William Powell e Ginger Rogers em O Rapto da Meia Noite (1935)

William Powell ficou conhecido como o rei dos filmes de mistério - sua carreira como um 'detetive' das telonas começou ao ser escalado para viver a personagem Philo Vance, baseado em uma série de livros de mistério de S. S. Van Dine entre os anos 20 e 30. Seu primeiro filme interpretando Vance começou com O Drama de Uma Noite (The Canary Murder Case, 1929) e desde ali Powell ficou conhecido por interpretar homens com muita classe, esperteza, sarcasmo e é, claro, com uma mente que até Sherlock Holmes teria um pouco de inveja. 

A única série de filmes que para ele, fez mais sucesso do que como Philo Vance, foi interpretando Nick Charles ao lado da Nora da atriz Mirna Loy, em mais de seis filmes dos Acusados, que, aliás, também foi baseado no livro homônimo A Ceia dos Acusados de Dashiell Hammet. Um casal sofisticado, companheiro e igualmente excitante e inteligente, o primeiro filme da série com Powell e Myrna foi um sucesso estrondoso de bilheteria e o estúdio RKO, com quem Powell tinha um contrato de curta duração,  quis lucrar com essa fórmula. 

Assim, o público ganhou o filme O Rapto da Meia Noite (Star of Midnight, 1935) com William Powell e a novata Ginger Rogers. 

Divulgação/Gif
O Rapto da Meia Noite, baseado no livro The Star of Midnight de Arthur Somers Rocher, conta a história de Clay 'Dal' Danzell, vivido por William Powell, um advogado de grande fama que já ajudou a desvendar outros casos anteriormente. Dessa vez, no entanto, ele tem como companheira Donna Mantin, interpretada por Ginger Rogers, uma jovem que tinha uma queda por ele desde criança e insiste em ajudá-lo no caso, além de falar sobre casamento sempre que pode. Clay sofre um atentado após seu amigo Tim Whintrop (Leslie Fenton) chegar a Nova York e pedir auxilio para encontrar sua amada Alice Markham, que em uma note fatídica reaparece como Mary Smith. Assim começa uma busca pela sua pessoa que envolve inúmeros personagens. Tantos que até o espectador se perde. 

Fica claro que O Rapto da Meia Noite, que estreou em abril de 1935, é uma versão mais 'preguiçosa' de A Ceia dos Acusados, o que é uma pena, já que Ginger e William, apesar de 19 anos de diferença de idade, tem uma ótima química. Seu personagem é culto e sério, enquanto a personagem de Ginger - uma socialite rica, prestativa e engraçada - se mesclam muito bem e através de diálogos rápidos e muito concisos, conseguimos perceber e entender a fascinação que um tem pelo outro. 


Foto publicitária para o filme que está à venda no ebay                                      Divulgação
Powell, aliás, parece ter muita sorte com as loiras em sua vida - com Carole Lombard, sua segunda esposa, com quem terminou o relacionamento de forma amigável, Jean Harlow, com quem ficou noivo e até com Jean Arthur, atriz com quem ele fez mais de cinco filmes juntos. Mas Ginger, com certeza, foi sua co-estrela mais ocupada - ela gravava O Rapto da Meia Noite ao mesmo tempo que ensaiava para gravar o filme Picolino (Top Hat, 1935) ao lado de Fred Astaire. 

Em sua autobiografia Ginger: My Story, ela contou que gravar O Rapto da Meia Noite foi um alívio: "Eu estava muito grata de trabalhar em uma comédia sofisticada ao invés de ficar horas intermináveis escutando a mesma canção mais de cinco mil vezes...Trabalhar com o mesmo pessoal na RKO significava que o estilista Bernard Newman tinha minhas medidas e poderia deixar meus vestidos prontos antes do almoço, se necessário. Ele desenhou vestidos lindos, especialmente o primeiro, uma blusa branca com uma saia preta de seda. Era bem sofisticado."
A roupa favorita de Ginger Rogers do filme                                               Divulgação
Já para William Powell este foi seu primeiro filme de 1935 e seu último em contrato com a RKO, já que ele passaria a ser um ator da MGM, que em seu primeiro filme no estúdio já foi colocado para contracenar com outra loira: sua namorada na vida real, Jean Harlow, no filme Tentação dos Outros (Reckless, 1935).

Outra curiosidade interessante sobre mais mulheres na vida do ator é que, ao fundo da foto acima, existem duas fotos emolduradas em cima do móvel do quarto do personagem - uma foto é da atriz Irenne Dunne, com quem ele atuaria em 1947 no filme Nossa Vida com Papai (Life With Father) e a outra é Ann Harding, com quem ele atuou em 1933 no filme Double Harness (idem). Infelizmente, não conseguimos encontrar uma razão óbvia para as atrizes estarem nas fotografias, a não ser por uma referência à suas personagens de personalidades expansivas e sofisticadas, assim como Ginger Rogers também interpretava no filme. Poderia até ser uma piada interna, afinal. 


Apesar de ser um filme lotado de personagens, um amante ali, um assassinato para cá e até uma ferida de bala tão falsa que é impossível de se crer, O Rapto da Meia Noite lá tem seus triunfos: uma referência no roteiro, dita pelo próprio William Powell, quando sua personagem revela que as pessoas o consideram como "Charlie Chan, Philo Vance e um santo, todos embrulhados em um só." A frase se refere ao personagem Philo Vance, que Powell interpretava brilhantemente no cinema. Isso apenas prova, aliás, como a fórmula do filme de mistério foi aplicada na película, já que isso era um dos maiores atrativos de Powell.

Ginger tinha 23 anos de idade e Powell tinha 42 anos                                           Divulgação
Outra característica brilhante do filme O Rapto da Meia Noite é que o espectador nunca descobre quem é Mary Smith/Alice Markham. Do começo ao fim, apenas o que se vê é seu calcanhar no táxi e quando a música-tema do filme Midnight in Manhattan começa a tocar, lá para o final da película, a cantora nem é creditada! Sua curiosidade continua atiçada para saber quem Alice é, mesmo que em O Rapto da Meia Noite nunca a veja.

