Como Katharine Hepburn superou o rótulo de veneno de bilheteria

Katharine Hepburn é uma das maiores atrizes do cinema mundial: com quatro Oscars, 12 indicações e um trabalho de atuação que fala por si só, ela se tornou uma lenda - e ainda nem foi mencionado seu estilo andrógino, que causou balbúrdia nos anos 1930. 

Mas em 3 de maio de 1938 a carreira de Katharine sofreu um baque que parecia quase impossível de se recuperar: ela foi declarada como "veneno de bilheteria". 

A matéria intitulada Dead Cats, ou seja, Gatos Mortos, escrita por Harry Brandt para a Manhattan's Independent Theatre Owners Association, Inc, listava as seguintes estrelas como veneno: a própria Hepburn, Joan Crawford, Marlene Dietrich, Greta Garbo, Mae West, Kay Francis, Norma Shearer, Luise Rainer, John Barrymore, Dolores del Rio, Edward Arnold e Fred Astaire. 

Indagada sobre sua posição na lista, Hepburn, de acordo com a matéria replicada na revista Time em 16 de maio daquele ano, replicada no site Joan Crawford:The Best of Everything, deu a seguinte resposta:

A atriz Katharine Hepburn terminou semana passada o seu contrato com a RKO Rádio que elevou seu salário de U$75 mil para U$100 mil por filmes e estava considerando ofertas melhores. "Eles dizem que eu já era...", ela reclamou, "Se eu não estivesse rindo tanto, eu choraria." - Katharine Hepburn, 1938. 

Katharine Hepburn fotografada por Alfred Eisenstaedt, 1938.

Katharine Hepburn, nascida Katharine Houghton Hepburn, começou sua carreira no teatro, em 1928, determinada em tornar sua paixão por atuação em uma carreira sólida. 

Sempre uma moleca, gostando de usar cabelos curtos, brincar com os meninos e praticar esportes, a futura atriz também atendeu à universidade, se formando em Filosofia e História. Infelizmente, a "energia agressiva" dela não era bem-vista por muitos atores e ela acabava sendo demitida de peças de teatros por não ser "boa o suficiente" para interpretar uma protagonista. 

Tudo mudou quando Katharine foi escalada, aos 24 anos de idade, para a peça The Warrior's Husband na Broadway, em Nova York. Interpretando Antiope, a jovem era perfeita para viver uma amazona forte e independente ao lado da rainha Hipólita. 

Com críticas extremamente positivas, exaltando seu "talento e beleza", Katharine começou a ser procurada pelo agente Leland Hayward que queria colocá-la em Hollywood. Apesar de ser seu sonho, de acordo com o livro Katharine Hepburn Por Grace May Carter ela pediu um salário alto e fez uma audição um tanto desafiadora: ao fazer o teste para o estúdio RKO, de David Selznick, ela ficou de costas para a câmera o tempo todo, menos na cena final. 

George Cukor, que depois se tornaria seu grande amigo, considerou Hepburn perfeita para o filme que ele estava dirigindo: Vítimas do Divórcio (Bills of Divorcement, 1932) no qual ela interpretaria a filha de John Barrymore. Assim Katharine tinha entrado de vez para Hollywood. 

Katharine e John Barrymore para o filme Vítimas do Divórcio (1932)

Desde que pôs os pés em Hollywood, Katharine Hepburn era uma mulher obstinada: ela não aceitava qualquer ordem do estúdio, se metia em que roupas usaria, em como a mídia falaria sobre ela e até na maquiagem e retoques em seu visual. Ela ficou com uma reputação de "difícil e teimosa" por dar pitacos em seu contrato e filmes, mas esses fatos, com o sucesso de seus filmes, passaram despercebidos pelos chefões de Hollywood. 

Em sua autobiografia Me: Stories of My Life, lançado em 1991, Katharine admitiu que era um tanto quanto inflexível em suas convicções e que o sucesso de seus filmes, depois de sua estreia, subiram à sua cabeça: 
Eu tive um começo incrível com Vítimas do Divórcio (1932), Assim Amam as Mulheres (Christopher Strong, 1933), Manhã de Glória (Morning Glory, 1933) As Mulherzinhas (Little Women, 1933) e Mística (Spitfire, 1934). Eu até tinha ganhado um Oscar [por Manhã de Glória] E então veio a peça The Lake. Eu estava, bem - o sucesso subiu à minha cabeça. Eu tinha todo esse sucesso na Califórnia e agora em Nova York minha posição estava segura (...) Eu era uma força a ser reconhecida. Na verdade, as pessoas te colocam nessa posição. Eles te adoram e de cima desse pedestal você tenta fingir que nada mudou. -Me: Stories of My Life; pág 155. 
Recém-separada de seu primeiro marido, Ludlow Hudgen Smith, e navegando em seu êxito como uma grande estrela, Katharine acreditou que poderia ajudar seu amigo Jed Harris, produtor da Broadway que estava na pior, e aceitou estrelar na peça The Lake, um grande fracasso. 

Apesar de estar no topo da carreira, os críticos absolutamente odiaram sua performance na peça e, com a bilheteria mediana de Mística (Spitfire, 1934), considerado um dos piores personagens da atriz naquele momento, Katharine Hepburn estava patinando em gelo fino. Seu próximo passo e próximo filme seriam cruciais para levantá-la ou enterrá-la para sempre. 

Katharine na peça The Lake (1933) e em Mística (1934) - o começo de seu declínio momentâneo

O problema é que Katharine escolheu projetos na RKO, seu estúdio, que estavam aquém de seu talento e não lhe recuperaram de seu último fiasco no teatro e no cinema. 

A atriz, além de continuar no teatro, estrelou em Sangue Cigano (Little Minister, 1934), Corações em Ruínas (Break of Hearts, 1935) com Charles Boyer, A Mulher que Soube Amar (Alice Adams, 1935) - o único desta lista com apelo - até o filme Vivendo em Dúvida (Sylvia Scarlett, 1935) no qual ela vivia uma mulher que se disfarçava de homem em seu primeiro papel com Cary Grant e se provou "provocador demais" para sua época. 

Foi através do ator, no entanto, que ela conheceu o magnata dos filmes e galanteador Howard Hughes, que estava obcecado pela ideia de conhecê-la. Os dois começaram a namorar e não demorou muito para se tornarem um casal poderoso em Hollywood, mesmo com as más escolhas de roteiro da atriz. 

De acordo com Katharine, esses filmes foram os piores dessa época em sua carreira

Mas Katharine, como ela mesma conta em sua autobiografia, se tornou persona non grata para os donos de cinemas por seu fiasco neste filmes: Corações em Ruínas (Break of Hearts, 1935),  Vivendo em Dúvida (Sylvia Scarlett, 1935), Liberta-te Mulher (A Woman Rebels, 1936) e A Rua da Vaidade (Quality Street, 1937) - os dois últimos, filmes de época. 

Apesar de sucesso modesto com Levada da Breca (Bringing Up Baby, 1938), isso não era nem perto de suficiente, ainda mais por ser vista como "masculina demais" batendo de frente com a feminilidade que viria com tudo nos anos 40: 
Durante esse período, a minha carreira realmente decaiu. Foi aí que o rótulo de "veneno de bilheteria" começou a aparecer. Os donos dos cinemas queriam se livrar de mim, Marlene Dietrich e Joan Crawford. Parecia que eles eram "forçados" a pegar nossos filmes para terem acessos à aqueles que eles realmente queriam. - Me: Stories of My Life, pág 199
Quando ela ficou no topo da lista de "veneno de bilheteria", Katharine tinha acabado de completar o filme o Boêmio Encantador (Holiday, 1938), também com Cary Grant, e por conta de sua reputação, a película não foi tão bem-sucedida quanto poderia ter sido. 

Diante desse cenário, a RKO e Katharine, "de comum acordo" decidiram terminar seu contrato com o estúdio em 4 de maio de 1938, coincidentemente um dia depois de ser oficialmente taxada como "veneno de bilheteria" pela imprensa.  

Katharine Hepburn e Howard Hughes: amigos e amantes em foto publicada na autobiografia da atriz

Namorando com Howard Hughes, a Paramount ofereceu um contrato para Hepburn de U$10 mil dos U$150 mil que ela recebia e a atriz recusou por não acreditar no filme oferecido. O magnata e entusiasta da aviação acreditava que a atriz tinha cometido um terrível erro, mas ele estava enganado.

Focando-se em mais uma peça de teatro, ela se refugiou em sua casa em Fenwick, Connecticut e recebeu a ligação do amigo, o roteirista Philip Barry. Ele lhe mostrou dois roteiros que estava trabalhando - um deles era Núpcias de um Escândalo (The Philadelphia Story, 1940) e ali a jovem sabia que tinha um sucesso nas mãos. 

Howard Hughes lhe aconselhou a comprar os direitos da obra e fez esse favor para sua namorada - que seria sua amiga pela vida toda. L.B Mayer, diretor da MGM, ficou interessado na obra e barganhou com Katharine para levar esse filme às telonas. 

Ela queria Spencer Tracy e Clark Gable nos papeis coadjuvantes, mas eles não aceitaram: ela ficou com o novato James Stewart e seu velho conhecido, Cary Grant. L.B Mayer não estava tão preocupado porque, mesmo com Katharine, o filme teria outros atores para segurarem o "tranco". 

