderiam controlar sua própria propriedade e estabelecer contratos, assim como as solteiras tinham direito, podendo ganhar, vender e ter uma propriedade separada do marido. As mulheres casadas poderiam ter uma identidade separada de seu marido, pelo menos perante à lei. Não era isso que acontecia por trás das portas, no entanto. As mulheres ainda eram controladas por seus maridos. 

A Wessex que Thomas Hardy inventou para seus livros e poemas                                Divulgação/1902
A personagem Bathsheba, então, estava livre para ter sua própria propriedade antes de se casar e depois também. Que fique claro que isto não era algo novo na Inglaterra, mas ter Bathsheba Everdene em um papel que mostrava que a mulher tinha tanta mente para os negócios como os homens, contam pontos para que Longe Deste Insensato Mundo mostre as mulheres em uma luz um tanto mais favorável. Infelizmente esse pioneirismo se perde quando o leitor fica mais interessado com quem Bathsheba vai escolher como seu marido do que com sua própria e merecida independência e quando ela abre mão de tudo por causa de uma paixão. 

No capítulo X do livro Longe Deste Insensato Mundo de Thomas Hardy, há uma passagem na qual Bathsheba se apresenta como nova dona da fazenda e faz questão de reafirmar sua posição como mulher autossuficiente:
Agora prestem atenção: vocês tem uma patroa ao invés de um patrão. Ainda não conheço meu poder e meus talentos para a agricultura, mas devo fazer o meu melhor e se me servirem, servirei a vocês. Se houver alguém desleal entre vocês achando que por eu ser uma mulher não sei a diferença entre bom e mau comportamento (...)Acordarei antes de vocês, estarei nos campos antes de vocês acordarem e tomarei meu desejum antes que estejam nos campos. Resumindo, surpreenderei todos vocês." - Longe Deste Insensato Mundo, capítulo X, página 68. 
Mas nem suas afirmações e ações, no começo do livro, compensam pela narrativa que cada vez mais prende Bathsheba aos três homens de sua vida. Isso porque Gabriel Oak, o bondoso fazendeiro que perde suas terras e se torna pastor da propriedade de Bathsheba, é quem efetivamente administra a fazenda dela. Gabriel salva as terras de sua amada de serem totalmente queimadas e se torna o "gerente"; posteriormente ele salva o rebanho de ovelhas e inclusive protege o feno da fazenda, este último com a ajuda de Bathsheba (que deixa-o terminar sozinho, na tempestade).  

Bathsheba e sargento Troy em uma das cenas mais "eróticas" da novela 
Com Mr. Boldwood, o senhor com quem ela brinca com os sentimentos depois de um cartão do Dia dos Namorados, à ponto de levá-lo, pouco a pouco, à loucura; Bathsheba mostra a sua imaturidade em relação aos sentimentos do outro, sem pensar em consequências. O leitor fica com dó de Mr. Boldwood durante a leitura, mas ele cada vez mais usa de artimanhas e situações que nos fazem duvidar de sua sanidade - como se Everdene devesse à ele alguma coisa, sendo que se trocássemos o papel, a personagem seria considerada apenas louca. 

Já com o sargento Troy (que a conquista com uma exibição de espadas bem explícita), ela experimenta o amor desenfreado, sem limites, sem consequências, algo que quase arruína sua vida e sua fazenda. O autor Thomas Hardy cria uma mulher fascinante e forte nos primeiros capítulos, para destruí-la depois - tudo pelos homens que a rodeiam e fazendo valor a falsa noção que a mulher nunca poderá ser uma chefe ideal por ser levada pelos seus sentimentos e emoções. 

Mas se comparada com a personagem Fanny Robin, que era namorada do sargento Troy, uma antiga empregada da Fazenda, Everdene é realmente uma mulher à frente de seu tempo. Isso porque Fanny representa o ideal de mulher doce, tola, servil e bondosa que Bathsheba nunca seria e assim é o amor da vida do único homem que Bathseba sempre quis. Porém se Everdene é teimosa, idealista e destemida em certos casos, quando se trata do amor ela nunca consegue ver a razão. E é por isso que a personagem, em uma opinião controversa, não pode ser considerada feminista: o escritor, os personagens masculinos e a sociedade da época nunca a permitiriam.  