Com atores coadjuvantes como Paul Kelly, um interessante chefe da máfia, Ralph Morgan, o bobamente engraçado Gene Lockhart e o centrado chefe de polícia vivido por J. Farell MacDonald, além de uma antiga namorada de Dal, que é mal aproveitada na história, o filme O Rapto da Meia Noite lá tem seus virtudes e merece ser assistido para se observar a maravilhosa química entre Ginger e Powell, que apesar de nunca se beijarem na boca no filme e ficarem apenas na deliciosa provocação, deveriam ter feitos mais filmes juntos.

Só não espere uma história além de drinks, conversas e personagens em demasia, colocados ali astutamente para te confundir - divirta-se com as loucuras e travessuras de Dal e Donna, que só por isso que O Rapto da Meia Noite vale a pena. 

O filme está à venda na loja Americanas, por R$39,90, confiram! 

As vidas entrelaçadas de Pássaros Feridos, o livro de Colleen McCullough

*aviso: spoilers sobre o livro Pássaros Feridos 

Já vamos logo avisando: o livro Pássaros Feridos da escritora australiana Colleen McCullough é bem diferente do que sua primeira estreia como autora com a novela Tim. Enquanto Tim é um livro pequeno, conciso, mas detalhado, Pássaros Feridos é uma odisseia que segue uma família inteira e seus amores e desavenças pelo longo período de mais de 40 anos. 

Colleen McCullough morreu aos 77 anos de idade, em 2015                                 Divulgação
Essa grandiosa novela, com mais de 600 páginas, foi lançada em 1977 e inspirada pela avó de Colleen, Margaretta Hughes. Isso porque, Margaretta contou ao pai de Colleen uma história, ou melhor, lenda de um pássaro que empalava à si mesmo antes de cantar uma última linda canção. Foi esse conto que serviu de inspiração para a história do clã da família Cleary.  A autora, aliás, é extremamente ligada à assuntos religiosos sendo que Pássaros Feridos e suas outras obras lidam com o ambiente da Igreja Católica X a vida rural. 

Em entrevista ao jornal Wales Online, em 2009, a escritora contou: "A história foi contada à meu pai pela sua mãe, uma grande figura. Ela tinha mais de 1.80 metros de altura e bem grandona e, aparentemente, quando tinha uma eleição ela votava no seu candidato favorito mais de 70 vezes e ninguém a impedia. Ela tinha inúmeras histórias e contos e sempre contava ao meu pai James. A história dela do pássaro mistico sempre ficou na minha cabeça e acho que minha avó ouviu em Wales." 

O trecho do qual Colleen McCoullough se refere, e serviu de inspiração para seu livro, está descrito na primeira página de seu maior bestseller:
Existe uma lenda acerca de um pássaro que só canta uma vez na vida, com mais suavidade do que qualquer criatura sobre a terra. A partir do momento que deixa o ninho, começa a procurar o espinheiro-alvar e só descansa quando o encontra. Depois cantando entre os galhos mais selvagens, empala-se no acúleo mais agudo e mais comprido. E morrendo, sublima a própria agonia e despede um canto mais belo do que a cotovia e o rouxinol.Um canto superlativo, cujo preço é a existência. Mas o mundo inteiro para para ouvi-lo e Deus sorri no céu. Pois o melhor só se adquire  à custa de um grande sofrimento...Pelo menos é o que diz a lenda. 
Pássaros Feridos conta a história da família Cleary, composta em sua maioria por homens, com apenas Meggie, a única filha, e Fee, sua mãe distante e infeliz. O clã se muda para a Austrália à pedido de Mary Carson, irmã do chefe da família Cleary, Paddy. Assim o encontro de um jovem e belo padre Ralph de Bricassart e Meggie é inevitável, criando um vínculo entre eles que se estende por mais de 40 anos entre desavenças e amores não realizados. 

A primeira edição do livro              Divulgação
Para dar conta de um longo período de tempo a ser contado, a autora sabiamente dividiu sua novela em tais períodos: 1915-1917 Meggie; 1921-1928 Ralph; 1929-1932 Paddy; 1933-1938 Luke; 1938-1953 Fee; 1954-1965 Dane e por fim 1965-1969 Justine. Cada um deles conta a história e o desenvolvimento de cada personagem, dando ênfase em cada uma das pessoas que passam em sua vida. 

Para Meggie, a pessoa especial é o padre Ralph; para sua mãe Fee é Frank, seu primogênito, já Luke é o próprio ponto de amadurecimento para a tão vivaz Meggie, que a faz descobrir muito mais a realidade da vida e a dureza que é ser uma mulher. Todas as vidas estão entrelaçadas, até para os personagens mais secundários e é essa destreza de Colleen em seu livro que torna Pássaros Feridos uma grande obra-prima.

 O livro se inicia com Meggie, a única que deu continuidade aos Clearys, já que seus irmãos nunca se casaram, e se encerra com Justine, a única mulher que poderia ter filhos e continuar a enaltecer Drogheda, mas não o fez. Portanto, Meggie é o começo, Justine é o fim. 

A autora, é verdade, se estende em demasia ao descrever o tempo seco da Austrália, dando parágrafos enormes para descrever a seca e a chuva, alguns dos quais poderiam ser descritos brevemente. Mas é só nisso que o livro peca. Ao tear as personagens umas nas outras, Colleen é uma mestra - ninguém é esquecido e todos tem seu propósito na história, que com 668 páginas, poderia facilmente cair na monotonia. Isso nunca acontece em Pássaros Feridos, apesar de ser uma leitura densa e detalhada. 