Katharine foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz e James ganhou o de Melhor Ator. Núpcias de um Escândalo (The Philadelphia Story, 1940) foi um dos maiores sucessos de 1940 e fez com que a atriz retornasse ao topo. 
Comprar os direitos de Núpcias de um Escândalo (The Philadelphia Story, 1940) foi uma das melhores coisas que aconteceram na minha vida. Eu acho que ganhei um pouco de dinheiro também. Mudou a minha vida, a minha carreira. Howard sabia melhor. -I Know Where I'm Going: Katharine Hepburn, A Personal Biography Por Charlotte Chandler.  
Katharine Hepburn em foto publicitária para seu grande retorno aos cinemas

Depois do estrondoso sucesso, que a colocou no topo e com uma parceria com a MGM, ela escolheu a dedo seu próximo projeto, comprando os direitos do roteiro A Mulher do Ano (Woman of The Year, 1942), seu primeiro trabalho com Spencer Tracy por quem ela se apaixonou perdidamente. 

A partir daí, com toda sua glória, seu rótulo de "veneno de bilheteria" foi esquecido e Katharine estrelou em sucesso atrás de sucesso. Em 1940 ainda recebeu mais uma indicação ao Oscar por Mulher do Ano. Depois em 1952 por Uma Aventura na África e assim sucessivamente, com o total de 12 indicações em todas as décadas seguintes, até 1980. 

Katharine, portanto, superou o rótulo de veneno de bilheteria por ter fé em seu talento e tomar decisões baseadas na inteligência e não na emoção. Se por quebrar barreiras com suas vestimentas e por ter controle total de seus filmes e carreira - escolhendo seus diretores e papeis - ela foi taxada de difícil, foi exatamente isso que, anos depois, a fez retomar seu lugar em Hollywood como uma das maiores atrizes do cinema. 

Katharine, assim como Joan Crawford, acreditou em seu talento e lutou por ele: essa é sempre a resposta. 

*matéria sugerida pela leitora Maria Fontenele, que pediu para que fizéssemos uma homenagem para Katharine Hepburn!

8 filmes clássicos de terror para curtir o Dia das Bruxas

O Dia das Bruxas não é um dos feriados mais populares do Brasil. Em contrapartida, no hemisfério norte, a data é celebrada com "gostosuras ou travessuras", fantasias e muitas festas.

Apesar do nosso país ser, em tese, laico, as influências cristãs foram fortemente implantadas no Brasil e por isso, a ênfase é dada para os dias 1 e 2 de novembro, que são, respectivamente, o Dia de Todos os Santos e o Dia de Finados. 

A data do dia 31 de outubro, no entanto, vem ganhando os holofotes no nosso país, em especial pela influência estrangeira e também pela tradição que todo o cinéfilo ama: assistir uma maratona de filmes de terror. 

Nesta A Listinha, exibimos 7 filmes clássicos de terror para você curtir o Dia das Bruxas, ou se preferir o Halloween, seja sozinho, acompanhado ou apenas para conhecer novos clássicos. Alertamos, no entanto, que você não vai encontrar filmes já conhecidos como Elvira, A Rainha das Trevas (1986), Halloween (1978), Drácula (1931) e Frankenstein (1933) por aqui, pois queremos dar chance para outros clássicos, ok? 

O ANJO DA NOITE (1974, dir. Hugo Khouri) 

José Mojica Marins, ou melhor, Zé do Caixão é o pioneiro dos filmes de terror no Brasil e seu primeiro filme À Meia Noite Levarei sua Alma (1964, disponível aqui) se tornou um dos maiores clássicos do gênero. 

Seguindo os passos de Zé, o diretor Walter Hugo Khouri também criou um clássico do terror brasileiro, o longa O Anjo da Noite (idem, 1974). Baseado no livro A Outra Volta do Parafuso de Henry James e possivelmente com influência do filme Os Inocentes (The Innocents, 1961) com Deborah Kerr, o filme tem uma atmosfera de terror gótica.

Nele, conhecemos a babá Ana, vivida por Selma Egrei, que é contratada para cuidar de duas crianças em uma mansão em Petrópolis, enquanto seus pais viajavam. Em uma casa afastada e com ares macabros, ela começa a receber ligações misteriosas ao mesmo tempo que o caseiro Augusto (Elieser Gomes) revela que há algo de macabro por ali. 

Em seu primeiro filme de terror, o diretor conseguiu consagrar O Anjo da Noite (1974) como um dos clássicos do gênero, com uma atenção aos detalhes e cenários que o fez ser premiado no Festival de Gramado no ano seguinte. 

Um filme que não pode faltar em sua lista para o Dia das Bruxas. 

O Lobisomen (Wolfman, 1941, dir. George Waggner)

Antes de O Monstro da Lagoa Negra (1954), que segue uma narrativa parecida, existiu o filme O Lobisomem (The Wolfman, 1941), estrelado por Lon Chaney Jr, cujo pai Lon Chaney interpretou um dos maiores "monstros" do cinema: o Fantasma da Ópera em 1925. 

Produzido pela Universal, que se especializou em criar filmes de cunho de horror e com monstros, O Lobisomem (The Wolfman, 1941) foi o segundo filme do estúdio a tratar sobre a lenda do lobisomem, sendo o primeiro O Lobisomem de Londres (Werewolf of London, 1935). 

O filme conta a história de Larry Talbot, vivido por Chaney, que após a morte de seu irmão volta à sua antiga cidade para se reconciliar com o pai, John, interpretado por Claude Rains. Lá ele se apaixona por uma jovem chamada Gwen e uma noite, após salvar sua amiga, é mordido por um lobisomem chamado Bela, papel de Bela Lugosi, o eterno Drácula. 

Logo Larry, em sua forma animal, começa a aterrorizar a pequena cidade, sem qualquer lembrança do que fez durante a lua cheia. Lon reinterpretou o Lobisomem nos filmes Frankenstein Encontra o Lobisomem (1943), A Casa de Frankenstein (1944), A Casa de Drácula (1945) e por fim na comédia Abbott e Costello contra Frankenstein (1948). 

O Lobisomen (Wolfman, 1941) teve um remake em 2010 estrelado por Benício del Toro e os últimos rumores indicam que Ryan Gosling interpretará o Larry em um reboot. Veja o filme completo, em inglês, abaixo! 



Inferno (Jigoku, 1960, dir. Nobuo Nakagawa)


Inferno (Jikogu, 1960) não é um dos primeiros filmes de horror do Japão, mas atingiu o status de clássico graças às suas imagens gráficas e horripilantes. 

Nele, conhecemos o estudante de teologia Shirõ, vivido por Shigeru Amachi, que está noivo de Yukiko (Utako Mitsuya), filha de seu professor. Numa noite, ele pega carona com o seu colega, Tamura (Yōichi Numata) que atropela e mata o líder de uma gangue. 

Shirõ tenta impedir seu colega e ir para a polícia, mas essa série de eventos acaba matando sua noiva e ele encontra conforto com uma stripper, que depois ele descobre ser a namorada do líder que ele e seu amigo mataram. A jovem Yoko (Akiko Ono) e a mãe do morto, interpretada por Kiyoko Tsuji, decidem se vingar. 

Assim Shirõ recebe uma carta para ir para a casa dos pais e ele nem imagina que durante essa viagem ele encontrará o próprio Inferno. 

Em Inferno (Jikogu, 1960) o diretor Nobuo Nakagawa e o roteirista Ichirô Miyagawa chocam ao exibir o inferno de uma maneira tão cruel, com cenas sangrentas e altamente perturbadoras. O filme ganhou uma refilmagem em 1979 e também em 2005. 



O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953, dir. Ida Lupino)


O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953) se foca mais no drama psicológico dos personagens, mas isso não o torna menos assustador.

Dirigido pela atriz Ida Lupino, conhecida por dedicar seu tempo e talento à filmes com temáticas provocadoras e incisivas, O Mundo Odeia-me, escrito pela atriz e seu marido, Collier Young, conta a história de um serial killer chamado Emmett Meyers (William Talman) que pega carona com dois pescadores na estrada. 

O que Roy e Gilbert, vividos respectivamente por Edmond O'Brien e Frank Lovejoy, não sabiam é que ele já havia matado outros bom-samaritanos no meio do caminho e nesse jogo de gato e rato promete matá-los antes da carona terminar. 

O telespectador então, recebe de bom grado, um afiado thriller psicológico cuja trilha sonora impacta e aterroriza. O Mundo Odeia-me (The Hitch-Hiker, 1953), aliás, foi baseado em uma história real que ocorreu na Califórnia nos anos 1950 no qual o prisioneiro Billy Cook matou seis pessoas posando como uma pessoa que pedia carona, assim como seu alterego no filme. 

Dá para ficar mais horripilante do que isso? 


Sangue de Pantera (Cat People, 1942, dir. Jacques Tourneur)


Sangue de Pantera (Cat People, 1942) começou com a idealização do produtor Val Lewton, que ahvia acabado de assinar com o estúdio RKO. Charles Koerner, vice-diretor do estúdio, queria competir com a Universal, que teve hits modestos explorando monstros como Drácula e Frankenstein. 

Assim, ele teve a ideia do título Cat People, ou seja, em tradução literal Pessoas Gatos, e deixou a cargo de Val e o escritor DeWitt Boedeen de desenvolver a história. Segundo o livro Cat People por Kim Newman, eles se basearam na história de Algernon Blackwood, que conta sobre uma aldeia que adora gatos e uma protagonista assombrada por essas memórias. 

Assim, temos a estrela a francesa Simone Simon, vivendo a imigrante sérvia Irena Dubrovna no filme Sangue de Pantera (Cat People, 1942). Uma desenhista, ela se muda para Nova York buscando novos rumos profissionais e se apaixona por Oliver Reed (Kent Smith). 