A personagem fica, nas 328 páginas do livro lançado em 2016 pela editora Pedra Azul Editora, dividida entre a estabilidade; representada por Gabriel Oak, a paixão; representada pelo sargento Troy; e a respeitabilidade; representada pelo Mr. Boldwood e quanto mais páginas lê-se, mas fica evidente o caminho que Everdene escolherá. Em seu primeiro casamento com o sargento Troy, Bathsheba se tornou uma mulher submissa, completamente levada pelo amor, como ela mesma percebe:
-Diga-me a verdade Frank. Não sou tola, embora seja uma mulher e tenha meus momentos de mulher. Eu não quero muito, apenas justiça e basta. Ah, uma vez senti que não poderia me contentar com nada menos do que a mais alta homenagem do marido que eu escolhesse. Agora qualquer coisa aquém da crueldade me satisfaz. Sim, a Bathsheba independente e espirituosa tornou-se assim. - Longe Deste Insensato Mundo, capítulo XLI, página 223. 
O trecho acima viabiliza a teoria de que Thomas Hardy criou uma personagem mulher mais independente do que a maioria das mulheres da época, mas mesmo assim uma mulher. Ela nunca seria tão forte fisicamente ou mentalmente quanto Gabriel Oak, por exemplo. Bathseba Everdene é com certeza uma personagem à frente do seu tempo, que deve ser admirada por sua tenacidade, teimosia e cabeça para "os números" e ser mencionada quando se trata de mulheres fortes da literatura, mas ela não era um exemplo feminista, pelo menos não na concepção de Thomas Hardy. 

Bathsheba Everdene se adequa às normas e imposições da época e ela não consegue burlá-las como se vê ao longo da história. Ela é uma personagem feminina a ser admirada, mas não sei se cabe à ela a denominação de feminista de fato, já que o próprio autor considerava que ser mulher era "um defeito", mesmo que um leve. Afinal, o que exatamente seria "momentos de mulher" a não ser uma referência ao único defeito em Bathsheba na história? Ela nunca seria forte, sensata e inteligente como os homens - ela era uma mulher.  

Longe Deste Insensato Mundo de Thomas Hardy, apesar disso, é uma leitura gostosa de se ter e nos sentimos no campo, sentados sob uma árvore, aproveitando a brisa e conhecendo cada vez mais as personagens. É fato que o autor exagera demasiadamente em descrever as paisagens de Wessex e isso cansa um pouco a leitura, mas a medida que nos acostumamos com o ritmo da narrativa, é impossível não se cativar pelo livro e pela história de Bathsheba e tudo que ela teve que enfrentar para firmar sua posição na sociedade e retomar as rédeas de sua vida. 


Bathsheba Everdene nas telas - apenas Julie Christie com seus cabelos loiros foge à descrição da personagem 
O livro Longe Deste Insensato Mundo de Thomas Hardy ganhou sua primeira adaptação para o cinema em 1915 estrelando Florence Turner e Henry Edwards como Bathsheba e Gabriel Oak, respectivamente. Em 1967, foi a vez de Julie Christie e Alan Bates estrelarem a versão. Em 1998 teve a versão para a televisão e em 2015, Carey Mulligan encarou a responsabilidade de interpretar a personagem nas telonas. 

Em Longe Deste Insensato Mundo há sempre o atrito entre o amor e a razão e em como o amor calmo de Gabriel Oak pode resistir até as maiores tempestades, o desenfreado de Bathsheba pode cegar sua visão sobre outro alguém e como o amor obsessivo de Mr. Boldwood pode destruir uma pessoa. A razão está sempre à espreita, no entanto, para ser vista, basta que as personagens queiram vê-la. 

O que nem sempre é o caso, tanto na literatura quanto na vida real. 




INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO


Livro: Longe Deste Insensato Mundo
Autora: Thomas Hardy
Páginas: 328

Onde comprar?
Pedra Azul (Editora)(clique aqui) 
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Mercado Livre: (clique aqui)
Amazon (BR): (clique aqui)

7 grandes papeis que Gary Cooper recusou nos cinemas

Gary Cooper é uma lenda do cinema. De forma indiscutível, o ator conseguia transitar por inúmeros gêneros de filmes, como comédias - vide Bola de Fogo (Ball of Fire, 1941), dramas como Adeus às Armas (Farewell to Arms, 1932) e até westerns, os conhecidos faroestes - dos quais ele participou em quase 30 filmes como o caubói da vez.