A autora baseou grande parte da história de Pássaros Feridos em sua própria família: seu pai era abusivo e bruto, assim como Luke O'Neill, o primeiro marido de Meggie. A mãe da autora, aliás, foi quem deu origem à personagem Meggie, que como ela mesma contou em entrevista ao Daily Mail, ela tanto odiava: "Meggie em Pássaros Feridos é basicamente minha mãe. Eu a detestava. Você imagina escrever um livro com 280 mil palavras e odiar sua heroína? Ela era tudo que eu detestava em uma mulher. Ela sofreu e, o pior de tudo, ela gostava de sofrer." 

Podemos, então, dizer com certeza que a independente Justine, filha mais velha de Meggie, foi baseado um tanto na própria autora. Ambas com grandes carreiras, à frente de seu tempo e rebeldes. Casaram-se tarde na vida e nunca tiveram filhos. Fugiram, como o diabo foge da cruz, de ter o mesmo destino de sua mãe. 

O livro ganhou uma adaptação em  minissérie em 1983 que a autora detestou, mas que fez um enorme sucesso     Divulgação
Dean, o filho favorito de Meggie, glorioso com toda a sua beleza e bondade, também foi baseado no irmão mais novo de Colleen, Carl, que assim como Dean morreu em 1965 com 25 anos de idade do mesmo modo que o personagem: ao salvar duas pessoas do afogamento, porém morrendo na água, afogado.  

O livro Pássaros Feridos, na realidade, conta a história do clã McCullough, com apenas a tão famosa propriedade Drogheda sendo imaginada. Todo o resto foi baseado em histórias reais da vida da própria autora com algumas pinceladas de ficção, é claro. Seu irmão, na vida real, nunca quis ser padre e nem ela atriz, mas a essência dos dois está extremamente presente no livro.  

De acordo com a entrevista para o jornal The Guardian, a escritora nunca perdoou seus pais por tudo que lhe fizeram, assim como Meggie, e não sentiu nenhum impulso de fazê-lo, bem diferente de Justine que no livro mostra um lado mais vulnerável no final, que sempre intencionava em buscar o afeto e amor de sua mãe. 

O livro de McCullough, Pássaros Feridos é extremamente bem escrito, com detalhes das emoções e paisagens de uma família que ela conhecia tão bem, afinal era a sua. Além da descrição um pouco detalhada demais, ao nível de cansaço,  outro ponto negativo é quando Mary Carson, deixando sua fortuna ao padre Ralph, deixa claro que Drogheda pertencerá aos Cleary desde que haja um descendente direto. Ao passar do livro fica muito óbvio que a Fazenda deixará de existir quando Meggie e Fee e seus irmãos morrerem. Um tanto óbvio demais para ficarmos triste com o destino da propriedade. 

Apesar de algumas obviedades na narração, é incrível como a autora conseguiu desenvolver toda uma família sem fantasiar os acontecimentos ao seu redor: a Primeira Guerra, a Segunda Guerra e as mudanças de conceitos e de movimentos culturais são agregados à Pássaros Feridos de modo natural, assim como todo bom escritor deveria fazer. 

Pássaros Feridos, no fim, revela que nada na vida vem de graça - tudo tem um preço. Um preço alto, às vezes, alto demais. 



INFORMAÇÕES SOBRE O LIVRO 


Livro: Pássaros Feridos
Autora: Collen McCullough 
Páginas: 668 

Onde comprar? 
Estante Virtual: (clique aqui)
Mercado Livre: (clique aqui) 








O gingado de Natalie Wood no Brasil

No final dos anos 60, Natalie Wood estava decidida a formar uma família para chamar de sua, tendo aproveitado o sucesso em filmes como Juventude Transviada (Rebel Without a Cause, 1955), Clamor do Sexo (Splendor in The Grass, 1961) e Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961), no qual foi dublada em suas cenas de canto. Natalie estava finalmente pronta para sossegar, depois de um primeiro casamento turbulento com Robert Wagner, assim noivou com o empresário Richard Gregson, mesmo que mais tarde se decepcionasse quando ele a traísse. 

Mas, estamos nos apressando. O ano era 1968 e o Carnaval do Brasil, mais especificamente, prometia trazer inúmeras estrelas ao país como Marlon Brando, Kirk Douglas, Jane Fonda e é, claro, Natalie Wood. De todos eles, apenas Natalie apareceu no país, com nada menos do que oito malas e um noivo à tiracolo! Ela chegou ao Brasil no dia 21 de fevereiro de 1968 pelo aeroporto do Galeão, pelo voo 975 do superjato da Braniff Internacional, no Rio de Janeiro - sendo acompanhada por David Abdalla Rassi, designado para acompanhar a estrela no voo (que sortudo!) e impressionou à todos com sua simpatia e seu sorriso inocente, apesar de já ter 29 anos de idade.  

Divulgação¹Montagem
Diferente de muitas estrelas que quando viam ao Brasil ficavam hospedadas no Copacabana Palace, Natalie ficou no apartamento de Rui Camargo, no edifício Chopin, que fica ao lado do famoso hotel e no apartamento que pertencia ao ex-presidente João Goulart. Depois de sua chegada, foi embora para o bairro de Copacabana no carro de Jorginho Guinle.

Ao invés de Ava Gardner, por exemplo, que veio ao Brasil e fez uma coletiva de imprensa posterior, Natalie já foi abordada por fãs e jornalistas na saída do aeroporto mesmo e deu um show de simpatia e bom humor. Usando uma linda blusa de bolinha e uma minissaia, Natalie afirmou que adorava usar aqueles tipos de saia porque era super confortáveis e não queria que a moda fosse embora. Perguntada sobre o cinema brasileiro, a estrela foi honesta: "Apesar de ter ouvido falar bem dele e de seu movimento novo, nunca assisti à um filme brasileiro." Disse que queria usar uma fantasia russa para brincar no Carnaval carioca, dizendo que fumar de piteira era seu mais velho hábito. 