Os dois se casam, mas Irena teme em se tornar íntima com o amado pois existe uma lenda em seu vilarejo de que se ela se tornar íntima dele, algo terrível pode acontecer. 

Feito com um orçamento baixíssimo, Sangue de Pantera (Cat People, 1942) é a prova de que com bastante criatividade, a audiência pode se surpreender com ótimos e práticos efeitos especiais. Foi neste filme, aliás, que foi criada a famosa técnica Lewton Bus, ou o jump scare, no qual a cena cria tensão para um choque que, no final, é inofensivo.

Sangue de Pantera (Cat People, 1942) foi um grande sucesso para a RKO e ganhou uma continuação em 1944 intitulado A Maldição do Sangue de Pantera com a volta dos atores originais. A obra recebeu uma refilmagem em 1982 intitulada A Marca da Pantera (Cat People, 1982). 

Veja, abaixo!

O Morcego (El Vampiro, 1957, dir. Fernando Méndez)


Não poderíamos fazer uma lista sobre filmes clássicos de terror sem incluir, pelo menos, uma história sobre o Drácula. 

O escolhido foi o filme mexicano O Morcego (El Vampiro, 1957), o primeiro a exibir um vampiro com longas presas afiadas e que, apesar de não ser tão icônico quando Drácula (1931) ou Nosferatu (1922), é com certeza interessante. 

No filme, conhecemos Marta, vivida por Ariadne Welter, uma jovem que procura seu vilarejo no México, Sicomoros, para visitar suas duas tias. No meio do caminho, ela conhece o jovem Enrique (Abel Salazaer) que a ajuda em sua busca. 

O problema é que quando ela chega lá, uma de suas tias morreu após sofrer com um estado de paranoia enquanto a outra, aparentemente, não envelheceu. Eloisa, vivida por Carmen Montejo, está negociando com o sr. Duval (Gérman Robles, em seu primeiro papel nos cinemas) que pretender comprar a terra e, consequentemente, todo o vilarejo. 

Com uma atmosfera misteriosa, O Morcego (El Vampiro, 1957) foi um sucesso no ano de seu lançamento e garantiu uma continuação intitulada O Ataúde do Vampiro (El ataud del Vampiro, 1958). O filme, apesar de alguns erros de continuação e de ritmo, continua um clássico cult do cinema. 

O Olhos Sem Rosto (Les Yeux Sans Visage, 1960, dir. Georges Franju)


Olhos sem Rosto (Les Yeux Sans Visage, 1960) é um filme de terror franco-italiano baseado no livro homônimo do francês Jean Redon. 

Estrelado por Alida Valli, o filme conta a história de uma jovem chamada Christiane, vivida por Edith Scoob, que após um acidente terrível fica com o rosto completamente desfigurado. Seu pai, o brilhante médico Génessier (Pierre Brausser), infeliz com a situação de sua amada filha resolve fazer de tudo para ajudá-la. 

Assim, em uma reviravolta cruel e sombria do filme Um Rosto de Mulher (que já foi interpretado por Joan Crawford, Ingrid Bergman e a mexicana Ana Luisa Beluffo), o doutor decide que a única maneira de ajudar Christiane é sequestrar jovens mulheres para fazer transplantes no rosto da filha. Alida Valli é a leal governanta Louise, que faz de tudo para ajudar essa querida família. 

O filme, um clássico incompreendido quando foi lançado,  graças ao toque de direção melancólico de Georges Franju, inspirou, posteriormente diversas outras películas. A cena do transplante de rosto, aliás, continua como um dos mais perturbadores do cinema. 

O clássico de Pedro Almodóvar A Pele Que Habito (2011) se inspirou em Olhos sem Rosto (Les Yeux Sans Visage, 1960), assim como John Carpenter que baseou a máscara de Halloween (1978). Até o cantor Billy Idol se baseou no filme para escrever seu hit Eyes Without a Face


A Noite dos Mortos-Vivos (The Night of The Living Dead, 1968, dir. George Romero)


A Noite dos Mortos-Vivos (The Night of The Living Dead, 1968), além de um clássico no gênero de terror, também fez história ao ter o primeiro homem negro como protagonista. 

Duane Jones interpreta Ben, o único homem capaz de conter o ataques de zumbis em sua cidade, utilizando sua inteligência e seu conhecimento com armas. Ele salva Barbra, interpretada por Judith O'Dea, e a partir dai ele descobrem mais cinco pessoas na fazenda abandonada, que estão lutando por suas vidas. 

Com brigas internas e momentos de horror dos zumbis, que comem carne humana para se alimentarem, Ben e o resto dos refugiados lutam a cada minuto para sobreviverem. O filme se tornou um dos maiores sucessos do ano surpreendendo à todos, já que a produção tinha um baixíssimo orçamento. 

George A Romero, então, logo tratou de fazer outras continuações e fez seis filmes com essa temática de zumbis, o Despertar dos mortos (1978), Dia dos mortos (1985), Terra dos mortos (2005), Diário dos mortos" (2007) e A ilha dos mortos (2009). 

Nenhum deles, no entanto, superou o êxito de A Noite dos Mortos-Vivos (The Night of The Living Dead, 1968) que em 1990 ganhou uma refilmagem. 



Sweethearts: o romance de Jeanette MacDonald e Nelson Eddy por Sharon Rich

Em uma época na qual a ópera era um gênero superpopular de música, Jeanette MacDonald e Nelson Eddy eram reis de bilheteria. 

A parceria deles começou em Oh, Marietta! (Naughty Marietta, 1935) e se estendeu em mais sete filmes, em sua maioria de grande sucesso. Se hoje o gênero musical que os consagrou é considerado ultrapassado, nos anos 30 não havia dupla mais querida no cinema do que eles. 

Ambos se casaram com outras pessoas: Jeanette com Gene Raymond, um sósia de Nelson, em 1937 até sua morte em 1965, e o barítono com Ann Deitz em 1939 até seu falecimento em 1967. Os rumores sobre MacDonald e Eddy variavam: ou se amavam nos bastidores ou se odiavam. 

Sharon Rich, fundadora de um dos maiores fã-clubes da dupla, afirma saber a verdade: os dois se apaixonaram em 1934 e tiveram um caso que durou por décadas. O grande empecilho para que eles vivessem esse amor era Louis B. Mayer, dono do estúdio MGM que controlava suas carreiras, além de desencontros, suas vaidades e o destino. 

Com base nesse romance ela escreveu o controverso livro Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy lançado em 1994. 

Controverso porque nele, a autora afirma com todas as letras que Jeanette e Nelson eram amantes predestinados - e que se amavam com tanta paixão quanto brigavam - mesmo sem exibir provas factuais do caso. 

Calma que explico! Existem duas grandes falhas em Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy: a primeira é a narrativa, que ao invés de ser direta se baseia nos moldes da narrativa de romance, transformando Jeanette e Nelson em personagens de um romance trágico. A segunda é que apesar de nos informar datas, detalhes, fotos, pinturas e cartas dos apaixonados, não há sequer um registro fotográfico deles no livro. 

Ao procurar resenhas críticas da obra, feita por leitores comuns, encontra-se adjetivos como "fanfiction" (ou seja, história criada por um fã), "invenção" e até outras palavras de baixo calão. Isso se dá pela escolha de discurso indireto de Rich, no qual ela ficcionaliza alguns eventos e falas para moldar tudo à sua narrativa de livro romântico.

Em suas 447 páginas, Sweethearts já começa em uma nota desafiadora: quem escreveu o epílogo do livro é Jon Eddy, o suposto filho de Nelson com a cantora de ópera Maybelle Marston .Jon é mencionado no livro e até relembra detalhes sobre o romance de seu provável pai com Jeanette, mas a autora não nos dá prova concreta da paternidade. Além da palavra dele, não há nenhuma foto de Jon com o pai ou qualquer outra circunstância.  

Na verdade, esse é um erro de construção da autora e da editora, já que ao pesquisar citações do livro e informações de jornais, consegui encontrá-las, depois de uma árdua busca, na internet e em fontes anteriores à publicação do livro, em 1994. 

Talvez o desejo de Sharon em deter informações preciosas sobre o casal impediu que ela publicasse as cartas e fotos de Jeanette e Nelson. O problema é que assim, ficamos apenas com a palavra da autora sem prova física dessas informações. É aí que o livro se torna controverso, afinal: sem exibir as provas, temos que acreditar piamente no que lemos em Sweethearts

Em  Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy o leitor ganha uma miniautobiografia de Jeanette e Nelson para se situar, no qual consegue encontrar as similaridades entre os dois enamorados - que desde jovens sabiam que queriam estar no entretenimento. A autora também se concentra em refutar rumores de que Nelson era homossexual -rumores que aumentaram após ele se casar com Ann Deitz, bem mais velha do que ele - e que Jeanette seria frívola sexualmente. 

Depois desse contexto, ela narra o primeiro encontro dos dois em 1933 em um jantar na casa de Frank LLoyd e sua esposa, no qual Nelson relembra para a mãe, Isabel: 

Ela era uma visão ou um anjo. Não tenho certeza de qual. Ela usava um lindo vestido de cor lavanda e veio até mim com tanta graça e dignidade. Eu lembro que a primeira vez que a conheci fiquei sem palavras e sem saber o que fazer. - Sweethearts, página 8.

Os dois começaram um romance que terminou rapidamente quando Nelson insistiu em pedi-la em casamento e pedia que ela desistisse de sua carreira - já bem mais estabelecida do que a dele. Ambiciosa, Jeanette se recusou, mas ali já era tarde demais: ela já havia o recomendado para atuar em Oh, Marietta (Naughty Marieta, 1934) - o primeiro de muitos filmes do casal. 