Mas até para um astro, a arte de escolher papeis é difícil. Nem sempre eles conseguem ver o potencial por trás de um roteiro ou querem abrir mão, já estabilizados, de um salário alto para estrelarem em um filme de baixo orçamento. Gary sempre foi conhecido por ter um bom palpite quando se tratava de papeis no qual brilharia, como conta a biografia Gary Cooper: An American Hero de Jeffrey Meyers, mas no final dos anos 30, a coisa não estava nada fácil. 
Gary Cooper teve uma das carreiras mais longevas do cinema                                Divulgação/Gif
Gary Cooper recusou alguns papeis de protagonista em filmes que transformaram outros atores em estrelas sem tamanho! Duvida? Venha conferir os sete grandes papeis que Gary Cooper recusou nos cinemas. 

Rio Vermelho (Red River, 1948) - John Wayne

Gary Cooper recusou o papel que foi para John Wayne                                   Divulgação
O filme Rio Vermelho (Red River, 1948) é um dos clássicos do faroeste cinematográfico e conta a história do durão Thomas Dunson, vivido por John Wayne, um criador de gado nos EUA que reclama a terra depois do Rio Vermelho para si e seu filho adotado, Matthew Garth, interpretado na versão mais velha por Montgomery Clift. Mas os comanches não os deixam em paz e quando Thomas precisa deixar sua terra para conduzir seu gado para a venda, uma luta começa a ser travada, com grandes consequências.

John Wayne tinha apenas 39 anos quando assumiu o papel de Thomas Dunson, no filme dirigido por Howard Hawks e precisou ser envelhecido por maquiagem para se adequar para a segunda parte do papel. O diretor, no entanto, queria que Gary Cooper interpretasse o criador de gado, que até então era o mais cruel e malvado personagem de faroeste.  

Cooper recusou, no entanto, afirmando que a personagem era cruel demais, segundo o livro The Quick, the Dead and the Revived: The Many Lives of the Western Film Por Joseph Maddrey: "ele é muito malvado e rude para uma audiência conseguir tolerá-lo." Era isso, entretanto, que Hawks queria ver na tela e John Wayne lhe deu. 

Considerado um dos filmes definitivos do gênero, Rio Vermelho (Red River, 1948) foi uma oportunidade desperdiçada para Cooper, que decidiu, ao invés disso, fazer o filme de ação Os Inconquistáveis (Unconquered, 1947). 

A Amazona de Tucson (Arizona, 1940) - William Holden 

Jean Arthur e William Holden formavam uma bela dupla, mas poderia ter sido Cooper!          Divulgação
Jean Arthur e Gary Cooper já haviam estrelado juntos em quatro filmes e se Cooper tivesse aceitado o papel em A Amazona de Tucson (Arizona, 1940), teria tido uma quinta colaboração! 

A Amazona de Tucson (Arizona, 1940) conta a história de Phoebe Titus, interpretada por Arthur, uma mulher à frente de seu tempo, uma pioneira que tenta sobreviver em uma nova terra com seu negócio próprio de gado. Ela conhece o charmoso Peter Muncie, interpretado por William Holden em seu primeiro western, e os dois se dão muito bem, mas Phoebe ainda não quer saber de casamento. Os dois se separam e Phoebe é cortejada por outros homens, mas algo mais poderoso acontece em suas vidas: a Guerra Civil. 

O diretor do filme Wesley Ruggles ofereceu para Gary Cooper o papel de Peter Muncie, já que a parceria com Jean Arthur sempre era um sucesso, mas o ator rejeitou a oferta e escalou, à recomendação de Harry Cohn - diretor do estúdio Columbia, William Holden, apesar de ele ser 20 anos mais novo do que Jean Arthur.  De acordo com o livro Casting Might-Have-Beens de Eila Mell, isso não foi empecilho para que o filme fosse um sucesso. 


E o Vento Levou... (Gone With The Wind, 1938) - Clark Gable
Clark Gable se tornou mundialmente conhecido pelo papel que Cooper recusou                 Divulgação
O livro E o Vento Levou... de Margaret Mitchell se tornou uma sensação literária mundial quando foi lançado em junho de 1936 e não demorou para que o produtor David O. Selsznick assegurasse os direitos para poder fazer uma adaptação cinematográfica de peso. 