Mas se disse aberta à possibilidade de atuar em um filme brasileiro. Imagina só? Também falou sobre a Guerra do Vietnã, revelando que esperava que aquela "guerra cruel" acabasse de uma vez, além de comentar sobre a segregação racial nos Estados Unidos, afirmando que aquela situação era insustentável em pleno século XX. Natalie até prometeu que iria nadar enquanto estivesse no hotel, mas quando os fotógrafos, ávidos por tirar uma foto, apareceram no dia seguinte, encontraram apenas as hóspedes do hotel, sem nenhuma Natalie à vista. Ela, no entanto, estava no dia seguinte, à bordo do iate Atrevida, visitando a baia de Guanabara ao lado de Gregson. 

Divulgação/Jornal Tribuna
Natalie participou da festa mais cobiçada do Rio de Janeiro, o Copacabana Copa-Pala, no dia 24 de fevereiro. Ao lado de seu noivo Richard, que ele comentou ser para ela, o homem ideal em termos de beleza, ela aproveitou o carnaval ao lado da atriz Silvia Monti, que também foi ao Brasil para aproveitar o carnaval e James Fox. Dizem que a atriz bebeu um garrafa inteira de uísque, a seco, e lá pelas tantas foi carregada por Carlinhos Niemeyer, ao passo que o noivo de Wood, de acordo com o livro Carnaval: da Redentora à Praça do Apocalipse de Roberto Murcia Moura, dizia: "São uns selvagens deliciosos!" 

Divulgação/Diário de Notícia (RJ)
Natalie Wood, aliás, afirmou que amou o Carnaval, de acordo com o jornal Diário do Paraná: "Pareceu-me algo de colossal, magnífico. Creio que todos os estrangeiros que estiveram aqui voltarão porque é algo incomparável. É uma alegria que dificilmente poderá se esquecer." Mas não foi só de carnaval do Rio que Natalie aproveitou não! No dia 1 de março, ela ainda estava em terras brasileiras, e foi convidada para um jantar para lá de chique de Fernanda Colagrossi. Depois seguiu-se para a festa à fantasia de Maria Laura Avelar, ambas socialites da sociedade carioca. 

No entanto, uma vinda ao Brasil não poderia acontecer sem alguma confusão e Natalie foi criticada pelo próprio secretário do Turismo, o senhor Carlos de Laet, que afirmou que a atriz e a outra convidada Dorothy McGowan são "minhocas de luxo", que apenas aproveitavam as regalias e não cumpriam nem os compromissos oficiais e nem as regras de boa educação. De acordo com matéria do Diário de Notícias (RJ), ele afirmou, no dia 3 de março, gastar 5 milhões de reais por cada convidado internacional e disse que não iria convidar mais nenhum estrela para o Carnaval: "pois é jogar dinheiro pela janela e tanto é assim que já hoje, mandei cortar as contas delas todas." 

Natalie, é claro, não se deixou abalar por isso e continuou no Brasil, mesmo se já não fosse hóspede oficial, elogiando o belo país enquanto arrasava com o secretário do Turismo, mostrando que não precisava dela para continuar no Rio de Janeiro. Depois disso, ela se hospedou na casa de Patrick e Patricia Havier, em Sorimã, na Tijuca, e escreveu uma longa carta de agradecimento aos seus anfitriões, como conta o jornal Diário de Notícias, dizendo que amou o Rio e convidando o casal para uma estadia em sua casa. 

Cruzeiro/Divulgação
Natalie Wood foi embora do Brasil em meados de março de 1968, mas nunca retornou ao Rio de Janeiro e nem ao Brasil. Boatos diziam que ela estenderia sua viagem até Curitiba, mas não foi nada concreto. Apesar de uma estadia um pouco turbulenta, como sempre parece acontecer no Brasil, Natalie aproveitou sua estadia como nunca, que nem o próprio secretário de Turismo conseguiu impedir! 



12 grandes atrizes de Hollywood que foram dubladas em filmes

A dublagem das vozes de canto de atrizes em Hollywood era uma prática super comum na época de ouro do cinema. Muitas vezes porque os diretores dos filmes acreditavam que as atrizes não tinham a voz certa para o papel, mesmo que fossem cantoras profissionais, vide Dorothy Dandridge em Carmen Jones (1954).  


Natalie Wood foi dublada em Amor, Sublime Amor (1961)                              Divulgação/Gif
Em Hollywood existiam atrizes/cantoras especializadas em dublar as grandes atrizes de Hollywood: Marni Nixon foi uma das mais famosas, dublando Deborah Kerr em O Rei e Eu (The King and I, 1956) e Natalie Wood em Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1962). Outras foram Anita Ellis, que dublou Rita Hayworth em Gilda (1946) e Carole Richards que já dublou a voz de Vera-Ellen em Sua Excelência, a Embaixatriz (Call me Madam, 1953). 

Muitas delas nunca tiveram seu momento de glória, ficando renegadas a papéis coadjuvantes em filmes ou nunca aparecendo nas telonas. Em entrevista para o jornal New York Times em 2007, Marni Nixon revelou que isso não era problema para os produtores de Hollywood: "Os estúdios queriam rostos de estrelas reconhecíveis. E o fato de que muitas estrelas não podiam cantar era uma mínima inconveniência para os grandes produtores." 

Por isso, confira a seguir, 12 grandes atrizes que foram dubladas em filmes, mesmo com algumas tendo vozes maravilhosas: 

BARBARA STANWYCK EM BOLA DE FOGO (1941)
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Barbara Stanwyck é uma atriz mais conhecida por seus papeis de mulheres duronas e decididas e por isso, não teve grandes participações em musicais. Mesmo assim, ela cantou em sete filmes, nos quais apenas em três foi dublada. Em Bola de Fogo (Ball of Fire, 1941), a atriz interpreta uma cantora de bar que namora um gângster, papel de um novato Dana Andrews, e precisa se esconder. É assim que ela encontra um professor, interpretado por Gary Cooper, e tem a oportunidade de sair do mapa. 