Entre brigas e términos nos quais Jeanette engravidava de Nelson e alguns meses depois perdia o bebê - durante as gravações de Rose Marie (1936) e depois em Sweethearts (1938), ela ficou grávida - os dois discutiam incessantemente sobre suas carreiras e sobre o domínio de Louis B. Mayer, chefe do estúdio MGM, e que não queria os dois juntos. 

O leitor comum, que não tem muita familiaridade com o sistema de estrelas da Hollywood Clássica, fica incrédulo com as afirmações de Sharon Rich, de que Louis conseguiria separar Jeanette e Nelson por anos, com aparente facilidade para destruir suas vidas. Mas isso era feito e era muito comum. 

Lana Turner, por exemplo, também contratada pela MGM, foi impedida de continuar seu romance com Tyrone Power pelo próprio estúdio. Judy Garland era controlada constantemente por Mayer, desde seu peso até sua vida pessoal, e foi forçada a fazer um aborto de seu primeiro marido, David Rose, para não destruir sua imagem virginal.

Jeanette Macdonald, aliás, era a favorita de Louis B. Mayer - a outra era Irenne Dunne - e isso é um fato. Até a biografia oficial da ruiva, Hollywood Diva: A Biography of Jeanette MacDonald de Edward Baron Turk, sancionada por sua família, admite que a atriz passava horas no escritório do diretor e assim conseguia favores especiais - e vice-versa.

Portanto, Louis B. Mayer odiava Nelson, mas não podia mandá-lo embora da MGM porque sua parceria nas telas com MacDonald significava mais dinheiro para ele. Assim, o diretor fazia o possível para mantê-los separados, com medo de que a insistência do barítono e uma gravidez de Jeanette pudesse acabar com seu reinado.

Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy relata esse período de tempo de forma fidedigna, assim como outros momentos do casal. Apesar de leitores definirem o livro como uma fanfiction, a autora não se esquiva de fatos controversos, como Nelson ter estuprado Jeanette e as brigas violentas dos dois, inclusive o temperamento explosivo e muitas vezes assustador de Eddy.


Sharon Rich fez uma pesquisa extensa, de anos, para construir seu livro. Ela teve acesso exclusivo à irmã de Jeanette, Blossom Rock - a Mama da série Os Monstros - à mãe de Nelson Eddy, amigos do casal e outros colegas de profissão além de cartas românticas dos dois enamorados, que entre idas e vindas viveram um romance que durou mais de 30 anos. Duvido - e muito - de que ela arriscaria sua reputação para escrever uma falácia. 

O erro principal do livro é que não há cópias das cartas, não há cópias das fotos e nos deparamos apenas com descrições e transcrições das provas, sem vê-las. Se essa foi uma estratégia de Sharon para reter essas preciosas informações - que ela também divide no site maceddy.com -, ela sai pela culatra porque o leitor comum, em sua maioria, não se dará ao trabalho de pesquisar as informações e referências para saber se é verdade. Então ele suspeita: se não há provas, não há crença. 

No caso, a edição de Sweethearts também não ajuda a narrativa do romance: isso porque no livro em questão, as fotos estão espalhadas pelas páginas tornando a leitura cansativa e sem qualquer alívio visual. Uma solução, por exemplo, seria se basear nos moldes de livros autobiográficos nos quais há uma seção apenas de fotos e cartas.

A questão de um milhão de dólares, que valida ou não o livro, é o seguinte: ao lê-lo, você acredita que o romance entre Jeanette e Nelson aconteceu de fato? Uma pergunta, de fato, capciosa pois ela depende: se você é um leitor fã da antiga Hollywood, especialmente de Jeanette e Nelson, e já sabe de fatos como Gene Reymond - marido da atriz - ser homossexual, a saúde frágil de Jeanette e o temperamento de Nelson, todo o livro faz sentido. Se for apenas um leitor meramente curioso, você fica com muitas dúvidas e não sabe o que acreditar. 

Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy ganhou uma edição especial de 20 anos de lançamento com mais fotos, entrevistas e detalhes sobre o relacionamento dos astros, inclusive sobre o filho natimorto deles, que se chamaria Daniel.  Disponível online, por apenas R$21 no Kindle, é uma edição melhor diagramada, com mais fotos e detalhes e portanto a mais recomendada. 

Apesar disso, Sweethearts sofre com a falta de evidência fotográfica e ao utilizar uma narrativa indireta livre para tentar aproximar o leitor dos personagens, "esquece" de que é uma biografia e que neste caso se apoiar em fatos e indícios seria a melhor forma de fortalecer sua teoria. E não escrevendo uma história romântica. 

Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy e, consequentemente, o relacionamento de Nelson e Jeanette, virará uma cinebiografia com o envolvimento de Sharon Rich e dirigido por Michael Radford. O filme, de acordo com o site Deadline, está em desenvolvimento e começará a ser gravado no final do ano, na Espanha. 

Se em uma próxima edição Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy conseguir consertar esses erros, é certeza de que conseguirá unificar os incrédulos deste romance. 

Nos jornais da época existiam duas versões: que os dois se amavam ou que os dois se odiavam e não havia meio-termo. Até Jeanette em entrevista em 1938 fez questão de afastar rumores de brigas com Nelson:

Eu realmente acho que o Nelson gosta de trabalhar comigo. Eu sei que gosto de trabalhar com ele e estou muito feliz que continuamos como uma equipe pelo menos por um filme ao ano. - The Maitland Daily Mercury, 27 de julho de 1938

Por enquanto, o livro, por si só, continua a dividir: os que acreditam e os que não acreditam. O único jeito é ler Sweethearts e tirar suas próprias conclusões. 


INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO SWEETHEARTS

Livro: Sweethearts: The Timeless Love Affair -- On-Screen and Off -- Between Jeanette MacDonald and Nelson Eddy
Autor(a): Sharon Rich
Páginas: 447 
Editora: Diff

Onde comprar? 
Amazon: (clique aqui)

A série Cobra Kai e a evolução de Karatê Kid

*spoilers de Karatê Kid I, II e Cobra Kai

Karatê Kid - A Hora da Verdade (The Karatê Kid, 1984) definiu uma geração de jovens ao apresentar o azarão Daniel Larusso (Ralph Macchio), que com a ajuda de seu sábio mestre, ou melhor sensei, Myiagi (Noriyuki "Pat" Morita) consegue superar o bullying e as porradas que recebia do grupo Cobra Kai, liderado por Johnny Lawrence (William Zabka). No final, é claro, ele fica com a garota de Johnny, a tão cobiçada Ali (Elisabeth Shue), após um torneio e golpe insuperáveis. 

O filme fez tanto sucesso que rendeu mais duas continuações estrelando Ralph Macchio e uma com a então novata Hillary Swank, que depois ganhou dois Oscars de Melhor Atriz. Aqui no Brasil, a saga passava direto na Sessão de Tarde e, com certeza, incentivou muitos jovens a aprenderem karatê. Naquela época, estava claro: Daniel era o mocinho e Johnny o vilão. 

É aí que Cobra Kai, série original do Youtube que foi recentemente comprada pela Netflix, muda completamente o ponto de vista dos fãs. Se antes William Zabka, o eterno Johnny, era perseguido por uma horda de fãs que queriam puni-lo por ser ruim para Daniel, hoje o personagem, graças à Cobra Kai, se tornou um absoluto favorito. 


A mudança, no entanto, ocorreu gradualmente e muito antes da série. Cobra Kai deve sua concepção, pelo menos em parte, ao 22º episódio da oitava temporada da série How I Met Your Mother, na qual Barney Stinson (Neil Patrick Harris) tem sua despedida de solteiro. Em sua série de pedidos, ele quer conhecer o verdadeiro Karatê Kid. Seus amigos acreditam que seja Ralph Macchio, que interpretou Daniel Larusso, mas ao vê-lo, Barney dispara: 

Eu odeio o Ralph Macchio. Eu o odeio, odeio! Ele não é o verdadeiro karatê kid. O verdadeiro era William Zabka, a estrela prodígio do dojo de Cobra Kai, quando esse monstro o derrotou com um chute ilegal no mais triste e assombroso final de filme de todos os tempos. - Barney na série.

Depois disso, em 2015, um famoso canal no Youtube lançou o vídeo "Daniel Larusso é o verdadeiro vilão de Karatê Kid" que bombou na web. Nele, é listado todos os pontos no qual Daniel "provoca" seus agressores e mostra uma diferente perspectiva da história de Karatê Kid - A Hora da Verdade (Karatê Kid, 1984). 

Agora, os criadores da série Cobra Kai, que estreou em 2018, Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg, e Josh Heald, sabiam que o mundo estava preparado para uma perspectiva diferente dos personagens, exibindo a evolução de Johnny e Daniel e como uma rixa que pode durar anos tem consequências devastadoras. Heald garantiu, em entrevista ao site CBR, que o vídeo do Youtube e o episódio de How I Met Your Mother lhe deram a certeza que estavam na direção certa: assim nasceu Cobra Kai. 


Em Cobra Kai, conhecemos a nova realidade de Johnny Lawrence (William Zabka) que teve seu auge no ensino médio. Hoje ele trabalha em uma série de empregos como "faz-tudo" e mora em Reseda, a parte mais pobre de San Fernando Valley. É como se ele tivesse trocado de lugar com Daniel LaRusso (Ralph Macchio), que antes pobre, hoje vive em uma linda mansão com sua maravilhosa esposa Amanda (Courtney Henggeler) e seus dois filhos, Samantha (Mary Mouser) e Anthony (Griffin Santopietro). 