Entre os fãs do livro o furor era sobre que dois atores seriam escalados para interpretar as personagens principais: a teimosa Scarlett e o sedutor Rhett Butler. Segundo a revista The Atlantic Monthly de 1973, Clark Gable era a escolha óbvia do público e centenas de cartas chegavam para Selsznick para escalar o ator, mas o problema era que na época, Gable estava sob um contrato de exclusividade com a MGM e o ator não estava disposto em interpretar um personagem que era tão amado pelo público, com medo de represálias se ele não estivesse à altura. 

Por isso, David O. Selsznick ampliou sua busca e, segundo o livro, The Making of Gone With The Wind Por Steve Wilson, as escolhas do produtor eram Errol Flynn, Clark Gable, Ronald Colman e, é claro, Gary Cooper. Sobre Gary, o produtor escreveu em uma carta sobre suas opções para Rhett Butler: 
Eu tenho esperança que ser pai tenha amolecido o coração de Cooper e ajudado no seu julgamento para que ele seja persuadido em interpretar o papel. Mais importante que tudo, eu acho que se Goldwyn (chefe do estúdio MGM) concordasse em emprestá-lo, ele daria conta do papel. Eu acho que ele deixaria, de várias maneiras, a personagem interessante e que compensaria as qualidades que Gable tem, e eu ficaria feliz tanto com Gable quanto com Cooper. 
Mas não era assim que Cooper via a personagem de Rhett Butler e preferia fazer qualquer outra coisa a interpretar o papel. O livro Gary Cooper: An American Hero demonstra seu desprezo muito bem, já que o ator teria dito sobre o papel: "Esse filme vai ser o maior fracasso de Hollywood. Estou feliz de que é Clark Gable que vai se dar mal e não eu." 

Selsznick finalmente conseguiu que a MGM emprestasse Gable, a escolha nº 1 do público, ao fazer um acordo para que a MGM distribuísse o filme e ficassem com metade da bilheteria, por 7 anos, e dali por diante com 25%, com Selsznick produzindo. O resto é história do cinema e talvez um pouco de arrependimento da parte de Cooper. 

Amor Singelo (The Farmer Takes a Wife, 1935) - Henry Fonda

Este foi o primeiro papel de Henry Fonda nos cinemas                                      Divulgação
Antes de estrear nos cinemas, Henry Fonda era um ator que descobriu sua vocação no teatro. No palco desde 1923, ao participar da peça You and I, não demorou muito para que seu talento transpassasse para as telonas. Depois de mais uma década no teatro, ele conseguiu seu primeiro papel no cinema em Amor Singelo (The Farmer Takes a Wife, 1935) com 29 anos de idade. Vale lembrar que Fonda havia interpretado, um ano antes, a mesma personagem na peça homônima na Broadway. 

Tanto o filme quanto a peça contam a história de um fazendeiro chamado Dan Harrow, vivido por Fonda, que trabalha no canal de barcos para conseguir dinheiro o suficiente para comprar uma fazenda. O problema é que ele conhece e se apaixona por Molly Larkins, interpretada por Janet Gaynor, uma cozinheira que não imagina sua vida longe daquele canal. 

Tanto Gary Cooper quanto Joel McCrea foram convidados para interpretar o papel de Dan Harrow antes que fosse dado para Henry Fonda. Os dois não estavam disponíveis e Walter Wanger, produtor cinematográfico e agente de Fonda, conseguiu que a FOX o contratasse por 500 dólares a semana, que eram pagos diretamente à ele. O produtor, contudo, sempre dividia pela metade o que ganhava com o ator.

Depois desse primeiro filme, Henry Fonda nunca mais saiu das telonas. 


Sabotagem (Saboteur, 1942) - Robert Cummings 

Robert Cummings estrelou em dois filmes de Hitchcock                                         Divulgação
Diz-se que Gary Cooper sempre quis trabalhar com o diretor britânico Alfred Hitchcock, e vice-versa, mas isso nunca, infelizmente, se realizaria. O cineasta primeiramente queria Gary Cooper para o papel de John Jones no filme Correspondente Estrangeiro (Foreign Correspondent, 1940), porém o ator recusou achando que o filme era "apenas um thriller" e que não queria participar em algo do tipo, e o ator o recusou. Hitchock, então, resolveu escalar Joel McCrea, não antes de afirmar que: "Eu sempre acabo com o segundo melhor." 