A atriz tem uma cena cantada no filme, a canção Drum Boogie, e ela é dublada pela cantora Martha Tilton. O filme, originalmente, seria estrelado por Ginger Rogers, que não quis o papel, ansiosa por escapar das sombras de sua parceria com Fred Astaire e buscando papeis mais sérios depois de ganhar o Oscar de Melhor Atriz por Kitty Foyle (1940). Barbara Stanwyck foi a última atriz, segundo o livro Goldwyn: A Biography de A. Scott Berg, a ser oferecida o papel, mas ela fez um grande trabalho, sendo indicada ao Oscar por sua performance. 

Mesmo assim, ficou decidido que a atriz não tinha uma voz forte o suficiente para ser crível em um papel em que fosse cantora de bar. Assim foi dublada. No entanto, Barbara tinha uma voz suave e agradável, tanto que sua voz verdadeira pode ser usada e ouvida em filmes como Um Romance no Mississipi (Banjo on my Knee, 1936), A Morte Dirige o Espetáculo (Lady of Burlesque, 1943) - escrito pela rainha do striptease Gypsy Lee Rose - e Lembra-se Daquela Noite (Remember The Night, 1940). 

VOZ REAL DE BARBARA STANWYCK            VOZ DUBLADA POR MARTHA TILTON

         


RITA HAYWORTH EM GILDA (1946)
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Considerada uma das mulheres mais sensuais do cinema, Rita Hayworth teve seu começo como uma tímida dançarina, que desabrochou e se tornou conhecida como a deusa do amor de Hollywood. O papel que a consagrou para sempre como uma femme fatale de primeira categoria foi o filme Gilda (idem, 1946) no qual foi dirigida por Charles Vidor e contracenava com seu melhor amigo - e ocasionalmente amante - Glenn Ford. 

Foi neste filme, aliás, que Rita Hayworth foi dublada pela cantora Anita Ellis. A atriz teve sua voz de canto dublada em todos os filmes que participou, coisa que a deixava muito irritada. Em entrevista ao jornalista John Kobal, ela revelou: "Eu queria estudar canto, mas o Harry Cohn (chefe do estúdio Columbia) dizia que era desnecessário e o estúdio não pagava." Isso não impediu Rita, no entanto, de perseguir seu sonho, contratando a treinadora de voz, Kay Thompson para lhe dar aulas exclusivas durante as filmagens de Gilda (1946).  

De acordo com a biografia Kay Thompson: From Funny Face to Eloise de Sam Irvin, Rita Hayworth fez várias tomadas para o filme com sua própria voz, incluindo uma rendição de Amado Mio que teve 84 tomadas de cena. Assim que Cohn avistou Rita com Kay, o resultado não foi nada bonito, como contou o escritor e amigo de Kay, Hilary Knight: "Kay me disse que ela havia ido ao estúdio musical da Columbia e quando Harry a viu, ele gritou com ela dizendo: 'Você não vai se envolver com isso. Rita será dublada!' "

Mesmo assim, as lições de Thompson não foram em vão: na cena clímax do filme Gilda (1946), na qual Rita Hayworth está com um violão na mão e faz a performance acústica de Put the Blame on Mame, essa é a voz real da atriz, como revela o site AFI Catalog of Feature Films e a biografia The films of Rita Hayworth: the legend and career of a love goddess de Gene Ringgold de 1974. E que voz maravilhosa ela tinha! 

    VOZ REAL DE RITA HAYWORTH                  VOZ DUBLADA POR ANITA ELLIS

        



AVA GARDNER EM BARCO DE ILUSÕES (1951)
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Ava Gardner tinha uma bela voz: sensual e afinada, assim como a própria atriz. Mas isso não impediu que ela fosse dublada por Annette Warren para o filme Barco das Ilusões (ShowBoat, 1951). O papel de Julie LaVerne, que foi de Gardner, já estava cercado de controvérsias antes mesmo da atriz começar a cantar. Baseado em uma peça da Brodaway, Julie LaVerne é, originalmente, uma mulher negra de pele um pouco mais clara, que tenta se passar por uma mulher caucasiana, pois é esposa de um homem branco chamado Steve, o que na época era considerado um casamento ilegal.


Lena Horne, que fez um rendição incrível da música-tema de Julie La Verne, Can't Help Loving Dat Man, para o filme Quando as Nuvens Passam (Until The Clouds Roll By, 1946) estava animada para conseguir o papel, mas acabou passada para trás exatamente pelo fato de ser negra. Assim, em uma lista que continha Judy Garland, Dorothy Dandridge e Dinah Sore, Ava Gardner foi a escolhida para ser Julie. Ava e Lena, aliás, eram super amigas na vida real e Horne inclusive gravou por cima das canções de Ava, que a copiou nota por nota, já que a MGM queria lançar o álbum do filme com a voz de Lena. O estúdio, no entanto, percebeu que isso era ilegal e fizeram que Ava regravasse por cima da gravação de Horne para lançarem o álbum do filme. 

Em entrevista para o jornalista Rex Reed, segundo o livro Ava Gardner: A Life in Movies de Kendra Bean e Anthony Urowaski, a co-estrela de Ava, Katrhyn Grayson ficou chocada com a bela voz de Gardner: "Como ela cantava bem! Foi tão estúpido dublar suas canções no filme e eu disse ao George Sidney (o diretor) isso. Sulistas nunca pronunciam os 'r's e quando ela cantava: 'Listen sistuh, I love my mistuh man' era muito tocante." 

Ava também ficou nervosa por ter sido dublada por Annette Warren, revelando no livro Ava Gardner: The Secret Conversations de Peter Evans, que: "Eu recebi 140 mil dólares em Barco das Ilusões, mesmo que os canalhas finalmente tenham me dublado nos números musicais. Foi menos do que eles receberam por me emprestarem para outro estúdio, mas eu não estava reclamando." Ava, no final, conseguiu seu momento de glória: sua voz de canto original pode ser escutada na trilha sonora oficial do filme. 