Perdido, Johnny muda de rumo ao conhecer Miguel (Xolo Maridueña), um jovem que acabou de se mudar perto dele, e que sofre bullying dos valentões de sua sala. Decidido a ajudá-lo após formar uma amizade com o rapaz, ele reabre o tão temido dojo do Cobra Kai com o mesmo lema: "Ataque primeiro, ataque forte, sem piedade". 

Mas diferente do primeiro Cobra Kai, os alunos que Johnny recebe são justamente aqueles que sofrem bullying na escola. Com métodos um tanto duvidosos, ele restaura a confiança nos jovens, tentando ser um melhor sensei do que John Kreese (Martin Kove) foi. Isso, é claro, levanta suspeitas de Daniel, que se sente ameaçado com a ressurgência do dojo que o perseguiu quando adolescente: é aí que ele cria sua própria escola de karatê para contrapor Cobra Kai: o Miyagi Do. 

Reforçando sua base na nostalgia, Cobra Kai revive o triângulo amoroso de Ali x Daniel x Johnny quando Miguel, do dojo de Lawrence, se apaixona por Samantha, filha de Larusso. Logo, após uma série de circunstâncias, ela fica dividida entre ele e Robbie (Tanner Buchanan), que aprende karatê com Daniel, mas é o filho problemático de Johnny Lawrence. 

Ali, aliás, é o norte de Johnny em todo Cobra Kai, pois ele claramente não conseguiu superar a jovem e continua a culpar Daniel por separá-los. Em dois pontos específicos da série, ele pinta LaRusso como o verdadeiro vilão -mostrando que tudo é uma questão de ponto de vista - enquanto o personagem de Macchio tem flashbacks assustadores com o que sofreu na mão dos Cobra Kai. 

Johnny Lawrence é o verdadeiro azarão: se antes ele era pintado como um terrível bully, agora o telespectador não consegue deixar de torcer para ele - um homem simples, que gosta de lindas garotas, cervejas e é durão. Para os desavisados, Daniel, então, pode ser visto como o antagonista de Cobra Kai, quando isso claramente não é verdade.

Isso porque quando Johnny e Daniel se reúnem, em circunstâncias não relacionadas ao karatê, os dois se dão muito bem, conversam, brincam e se entendem. LaRusso claramente tem seu coração no lugar certo, assim como Johnny, mas a rivalidade entre eles impede que vejam o quanto eles tem em comum. 

Ao reassistirmos Karatê Kid - A Hora da Verdade e sua continuação, fica claro que o verdadeiro vilão desse universo é John Kreese. Isso porque ao final do primeiro filme, Johnny fica reticente ao usar o ponto fraco de Daniel, sua perna, para ganhar pontos na luta. Quando perde, ele mesmo dá o troféu de primeiro lugar ao LaRusso e grita: "Parabéns, você mereceu." Um verdadeiro bully, sem nuances, nunca faria isso. 

Em outra ocasião anterior, antes da luta final, John Kreese aconselha seu aluno, Bobby Brown (Ron Thomas) a dar um golpe ilegal em Johnny, na sua perna, para que ele não possa mais competir. Bobby fica relutante, mas depois das ameaças do professor concorda com o golpe. Assim que Daniel agoniza no chão, podemos ver Bobby chegar perto e pedir perdão pelo que fez. 

Ou seja, os garotos de Cobra Kai, apesar de cometerem erros e serem covardes por espancar Daniel na desvantagem de um contra quatro, não eram verdadeiramente malvados, eles estavam apenas sendo guiados por alguém sem escrúpulos, que os ensinou que mostrar compaixão era sinônimo de ser fraco. Tanto que no começo de Karatê Kid II (idem, 1986), após Kreese enforcar Johnny, eles desistem do Cobra Kai para sempre. 

E aí que está o acerto da série: enquanto humaniza Johnny, que nunca consegue uma vitória satisfatória, e Daniel, que irrita com sua atitude superior, também mostra que nem todas as pessoas merecem uma segunda chance, nem todas estão dispostas a mudar e crescer, vulgo Kreese. Às vezes, valentões são apenas isso: valentões sem escrúpulos, sem meio-termo. 

John Kreese é o cabeça de Cobra Kai e embora, na série, tudo aponte que Johnny permitir que seu antigo sensei retorne seja uma péssima ideia - até seus antigos amigos o avisam - ele se mantém firme na decisão, certo de que todos merecem uma chance porque ele também quer ser redimido. Uma projeção de si mesmo, por exemplo, pois se ele tivesse recebido uma nova oportunidade de Ali, ele acha que não estaria onde está hoje. 

Cobra Kai mescla com perfeição a nostalgia dos anos 80, com a atitude badass de Johnny, o símbolo que foi Daniel para toda uma geração, ao ressignificar a saga dos filmes de Karatê Kid. Os criadores acertaram ao não tentar refazer a fórmula, como ocorreu em Karatê Kid de 2010, e sim levá-la para outra patamar, mesclando o original com um novo compartimento de histórias.

Miguel, o protagonista teen de Cobra Kai, não é perfeito: apesar de ser um doce menino, comete erros ao deixar as habilidades de karatê e o ciúmes subir à sua cabeça, mas tem o coração no lugar certo. Falcão (Jacob Bertrand), aliás, deixa o status de fodão - após sofrer bullying constantemente na sua vida - subir à cabeça e ele começa a perseguir seu ex-melhor amigo, Demetri (Gianni Decenzo). Aisha (Nichole Brown), sofria por ser gorda, mas ganha uma nova atitude após se sentir mais forte. 

Todos os personagens tem uma função aparente, inclusive Tory (Peyton List), ao mostrar que o mundo não é preto no branco: é cinza, conforme analogia própria de Johnny Lawrence. 


Em uma das lições de Daniel para seus alunos do Miyagi Do - muitos que saíram de Cobra Kai por não concordar com o lema de "sem compaixão" elevado ao quadrado por Kreese - ele conta que já foi do dojo inimigo e que ficou cego pelo poder que a força sem limites lhe havia dado. Johnny, claramente, já sabia desses erros e tentava transformar o novo Cobra Kai em "sem compaixão", mas com um aspecto importante, "com honra". 

Cobra Kai promete, e cumpre, ao levar Daniel e Johnny ao próximo nível e nas próximas temporadas é possível que a inserção de Ali possa finalmente por um ponto final nessa rixa obsessiva, ou ao menos permitir que Johnny se entregue de verdade à outro relacionamento. 

Quanto aos jovens, apesar do claro paralelo ao Karatê Kid original, os telespectadores conseguem ter um maior desenvolvimento de suas personalidades dando a chance que Johnny nunca teve - a simpatia do público. Podemos esperar flashbacks de todos os filmes do Karatê Kid, que possuem uma rica história, inclusive com Julie Pierce. 

Cobra Kai, portanto, é a verdadeira prova de que, com o ponto de vista certo, você pode aprender a amar seu inimigo. Ou pelo menos, entendê-lo. 


Cobra Kai (idem, 2018 -) tem suas duas temporadas disponíveis pela Netflix. 



3 papeis essencias que Ingrid Bergman lutou para conseguir

Ingrid Bergman foi uma guerreira durante toda a sua vida. Antes dela nascer, sua mãe Friedel Adler deu à luz duas outras crianças: a primeira morreu no parto e a segunda uma semana depois. Sete anos após sua terrível perda, Frieda, como era carinhosamente apelidada, recebeu de braços abertos Ingrid, nomeada em homenagem à então princesa da Suécia. 

Aos três anos de idade, a futura atriz perdeu a mãe por uma doença no fígado. Ingrid, então, foi criada por seu pai, Justus Samuel Bergman, um professor de música. Desde pequena, a menina foi incentivada a se tornar uma cantora de ópera e seu pai sempre a filmava em seus aniversários e enaltecia suas ambições. 

Samuel faleceu quando a jovem Ingrid tinha apenas 13 anos de idade e ela teve que se mudar para a casa de sua tia paterna, Ellen Bergman, que faleceu seis meses depois. Logo se foi para casa de sua tia Hilda, seu marido e cinco filhos, que desaprovavam o desejo de Ingrid se tornar atriz.

Perseverante, ela não se importava. Em 1933 ela foi a escolhida para uma bolsa integral no Royal Dramatic Theatre em Estocolmo, na Suécia, o mesmo local de estudo de Greta Gustafson que se tornou a enigmática Greta Garbo. Aos 19 anos, Ingrid foi escalada para seu primeiro papel Munkbrogreven (idem, 1935) e nunca mais parou.

Apesar de conseguir reprisar seu papel de maior sucesso na Suécia, em Intermezzo (idem, 1936) na versão Hollywoodiana pelo produtor David O' Selznick de 1939, ao lado de Leslie Howard, Ingrid teve que continuar a lutar pelos papeis que mais queria. 

Apaixonada pela atuação, ela não desejava ser estereotipada como a "boa garota" e lutava por papeis diferentes, com camadas e que mostrassem todo o seu talento. Assim nós da Caixa de Sucessos listamos 3 papeis importantes que Ingrid lutou para conseguir. 

O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941)

Ingrid, Spencer Tracy e Lana Turner para o filme

Depois de estrelar a versão Hollywoodiana de Intermezzo (idem, 1939), e chamar atenção por seu talento nato e maneirismos suaves, Ingrid não teve a decolagem de sua carreira como esperava. 

Apesar de ser a estrela principal em filmes como Os Quatro Filhos de Adam (Adam Had Four Sons, 1941) e Fúria No Céu (Rage in Heaven, 1941), as suas personagens eram doces, gentis e não exigiam uma atuação desafiadora de sua parte. Assim, ela estava decidida em mudar as coisas e interpretar a cantora de saloon Ivy Peterson na versão cinematográfica do livro O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941) era a solução. 