O mesmo, de acordo com Alfred Hitchcock aconteceu com seu filme Sabotagem (Saboteur, 1942), no qual estrelam Robert Cummings e Priscilla Lane. O filme conta a história de um operário Barry Kane, vivido por Cummings, que é injustamente acusado de sabotagem na fábrica em que trabalha. Ele foge e encontra Pat Martin, interpretada por Priscilla Lane, no meio do caminho a usando para conseguir encontrar o verdadeiro culpado e assim se inocentar. 

De acordo com a matéria do canal TCM, o cineasta queria que Gary Cooper interpretasse o operário e Barbara Stanwyck, a femme fatale. No entanto, os dois recusaram a oferta. Nem Cooper nem Stanwyck trabalhariam com Hitchcock ao longo de suas carreiras.  

Mensageiro do Diabo (The Night of the Hunter, 1955) - Robert Mitchum 

Robert Mitchum brilhou no papel do pastor no filme de Charles Laughton                       Divulgação
Em um dos papeis mais emblemáticos de sua carreira, Robert Mitchum deu um show de atuação como o pastor Harry Powell no filme O Mensageiro do Diabo (The Night of The Hunter, 1955). No único filme dirigido pelo ator Charles Laughton, é impossível de sequer pensar em outro ator para interpretar o papel que é todo de Mitchum, mas haviam sim pensado nessa possibilidade. 

De acordo com o livro The Night of The Hunter de Simon Callow do The British Institute, feito para analisar o filme, a primeira escolha de Laughton para interpretar Harry foi Gary Cooper! 

O filme O Mensageiro do Diabo (The Night of The Hunter, 1955), baseado no livro homônimo escrito por Davis Grubb, conta a história de um pai de família que é preso, mas antes disso consegue guardar uma boa quantia em dinheiro para seus filhos. Preso, ele sonha com a quantia antes de morrer, algo que chama atenção de seu companheiro de cela, um psicopata chamado Harry, vivido por Mitchum, que vai para a cidade natal do companheiro de cela e começa a se infiltrar na vida da família, especialmente na esposa Willa, vivida por Shelley Winters. 

Gary Cooper, no entanto, recusou o papel, temeroso de que interpretar um psicopata poderia destruir sua imagem pública. Assim Laughton ofereceu o papel ao Robert Mitchum, que prontamente o aceitou! 

No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939) - John Wayne 

John Wayne brilha em seu primeiro filme de destaque no cinema                               Divulgação
Mais um papel que Gary Cooper recusou e que foi direto para os braços de John Wayne foi o do filme No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939), baseado no conto The Stage to Lordsburg de Ernest Hyacox. Nele, o Duque interpreta o caubói Ringo Kid que fica responsável por salvar um grupo de pessoas viajando por carruagens pelas terras áridas do Arizona, no qual o caminho passa por um território indígena. Cada um deles tem um propósito ao realizar a viagem, mas a mesma pode não ser completada se não conseguirem se safar dos indigenas.

Dirigido por John Ford, antes da sua chamada Trilogia da Cavalaria (nos quais os filmes Sangue de Herois, Legião Invencível e Rio Grande fazem parte) o No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939),  transformou o então novato  John Wayne em uma estrela de cinema completa. 

O papel do caubói Ringo Kid, no entanto, havia sido oferecido, primeiramente para Gary Cooper como já foi mencionado. De acordo com a biografia escrita por Jeffrey Meyers sobre o astro, Cooper declinou a oferta de John Ford por um conselho de sua esposa, a atriz Veronica Balfe, com quem Gary ficou casado até sua morte, conhecida pelos íntimos como Rocky: 
John Ford mandou para Gary o roteiro de No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939). Gary estava na dúvida sobre aceitar ou não. Eu li e o aconselhei a recusar o papel. No Tempo das Diligências (Stagecoach, 1939)! Fez com que John Wayne se tornasse uma estrela, mas nós rejeitamos. 
Gary Cooper pode até ter rejeitado grandes papeis, mas seu nome no cinema está para sempre guardado!
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