       VOZ REAL DE AVA GARDNER                VOZ DUBLADA POR ANNETTE WARREN

         


JANET LEIGH EM QUE DELÍCIA, O AMOR (1953)

Janet Leigh será para sempre lembrada, pelo grande público, pela cena do chuveiro do filme Psicose (Psyco, 1960), mas a carreira da atriz não se limitou à isso. Uma grande estrela da MGM, ela foi o nome principal do estúdio em filmes como Scaramouche (1952) e Príncipe Valente (Prince Valiant, 1954). 
Por isso, quando ela se arriscou a fazer um musical com ninguém menos do que Donald O'Connor, emprestada para o estúdio Universal, seu co-estrela  e tanto a Universal quanto a MGM lhe deram todas as ferramentas possíveis para tornar o filme mais bem-sucedido possível, inclusive permitindo que Janet não fosse dublada. O nome do filme? Que Delícia, o Amor (Walking My Baby Back Home, 1953). 

Sobre a experiência do filme, Janet Leigh contou, via Janet Leigh: A Biography de Michelangelo Capua que: "Tudo no filme foi feito para que eu sentisse que eu fosse capaz de dançar com Donnie, que é como o chamamos. Essa foi minha terceira tentativa de dançar em um filme e lá estava eu fazendo danças difíceis com um dos melhores dançarinos do planeta. Felizmente Donnie percebeu que era muito difícil para mim aprender os passos, ele sugeriu Louis Dan Con para me ensinar a dança e Betty, sua assistente para me ajudar nos passos." 

O livro, aliás, também revela que Leigh foi apenas dublada por Paula Kelly do grupo The Modernaires, nas notas altas. No resto do filme, é a própria voz de Janet. Isso não aconteceu, por exemplo, nos outros filmes de Janet como Eu Te Verei no Inferno, Querida (An American Dream, 1966) e Pepe (1960).

 


VERONICA LAKE EM ALMA TORTURADA (1942) 
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Veronica Lake foi uma das atrizes mais icônicas do cinema: quem pode esquecer sua franja, que era tão famosa, que ocasionou acidentes em fábricas e a atriz teve que fazer um vídeo pedindo que as mulheres prendessem os cabelos antes de trabalharem nas máquinas? Em filmes como Casei-me Com uma Feiticeira (I Married a Witch, 1942) e Contrastes Humanos (Sullivan's Travels, 1941), ela encantava audiências por todo o mundo.

Por isso muitos achavam difícil de acreditar que quando ela cantava em filmes, aquela bela voz não era de Veronica. A cantora Martha Mears ficou responsável de dublar a atriz em todos os seus filmes: Coquetel de Estrelas (Star Spangled Rhythm, 1942), Revoada de Águias (I Wanted Wings, 1941), Esperteza Romântica (Isn't It Romantic?, 1948) e também no sucesso Alma Torturada (This Guns For Hire, 1942). 

Quando a atriz gravava o filme Coquetel de Estrelas (1942), ao lado de Dorothy Lamour e Paulette Goddard, trouxeram Martha Mears para dublá-la. Mas ela interpretava, ao vivo e com sua voz, o número para o filme, enquanto Bob Hope e Bing Crosb observavam. Quando o número acabou, segundo contou Veronica pela biografia Peekaboo: The Story of Veronica Lake de Jeff Lenburg, isto aconteceu: "Bob e Bing nos observaram fazer a canção e eu me lembro quando voltava para o camarim que Hope me parou e disse: 'Salvando seu dinheiro?' e eu perguntei por que. Ele disse: 'Com uma voz como essa você vai precisar.' E ele estava certo, eu nunca consegui cantar."

  VOZ REAL DE VERONICA LAKE                     VOZ DUBLADA POR MARTHA MEARS

               
DEBBIE REYNOLDS EM CANTANDO NA CHUVA (1952)
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Com apenas 19 anos de idade, Debbie Reynolds já estava no caminho do estrelato ao ter participado do filme Cantando na Chuva (Singing in The Rain, 1952) ao lado de Gene Kelly e Donald O'Connor. O problema é que, sua própria inexperiência, ocasionou que a atriz fosse dublada, ironicamente, em seu primeiro grande filme. 

O roteiro de Cantando na Chuva é este: Kathy Selden, vivida por Debbie, é contratada por Don Lockwood, interpretado por Gene Kelly, para dublar a voz de sua parceira nos filmes, Lina Lamont, vivida perfeitamente por Jean Hagen. No fim, os dois se apaixonam e Lina é desmascarada e Kathy consegue seu lugar de destaque, coisa que não acontecia na vida real com as dubladoras das estrelas.

Apesar de uma bela voz de canto, que a filha Carrie Fisher também puxou, afinal, era filha de Eddie Fisher, Debbie Reynolds foi dublada por Betty Noyes porque os produtores acharam que ela não tinha uma voz rica o suficiente para carregar as canções. De acordo com o livro Singin' in the rain: the making of an American masterpiece de Earl J. Hess e Pratibha A. Dabholkar, Debbie foi dublada em duas canções: a Would You? e You're My Lucky Star. Eles também afirmam que no final do filme, aquela é a voz verdadeira de Debbie e realmente, comparando as duas vozes, são bem diferentes. 

Ironicamente Betty Noyes dubla Debbie Reynolds quando a sua personagem estaria dublando a voz de Lina Lamont. E olha que fica mais confuso: quando Kathy precisa dublar a voz falada de Lina Lamont, é a própria voz de Jean Hagen, já que os produtores consideraram que a voz de Debbie não era forte o suficiente.

  VOZ REAL DE DEBBIE REYNOLDS                    VOZ DUBLADA POR BETTY NOYES
         

AUDREY HEPBURN EM MINHA BELA DAMA (1964) 
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Audrey Hepburn era e, ainda é, uma das estrelas mais famosas do cinema. Com seu jeito sofisticado, seus grandes olhos e sua voz suave, era de se pensar que Audrey tivesse uma linda voz de canto, mas não foi esse o caso. Audrey foi escolhida ao invés de Julie Andrews, que interpretou Eliza Doolittle no teatro, para estrelar o filme nos cinemas, já que seu nome era bem mais conhecido.