De acordo com a biografia Ingrid Bergman: A Personal Biography por Charlotte Chandler, o diretor Victor Fleming abordou a atriz para interpretar o papel de Beatrix, noiva do Dr. Jekyll Hyde, no filme. Ela teve que convencer o cineasta de que poderia interpretar a sensual Ivy, certa de que essa seria sua grande chance. 


Ingrid fez o teste e com a ajuda de Fleming, que estava apaixonado por ela e por seu teste excepcional, conseguiu o papel da prostituta Ivy. Lana, acostumada a interpretar femme fatales, fez um ótimo trabalho com a doce Beatrix, noiva do personagem de Spencer. As duas atrizes mostraram seus valores.  
Pela primeira vez eu sai da jaula que me emprisionava e abri uma janela para o mundo exterior. Eu toquei coisas que eu esperava que estivessem lá, mas nunca havia me arriscado em ver. Estou tão feliz com esse filme que sinto como se estivesse voando. Não sinto mais nenhuma amarra. Eu posso voar cada vez mais alto porque as barras da minha jaula estão quebradas. - Ingrid Bergman sobre seu papel no filme em Ingrid Bergman: The Life, Career and Public Image por David Smit. 

O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941) foi um grande sucesso de bilheteria e os críticos exaltaram seu "talento brilhante" e sua capacidade de elevar qualquer tipo de personagem. Baseado em seu triunfo, ela foi escolhida para interpretar a femme fatale Elsa em um de seus maiores sucessos em Casablanca (idem, 1942) e cimentou de vez seu lugar como uma das deusas do cinema. 

À Meia Luz (Gaslight, 1944)

Ingrid ao lado de Charles Boyer

Após seu sucesso em Casablanca (idem, 1942) e Por Quem os Sinos Dobram (For Whom the Bell Tolls, 1943), Ingrid estava planejando seu próximo passo com bastante cuidado. Ela almejava outro papel como Ivy em O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 1941), só que com maior destaque e ainda mais desafiador. 

Ansiosa para quebrar sua imagem íntegra, cuidadosamente cravada pelo seu agente e produtor David O' Selzsnick, Ingrid ficou muito interessada quando soube que a peça Gaslight, ou como na Broadway era chamada de Angel Street, de Patrick Hamilton ganharia mais uma versão cinematográfica depois da de 1940, estrelada pela britânica Diana Wynyard. 

Certa de que essa seria sua grande chance, quando Ingrid soube que a MGM havia adquirido os direitos da peça, ela ficou muito esperançosa. E ainda mais quando descobriu que Selzsnick estava negociando para emprestá-la ao filme. Mas segundo dizia-se, Charles Boyer insistia em ter seu nome primeiro nos créditos e o produtor não rebaixaria sua grande contratada para o segundo lugar.

Ingrid com seu Oscar de Melhor Atriz por À Meia Luz (Gaslight, 1944)

Ingrid, certa de que brilharia no filme, não queria saber! De acordo com o livro de David Smit, ela queria o papel de Paula Alquist e esperneou, chorou e implorou até que o produtor concordasse em aceitar as condições de Boyer. E assim foi feito. 

Eu teria me ajoelhado para David se fosse necessário. Felizmente, não foi. À Meia Luz era um dos meus filmes favoritos e uma das melhores experiências da minha vida. - Ingrid em entrevista para a biógrafa Charlotte Chandler. 

Dirigida por George Cukor e interpretando uma mulher que é levada à loucura, pouco a pouco, pelo seu marido, cunhando o popular termo gaslighting,Ingrid ganhou seu primeiro Oscar de Melhor Atriz. 

Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 1974)

Ingrid mais uma vez brilhou no filme

Em 1974, anos após sua volta triunfal aos EUA, Ingrid estava ainda mais exigente quanto aos papeis que ela aceitaria participar. Em 1949, ela foi banida de Hollywood por se apaixonar pelo diretor italiano Roberto Rossellini - na época, ela era casada com Petter Lindström, com quem tinha a filha Pia. 

Para viver seu amor, Bergman deixou para trás Hollywood e se focou na carreira em filmes italianos, em sua maioria dirigidos pelo marido. Com ele, Ingrid teve três filhos. Mas com o fim de seu casamento, ela estava pronta para Hollywood e com Anastasia (idem, 1956) voltou triunfante para os cinemas e ganhou seu segundo Oscar de Melhor Atriz. 

Assim, ela lutou por mais papeis desafiadores e encontrou sucesso em filmes como Indiscreta (Indiscreet, 1958) e o delicioso Flor de Cacto (Cactus Flower, 1969), além de apostar em uma de suas maiores paixões: o teatro.

Foi, aliás, atuando na peça The Constant Wife que ela foi abordada pelo diretor Sidney Lumet para participar do filme Assassinato no Expresso Oriente (Murder on the Orient Express, 1974). 

Ingrid ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por esse papel em 1975

Em sua autobiografia Ingrid Bergman: My Story, ela relembra que o cineasta queria que ela interpretasse o papel da Princesa russa Dragomiroff e ficou inconformado que Ingrid queria interpretar a empregada Greta Ohlsson:
Sidney achava que o papel não era bom o suficiente para mim. Eu disse: 'Na história toda tem o Albert Finney interpretando o Hercule Poirot. Todos os outros papeis tem mais ou menos o mesmo tamanho e eu acho que posso ser bem engraçada nesse papel pequeno. Eu tenho várias ideias de como interpretá-lo e eu quero parecer horrível nele'. Finalmente, ele caiu nessa e deu o papel da princesa russa para Wendy Willer, que fez um ótimo trabalho. 

Ingrid, mais uma vez, estava certa e por sua interpretação na adaptação cinematográfica do clássico livro de Agatha Christie, ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. 

Por volta dessa época, Ingrid descobriu um pequeno caroço em seu seio, após um autoexame, mas se recusou a ir ao médico para não atrapalhar sua peça A Constant Wife de 1973. Um ano depois ela passou por uma mastectomia e uma rodada de quimioterapia. 

O câncer logo se espalhou para os linfonodos e ela tinha um grande tumor embaixo do braço direito, que escondia usando um chale. Apesar das dificuldades, Ingrid manteve sua luta em segredo e faleceu exatamente no mesmo dia de seu nascimento, em 29 de agosto de 1982 aos 67 anos. 

Ingrid em seu último papel Golda (idem, 1982)

A atriz trabalhou até o fim de sua vida e após um hiato em Sonata de Outono (Autumn Sonata, 1978), nos agraciou uma última vez com o filme para a TV Golda (idem, 1982). Uma das maiores musas da sétima arte, Ingrid Bergman era tão talentosa quanto astuta e provou, mais uma vez, seu valor com esses filmes incríveis. 



Real ou Fictício? Analisando o filme Selena (idem, 1997)

Selena Quintanilla nos deixou há 25 anos. No entanto, suas músicas, seu talento e personalidade continuam mais vivas do que nunca. 

Filha mais nova do casal mexicano Abraham e Marcella, a cantora faleceu aos 23 anos de idade, assassinada pela diretora de seu fã-clube, Yolanda Saldívar. Naquela época, em 1995, Selena estava no auge de sua carreira, casada com Chris Pérez e pretendia expandir seus talentos para além da música.

Sua morte foi um baque para os fãs do mundo todo. Seu álbum póstumo Dreaming of You, lançado naquele mesmo ano, chegou no topo da Billboard 200. Selena foi a primeira artista latina a alcançar esse feito. Assim, apenas dois anos depois, a intérprete de Como La Flor, ganhou sua própria cinebiografia intitulada Selena (idem, 1997) estrelada pela estrela em ascensão Jennifer Lopez. 

Selena no palco em Monterrey, 1994.

Milhares de fãs, especialmente os do público mexicano, lamentavam a morte de Selena e a comoção foi tanta que logo a mídia tentava lucrar com o trágico espetáculo. Seis biografias sobre a cantora estavam sendo escritas, além de outros filmes roteirizados. 

Ainda de luto, o pai de Selena, Abraham Quintanilla decidiu que ele precisava colocar todos os rumores horríveis sobre sua filha para o escanteio. De acordo com o jornal Santa Cruz Sentinel, em 30 de agosto de 1995, Abraham anunciou que ele seria um dos produtores-executivos de um filme sobre a filha ao lado de Q Productions e Esparza-Katz Productions. Gregory Nava se tornou o diretor do projeto. 

Uma audição com milhares de atrizes foi aberta em Los Angeles e nomes como Salma Hayek e a novata Jennifer Lopez foram considerados. Outras jovens também como Danielle Camastro, Leticia Miller e Lizzette Padilla já afirmaram que quase conseguiram o papel, mas a própria Salma nega essas informações. 

Em entrevista para o jornal El Universal em 2017, Salma afirmou que apenas ela e Jennifer estavam sendo consideradas, realmente, para o papel:
O produtor, que é um covarde, negou, mas a verdade é que me ofereceram o papel antes mesmo de começarem as audições. Selena havia morrido menos de duas semanas e eu disse: 'Isso é estranho, eu não sei como ganhar sucesso pela morte de uma pessoa.' Quando me ofereceram de novo, eu disse: 'Mas vocês não estão fazendo uma audição? Disseram que sim, mas que no final seria eu ou a Jennifer Lopez. Eu disse não. Não permitira que outras atrizes fossem iludidas. 
No final, Jennifer Lopez que já havia trabalhado com Nava no filme Minha Família (Mi Familia, 1995), era a favorita para ganhar o papel e assim foi feito. As gravações de Selena começaram em setembro de 1996 e o filme foi lançado em 21 de março de 1997. 

Selena e Jennifer Lopez: o papel a alçou para a fama

Mas será que o filme Selena (idem, 1997) demonstrou a verdadeira história da cantora que conquistou o coração de milhões? Apesar de toda a família Quintanilla etsar envolvida no longa, de uma maneira ou outra, a verdade é que muito do que vemos na cinebiografia foi fabricado. 

Selena nasceu Selena Quintanilla, a filha mais nova de Abraham e Marcella, em 16 de abril de 1971, em Lake Jackson, no Texas, EUA. Desde pequena, assim como se demonstra em sua cinebiografia, a jovem sempre amou cantar. 

A cena inicial de Selena (idem, 1997) é da performance legendária da artista em 26 de março de 1995 no Astrodome, em Houston, Texas. O show estava lotado e a entrada da cantora foi exatamente como demonstrado: ela estava em uma carruagem branca, acenando para os fãs antes de subir ao palco. Logo depois de uma de suas últimas performances, o telespectador relembra, em flashbacks, a vida e a morte de Selena. 
  • Real ou Fictício? Abraham era cantor e com sua banda Los Dinos foi expulso de uma boate por não saber cantar em espanhol: Real 
Após a abertura do filme com Selena cantando em inglês no Astrodome, voltamos para 1961 quando Abraham Quintanilla, pai da cantora, tentava se tornar um sucesso com a banda Los Dinos, formada por ele e os amigos Seff e Bobby. 

No Texas, vemos quando o grupo é descartado por um dono de boate que apenas aceita brancos em seu estabelecimento. Bravo, Abraham rasga o cheque que lhe foi dado pelo homem. De acordo com a biografia Selena: Como La Flor de Joe Nick Patoski, o incidente de fato aconteceu e foi em North Beach, São Francisco, Califórnia. 

Logo depois, o telespectador se vê em um show da banda Los Dinos em Sinton, no Texas, uma área rural. O público, em sua maioria mexicanos, fica possesso ao descobrir que os rapazes não sabem cantar em espanhol. São expulsos e as pessoas vão atrás, lhe perseguindo. O grupo tem que ser escoltado pela polícia local. Isso realmente aconteceu. 

Apesar disso, a banda de Abraham continuou e conseguiu um sucesso moderado. O pai de Selena finalmente desistiu de Los Dinos em 1969, já casado com Marcella e pai de dois filhos: Abraham Jr e Suzette para ficar mais com a família e sustentá-los devidamente. Selena nasceria apenas em 1971. 


  • Real ou Fictício? Selena começou a cantar por influência do pai: Real
No filme Selena (idem, 1997) em uma cena em questão, a jovem garota é atraída pela música que seu pai tocava durante uma reunião com amigos. Algo clica em Abraham e ele logo começa a desenvolver o talento da pequena, que tinha apenas 10 anos em 1981. 

Na vida real, não foi bem assim: apesar de desistir da música para criar os filhos, Abraham nunca desistiu de seu sonho de viver da arte. Tanto que a família Quintanilla era incentivada a tocar o máximo que podia: o patriarca os ensinava a tocar desde cedo e Selena, por querer atenção da família, começou a desenvolver seu talento vocal por rivalidade entre os irmãos.

Em entrevista para Joseph Harnes em 1992, via o livro de Joe Nick Patoski, ela admitiu:
Eu acho que fiquei um pouco enciumada, então eu peguei um livro musical que meu pai tinha com canções antigas e cantar na sua frente, esperando que ele me notasse.  Depois, meu pai começou a me ensinar. Então ele notou que eu aprendia fácil e meu ritmo era bom. 
Selena cantando ao lado dos irmãos, Suzette e Abraham em 1981

Para Abe, aquela era sua segunda chance e ele afirmou que o talento de Selena era a "continuação de seus sonhos". Diferente do que é mostrado no longa, Abraham já tinha instrumentos de música em casa e treinava os filhos desde pequenos para tocarem. Abraham II era bom no baixo e Suzette, mesmo não gostando, era fantástica na bateria. 

Assim, cultivando o talento dos filhos, e seguindo sua religião de Testemunha de Jeová, o pai era bem restrito e rígido e ensinou Selena a cantar em espanhol perfeitamente, mesmo que ela não soubesse a língua. O treino logo se tornou um trabalho de verdade. Em 1981 com a inauguração do restaurante da família Papa Gayo's nasceu a banda Selena y Los Dinos. 

Eventualmente, o restaurante não deu certo: Quintanilla não sabia como administrar um restaurante. Eles entraram com um pedido de falência e perderam a casa em Lake Jackson, no Texas, onde moravam. A partir daí moravam de favor e apenas sobreviviam com a caridade dos familiares. Abraham, no entanto, continuava a impulsionar Selena para a música, certo de que essa era sua única saída. 
  • Real ou Fictício? Abraham fica furioso ao ver a filha com um bustiê em um show de 1989: Real 
Uma das cenas mais memoráveis do filme Selena (idem, 1997) é quando Selena está dando um show num rodeio mexicano em El Paso, no Texas em 1989. 

No palco, ela está com um conjunto jeans e logo depois de 'Baila Esta Cumbia' ela retira a jaqueta e exibe um bustiê com pedras brilhantes, dançando até o fim da apresentação. No filme, Abraham (Edward James Olson) fica louco ao ver que a filha está "indecente" e fica ainda mais bravo com o fato que a esposa Marcella (Constance Marie) a ajudou a fazer o bustiê. 

Em entrevista ao site Entretainment Tonight em 2017, ele confirmou a veracidade da cena e a ajuda de Marcella no plano do bustiê:
Mas é claro, eu sou um típico pai mexicano. Mas é a mesma coisa quando vi minhas meninas usando maquiagem pela primeira vez. Eu disse: 'Tire essa coisa agora' e uma semana depois mudei de ideia. 


  • Real ou fictício? A cena "Tudo por Selena" do filme: Real 
Uma das cenas mais divertidas do filme é quando o ônibus de turnê de Selena y Los Dinos acaba atravancando na estrada e a banda faz de tudo para colocá-lo de volta no rumo. 

Em especial, um homem vê a banda em apuros e decidi parar para ajudá-los e acompanhado de outro estranho usa seu Chevrolet Impala 1969 para tentar puxar o ônibus. Quando a parte rebaixada do carro é arrancada, o "cholo" brinca: "Esse para-choque foi arrancado pelo ônibus de Selena".  Eles não desistem e finalmente conseguem colocar o ônibus na estrada, não antes de soltar a icônica frase: "Tudo por Selena". 

De acordo com Abraham Quintanilla, em entrevista ao site ET, essa cena realmente aconteceu:
Foi isso mesmo que aconteceu. O motorista continuou insistindo que poderia tirar o ônibus da vala e eu finalmente disse: 'Sabe? Se você quer tentar, vá em frente'. Eu acho que foi o quarto tonto que tentou e acabou com seu parachoque. Eles pegaram, colocaram no banco de trás de seu carro e ele disse que iria pendurar na sua garagem com um sinal escrito "Selena's". Exatamente como no filme. 
Vale lembrar que apesar de não ser um nome reconhecido nos EUA, Selena já era bem popular no Texas e entre a audiência mexicana e seus descendentes. 


  • Real ou Fictício?  A retratação do relacionamento de Selena com Chris Pérez e como seu pai não gostava dele: Real
No filme Selena (idem, 1997) vemos que a primeira vez que a cantora conhece seu futuro marido, Chris Pérez, é quando ele recebe uma makeover de sua irmã Suzette no ônibus da turnê, que o deixa menos "rock n' roll". 

Claro que esse momento foi pura ficção, mas foi verdade que Abraham estava receoso em deixar Chris entrar na banda, especialmente por não ser especialista em música tejano e sim em rock n' roll. O guitarrista ficou amigo de Abraham Jr, através da cantora Shelly Lares, e conseguiu uma vaga em Los Dinos quando o antigo guitarrista Roger Garcia saiu da banda. 

Antes, ele já havia visto e escutado Selena, mas em recordações no seu Facebook, via o site Too Fab ele confirma que a viu pela primeira vez em 1990 no "estacionamento do restaurante do Denny's.  Ela era quente, mas eu estava mais focado em ser o novo guitarrista da banda". 


Chris também revela que o romântico momento em que os dois tem um encontro para comer pizza no Pizza Hut do Rio Grande Valley foi bem diferente na vida real: foi ali que eles disseram seu primeiro "eu te amo" enquanto que no filme estavam apenas se conhecendo. 

Mas como nem tudo era mil maravilhas, Chris tinha um lado bad boy e provou isso em 1991 quando ele e alguns roadies da banda destruíram um quarto de hotel na estrada. Selena e Chris não tiveram um momento franco e vulnerável como Selena (idem, 1997) demonstra. A cantora ficou "furiosa", como o guitarrista relembra e ela terminou o namoro com ele, depois reatando. Chris pagou pelos danos do quarto de hotel, que ele também ajudou a destruir. 

Chris e Selena continuaram o romance escondidos, afinal Abraham não era fã do jovem e considerava que ele poderia manchar a imagem que ele construiu para a filha. Quando ele descobriu que os dois estavam juntos através de Suzette - todos na banda já sabiam, o grande beijo do filme no ônibus da turnê aconteceu de verdade - ele demitiu Chris da banda. 