Vale lembrar que Audrey usou sua própria voz para cantar em filmes como Cinderela em Paris (Funny Face, 1957) e também em Bonequinha de Luxo (Breakfast ai Tiffany's, 1961), mas sua voz foi considerada inadequada para os desafios das canções de Minha Bela Dama (1964), na qual era necessária uma voz de soprano, que Marni Nixon possuia, já que Hepburn tinha uma voz de meio-soprano.  

Apesar de ficar arrasada com a notícia de que seria dublada, Audrey continou a trabalhar na sua voz no set e se recusou que isso afetasse sua performance. André Previn, músico de orquestra que trabalho em inúmeros musicais, inclusive Minha Bela Dama (1964), revelou que o esforço de Audrey foi maravilhoso: "Audrey tinha uma voz maravilhosa para cantar em uma sala. Se ela levantasse e ficasse ao lado do piano e cantasse, todos os seus amigos diriam que ela tinha uma voz charmosa. Mas esse filme era muito importante e tinham seis alto-falantes espalhados pelo set. Eu achava que se você tinha pegado Audrey para fazer o filme e ela não cantava tão bem - não era um crime. Mas os produtores Lerner e Loewe não concordavam. Esse filme era sua declaração." 

Ninguém queria contar para Audrey que ela seria dublada, como revela o livro Audrey Hepburn de Barry Paris, fingindo que Nixon apenas completaria as partes das notas altas, embora as duas gravassem uma ao lado da outra. Finalmente ficou impossível esconder esse fato e George Cukor, o diretor, contou à Audrey a verdade, como revela Previn: "Ela estava muito triste porque ela sentiu que tinha pegado o lugar de Julie Andrews e se ela não pudesse cantar, refletiria muito mal nela. Mas ela nunca disse uma palavra. Ela tinha lágrimas nos olhos, mas nunca deixava-nos saber como ela se sentia sobre isso." 

Quando soube, Audrey saiu do set completamente chateada, mas retornou no dia seguinte, desculpando-se de seu comportamento horrível.

       VOZ REAL DE AUDREY HEPBURN                VOZ DUBLADA POR MARNI NIXON

     


NATALIE WOOD EM AMOR, SUBLIME AMOR (1961)
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Marni Nixon era uma das dubladoras mais famosas de Hollywood e foi chamada para o set de Amor, Sublime Amor (West Side Story, 1961) para dublar a voz fraca de Natalie Wood. Tudo começou quando Wood gravava Clamor de Sexo ( Splendor in The Grass, 1961) e nas semanas finais de gravação ela assinou para interpretar Maria no musical, intrigada por finalmente poder cantar em um filme. 
De acordo com a biografia Natasha: The Biography of Natalie Wood de Suzanne Finstad, o produtor do filme Walter Schoenfeld lembra-se que o agente de Natalie havia dito que ela achava que conseguiria cantar e queria a chance de provar. Até o diretor Robert Wise lembrava-se de como Wood estava empenhada e ela tratou de começar a treinar sua voz para o canto, animada por sua chance. Marni Nixon que a dublou no filme, revelou: "Ela queria cantar mais do que queria respirar."  

Infelizmente, seu desejo não se tornou realidade. Em entrevista à um podcast em 2001, Marni Nixon revelou exatamente o que aconteceu com Natalie e sua vontade de cantar: "Ela não sabia o quanto de sua voz poderia ser usada e eles não diziam para ela, que gradualmente, a sua voz não seria usada porque eles tinham medo de chateá-la. Quando nos gravávamos as canções, eles disseram que ela faria as canções completas com combinações minhas para as notas altas, e aí eles me gravavam fazendo toda a canção e disse que as combinaria eletronicamente mais tarde, o que era impossível na época. Eu acho que criaram um monstro nela, porque ela escutava suas tomadas e eles diziam que ela era maravilhosa e aí eles viravam para mim e piscavam." 

Natalie Wood descobriu que seria dublada e ficou completamente chateada com tudo isso, acreditando que seria sua voz na maioria das canções. Rita Moreno, que interpretou Anita, inclusive revelou que não era fã de Natalie, mas entende que seu distanciamento do elenco foi porque ela se sentia insegura no papel. Em Gypsy - Em Busca do Sonho (Gypsy, 1962) ela conseguiu usar sua própria voz, mas sempre permaneceu completamente insegura ao cantar em filmes.

      VOZ REAL DE NATALIE WOOD                     VOZ DUBLADA POR MARNI NIXON

      

DOROTHY DANDRIGE EM CARMEN JONES (1954) 
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Dorothy Dandridge fez a história do cinema ao ser indicada ao Oscar de Melhor Atriz por sua performance no filme Carmen Jones (idem, 1954). Uma cantora habilidosa, que se apresentava em clubes por todo os EUA, foi uma surpresa quando ela acabou dublada por Marilyn Horne. 

De acordo com a autobiografia da dubladora, o Marilyn Horne: The Song Continues, ela trabalhou de perto com Dorothy Dandridge para dublar sua voz: "Eu trabalhei de perto com Dorothy, escutando atentamente sua voz cantada e sua voz de fala para combinar com o timbre de sua voz para que quando eu gravasse as canções, eu tivesse um pouco de Dorothy na minha garganta. Ela cantou em uma nota confortável para ela e eu imitei sua voz com as notas adequadas para as canções. Depois, ela gravou o filme com minha voz saindo pelos alto-falantes. A tendência em dublagem é mexer demais a boca, mas Dorothy não fez isso - ela estava sensacional. 

E Dorothy não ficou nada chateada de ser dublada no filme. Segundo a biografia Dorothy Dandridge: An Intimate Biography escrita por Earl Mills, seu antigo agente, ficou combinado desde cedo que nem ela e nem Harry Belafonte tinham a voz adequada para cantar a ópera e ela concordou plenamente. Ela afirmou, no entanto, que se tivessem mais meses de filmagem, ela, com certeza, conseguiria fazer com que sua voz fosse perfeita para o papel, mas que, infelizmente, não tinham muito tempo. 