Selena ficou arrasada e os dois continuaram a se ver o máximo que podiam, mesmo que escondidos. Finalmente, a cantora apareceu em sua porta em 2 de abril de 1992 e o convenceu a se casar com ela, assim como no filme.
Essa cena onde eu estava no Hotel bem atrás do Harpor Bridge em Corpus Christi foi o dia que ela veio me ver. Ela deveria pegar o ônibus para ir ao El Paso. Eu estava dormindo, bateram na minha porta e era ela. Aquela cena do filme no qual ela entra e nós discutimos e ela me convence que o único jeito de ficarmos juntos era casando - aquilo foi bem emocionante. Eles acertaram em cheio. - Chris Pérez entrevista ao Houston Chronicle. 

Abraham, no entanto, não foi tão receptivo com a decisão de Selena de se casar aos 20 anos de idade como no filme. Ao descobrir, ele foi aos poucos recebendo o guitarrista como parte de sua família, mas pedia que Selena não falasse de seu casamento para a imprensa. 

De acordo com o próprio Chris Pérez, em seu livro Para Selena, com Amor, os embates entre ele e Abraham continuaram:

Abraham e eu continuamos a ter essas lutas por poder. A maior parte da tensão era o resultado de incidentes onde eu apoiava Selena quando os dois discordavam. Felizmente se antes Abraham tentou de todas as maneiras nos manter separados, depois de casados ele se manteve em seus princípios da velha guarda e nos respeitou.

Mesmo assim, o marido de Selena afirmou que o pai da cantora chegou a lhe chamar de "o câncer da família". Chris e a cantora, apesar da resistência de Abraham, continuaram muito felizes e casados até sua precoce morte em 1995. 

  • Real ou Fictício? Palco desmoronando no México e sucesso de Selena pelo mundo afora: Real 

Selena começou a fazer sucesso em 1989 com o seu Los Dinos, mas foi nos anos 90 que ela disparou como uma superestrela. 

Assim como Selena (idem, 1997) mostra, a cantora fazia sucesso por sua personalidade alegre, cativante e bastante extrovertida. Ela assinou com a produtora EMI em 1989, lançando seu EP Selena, e logo após se tornar a garota-propaganda da Coca-Cola sua fama subiu à níveis inimagináveis. 

Como la Flor se tornou um de seus grandes sucessos e com o lançamento dos álbuns Amor Prohibido (1994) e Selena Live! no mesmo ano, pelo qual ela ganhou o Grammy de Melhor Álbum Mexicano, ela estava pronta para lançar um álbum também em inglês. Infelizmente, Dreaming of You (1995) foi lançado postumamente em 18 de julho, meses após a morte de Selena. 

Em Selena (idem, 1997) não vemos toda a potência do sucesso e amor dos fãs por Selena, mas chegamos perto durante a cena na qual o palco em que ela e Los Dinos estão quase desmorona no México. 


Segundo Chris, em seu Facebook, o momento foi ainda mais assustador na vida real:

O momento foi ainda mais assustador na vida real. Nós não sabíamos se conseguiríamos sair de lá. Eu e Selena. Nós já estávamos casados nesse momento, mas o filme não mostrou isso. 
  • Real ou Fictício? Yolanda Saldívar, presidente de seu fã-clube, manipulou Selena e sua família e a matou após descobrir que ela desviava dinheiro? Real 
Como o filme claramente mostra, Selena estava no auge de sua fama quando conheceu Yolanda Saldívar, presidente de seu fã-clube. 

O encontro ocorreu em 1991 quando Yolanda se aproximou se Suzette afirmando que queria criar um fã-clube para a cantora. O trabalho era imenso e tanto Selena quanto sua família ficaram contentes com a ajuda e a prestatividade de Saldívar. 

Quanto mais famosa a cantora ficava, menos tempo ela tinha disponível para seus outros trabalhos e delegou para a ex-enfermeira o controle de suas duas boutiques de moda chamada Selena Etc. em Corpus Christi e San Antonio, no Texas em 1994. 


Todos à volta de Selena não gostavam de Yolanda. Uma prima da cantora, Débora Ramirez, relembrou como a ex-enfermeira era controladora e não administrava corretamente as boutiques de Selena, no livro Como La Flor

Ao passar do tempo, nem Selena se sentia confortável com a presença de Saldívar, mas como ela era responsável por grande parte de seus negócios e fã-clubes decidiu apenas lidar com a situação. Isto é, até que Selena começou a desconfiar que Yolanda desviava dinheiro de sua companhia. 

Foi Martín Gomez, o designer das roupas na boutique de Selena, que alertou Abraham que apesar das vendas e do carisma de Selena, o negócio não estava deslanchando. Em dezembro de 1994, seu pai teve uma conversa franca com a jovem, que ainda recusava ver a verdade. 

Em 9 de março de 1995, como reconta a biografia de Patoski, Abraham, Suzette e Selena tiveram uma reunião com Yolanda para indagá-la sobre as inconsistências nas finanças. Ela não sabia o que responder. Yolanda, enfim, teve seu nome retirado das boutiques e fã clubes. 

Selena fazendo a promoção de sua boutique Selena Etc.

O problema é que apesar de tentarem tirar Yolanda, a verdade é que Selena precisava dela. Saldívar tinha controle sobre a boutique, a expansão da linha para o México e continuava a lidar com a produção do perfume da cantora. Selena apenas percebeu a gravidade da situação quando recebeu uma ligação do banco, no qual lhe avisaram que a ex-enfermeira estava fazendo grandes saques das contas que ela tinha autorização em mexer. 

Selena telefonou para Yolanda e a confrontou sobre o assunto. Em 30 de março de 1995 ela se encontrou com a presidente de seu fã-clube, ao lado do marido Chris, e após uma conversa cordial recebeu os extratos bancários que pediu. Pouco depois, percebeu que alguns estavam faltando.

Yolanda afirmou que havia sido estuprada em Monterrey e estava se escondendo. Por isso, ela não poderia sair do motel onde estava e pediu que Selena fosse vê-la. No dia seguinte, dia 31 de março, as duas se encontraram no hotel e Selena prontamente levou Saldívar ao Hospital por sua alegação de estupro. Os médicos, é claro, constataram que ela estava mentindo.

Furiosa, de volta ao motel, Selena brigou com sua ex-amiga, sentindo-se traída. O que ela não esperava é que semanas antes, Yolanda havia comprado uma arma e a usaria agora. A cantora tentou correr mais foi atingida em uma importante artéria do pescoço. Ela desmaiou na entrada do Hotel, não antes de contar que Saldívar havia atirado nela. 

Selena Quintanilla faleceu em 31 de março de 1995 às 13h. Yolanda foi presa e condenada a prisão perpétua. Ela terá a possibilidade de liberdade condicional em 2025. 

  • O legado de Selena
O filme fez a decisão de não mostrar a terrível morte de Selena e acabou apenas com a confissão de Yolanda, interpretada por Lupe Ontiveros, com um tributo exibindo os fãs da cantora, suas apresentações e o amor de sua família. 

O legado de Selena continuou após sua morte. Seu álbum póstumo Dreaming of You atingiu o topo das paradas nos EUA e Abraham tomou a certeira decisão de lançar Selena (idem, 1997) para contar a história de sua filha em seus termos. 

Selena (idem, 1997) foi completamente baseado em fatos reais e exibiu a verdadeira faceta da cantora, embora de um ponto de vista cinematográfico, tenha pecado em não mostrar os conflitos e dramas de Selena, focando-se mais em sua história com Chris do que em sua carreira. 

Chris Pérez casou novamente em 1998 com Vanessa Villanueva e com ela teve dois filhos: Cassie e Noah. Eles se separaram em 2008 e o guitarrista lançou em 2012 o livro Para Selena, com Amor relembrando de sua história com a cantora. 


Infelizmente, a boa relação que Chris mantinha com a família Quintanilla se deteriorou com a morte de Selena. Logo após seu falecimento, o guitarrista assinou um termo dando para Abraham e sua família o direito exclusivo do nome de Selena, sua voz, fotografias, sua história e entre outros pormenores. 

Assim, quando ele tentou criar uma minissérie baseado em seu livro Com Amor, Para Selena, com a produtora Blue Mariachi, foi processado pelo ex-sogro em 2016. O guitarrista tentou contestar o processo, mas perdeu também na apelação em 2018. Os dois entraram em um acordo amigável em 2019.  

Em contrapartida, Abraham assinou um contrato com a Netflix para lançar uma série sobre a vida de sua filha, que ainda não tem data de estreia. A atriz Christian Serrato foi escalada para viver a cantora. 

Chris Pérez, em um post descontraído em seu Instagram em 2020, admitiu que não tem nenhum conhecimento sobre o desenvolvimento da série. Quando Selena ganhou uma estrela na Calçada da Fama em 2017, Chris participou da cerimônia, mas deixou claro que teve que "ralar" para conseguir um lugar e fazer parte da homenagem. 


A própria Selena ficaria triste de saber desses desentendimentos entre sua família e Chris, já que ela prezava muito pela harmonia familiar. 

Selena deixou este planeta muito nova, mas com um legado infinito. Milhares de artistas se inspiram nela até hoje e a cantora foi a primeira mulher a fazer sucesso tocando música Tejano. Selena (idem, 1997) é uma das cinebiografias de maior sucesso do cinema e lançou de vez a carreira de Jennifer Lopez no cinema e na música. 

Selena continua a ecoar no imaginário popular, seja com suas músicas, linha de maquiagem, livros infantis e até grife de roupas. Ela trabalhou duro até o fim e com certeza, se estivesse viva, estaria nos encantando ainda com seu talento.
Tudo que eu preciso é tentar e fazer o melhor que posso. - Selena Quintanilla


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