Mesmo assim, ela trabalhou, como conta Mills, com um treinador de voz chamada Florence Rusell, que a ajudava com os maneirismos e explicava toda a arte que é cantar ópera. No entanto, em 1959, ao gravar Porgy & Bess, que também foi baseado em uma ópera, Dorothy foi dublada novamente. 

VOZ REAL DE DOROTHY DANDRIDGE      VOZ DUBLADA POR MARILYN HORNE

            

GINGER ROGERS EM VINTE MILHÕES DE NAMORADAS (1934)
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Ginger Rogers era conhecida por seus passos de dança perfeitos ao lado de Fred Astaire, formando um dos casais mais amados do cinema, mas o canto não era uma das qualidades da atriz. De acordo com a revista Ebony, a cantora Etta Moten Barnett dublou a voz de Ginger não uma, mas duas vezes: "Ela dublou Ginger Rogers novamente no filme 20 Milhões de Namoradas (1934)" e também em Namoradeira Profissional (Professional Sweetheat, 1933). 

A voz de Ginger Rogers nunca foi forte o suficiente para acompanhar uma canção nas telonas, mas a atriz acabou lançando, em 1978, um LP com algumas canções, intitulando o álbum Miss Ginger Rogers. A cantora que a dublou, Etta Moten Barnett morreu com 102 anos de idade, mas apesar do avanço que fez - por ser uma mulher negra que dublava canções e teve a música que cantou, a The Carioca, indicada para um Oscar de Melhor Canção - ela não considerava que havia mudado o jogo.

Sua filha, Sue Ish, contou que: "Ela ganhou crédito por abrir a porta para as pessoas negras em Hollywood, mas minha mãe dizia: 'Eu não mudei, eu só estava no lugar certo na hora certo porque tínhamos diretores e produtores em Hollywood que queriam mudar tudo isso. Ela nem sabia que estava fazendo história."

Ginger Rogers, com certeza, deve ter ficado agradecida por sua dublagem! 

   VOZ REAL DE GINGER ROGERS                      VOZ DUBLADA POR ETTA BARNETT

                

KIM NOVAK EM MEUS DOIS CARINHOS (1957)
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No estúdio Columbia Pictures, Kim Novak estava sendo arrumada para se tornar a próxima grande estrela do estúdio, substituindo Rita Hayworth, que nos anos 40, estrelaria o filme Meus Dois Carinhos (Pal Joey, 1957), ao lado de Gene Kelly com quem contracenou em Modelos (Cover Girl, 1944). 

A película demorou para ser desenvolvida e no final dos anos 50, Rita já estava farta do estúdio e ansiosa por terminar este que seria o último filme de sua carreira na Columbia. Assim Harry Cohn, esperto, colocou sua estrela em ascensão ao lado de sua antiga maior estrela, como se Rita passasse a tocha para Kim. 

No entanto, nem Rita e nem Novak cantaram suas canções no filme, diferente de Frank Sinatra, que tornou o filme Meus dois Carinhos (1957), realmente memorável. Enquanto Rayworth foi dublada por Jo Ann Greer, Kim foi dublada por Trudy Ewen na rendição da canção My Funny Valentine. 

A atriz não conseguia cantar nada bem, como ficou comprovado no filme No Mau Caminho (5 Against The House, 1955), na qual sua cantoria foi um tanto quanto estranha e desafinada. Mesmo assim, a voz de Kim até tinha suas virtudes.


         VOZ REAL DE KIM NOVAK                            VOZ DUBLADA POR TRUDY EWEN

      


JOAN CRAWFORD EM SE EU SOUBESSE AMAR (1953)
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Joan Crawford era conhecida por sua obstinação em tudo o que fazia e aos 47 anos de idade quando gravou Se Eu Soubesse Amar (The Torch Song, 1953), ela ainda dava uma arrasada em todas as atrizes mais novinhas. Infelizmente, o filme, que já não era lá muita coisa, principalmente se tratando de um musical, teve a aparição do horrível blackface, no qual atores brancos se pintavam e "imitavam" os negros. Joan Crawford tem um número musical assim no filme, interpretando uma sedutora mulher negra. Naquela época, nos anos 50, como ninguém pensou que isso era uma péssima ideia? 

Enfim, de acordo com a matéria do site TCM, Joan Carwford estava animada por finalmente poder fazer um número musical, afirmando aos repórteres que: 'Você pode não saber disso, mas, muitos anos atrás, eu gravei algumas canções. Eles nunca foram lançados porque meu chefe, L.B Mayer  achou que seria uma ameaça para Janette MacDonald. Bem, Janette está fora agora e Mayer também e a plateia vai finalmente conseguir me escutar cantar e não me importo em dizer que estou muito feliz com isso." 

Infelizmente, não foi isso que aconteceu: para diminuírem os custos da produção, o filme reusou canções anteriores, principalmente o Two-Faced Women (na qual Joan faz blackface), que foi cortada do filme A Roda da Fortuna (The Band Wagon, 1953), estrelado por Cyd Charisse e Fred Astaire. Como Cyd foi dublada nas canções por India Adams, a mesma dubladora foi contratada para dublar a voz de Joan Crawford. 

Crawford, no entanto, gravou suas canções no filme e sua voz de canto pode ser escutada, com clareza, na sequência Tenderly, enquanto canta por cima de sua própria voz, dublada por Adams, no vídeo. Segundo India, em entrevista ao jornal LA Times, no entanto, Crawford estava decidida em cantar ela mesma até o fim, esperando mudar os produtores de ideia: "Eu até tenho uma cópia da canção que gravei para ela no filme, que ela também gravou. Ela continuava cantando várias e várias vezes e perguntava: 'Está melhor agora?'" 

      VOZ REAL DE JOAN CRAWFORD                   VOZ DUBLADA POR INDIA ADAMS
       




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